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domingo, agosto 26, 2007

O Centro, outra vez



O Centro, outra vez


Devagar e sem mostrar cansaço, a expressão foi crescendo, crescendo... e tomou conta das maiores cidades, desde as metrópoles até as cidades-pólo: é preciso “revitalizar o Centro”. Parece até que o Centro morreu, mas ele está palpitante, efervescente, um formigueiro agitado... Mas isso só dura enquanto é dia. À fuga do sol, fogem também as pessoas e o Centro fica vazio como átrio de catedral após as celebrações.

Goiânia também vive o velório soturno e triste: o Centro, só vive durante o dia, desde que o dia não seja feriado, domingo ou a metade do sábado após o meio-dia. E como as grandes cidades brasileiras, a jovem Goiânia, nos seus setenta e poucos anos de ação desde a Pedra Fundamental, tem seus moradores debruçados sobre estudos longos (e, às vezes, monótonos) que buscam reativar a vida nas vias urbanas do velho Centro.

Velho Centro? Aqui, qualquer coisa que passe de dez anos é velho. Afinal, o que há de velho numa cidade com menos de um século? Velhos somos os que trazemos vivências forasteiras; ou que preservamos a herança cultural de pais e avós. Sei de mim que revivo, na memória, edifícios e pessoas, paisagens e costumes. E recordo o edifício Palácio da Pecuária, que foi sede de banco e de dois legislativos, o estadual e o municipal (teve também duas boates: na cobertura, Terraço; no subsolo, que foi cofre-forte do banco, Porão). Recordo o DCE da Universidade Federal com seu teto conversível, na praça interna da quadra limitada pelas avenidas Anhangüera e Araguaia e as Ruas 3 e 6. Tanta história se fez no Centro...

Recordo a leitura de Cometa de Halley, de Jesus de Aquino Jaime, poeta e violinista perfeito nas duas artes, a referir-se a um flamboyant à frente do Grande Hotel, sob a qual rapazes da década de 1950 reuniam-se ao silêncio da noite alta (às onze horas, imaginem!) e na qual o maestro Jean Douliez cometeu algo que sugeriu um estranho apelido à florida árvore: “arbor flatulentis”.

Era o tempo em que a cidade dormia cedo e aos moços restavam poucas opções, quase sempre centradas nas esticadas até Campinas, o bairro-mãe, ao lado do qual reinava agitado, na primeira metade da madrugada, a zona boêmia do Setor dos Funcionários. Muitos moços, vagabundos, soldados e os infalíveis carrinhos vendedores de pipoca, espetinho e, raramente, algum doce.

Agora, as noites de sextas-feiras se marcam pelo choro; o calçadão da Rua 8, que nas décadas de 1960 a 80 marcou juventudes, promete ação noturna; e agita-se também (e também às sextas) o Mercado do Bairro Popular, na Rua 74. E Campinas, bairro que já foi cidade e por isso posso falar em “segundo centro”, também busca revitalizar-se: são três as noites de música no coreto, justamente na Praça Joaquim Lúcio, de terça a sexta.

Boas medidas de Kleber Adorno, que agora cuida em cobrar a preservação da qualidade. E, para os freqüentadores, uma vitória:

– Enfim, opções de lazer para os que já chegaram aos “enta” – regozija-se minha amiga, ex-colega de Liceu.

Olho em torno, analiso os prédios, quase todos comerciais. Mas há opções que podem, sim, refazer a vida do Centro. O antigo BEG, hoje Itaú, está vazio; vazios estão, também, mais uns três ou quatro grandes edifícios que, devidamente adaptados, bem podiam tornar-se moradias de estudantes e de jovens trabalhadores.

Aí, sim: a vida voltaria às noites do Centro. Com alegria e segurança.

Assim seja!

segunda-feira, agosto 20, 2007

Niemeyer, sim! Ele é nosso...



Niemeyer, sim! Ele é nosso...


A manhã era de sol, mas choveu na madrugada, e as máquinas de terraplenagem já nivelavam o que veio a ser uma "Esplanada Presidente JK", piso do Centro Cultural Oscar Niemeyer. A convite do governador Marconi Perillo, eu estava lá. Meses depois, uma grande visitação reuniu um sem-número de artistas e intelectuais; mais algumas semanas, e a obra, ainda por terminar, foi inaugurada. Faltam coisas, ainda; mas o principal está lá.

Por algum tempo, eventos musicais aconteceram por lá, com nomes da boa música popular que se faz por aqui e exibições de orquestras; nos primeiros meses deste ano, tivemos a exposição de gravuras eróticas de Pablo Picasso, demonstrando que, se houver arte, há público: perto de 10% da população de Goiânia visitou a mostra. E mais nada se fez ali.

Sexta-feira, 17 de agosto: Millena Lopes assina matéria de capa (no DMRevista) em que personalidades goianas questionam o nome de Oscar Niemeyer. Tenho sido cobrador incansável de homenagens aos vultos goianos. Não entendo, por exemplo, que aqui tenhamos ruas e praças que homenageiam barões e viscondes; quem, em Goiás, ostentou título de nobreza? Na iniciativa privada, temos escolas com nomes de educador suíço ou edifícios com homenagens a logradouros d'outros continentes. E daí? Muitos são os pais que dobram eles e enes e abusam de letras exóticas ao nominar seus filhos, como Pollyanna, Allynne, além de inserir um agá onde ele é absolutamente desnecessário, como Thiago, Thereza etc. Isso é da alma brasileira.

Tenho sido, pois, um bairrista teimoso. Não vi, ainda, questionamentos às homenagens a Castro Alves ou Rui Barbosa, mas uns poucos teimam em repudiar, com certa ojeriza, o nome de Niemeyer. E alegam que ele foi pago pelo projeto. Ei! Eu li bem? E algum desses que argumentam assim trabalham de graça?

Ora, gente! A homenagem se deu antes mesmo da concepção da obra; Marconi Perillo, Nasr Chaul e outros têm de memória o propósito daquela visita do governador ao arquiteto, em 1999, arranjada pelo bom baiano (e meio goiano) Luiz Antônio Gravatá Galvão. Niemeyer não é um carioca, apenas; ele é um brasileiro. Gustav Ritter, alemão de nascimento, viveu aqui e foi pioneiro nas artes da cidade; Niemeyer não viveu em Goiás, mas o conjunto de sua obra, em 100 anos de vida ainda ativa, falam por si.

Recentemente, encaminhei a Kleber Adorno, Secretário Municipal da Cultura, uma sugestão: que o Executivo proponha à Câmara o levantamento das praças sem nome em Goiânia (a quase totalidade delas) para que se homenageiem vultos da história da cidade. O Estado pode fazer o mesmo, e cada cidade pode e deve agir assim quanto aos seus vultos ilustres. Mas, infelizmente, em Goiás temos, por exemplo, uma Rodovia JK (Goiânia – Catalão) que a imprensa e os órgãos públicos teimam em chamar de GO-020, apenas. Isso equivale a substituir o nome da gente pelo CPF, ou pelo RG.

Não vejo, pois, razão para se questionar a homenagem a Niemeyer. O homem merece. E o governador Alcides Rodrigues, bem como a presidente da Agepel, Linda Monteiro, têm em mãos excelente instrumento para se projetarem no meio cultural , com repercussão além de nossas divisas. Existe a obra: faltam os equipamentos e, principalmente, os eventos.

Mas se (e isso me ocorre justo agora) a rejeição de alguns artistas se dá por questões de ideologia, digo-lhes que o fato de Niemeyer ser comunista não é obstáculo; afinal, ele concebeu muita coisa para o mundo capitalista, não é mesmo? Mas esses opositores deviam, isto sim, mostrar suas verdadeiras (e ridículas) razões.

sábado, agosto 11, 2007

Atravessando no choro

Atravessando no choro

O prédio do Grande Hotel, na esquina da Avenida Goiás com a Rua 3, sepulta lembranças de fastio social e político que perdurou até a década de 1980, mas com a inevitável decadência causada pelo surto de conforto advindo com a tecnologia da segunda metade do Século. O Grande Hotel é marco de memória de uma cidade ainda jovem, no septuagésimo ano de sua vida de capital e a apenas 65 anos de sua inauguração oficial. Naquela festa que se chamou Batismo Cultural, o edifício já se posicionava como marco de luxo e poder. Entregue ao INPS em paga de contas previdenciárias, é, hoje, uma trava na goela goianiense, em especial para os que efetivamente amam a cidade, por não estar, como deve, nas mãos da Administração Municipal. Espera-se que o presidente Lula, num gesto de grandeza e respeito à cidade, entregue o imóvel à Prefeitura de Goiânia.

Enquanto isso não acontece, nós, os goianienses “históricos”, reunimo-nos aos primeiros minutos da noite, às sextas-feiras, para ouvir o som brasileiríssimo do choro em primorosas execuções, sob a direção musical do maestro Oscar Wilde. Nesses momentos, imagino que o grande literato que lhe empresta o nome regozija-se: o músico goiano, nascido em Porto Nacional (hoje, Tocantins), dignifica o escritor irlandês.

Centenas de pessoas, “de mamando a caducando”, reúnem-se no calçadão diante do velho hotel. A Prefeitura interrompe o trânsito na pista do lado par da Avenida Goiás, entre a Rua 3 e a Avenida Anhangüera, para segurança dos ouvintes. Até mesmo um ponto de táxi, na Rua 3, entre a Avenida Goiás e a Rua 7, é liberado pela Superintendência Municipal de Trânsito, pois após o horário comercial não compensa, aos motoristas, pemanecer nos locais.

Porém, na noite de 3 de agosto, um guarda da SMT atravessou no samba, quero dizer, no choro. Disse ele que um taxista, ao ver carros particulares ocupando o espaço do ponto, reclamou com o guarda. Este, de imediato, sacou um bloco e decidiu multar os veículos estacionados.

A um pedido da jornalista Marley Costa Leite, assessora de imprensa da Secult, os proprietários removeram seus carros antes que o pretensioso guarda agisse. O taxista, então, estacionou; mas permaneceu pouco tempo: outros automóveis, chegando após o “affaire”, estacionaram ali. Em minutos, o chofer de táxi se foi. Ora, o ponto é uma concessão do governo municipal e cabe a este, quando tem necessidade do espaço, dar-lhe nova destinação momentânea.

A festa dessa sexta-feira, porém, ficou maculada pela ação obediente, mas sem iniciativa, do guarda da SMT. Nenhum dos freqüentadores quer descumprir leis ou afrontar autoridades. O que se quer é reviver o Centro, ouvir boa música e reencontrar amigos. Isso, Kleber Adorno e Coronel Sanches têm em mente, propiciando, todas as semanas, bons momentos que dão qualidade à administração de Íris Rezende.

Sou tão goianiense quanto o Kleber, a Marley, o Oscar, o prefeito Íris e milhares de outras pessoas que aqui chegaram para compor o quadro social da cidade. A Goiânia devemos nosso crescimento, boa parte de nossa formação, nosso trabalho, nossas alegrias e dores, nossa arte e nossa contribuição para o futuro. Esse guarda precisa ser mais bem orientado (ele retardou o começo de seu trabalho e atrasou o xou em cerca de uma hora, naquela sexta, 3 de agosto). E o Coronel Sanches, que tem propiciado mudanças respeitáveis e profícuas no trânsito da cidade, há de escolher um profissional de melhor percepção para colaborar com a retreta das sextas-feiras no calçadão do Grande Hotel.

sexta-feira, agosto 03, 2007

Discussão sobre o inútil



Discussão sobre o inútil


Não sou dos que se orgulham de ler cinco ou dez jornais todos os dias, ou de varrer a tevê e (ou) a Internet à cata de notícias. Potencializa-se a informação negativa; fala-se quase que só de desastres, batalhas, emboscadas (tocaia, no falar da minha terra), assassinatos... Considero-me medianamente informado. Por isso, sou capaz de deduzir.

Não se tem polícia boa em lugar nenhum do mundo onde o crime não beire a perfeição e não ocorra em grande volume, como Estados Unidos, Inglaterra, França, etc. e tal. Não há, em todo o mundo, classe rica sustentando a nação; o mesmo se dá com as classes menos favorecidas. Ou seja: a conta sempre é paga pela tal de classe média.

Sou um sujeito típico de classe média, que os economistas e estatísticos de qualquer lugar do mundo assim definem: tenho formação superior, um carro (de seis anos, financiado em 48 meses); tenho dois aparelhos de tevê em casa; dois computadores (rescaldo de uma tentativa de empresa que resultou falida), máquina de lavar roupa, frízer, refrigerador e um forninho de microondas de 1994. Pago Imposto de Renda na fonte, plano de saúde e taxa de condomínio, porque morar em apartamento sugere segurança. Sei que essa tal de classe média, em todo o mundo, vive apertos indescritíveis e tem de pagar a conta. Pagamos impostos para justificar escolas, saúde e segurança, mas não temos nada disso: pagamos escolas particulares, planos de saúde e segurança. Pagamos IPVA e IPI sobre automóveis, mas temos de pagar pedágio nas estradas decentes, pois as que deveriam ser construídas e mantidas com o IPVA não o são. No Brasil, sabe-se o que acontece com os impostos, pois podemos indagar: mas, e os brasucas no tal de primeiro-mundo? Por lá, também, a classe média vive oprimida, mas os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres são os que jamais podem abrir a boca.

Brasileiros emigrados adoram descer a mutamba no Brasil, a ponto de chamar a minha Pátria de seu ex-país. Ora: se é seu ex-país, porque se preocupam com o que se passa aqui? Aí onde você(s) vive(m) existe o direito de contestar? Vocês têm realmente informação sobre o que se passa? Batem palmas para um governo belicista, opressor e cínico, e falam mal do que deixaram aqui. E aqui há também os que ficaram por falta de coragem de emigrar. Estes são críticos de palavras, mas sem ação para melhorar algo.

Jogar tudo na responsabilidade de governos é covardia. Xingar e vaiar governantes é molecagem, é falta de educação, é vandalismo.Votar em alguém em troca de emprego ou qualquer benefício é cumplicidade. Quero ver esses críticos arregaçarem as mangas e contribuírem. Paguem seus impostos, mas ajam. Movimentem-se. Existem milhares de opções para o voluntariado, é só querer.

Que cada um faça o que sabe, ofereça o que pode. Tento fazer da minha: falo a jovens em escolas e instituições públicas, exponho idéias sem ranços ideológicos, porque não seria honesto de minha parte. Prefiro ensinar a pensar a oferecer o salgadinho com o suco de laranja. Mas é mais fácil falar do que agir; é mais fácil fugir do que enfrentar.


Mas provem-me que as mazelas sociais não acontecem nos EUA; provem-me que na Itália ou na Espanha, na China ou na França empregados, ainda que comandantes de aviões, não trabalham sob pressão. Provem-me que os governos do tal de primeiro-mundo não mentem, ou que não há corrupção nesses seus "novos países"; e que não há crime, porque as suas "novas polícias" se antecipam aos criminosos (isso seria tão impossível quanto a medicina antecipar-se aos vírus).

É: não tenho mais paciência nem tempo para discutir o inútil.