Leodegária de Jesus, na arte de Amaury Menezes |
Lírios e orquídeas
Estive
em Caldas Novas para contar e convidar para festejar – afinal, era 8 de agosto,
o aniversário de Leodegária de Jesus, a poetisa pioneira de Goiás. Por 48 anos
(1906-54) somente ela, dentre as mulheres versejadoras, publicara livros de
poesia em Goiás. Nasceu na vila de Caldas Novas da Rainha (era assim que ela se
referia ao vilarejo) em 1889, viveu em Jataí, Rio Verde e na Cidade de Goiás.
Depois em Catalão e de lá para Minas – Araguari, Uberlândia e Belo Horizonte. Houve
ainda breve passagem por Rio Claro, SP.
Com
a decidida participação da bibliotecária Helena
Carvalho, da presidente da Academia de Letras e Artes de Caldas Novas, a
musicista Stella Fleury, da secretária de Cultura Profa. Ms Gabriela Azeredo
Santos e da radialista e acadêmica de Letras Naftali Gomes, pude curtir um dia em que proferi três
palestras e concedi três entrevistas - ao radialista Tomatinho, ao âncora da TV
Caldas Juscelino Silva e ao casal amigo Adriana Martins e
Tyrone Saunders.
À
mesa-redonda na Biblioteca Professor Josino Bretas compareceu o vereador Léo de
Oliveira, contanto que tem pronto um projeto para instituir, a partir da Câmara
Municipal, a data de 8 de Agosto como o Dia Municipal do Poeta e outras
providências – com ênfase para a Comenda Leodegária de Jesus, destinada a
personalidades de realce no meio cultural de Caldas Novas.
Listam-se em
Caldas Novas alguns nomes expressivos da nossa história, como o do fundador
Luiz Gonzaga de Menezes. Em algum momento, foi ensinado nas escolas que o
tabelião Orlando Rodrigues da Cunha fora o primeiro professor da cidade – mas
há aí um equívoco, pois José Antônio de Jesus, sim, pode ter sido o primeiro
mestre em nossa terra.
Coroa de Lírios foi publicado em 1906 |
Como já narrei
noutra crônica, a adolescente Leodegária produziu poemas suficientes para
enfeixá-los em livro. Coroa de Lírios, o livro de estreia, foi lançado em maio
de 1906, três meses antes que a autora completasse 17 anos. O libelo foi
enviado a críticos literários de jornais pelo Brasil afora e assim obteve a
mocinha expressiva fortuna crítica (gosto de destacar o fato de que Osório
Duque Estrada, o autor do poema do nosso Hino Nacional, foi um dos que se
manifestou sobre a obra).
As análises dos
poetas-críticos levavam em conta a pouca idade (e, obviamente, pequena
experiência) da menina poetisa. E a única restrição se fazia ao fato de que, em
tempos de despertar-se o modernismo, ela escrevia na linhagem do romantismo e
do parnasianismo – o que é facilmente explicável: as naturais condições da
comunicação da época e a escassez das obras disponíveis mantinham as
dificuldades de acesso às novas práticas.
Ganhei da profa. Darcy França Denófrio o Orquídeas, que foi publicado em 1928. |
Seguiram-se anos
de dificuldades para a família. A poetisa formou-se professora e aprendeu a
costurar, ofícios de que se valeu para manter a família ante a invalidez do pai
(uma cegueira incurável). Por isso, somente em 1928 ela voltou a publicar – foi
o momento de Orquídeas.
Somente em 1954
outra poetisa goiana – Regina Lacerda, vila-boense – surgiu em livro (o próximo
livro foi de Yeda Schmaltz, em 1964 e, em 1965, surgiu Cora Coralina, amiga de
Leodegária desde a primeira década do Século XX).
Estive, logo pela
manhã, na Escola Padrão Século XXI, e à noite, na UEG. Pouco após meu retorno
ao lar, no dia seguinte, recebi de Naftali Gomes a notícia de que os vereadores
Léo Oliveira e Saulo Inácio apresentaram o Projeto de Lei 130 que, uma vez
aprovado pelo plenário e sancionado pelo prefeito Evandro Magal, institui-se a
data de 8 de agosto como Dia Municipal do Poeta em Caldas Novas, e a Comenda
Leodegária de Jesus, destinada às pessoas que se destacarem na área cultural do
município.
Em breve, espero
festejar esse feito com meus conterrâneos.
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Luiz de
Aquino é escritor, membro da Academia Goiana de Letras.
2 comentários:
Quantas atividades gratificantes, meu poeta! Ler sobre as suas aventuras literárias enriquece meus fins de semana. Sinto-me privilegiada!
Luiz De Aquino, parabéns pela crônica, na merecida homenagem a Leodegária. Você sempre foi e continua sendo um grande incentivador do trabalho literário também das mulheres. E só podemos agradecer a você por tudo isso. Um beijo, poeta querido.
Sônia Elizabeth
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