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sábado, dezembro 22, 2007

Um corpo que cai, um bisbo em jejum e...


Temas deste Natal


Um baque surdo. Minutos depois, sirenes de bombeiros. Só então, e já se iam uns cinco minutos, dou-me conta de que o tal baque surdo viera da construção de um espigão de uns vinte e cinco andares, aqui perto. E o baque se deu pela queda, de uns quinze metros, de um operário. O operário em construção, imortalizado em poema de Vinícius e canção de Chico.


Apesar do lado trágico, é louvável a ação dos bombeiros, profissionais do salvamento. Os demais operários formam platéia ante o corpo inerte, caído de costas (será isso o decúbito dorsal?), imóvel. Dois bombeiros em farda cáqui cuidam de colocar um colar ortopédico na vítima, e agem rápido. Dois outros, em uniformes azul e branco, também assistem o acidentado. Imóvel. Não fossem os cuidados de colar e prancha, olhando daqui, iria supor-lhe a morte.


Agem rapidamente, mas não saem de imediato; então, o moço deve ter morrido. É possível: a obra está parada desde aquele momento. E uns poucos operários que vi agirem neste período usavam equipamentos de segurança que antes não apareciam.

Triste Natal para a família do moço... Mais uma família a curtir luto nos Natais futuros.


Dom Luiz Flávio Cappio, bispo católico, pôs fim, enfim, à greve de fome de 23 dias, prazo bastante para comprometer sua saúde. Luiz Augusto Sampaio escreve, perfilando-se com a opinião do bispo. E eu escrevo-lhe:

Luiz, meu caro, formo opinião sobre a transposição de águas do Rio São Francisco para alguns pontos do sertão agreste. Baseei-me na informação da História, que nos dá conta da transposição de águas do Rio Nilo (lembra que o São Francisco era chamado "o Nilo Brasileiro"?), mas o nome não era esse, que nos assusta: transposição.

Em 1952, fizeram transposição de um grande volume (acho que 40%) do Rio Paraíba do Sul; a proposta era fortalecer o Rio Guandu, que abastecia, na época, a capital federal e várias cidades da Baixada Fluminense. Hoje, esse volume grandioso (na proporção) continua sendo transposto para o Guandu e é o que permite a dissolução de uma carga monstruosa de esgoto lançado sem tratamento no mesmo Guandu. E o Paraíba do Sul continua portentoso, solene e nobre.

Por outro lado, recordo que há cinqüenta (e mais) anos os professores de Geografia, os Naturalistas e outros interessados (naquele tempo, não falávamos em ecologia nem em ambientalistas) já advertiam para o risco de extinção do Rio da Integração Nacional, mas o Velho Chico (acho que nenhum outro rio, no Brasil, ganhou tantos apelidos) continua solene e nobre.


A captação proposta para suprir duas áreas muito carentes do sertão não chegará a 3%, na época da maior baixa, do São Francisco. A isso podemos chamar de uso racional dos recursos naturais. Além do mais, não se trata apenas de levar a água até aquelas populações, mas junto com ela uma série de itens de desenvolvimento social, permitindo a restauração da dignidade a seres humanos, nossos compatriotas em estado de penúria.

Enfim, cumprimento Luiz Augusto Sampaio pela crônica e pela tomada de posição. Da divergência de idéias é que surgem novas idéias. E os bons textos.

Que o Natal seja um momento de comunhão dos espíritos, suplantando divergências pela busca da Paz e da Harmonia entre os Cristãos, com bênçãos divinas sobre todos os filhos de Deus, especialmente sobre os não-crentes.

Assim seja!

4 comentários:

Anônimo disse...

Luiz, a morte do operário (são tantas!) lembrou-me de Hugo, o menino que morreu de bala perdida, há poucos dias do natal. São duas faces da violência contra o cidadão que já se tornou comum no país.
O primeiro morreu pela negligência dos empregadores e o segundo pela negligência dos governantes.
Um ano cheio de inocentes tombados torna o natal muito triste, porém, a esperança nunca abandona o homem, graças a Deus.

Quanto à transposição, já li tantas explicações divergentes que não consigo pensar se será boa ou ruim, por isso fico caladinha, como deve fazer quem de nada sabe.

Desejo-lhe um natal feliz juntamente com sua família. Que o ensinamento do Menino Jesus esteja entre vocês e aqueles a quem você ama: o amor, o perdão e a coragem de mudar.

beijos, feliz natal!

Madalena Barranco disse...

Olá Luiz, em sua crônica leio corpos que despencam, rios desviados e muitas dúvidas sobre o curso das águas...Espero que o operário tenha se salvado e que o rio não se sinta mal por seguir um caminho que não lhe é natural. Eu também tenho dúvidas, mas, sou a favor da natureza. Agora mesmo, aqui na rua onde moro há um coral de moradores que estão encantando-me com músicas natalinas... Emociono-me - acho que els percorrerão várias ruas do bairro. A vida é surpreendente, no entanto, suas águas sempre correm para o senhor oceano pelos caminhos do livre arbítrio. Beijos, meu querido amigo e lindas festas para você.

Rita Elisa Seda disse...

"o Paraíba do Sul continua portentoso, solene e nobre"
Luiz, fiz há 6 anos um documentário fotográfico sobre o rio Paraíba do Sul e atualmente retorno às suas margens para fotografa-lo. E posso lhe dizer que não há nobresa no que registro.
Uma tristeza!
Beijos...

Mara Narciso disse...

Equipamento de segurança após a morte de um operário, e a tomada de posição diante da polêmica da transposição do Rio São Francisco.Algas azuis advindas dos esgotos mataram o rio. Ele está envenenado. Sou contra, mas vejo ser inevitável essa transposição. A verba já foi distribuida. Urge iniciarem-se as obras. Caso tudo dê com os burros nágua,será possível, mesmo com atraso, ativar os equipamentos de segurança?