Os sonhos, o íntimo e o tempo
Carlos Drummond de
Andrade, num poema, disse bem (como é de seu feito e feitio):
Quem teve a ideia de cortar o tempo em
fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Ora,
nós sabemos, o homem primitivo concebeu a ideia do ano por observar as
estrelas, o Sol, a Lua – a natureza, posto que tudo isso se transforma a
períodos certos.
Dias
e noites primeiro; a semana, após, que são as fases da Lua, em quatro etapas,
que resultam em meses. A cada três meses, na Zona Temperada (as duas faixas
entre os trópicos e os círculos polares) dão-se as estações, que são quatro
também, e eis que se fez o ano. Ao homem coube notar, memorizar e deduzir.
Recebemos,
qualquer de nós, centenas ou até milhares de mensagens de otimismo pela
passagem do Novo Ano. E, de uns tempos para cá, tenho visto críticos
precipitados a censurar o que chamam de ignorância – achar que mudando o ano
tudo muda. Houve até quem me enviasse uma mensagem dizendo que “se branco nos desse
a paz, os médicos não teriam depressão” e outras na linha “se amarelo chamasse
fortuna” e “se o verde garantisse a esperança” – em todas as frases, a
conclusão pessimista de quem anda de mal com a vida.
Por
isso voltei a Drummond, fui reler o famoso poema “Cortar o tempo”. A ninguém
dou o direito de invadir-me o íntimo e criticar meus sonhos. Deus permitiu-me a
vida e incumbiu-me de defini-la; meus pais cuidaram dos meus primeiros passos,
primeiras palavras e despertares – e eu fiz do caminhar o meio para a escolha
do destino; das palavras, a ferramenta para conviver; e, da capacidade de
observar e acordar, fiz meu modo de criação. De tudo isso fiz meus sonhos, e de
minhas ações fiz as conquistas.
Usarei
branco, amarelo, verde, vermelho ou azul, ou sejam lá quais tons se me tocarem
para vestir-me de feliz. Eu não ensaiei a felicidade, não a escrevi, não
acreditei que todos os momentos seriam felizes, não. Aprendi que um momento se
torna feliz quando paro e o observo, avalio e agradeço ao Criador por permitir-me
vivê-lo, experimentá-lo e aprender com ele.
Os
sonhos, pois, muitas vezes são exclusivos, dizem respeito à nossa satisfação
pessoal e íntima. E também muitas vezes os sonhos são sociais – do casal, da
família, do círculo próximo e mesmo da sociedade a que nos integramos. E o
tempo, este tempo natalino que se une ao de trocar o ano, é tempo histórico.
Sempre nos referimos a algo do nosso passado, que igualmente se confunde com o
passado coletivo, ou seja, a História. E há sempre a atenção para como tempo
geográfico, o tempo-clima, o que nos sugere a praia ou o edredom, a roupa leve
ou os casacos de lã. No nosso caso, neste paralelo 17ºS, só cuidamos se teremos
céu límpido ou chuva. Vestimo-nos de quaisquer cores e calçamo-nos com conforto
porque queremos festejar e dançar, queremos esticar a noite última do ano e a
primeira madrugada com intensidade para, ao fim, “pegar o Sol com a mão” e
fortalecer os sonhos, renovando energias.
Com
esperança, fé e alegria. Com companheirismo, solidariedade e caridade. Com
muitos abraços, muitos olhares de boa luz e beijos de amor.
E
termino com os votos do poeta de Itabira (do poema citado):
Para você,
Desejo todas as cores desta vida.
Todas as alegrias que puder sorrir.
Todas as músicas que puder emocionar.
Para você neste novo ano,
Desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
Que sua família esteja mais unida,
Que sua vida seja mais bem vivida.
Desejo todas as cores desta vida.
Todas as alegrias que puder sorrir.
Todas as músicas que puder emocionar.
Para você neste novo ano,
Desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
Que sua família esteja mais unida,
Que sua vida seja mais bem vivida.
Feliz 2017!
*****
Luiz de
Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.
4 comentários:
D+ !
Adorei sua cronica Luiz, na verdade quem inventou esse fatiamento do tempo teve uma ideia genial, e quase ninguém pensa nisso! Sua abordagem sobre isto nos chama a atenção para o tema ja que esse fatiamento eh de suma importância para nossa feliz sobrevivência, posto que sempre colocamos nossas esperanças e sonhos em algum desses fatiamentos. E o que seria de nos sem esperanças e sonhos? Acho que o tempo e as esperanças estão intimamente interligados, sua cronica, muito bem escrita, demonstra esse desdobramento temporal, e ainda finaliza com belo poema, valeu a pena ler.
Um abraco com o envio de um ANO NOVO pleno de sucesso e realizações, saúde e amor, enfim, tudo de bom que a vida tem.
Lindo, Luiz...precisamos da positividade para bem viver. ..abraço...Lenita
Eu gosto dessas trocas e desses desejos todos. Faz bem, anima, amplia a esperança. Os mais decididos mudam para melhor, os acomodados e os céticos (meu caso), ficam onde estão. Que bom viver!
Postar um comentário