Estação de Marechal Hermes: a ponte entre a morada e o Colégio. |
Tempo e distância
Poesia
chegando lenta
nos anos doces da infância.
Poesia
cantada
era rima afagada
em cordas e acordes
- feliz serenata!
Meu
berço natal,
a mínima aldeia das águas termais
- meu sempre Goiás.
Praça da Matria, Caldas Novas, em 1950 |
Poesia
eram versos
das valsas boêmias,
ingênuas canções:
- acalentantes violões
A mesma praça, em 1956. |
Eram
tais os anos da infância:
escola, igreja, rua,
cascalho, a terra nua,
frutas no pé, o córrego manso,
folguedos, traquinagens,
afago de mãe, brabeza de pai.
- Lembrar traz saudades, ai!
Irreversíveis
os anos, triste crescer.
Adolescência, espinhas,
colégio severo, leitura proibida,
olhar de malícia, menina de fita,
as pernas à mostra, o sangue a ferver.
O trem de todos os dias... |
Dor
de saudade, a família distante,
o uniforme, as provas, o trem escaldante,
o ritmo das rodas de ferro
nos trilhos de ferro e o canto,
o canto cantante
gritando poesia:
falta o verso,
falta o verso,
falta o verso...
"Eu
era feliz e não sabia",
cantava Ataulfo Alves.
Poesia entrava discreta
na mente do negro poeta.
(Difícil
distinguir negro e poesia,
somos Brasil de amor e de grei).
faço versos viandantes,
estrofes de rimas falsas,
poemas de amor e revolta.
Poemas
meus, os dos tempos
do cantar amadas indiferentes,
poemas meus de fazer triste
a alvorada, de atormentar o pôr do sol.
Poemas
de atrair amadas, poemas outros
de reconstituir romances. Poemas vários,
bem humorados, poemas amargos,
de grito e revolta ante o injusto,
o títere, o tirano, a fome e a dor
dos esquecidos.
Meus
versos, andarilhos,
correram mundos,
molharam-se de mares.
Criaram asas, ganharam ares,
voaram o tempo.
Ofertei-os
a amigos antigos,
a novos pares, leitores novos.
Escrevi-os em guardanapos de bares,
cadernos de amigos, paredes e tetos
das casas boêmias.
Em
livros, tornei-os solenes,
conquistei notícias, recitei-os nas rádios,
nas tevês e em palanques.
Vendi-os de mão em mão,
de porta em porta, de bar em bar.
- Voltaram a mim, em cartas e carinhos.
O
trote do trem pedia poesia,
o peito infante, arfante, amando,
musas meninas espargindo alegria.
Alma criança, gestos marotos,
desejo nascente:
- Saudade é musa exigente.
Os
livros correram distâncias,
ganhei carícias de jornais longínquos.
No éter, viajei satélites
artificiais, tornei-me "bites" na Internet.
Meus versos navegaram
além dos mares, das estradas, das matas.
- Retornam sempre sob novos comentários.
Viajam
longe, muito longe, meus versos.
Deixam a esteira de
espuma
no mar virtual de
ondas ininteligíveis
para o poeta
geógrafo.
Mas sonho vê-los história
no tempo que me
suplante,
conduzindo além do
tempo
a poesia no transpor
milênio!
* * *
Poeta Luiz de Aquino, da Academia Goiana de Letras.
Poema apresentado na Eispoesia - Vila
do Conde – Portugal, evento promovido por ocasião do 30º aniversário de morte
do poeta José Régio (abril de 1999).
16 comentários:
Lindo versos que tratam da metalinguagem poética e grandes momentos nostálgicos.
Que retrospectiva magnífica!
Lindo poema - e a ilustração da Estação condiz muito ao tema!
Maravilha!
Na segunda foto, a legenda saiu com um errinho de digitação: "Praça da Matria, Caldas Novas, em 1950". O certo é:
"Praça da Matriz, Caldas Novas, em 1950".
Reminiscências... como é lúdico cobrar o tempo que se teve e que Não se tem. Como é doce viajar nas lembranças mais puras do nosso tempo para ajudar-nos a imaginar a construção do tempo que nos resta no que nos permite ainda nossa capacidade de fantasiar a nossa vida.
Lindo demais, Poeta. Quantas lembranças!
Muito lindo,m Luiz.Lembranças de uma vida, de maneira tão poética!
Lindo poema e as ricas ilustrações de alguns desses momentos vividos por você! Maravilha! Boas lembranças...
Lindo.Simplesmente lindo.
Poema muito bonito. Recordações intactas de um tempo que passou, mas que continua vivo na lembrança do poeta... que o transformou em poesia!
As fotos são ilustrações preciosas desta época.
Tempo e distância
A poesia chegou trazendo a infância, a mocidade, os sonhos e a própria poesia recitada aqui e longe, perpetuada nos livros que existirão para sempre.
Tudo lindo! Mas a poesia Tempo e distância me fez chorar. Muito tocante.👏👏👏👏👏
A infância que não volta.
Lembrancas...lenitivos...poesia.
Que linda homenagem a sua infância/juventude... fiquei te imaginando no uniforme do Pedro II, assistindo aulas naquelas salas que deixam saudades... o trem, tudo tão bem descrito, detalhado, percorri contigo parte da tua juventude, senti tuas emoções... "saudade é musa exigente", ...adorei meu poeta... meu amigo querido!
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