A
mídia a serviço do mal
Só
elogia uma ditadura quem dela se valeu, quem dela teve permissão para se
locupletar – como, inclusive, alguns peemedebistas que, em público,
esbravejavam contra o regime, mas na calada das noites e dos gabinetes recebiam
ordens para votar assim ou assado, conforme o interesse do regime. Entendo o
capitalismo e a democracia como escolhas menos ruins, já que tudo o que a
humanidade experimentou traz imperfeições (algumas cruéis), e ainda não temos
nada melhor.
Ditaduras
são cruéis e burras. Cruéis pelo mal que causam à maioria das nações sob seu
jugo, favorecendo um nicho de pessoas e grupos, como as empreiteiras que hoje
estão investigadas rigorosamente pela operação Lava-Jato. Muitos não sabem que
sua hegemonia empresarial e financeira vem dos anos de chumbo.
Todos
os regimes precisam dos meios de comunicação. As ditaduras também. Os governos
de canalhas, também. A recente paralisação dos caminhoneiros foi transformada,
a partir de – dizem – uma ordem do Palácio do Planalto, em ação demoníaca nas
pautas das emissoras de rádio e tevê. As redes Record e Globo esmeraram-se no
esforço de atribuir a eles, os manifestantes, até mesmo a eterna falta de
insumos e medicamentos nos postos de saúde e hospitais (públicos). Num passe de
mágica, tudo o que elas, as emissoras, noticiam todos os dias, em especial no
campo da saúde pública, passou a ser culpa dos caminhoneiros, como se fossem
personagens de uma ficção científica: sua ação de dez dias neste maio de 2018
foi responsabilizada pelo descaso dos governos nos últimos vinte anos.
E o
desabastecimento nos supermercados e postos de combustíveis, além dos pontos de
distribuição de gás de cozinha? Estranhamente, os grandes supermercados de
Goiânia não registraram a crise de modo tão áspero como definiam os repórteres
e âncoras das emissoras locais.
O
jornalista e escritor Iuri Godinho observou, num paralelo, que nenhum de nós
fica sem comida e suprimentos em casa por conta de dois dias de paralisação de
caminhoneiros ou de supermercados fechados. As unidades de saúde sabem muito
bem o que estocar e as casas comerciais administram bem suas reservas, mas as
tevês e rádios, seguindo a ordem do governo federal, elaboraram pautas para
difamar os manifestantes. Quando tudo parecia dar certo, registrou-se a
infiltração criminosa para tumultuar, promover agressões e estabelecer o
conflito.
Há
uns 40 anos, Benevides de Almeida me recorda (éramos repórteres em pleno regime
do arbítrio militar), achávamos meios de divulgar e analisar fatos. Várias
vezes presenciamos policiais à paisana infiltrando-se nas passeatas e comícios
estudantis; seu propósito era provocar baderna e, assim, justificar a ação dos
fardados com seus escudos, cassetetes e bombas de gás de efeito moral. Desde
2013 surgiram os black bloks, os mascarados que chegam para tumultuar,
agredir, incendiar, quebrar e, assim, facilitar a intervenção policial. Nenhum
deles foi apreendido, preso, identificado pelas forças policiais estaduais e
federais. Parece que são mais poderosos que o conjunto de forças da repressão,
não fossem eles parte delas. Na minha opinião, são elementos das P2, a
“inteligência” das polícias militares.
As
forças de repressão sabem o que fazem e conhecem muito mais do que nos
parece. A Polícia só não finaliza o que a política não deixa. Se dependesse da
Polícia, o tráfico sequer teria se tornado a superempresa que entendemos como
Crime Organizado – ligado por fortes correntes a várias outras atividades, como
contrabando de armas, máfia dos combustíveis, roubo de cargas etc. e tal.
O que a Globo e a Record – bem mais que a Band –
vêm noticiando é uma farsa que envergonha o jornalismo brasileiro.
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5 comentários:
Excelente. Exprime os sentimentos de quem viveu a ditadura. Fico admirada de tantos pedirem a sua volta, ou estou muito velha ou não se estuda mais história.A mídia ,infelizmente , não tem sido imparcial, mostra apenas o que é de seu próprio interesse. Seu grande cliente é o governo, que não tem pejo de abrir os cordões da bolsa a quem lhe interessa. O povo continua vendado, vivendo de pão e circo. Vem aí a Copa quando todos se esquecerão da corrupção, da miséria, falta de escolas etc e se sentarão a frente de suas TVs.Alienados e felizes.
Ótima crônica amigo. Infelizmente tudo nessa vida tem um preço e funciona muito bem com a corrupção ! Quero dizer algo muito claro na minha mente hoje. Prefiro o Brasil de antes, o de hoje tenho medo, muito medo e preocupação !
Também penso assim, amigo poeta, foi horrível ver a rede Globo distorcendo o movimento de greve dos caminhoneiros, pra mim ficou bastante claro os reais interesses da emissora. A meu ver a imprensa deveria ser imparcial.
Uma noite escura, nublada e fria. Um trieiro em meio ao matagal.Seres humanos desprezíveis, sem apreço, negando a expiação... A ningué pertence o que vem pela frente. Conhecemos o que se passou. Posso até não assumir minha dor, porque a compraram, mas, dentro do meu peito bate um coração que tem memória e isso não consigo deletar. Nem direita, nem esquerda: BRASIL! ❤️
Parabéns, caro Aquino, pela correção do texto. Mas, consideremos: um país que não passa sua ditadura a limpo, jamais será nação. Abraços.
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