Quem
tem medo do Lobo Mau?
Muito se fala
sobre o foro privilegiado para detentores de mandato eletivo. Parlamentares são
os que detém para si a gama maior de privilégios, pois podem lucubrar verdades
factoides e ferir a honra e a dignidade dos cidadãos comuns sem que, por isso,
sejam contestados judicialmente – como chamar os desafetos de bandidos, por
exemplo.
Os mandatários de
cargos do Executivos nos três níveis são alvos da nossa constante irritação por
tudo o que nos falta ou nos é tirado em nome da escassez de recursos ou da
“necessidade” do aumento de impostos – bandeira essa com que o todo-poderoso
ministro da Fazenda nos ameaça a cada palestra.
A Internet – essa
nova “casa” (da mãe-joana) instituída em âmbito mundial – deu voz aos que, até
vinte anos atrás, não sabiam onde dizer nada, onde reclamar de nada. E, com
isso, nota-se que o repúdio à classe política, hoje, está se tornando uma nova
unanimidade.
Dois dos juízes do
maior patamar da Justiça – Teori Zavaski e Edson Facchin – foram além da letra
metálica da Lei e feriram seriamente o Legislativo. O primeiro afastou do cargo
e mandou prender um senador; o segundo afastou do cargo e limitou drasticamente
os movimentos de outro senador – mas somente o primeiro teve, efetivamente, seu
mandato cassado e suas vantagens ceifadas drasticamente. Já o segundo mereceu o
retoque caprichoso de um terceiro alto magistrado, Marco Aurélio Mello. Ele
“corrigiu” o “abuso” (não usou essa palavra nem se referiu diretamente a
Facchin, mas não foi necessário) do colega e, ao “aplicar a lei” em respeito
“aos votos do povo”, embasou seu discurso em exaltação aos méritos (?) políticos
e pessoais do neto de Tancredo.
Se Facchin pecou
em sua decisão, o bom senso sugere que a questão poderia ser corrigida no
colegiado – ou seja, na apreciação pelo plenário de 11 ministros, e não na
contestação pura e simples de um de seus iguais. Ou será que, também lá, uns
são mais iguais que seus iguais?
Há incontáveis
acusações contra a cúpula do PT, partido que se rege não por essa cúpula, mas
pelas orientações autocráticas de um só líder. O juiz Sérgio Moro condenou o
tesoureiro Vaccari, mas o regional o absolveu, limpando-lhe totalmente a ficha.
Parece que o prêmio não foi bem absorvido na mídia ou nos comentários das redes
sociais, mas é um indício de perdão geral para os petistas – e, pelas novas
notícias, também aos do PMDB, do PSDB etc.
Fala-se que Lula,
hoje, torce para que Temer continue no cargo – ele seria um anti-herói, um
presidente que tenta emplacar medidas antipáticas, antipopulares, e assim pavimentar
o caminho de seus adversários. Acredito, também.
A popularidade de
Michel Temer, na faixa de 7%, é uma das mais baixas de que se tem notícia em
todo o mundo. Ele não suportaria sequer o boato de uma consulta popular, agora.
O Brasil carece de líderes. As duas casas do Congresso, as 27 assembleias
estaduais e as mais de cinco mil câmaras municipais do país colecionam fatos e
atos criminosos contra si – e há o consenso de que nenhuma delas escapa a uma
auditoria.
O mais triste é
saber que a cara de pau, hoje, não tem limites. Antes, há algumas décadas,
havia um ligeiro pudor até mesmo entre esses corruptos que deixaram o seu
legado para os filhos e netos (as oligarquias são as mesmas sempre,
transmitem-se de pai para filho e, não raro, agregam novos segmentos familiares
porque os casamentos existem para isso também). O triste é constatar que antes
era tudo igual, mas o populacho não tinha acesso às informações.
E ante tudo isso,
ainda há quem venha, no turbilhão de tantas más notícias, pregar a honestidade
dos ditadores.
Isso é pior do que
acreditar no Saci Pererê.
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Luiz de
Aquino é escritor de prosa e verso, membro da Academia Goiana de Letras.
2 comentários:
O acesso a mais informações, propiciado pela Internet, revela o assombroso descontentamento do povo com os seus representantes. Ponho-me, agora, a pensar na força destruidora do cupim e do fogo.
As modas andam bem assim. Quando um condena ou absolve, a primeira pergunta que nos ocorre é: quanto deve ter recebido para tomar essa decisão? Estamos vendo o lamaçal se aprofundar.
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