Agora, falemos de Educação
Muito já se disse sobre isso: o Século XX foi o período de maior desenvolvimento tecnológico e científico de toda a Humanidade. Tudo por causa das guerras. As guerras provocam desenvolvimento tecnológico, porque é preciso desenvolver engenhos de guerra; é preciso desenvolver as técnicas das construções; o aprimoramento das armas (que devem ser de melhor manipulação e poderio mortal), dos veículos... A medicina e seus correlatos também precisam ser muito aprimorados. Surgem novos métodos, novos medicamentos, novos tudo o mais!
No primeiro conflito mundial (1914-18), surgem o avião e a motocicleta como veículos ágeis e importantes equipamentos mortíferos. Muitas novidades apareceram desde então, inclusive o despertar de uma nova disciplina militar, notável desde os prenúncios da II Guerra, na década de 1930, tanto na Alemanha quanto na União Soviética. Dirão alguns pacifistas que os regimes totalitários gostam muito de grandes exércitos, muito bem uniformizados, equipados e disciplinados. Hoje, sabemos que Estados Unidos, Reino Unido e França são os países com maior orçamento bélico (e nenhum deles é totalitário).
A II Guerra ensinou muito ao mundo sobrevivente. Principalmente para as nações diretamente envolvidas: os países da Europa; o Japão; a União Soviética... Nós, os chamados de Terceiro Mundo (para os mais novos e os não informados, bem como para os que se esqueceram: Primeiro Mundo são as nações ocidentais bem industrializadas e com economia sólida; os países ditos da “Cortina de Ferro”, ou seja, dominados pela União Soviética, equivaliam ao Segundo Mundo; e nós...), ainda não aprendemos. Ou aprendemos mal.
Nos últimos três meses brasileiros, quero dizer, no decorrer desta horrível campanha eleitoral para a Presidência da República, tenho ouvido besteiras que envergonham qualquer cidadão de bem. Cidadão de bem, para mim, são esses/estes de ficha limpa e com intenções maiores que a mera defesa de seus interesses pessoais ou familiares. A corrida ao poder com a sede que marcou a campanha de 2010 só se compara ao que se viu em 1989. E que vergonha, hem?
Fala-se muito em Educação. Até parece que o tema é novo, que há algo de criativo quando se diz “Educação”, pois a palavra soa como algo de sagrado – mas os falantes do tema parecem tê-lo descoberto agora, não atentam para o fato de que passaram por ela, ora como estudantes, ora até como professores!
Sim: no Brasil, chamamos de professores também esses mestres-de-ofício que, sem a menor noção de Educação, sem habilitação didática ou ainda conhecimentos pedagógicos, seguram um bastão de giz diante de uma turma de estudantes e rabisca besteiras num quadro-negro.
Um deles chega a empostar a voz para dizer que construirá escolas para a formação de mão-de-obra! Ora, porque não o fez enquanto era ministro poderosíssimo do Planejamento? Ou quando prefeito da maior cidade da América Latina? Ou como governador... Agora, diz que vai fazer.
A outra também prega pela Educação. Interferiu, sim, e bem, no fortalecimento do sistema de Educação do país. Mas... Será que vai mesmo valorizar o professorado, com salários dignos e condições de trabalho satisfatórias? Isso, no Brasil, já vi acontecer com o sistema de segurança pública, embora o processo tenha sofrido “solução de continuidade”, que é o apelido que se dá à falta de seguimento a programas, coisa comum no processo de substituição de governantes.
Vem aí a tal PEC 300, que se propõe a remunerar soldados (da PM e dos Bombeiros) com R$ 4.000 mensais, e tenentes com R$ 7.000.
Tenentes são militares formados em nível superior. Professores são civis formados em nível superior. Porque não pagar o mesmo para professores? Sim: R$ 7.000 por mês! Claro, para jornadas iguais, sem direito de greve, com escolas bem equipadas e bem mantidas. Não entendo a razão por quê, em Goiás, os colégios da Polícia Militar têm bom equipamento (e eficiência), enquanto os da Secretaria da Educação vivem na penúria.
E, no geral, há, sim, que se formar mão-de-obra. Mas, antes, que se formem cidadãos! Ou repetirão, no futuro, os maus candidatos que pululam nas campanhas de hoje.
L.deA. por Jorge Braga, 1991
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Luiz de Aquino (poetaluizdeaquino@gmail.com) é escritor, membro da Academia Goiana de Letras.