Vingança (*)
Eis-me,
Anamélia, de alma aberta,
exposta ao teu senso de amor
e escolha. Nada mais ouvirás
de perguntas, por não ser teu
saber responder. Nada mais ouvirás
de tanto-amar-te se não me deres
de tanto-amar-me.
Impões a distância
e o tempo da ausência,
exiges o silêncio
por tácita anuência.
Dou-te o tempo, aceito a distância,
mas imponho-te em vontade
a infidelidade
da vingança inútil, inútil prazer
de te fazer traída
por não saberes por teu
quem de amor te fez eleita.
(*) Este poema é do livro Isso de nós (1990). Há outro no livro Sinais da Madrugada (1983).
7 comentários:
Belo poema para alegrar esta noite de Carnaval sem folia. Obrigado por nos proporcionar momentos bons em passageiros tempos ruins.
Luiz, a sensação que tenho é de que você vem encontrando seu dizer mais próprio. Envelhecer nos traz isso de sínteses luminosamente enxutas, no osso.
Em tempo: AMO a palavra "velho". Adolescente, li "O Velho e o Mar", fascinada pelo título, em primeiro lugar. Mas não sei se "O Idoso e o Mar" me atrairia, qualquer que fosse a fase da vida. Beijo, e parabéns!
Um poema singelo e trágico. Bonito.
Bonito poema! Esse me levou para os Parnasianos.
Belíssimo! As imagens, a linguagem, o ser que se expõe e expõe seu intento de infidelidade para aquela que nem se sabe eleita! Grandioso poema do amor que se quer para amar e que se deseja amado.
“Nada mais ouvirás
de tanto-amar-te se não me deres
de tanto-amar-me.”
Para a distante, o amor, para a presente, o gozo.
Bem construido, com requintados recursos linguisticos.
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