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domingo, abril 11, 2021

Será nuvem, será?

 



Será nuvem, será?

 

 – É que aprendi, não se deve gastar munição à toa ou, como dizem os desse meio com alvo ruim. Você é alvo ruim. É como atirar em nuvem. As nuvens são frias e amorfas.

– Será?

– Uma bala abala-lhes moléculas ou cristais de vapor d'água, apenas, e sequer lhes afetam as formas, porque as nuvens têm qualquer forma. E para mim – especialmente para mim – você virou nuvem. Bonito de se ver e tanto mais bonita quando mais distante. Frias na intimidade, perigosas quando resolvem agir.

– Que analogia, hein?!

– Já notou o quanto elas (as nuvens) nos parecem carinhosas? Não dá vontade de ser abraçado, acolhido por elas?

 

 *  *  *

 

Nas horas em que lhe olho os olhos brilho-me de luz, a sua luz. Quando feliz, tem um tom de mel, castanho claro a sugerir doçura. Se nervosa, lembra o verde de mar raso, translúcido – mas de mistérios indecifráveis. E há os tons de nuvens...

– Nuvens?

–Sim, as nuvens... aquelas que aparecem em tempos de céu azul, azul demais, são claras e muitas, feito manada de nelore. Mas não se unem, espalham-se no céu e são chatas, como se postas sobre um tampo vítreo, incolor e plano em mesmo nível. E há Estratos – aquelas que lembram escumilha, filó...

– E as de chuva!

– Terríveis! Assustadoras, essas. São as de tom escuro, cinza e chumbo, trágicas e indevassáveis. Feito os olhos de Stela: taciturnas, casmurras, sorumbáticas e tristes. 


* * *

 

Poeta Luiz de Aquino

3 comentários:

Samuel disse...

As nuvens do poeta nos ensina da vida.

Sinésio Dioliveira disse...


Os olhos de chuva de Stela choveu no coração do poeta?

Sinésio Dioliveira disse...

Os olhos de chuva de Stela choveu no coração do poeta?