Feito salmo

 

Feito salmo

 

Quero a minha cabeça no teu colo e
beijar tua pele e permitir-me sonhar. Quero
a alegria do teu cheiro quando feliz,
quando os hormônios põem mais brilho nos teus olhos
e formoseia o sorriso (esse que me enfeitiça).

 

Quero meus lábios num beijo em teu pé esquerdo,
como foi primeiro, enquanto ouvi
o suspiro que me dizia aceito.

 

Eu sou o tempo; o Tempo! Este que te antecede
em medidas de meses e anos, o que te conta coisas de antes
que te concebessem. Eu sou o livro que te conta coisas
do que ainda não é História, coisas
que serão registros para os pósteros dos pósteros.

 

Eu fui semente, sou folha seca – ou galho morto.
Sou fruta comida, caroço que se põe pra secar e ser semente
outra vez, semente somente que, semeada,
há de vingar e virar muda, planta nova e árvore que se renova
para renovar a vida.

 

Prova-me. Saboreia-me. Delicia-te de mim
antes que me renove em pó e lama,
barro que espera o sopro
para viver novamente.

 

Só quero te amar de pele e hormônios,
na emoção do instante que se faz lembrança
que hei de cantar em versos bíblicos.

 

*  *  *

Poeta Luiz de Aquino