Ainda de mulher burra
Amigos meus, queridos leitores! Ao
publicar uma velha crônica – a da semana passada, escrita em 2003 e sob o
título “Gostar de mulher burra”, não sabia que mereceria tanto retorno! Vejam
essa carta:
“Quem já conheceu uma pessoa assim
sabe muito bem que tudo que o escritor disse é verdade. Tive uma vizinha assim
– bem loira mesmo: olhos claros, pele bem cuidada, muito bonita. E muito
burrinha também. Estudava Direito (no interior de Goiás), casou-se com um
procurador e conseguiu transferência para Goiânia. Ela não falava,
discursava. Gostava de clichês e se achava o supra-sumo da sabedoria. E eu
ficava constrangida com tanta besteira. As outras vizinhas (morávamos em
condomínio) a detestavam, pois ela dizia, dentre outras coisas, assim como quem
não quer nada:
– Ah! eu troco de roupa com a janela
aberta porque aqui não tem rapaz, só homem casado.
“Todo mundo fazia piada quando a
pobrezinha saía da roda (pensando bem, pobrezinha nada; um mulherão, do jeito que
vocês gostam):
– Eu sou a favor da defensão do verde, pois a natureza é
muito importante para as plantas e os animais (ante um projeto de
jardinagem).
– Pretendo levar minha mãe à Europa;
ela sonha conhecer a Itália para visitar
Fátima. Eu não gosto muito do aspecto religioso, mas temos de respeitar os
mais velhos. E minha mãe é tudo para mim. Mãe
é a célula-máter da sociedade. Vou percorrer com ela todos os caminhos que Cristo percorreu por lá, naquela
época (verdade!!!)
– Não vejo a hora de terminar meu
curso e tirar minha OAB, para prestar concurso. É muito ruim trabalhar de cargo
comissionário.
– O tabagismo é um dos piores males
da humanidade. Ele devia parar de fumar porque as crianças são fumantes compassivas (sobre um amigo que fumava
e tinha filhos).
– A fofoca é um dos pecados capitais que
a gente tem de aprender a enlevar.
“Pena que eu não me lembre de tudo...
Ela gostava de gerúndios, óbvio. E pronunciava bem o plural de algumas palavras
– das frases, nem tanto. Amava a palavra inerte e usava-a em lugar de inerente.
Tudo era inerte ao ser humano:
– A raiva, a fofoca, o desprezo, tudo é inerte ao ser humano.
“Certa vez alguém reclamou de rotina,
de fazer sempre a mesma coisa, de fazer tudo igual todo dia, aí ela disse que quando
era criança reclamou de fazer o dever de casa todo dia. Então a professora,
muito sábia, disse que "o sol nasce e dá a volta no céu todo dia".
Mas nossa amiga tinha de ‘complementar’, claro, dizendo que na época aceitou
sem questionar, pois era criança e não percebia que às vezes o sol não nascia.
Mas hoje sabe muito bem que não é assim.
– Veja lá no Sul, está chovendo faz
um tempão! Rotina é algo muito monótono mesmo”.
Como
se vê, eu, poeta e cronista, limito-me a continuar repórter e repetir o que
vejo, ouço e constato. Não tenho preconceito algum contra as loiras. Amo
mulheres inteligentes... e me divirto com as burrinhas.
* * *