Hoje não tem poema. Vai uma crônica recente:
Terrivelmente pela vida,
com dignidade!
Depois de fechar
o verão neste segundo ano de pandemia, as águas de março estendem-se por abril
como que a despedir-se do Planalto Central, hoje por demais desvestido de sua
cobertura natural, o cerrado, para permitir a expansão desmedida do agronegócio
porque alguns poucos, poderosos das finanças e com as patas fincadas na
política, não se conformam com o equilíbrio em suas contas e bens materiais.
O poder das
botas e da pecúnia busca fincar raízes em vários espaços. Tradicionalmente na
proximidade com o governo da União, exercendo controle sobre governos estaduais
e, com mais força ainda, o mando irresistível sobre as gestões municipais, como
se não lhes bastasse, irmana-se a um segmento relativamente novo e em expansão:
as igrejas evangélicas, que se multiplicam sem limites nem controles, com a
influência mental sobre as pessoas de menor resistência intelectual e a
cumplicidade dos que, dotados de maior informação e processamento, veem nisso a
chance de crescimentos econômico e político.
É a volta a um
estágio que nos lembra a Idade Média, quando os cardeais pesavam fortemente
sobre reis e príncipes – agora são os bispos sem batinas nem paramentos. Essas
igrejas, como se fossem partidos políticos, elegem vereadores e prefeitos,
deputados, governadores e senadores e, por fim revestem de um estranho verniz
protetor o presidente negacionista, radical e militarista-miliciano; e
orgulham-se quando o mais alto mandatário ameaça o Estado ao dizer que colocará
na Suprema Corte ministros “terrivelmente evangélicos”.
O primeiro que
lhe coube indicar, Kassius Conká, mobiliza a Alta Magistratura por alguns dias
ao afrontar decisão esclarecedora da própria Corte que, apenas interpretando o
texto da Carta Magna, informa que prefeitos e governadores têm, sim, o dever
(mais que o poder) de estabelecer regras e normas de defesa ante a pandemia – e
o mais elevado colegiado jurídico do Estado Brasileiro, o STF, consome-se a
ouvir discursos “terrivelmente evangélicos” para exigir realização de cultos
protestantes (neopentecostais – que estão mais para a política que para o
cristianismo) e missas católicas (não soube de exigências dos católicos quanto
a isso) em regime presencial, acima das determinações municipais e estaduais.
Pior que tudo
isso é o argumento do Advogado Geral da União e de ministros de Estado alegando
que as decisões judiciais têm se mostrado anticristãs.
Oi?
Paro por aqui.
Recuso-me a ofertar minhas delicadas orelhas e meu sofrido aparelho auditivo
como vasos sanitários portáteis – de amplo uso até meados do século passado,
mormente em períodos noturnos em solenes residências desprovidas do que hoje
temos por banheiros.
Abaixo os
“terrivelmente” – de quaisquer nuanças religiosas! O Estado é laico e o momento
é de praga e de fome.
Um comentário:
Assino em baixo, Irmão!
Postar um comentário