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sábado, abril 21, 2018

Partitura bajo la Lluvia









Poesia à chuva e na madrugada

(Prefácio para o livro Partitura bajo la lluvia, da poeta colombiana Lyda Cristina López, cujo lançamento dacontece neste sábado, 21 de abril, em Bogotá. L.deA.)





Poesia não é somente a construção de versos emocionados e impactantes, como querem alguns. Poesia, para mim, é a alma das artes. É o sentimento humano – ou a capacidade humana de se emocionar ante algo.

Sei de mim e dos que me são próximos que as pessoas nascem poetas. Alguns se comprazem em descobrir sentimentos e sentidos para a vida – e se fazem poetas pela vida inteira. Outros se esquecem. Vejo poesia num improviso feliz do atleta e na exatidão matemática da dança. Ao meu modo, como qualquer outro poeta, saberei contar em versos o que me emociona.

Há, porém, poetas de variadas formas de dizer – ou de narrar. E cada um marca a sua poesia com tudo o que traz na alma e consegue realizar com a matéria corporal, seja escrevendo, seja cantando ou encenando em teatro, além de nos causar enlevo com a magia da música.

Descobri a poesia de Lyda Cristina Lopez em seu livro anterior, Carta para um hombre en el crepúsculo. Encantei-me de seus versos, seu modo simples e rico de conceber os versos e concluir com maestria os poemas. Ela sabe, como poucos, eleger seus temas e os desenvolve com talento e magia. Que doçura encontrei em

Vestirme de noche,
y visitarte enn la madrugada.
Llevar conmigo uma estrella
y salir a recorrer el mundo.
(in Días sin regreso)



Senti-me feliz quando a poeta Lyda Cristina surpreendeu-me com um convite: escrever um prólogo para seu próximo livro. Recebi, por e-mail, seus originais (devo dizer que não nos conhecemos pessoalmente, ainda) que li com a certeza de que estava, uma vez mais, diante de um livro de poesia excelente, límpida como noites de estrelas, translúcida como água da fonte que desce a montanha.


A cada verso, estrofe a estrofe, tentava adivinhar a pessoa atrás da pena, a mão sobre o teclado mas, especialmente, a cabeça e a alma que animam o corpo, define a mulher e determina a poeta. Nosso elo é minha prima Lucila - mulher de seu irmão gêmeo, Júlio - que me presenteou com o já citado livro anterior de Lyda Cristina. Lucila contou-me não só da pessoa poeta que faz brotar estes poemas, mas situou-a na Geografia de sua pequena cidade, Ginebra, ao pé da montanha, onde a vida segue seu curso sem pressa nem medos e onde a primavera se eterniza nas orlas dos caminhos. Voltei a ler – pela terceira vez – os poemas de Partitura bajo la Lluvia, agora, o saber da pessoa, além do sabor dos versos e dos poemas.



Intrigava-me o título. E me transportei para tardes e noites chuvosas em Ginebra, encontrei – sem que ela me notasse – a poeta a compor poesia como um musicista elabora sua escrita de colcheias e semibreves, de claves de Sol e Fá. Acredito que sei bem como fluem os elementos da criação, em música como em versos. Ao recorrer aos dicionários para elucidar alguns trechos, saboreei descobertas e me senti como que parceiro ou sócio da poeta. Tola pretensão, esta minha!

O fato é que me embriagaram a surpresa e o ambiente. A chuva constante, como nas narrativas de Gabo Garcia Marques, é como um instrumentista a oferecer compassos ao poeta.

Una gota se repite
y el sonido
del agua no se detiene,
va y viene.
..................
¿Dónde quedó la madrugada
cuando la lluvia interpretó su partitura
y convirtió la noche en puntos suspensivos,
las estrellas en interrogantes,
la luna en una coma
y el silencio en punto aparte?


Em momentos outros, em outros poemas, outros versos, encontrei-me como quem passeia com a poeta, pois também sou notívago como os lobos e as corujas. Contudo, sou apreciador de quem sabe, com competência, descrever situações que, em algumas circunstâncias, apenas nos inibem – e nos silenciam, como nesse poema:


Huellas


Por eso estoy aquí aventando palabras contra el cielo indiferente.
Manuel Scorza


Cada horizonte
congela en su melancolía una lágrima.

Un rayo de luz enciende una idea,
una estrella baña de mutismo las palabras.

Silencios que se albergan en diálogos,
abren puertas para nuevos milenios,
exorcizan lamentos,
desentierran cantos de viajeros olvidados
y dejan huellas de grandes sabios.

Aparece un ángel
y dibuja la paz entre ellos.




Recobro o fôlego e os sentidos, emocionado. Volto a ler, a reler seus versos, ó poeta Lyda Cristina, e fico a imaginar a obra finalizada, o livro pronto em volume solene. Sinto que será bonito e agradável, como o que ganhei de Lucila. E em forte calor, mesmo que sob um sonoro chuvisco, sinto-me, leitor, seu parceiro de escrita e sentimentos, perguntando-me com suas palavras:

¿Dónde quedó la madrugada
cuando dejé escapar las palabras?


*****


Luiz de Aquino
Poeta, da Academia Goiana de Letras
(Goiânia, Goiás, Brasil)


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