Quanta
cara de pau!
Quando nos
escandalizamos com aquele valor de três bilhões e 600 milhões de reais que os
“dignos” parlamentares pleitearam para custear suas campanhas de 2018, respirei
fundo repetidas vezes, até me confortar a hipótese de que eles queriam apenas a
metade disso.
Opa! Confortar?
Apenas a metade? Expressei-me mal, relevem! Na verdade, não me confortei – eu
me aproximei, intuitivamente, da real pretensão daqueles crápulas que nós, a
nação, elegemos para nos “representar”. E a metade daquilo não é uma verbazinha
à toa, não, ora!
Corre nas mídias
sociais que o eleitor brasileiro elege (elegemos) essa canalhada outorgando-lhe o direito de nos roubar. E muito se pode acrescentar a isso. Damos-lhes o poder
de decidir como querem viver, e eles querem viver como sheiques, formam
gabinetes caríssimos. Não, não... não me refiro às instalações suntuosas e
muito espaço físico, não, até porque eles, os parlamentares, têm tanto dinheiro
(nosso) à sua disposição que acabam superlotando as salas de seu domínio
próximo.
Em Brasília, como
nas 26 Unidades Federativas, há gabinetes que até parecem as cadeias de
qualquer lugar nacional, tantas são as pessoas a ocupá-los. E não nos
enganemos: além daqueles que podemos ver nessas repartições há os que ganham
sem trabalhar, como a falecida mulher de Lula. E há os que até vivem no
exterior, e são regiamente remunerados.
Vamos lá: um
deputado do PT paulista acenou com aquele fundo eleitoral de três bilhões e 600
milhões de reais! Os dias se passaram, a nação brasileira se estarreceu e,
pasmemo-nos! Um senador de Goiás “salvou a Pátria” ao propor um recurso “mais
modesto”, ou seja, “algo em torno da metade”.
Não nos enganemos,
compatriotas, a meta era mesmo aquela metade. A proposta em valor dobrado era
para causar o choque. Passados alguns dias, o ruralista (imagino-o muito feliz
com a conquista de perdões previdenciários em troca de apoiar a salvação de
Temer) se desponta humilde – “é só a metade”.
Isso acontece
enquanto centenas de deputados se regozijam, na maior cara de pau, para se
locupletarem mais ainda, ante a segunda denúncia da Procuradoria Geral da
República que nos mostra: somos governados por um presidente que tem muito a
explicar – ao povo e à Justiça.
Recordo Hebe Camargo
a oferecer “óleo de peroba” para os caras-de-pau. E notem que ela apoiava
ninguém menos que Paulo Maluf. E o deputado Maluf, que não pode sair do Brasil
para não ser apanhado pela Interpol, nivela-se a um mero ladrãozinho de feira
diante do descalabro que assola o país e dilapida o patrimônio nacional.
Ironicamente, bandos
de traficantes rivais, dirigidos de indiscutíveis gabinetes instalados nas
prisões de qualquer ponto do Brasil, declaram-se em guerra, invadem morros e
favelas, provocam o Estado Oficial e demonstram ser, de fato o estado paralelo
que tanto receávamos.
Ironicamente, o
“príncipe” Fernando instituiu um Ministério da Defesa, medida que permite “um
civil a comandar as Forças Armadas” – mas o tempo nos mostra que qualquer dos
que já ocuparam a cadeira, até agora, não passaram de porta-vozes dos três
comandantes – estes, sim, os ministros de fato.
Ironicamente, um
líder do tráfico nomeia negociadores com o propósito de uma possível entrega
espontânea em troca de garantias à sua integridade física (e à vida). E seria
cômico comparar as prisões ao Congresso: os deputados e senadores esperneiam-se
em busca de solução para seu luxuoso “status”. Não vejo diferenças entre o
tráfico e o meio político, com o cinismo substituindo – sem escrúpulos da parte
deles – a ética que deveria nortear os políticos.
Pois é, Hebe
Camargo: onde quer que você esteja, já notou que não há óleo de peroba bastante
para lustrar tantos?
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Luiz
de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.
2 comentários:
Infelizmente, muitos eleitores e seus candidatos são movidos por interesses escusos, sabemos. Promessas mirabolantes convencem os mais ingênuos, que esperam a solução dos seus problemas, sem se darem conta de que só estão enchendo de dinheiro as cuecas dos seus representantes, aliados estes aos grandes empresários. Preocupa-me, e há muito tempo, uma reação violenta provocada pela indignação dos desesperados. As nefastas influências políticas e as drogas, é verdade, fizeram muitos traficantes dentro e fora dos Três Poderes. Será que suportaremos mais um ano de escárnio?
Parabéns, Aquino, pelo esperneio. Tenho estado muito ocupado com atividades diversas, não podendo ombrear-me a vc e Nilson. Mas não nos arrefeçam as notícias de mais tragédias gerenciais e jurídicas. Somos bastiões e devemos retorno à sociedade pelas escolas públicas que nos fizeram o que somos. Abração!
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