Emoções
da Caminhada, ainda...
Sempre me
intriguei com as medidas. Elas, ainda que traduzidas num mesmo número,
mostram-se variáveis, nunca são iguais.
Explico (ou
tento): tomo por base a largura da minha rua, de muro a muro, o de cá e o do
lado oposto. Sei que são 12 metros, aproximadamente, e noto que se trata de uma
estreita faixa entre as construções. Certa vez aprendi que rua não é só a faixa
onde transitam os veículos, mas incluem-se as calçadas, isto é, a rua é
integrada também pelos imóveis edificados, daí não ser correto dizer que certa
casa ou edifício está “à rua X”, mas sim “na rua tal”.
Bem, eu falava de
medidas e não de conceitos. E disse dos 12 metros horizontais que são a largura
da minha rua. Ocorre-me que a mesma medida, na linha vertical, parece ser bem
maior, tanto para quem olha do alto ou ao que avalia de baixo para cima.
O mesmo se dá com
a medida do tempo. “Daqui a 15 dias” (ou dez anos) é algo distante, remoto, em
dadas circunstâncias parece algo inalcançável – mas o mesmo tempo, quando
referente ao passado, torna-se algo bem menor. O que está por vir pode nos
causar ansiedade, mas o passado mostra-se pequenino.
Tudo isso para chegar,
uma vez mais, à tradicional caminhada, como que romaria, de Goiânia a Aruanã,
nos meses de julho de todos os anos, há 26 anos. Desta vez, sem que eu jamais
me imaginasse naquela troupe, vi-me
envolvido! O professor Antônio Celso, coordenador técnico da caminhada,
envolveu-me emocionalmente ao contar coisas de sua experiência com os
“andarilhos da natureza”.
O foco da nossa
conversa era a casa de Dona Maria do Uru, mãe do meu saudoso amigo João Batista
Rodrigues de Morais. Viajei ao passado, há uns 40 anos idos, e achei muito
pouco aquele tempo. Aceitei seu convite para estar com os atletas e equipe no
momento do almoço da quarta-feira, o segundo dia da marcha, justo na fazenda
Uru, à margem do rio do mesmo nome, à beira da GO-070, a Rodovia Jaime Câmara.
Aquele período de
poucos dias entre o convite e o feito pareceu-me uma eternidade. Alcancei o
grupo a poucos quilômetros da ponte do Uru e já, já paramos o carro diante da
casa. Emocionei-me ao encontrar pessoas queridas que não via há mais de três
décadas! Eram Mariquinha, Izabel, Sônia, Marcelo... muitas lembranças,
referências a pessoas queridas e ainda mais emoção quando os andarilhos
chegaram, ao inaugurarem a placa (a matriarca falecera em abril, isto é, há
cerca de três meses) e ao trocarem as prosas no intervalo de um ano.
Valeu viver
aquilo! Surpresas, alegrias, lembranças... E a tradição iniciada pelo Cristo,
isso de se reunir para a refeição, o prazer dos sabores e da boa conversa.
Gostei muito de conhecer Paulo Lacerda, o coordenador geral da histórica
empreitada de todos os anos, “o homem d’O Popular”, liderando uma expressiva e
competente equipe da qual depende todo o êxito da logística indispensável.
A mim, não bastava
apenas emocionar-me no reencontro de bons amigos de um ontem distante. O
pensamento é, nessas ocasiões, ágil veículo de outra viagem, de partida e
chegada instantâneas, essa que nos conduz à mocidade e causa reencontros que só
a mente define. Lembrei-me do patriarca criador da (antes) Organização, hoje
Grupo Jaime Câmara – um homem de visão empresarial, expert em comunicação, mas
diletante na arte apreciável dos que nasceram para servir.
Olhei em silêncio
meu interlocutor Paulo Lacerda... Compreendi a harmonia entre ele e o mestre
Antônio Celso, a liderança saudável que proporciona segurança a cada um
daqueles 29 atletas e revi “seu Jaime” – capaz de firmar-se líder naquele
silêncio dos sábios.
Três dias depois,
no sábado, aguardei com uma feliz ansiedade a matéria nos telejornais,
atestando o que todos esperávamos – a caminhada chegara ao seu destino com
todos os itens planejados já realizados. Restou somente a renovação do sonho
para a próxima.
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Luiz de
Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.
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