NOITES GOIANAS - PARA AQUELES QUE AMAM
GOIÁS...
Olá filhos, irmãos,
amigos e toda a humanidade!
Continuando, caminhando,
seguindo e cantando a canção... Hoje, NOITES GOIANAS - PARA
AQUELES QUE AMAM GOIÁS... POETA LUIZ AQUINO e ESCRITORA HELOISA HELENA.
Olá, Poeta Luiz de Aquino, boa noite!
Através do grande amigo Miguel Jorge, felizmente hoje, posso lhe
dizer das flores colhidas em seu jardim...
O seu discurso de posse na AGL (1) é aformoseada síntese da
história literária e das artes em Goiás, também, jornalismo e geopolítica,
conservando os traços de suas antigas e radiosas fisionomias. No Rio de Janeiro
o gemido do atrito das ferragens, rodas-trilhos, e o sacolejar do vagão bole a
sensibilidade, reaviva a lembrança, bate forte o coração do jovem estudante:
imagens e aromas do cerrado, leituras dos gibis do seu primo Rogério lá em
Caldas, próxima a Araguari, Cidade Sorriso, última parada em Minas Gerais antes
de seguir em Goiás a Maria Fumaça da Mogiana: "Café-com-pão, café-com-pão,
café-com-pão... Voa fumaça, corre cerca, ai, seu foguista, bota fogo na
fornalha que eu preciso muita força, muita força, muita força..." (Manuel
Bandeira, in Trem de Ferro). A
mancha de óleo jogada em terra (figura literária de Carmo Bernardes), o
encontro no interior do ônibus, as filhas de Carmo Bernardes – são partículas
transfiguradas em ondas quânticas premonitórias de um grande escritor!
Poeta Luiz Aquino, por motivos especialíssimos estou em Uberaba.
Aqui, revirando a cabeça em surdas almofadas, rememorizo o seu discurso de
posse na AGL e suas publicações; entreato descarrego os segredos de Leo Lince,
pai do saudoso amigo Cruciano, quando escreveu na Gazeta de Uberaba, anterior
ao jornal Lavoura e Comércio: “ - Por
razões especiais, após muitos anos, voltei a Uberaba. Uberaba aformoseou-se sem
perder os traços de sua velha fisionomia. Em Uberaba eu posso andar abraçado
com a minha saudade...”; no transcurso passei pelo velho sobrado no alto do
Morro da Onça, esquina com a ladeira Silva Jardim, local outrora de reuniões
políticas memoráveis, residência do médico João Henrique (2), hoje, solitária,
à venda, murmurando ao som dos ventos uivantes...
Eu nasci em Carmo do Paranaíba, cidade próxima a Patos de Minas.
Carmo Bernardes, eu, inúmeros mineiros, desde as Candeias das picadas de Goiás,
seguimos para o rumo do Sertão... (3)
Parafraseando o amigo Brasigóis no discurso de apresentação para
a sua posse na Cadeira No. 10 na AGL, ao revelar o seu sentimento por Pirenópolis
e Caldas Novas e o poema “Uberaba uma cidade singular” de Quintiliano Jardim(4)
fundador do Jornal Lavoura e Comercio, também sou acometido em uma dúvida
atroz:
Uberaba de ontem... Uberaba de hoje.
Goiânia de hoje... Goiânia de ontem.
Não sei qual das duas quero mais;
Se a Uberaba dos meus tempos de menino;
Se a Goiânia dos meus tempos primaveris;
Se as duas dos meus dias outonais.
O ministro Pascoal Carlos Magno (5) também foi acometido de delírio
atroz, imaginou ser possível transportar o acervo cultural de Pirenópolis para
a Aldeia de Arcozelo...
O Triângulo de Goiás, hoje Triângulo Mineiro, irmãos siameses,
eternamente banhados pelas águas do Rio Paranaíba, desde a sua nascente na
Cidade de Rio Paranaíba, conserva as mesmas tradições culturais.
Meu estimado poeta Luiz Aquino, a notícia do lançamento do seu
livro CONCERTO DE BOÊMIOS atiçou o braseiro adormecido em meu coração:
relampaguearam chispas desde as nossas reuniões do GEN e AGT no Lago das Rosas,
com faíscas para todos os lados, atingindo o Teatro de Emergência e a casa de
Cici Pinheiro, no Criméia Leste, onde eu construí a personagem GONÇALO (6) sob
a direção dela; - todos acordaram: Meu grande amigo João Bênio (7) e os colegas
de todas as noites, após os ensaios, na taberna Tiptop, da Rua Sete; meus
irmãos Otavinho Arantes, Geraldo Valle, Oscar Dias, Luiz Fernando Valadares,
Miguel Jorge, Heleno Godoy, Cirinho Palmerston, Aldair Aires, Hugo Brockes...
Ecoaram no túnel do tempo as sinfonias de todas as Serestas,
quando nós boêmios, madrugada adentro, éramos convidados pelos pais das
donzelas a compartilhar um aperitivo em suas casas e desfrutar o especial
momento de boemia.
Marisa Monte - Ontem ao Luar
Tetê Espíndola – Sertaneja
O seu livro Concerto de Boêmios, bordado em romantismo pela
poesia e sons das violas de seus pais, seu avô e amigos, especialmente sua mãe
Borgese (não é Borges; Borgese é sobrenome italiano. Nota minha, Luiz de
Aquino) aqui “Das Conquistas, Sacramentos e Uberabas”, terras de Boêmios
Seresteiros, atiçou o fogo da Boemia dentro mim e de todos...
O aniversário de Goiânia, o artigo da querida
Heloisa Helena (8) e Concerto de Boêmios abriram-me a cortina do sonho e da
fantasia e a oportunidade de manifestar gratidão e felicidade a todos.
Estou exultante em compartilhar com você as
pesquisas elaboradas para o INSTITUTO LAMAR LAMOUNIER – CIENTÍFICO E CULTURAL.
Críticas e sugestões são motivos para o
aprimoramento das pesquisas e o meu enlevo. Grande, forte e carinho abraço,
Lamar Lamounier
PS.:
(2) Moisés Augusto de
Santana - Jornal Lavoura e Comércio
(2)Goiás tem histórico de violência contra
jornalistas
(3)Quilombo do Ambrósio:
(4) “UBERABA, DE ONTEM E DE
HOJE DE MINHA SAUDADE”
Ressalta-se, no entanto o descaso do poder
público com esse inestimável patrimônio, bem como as lamentáveis condições de
conservação de alguns dos prédios, um dos quais com o telhado afundando.
O Ermitão
de Muquém (trecho do livro inédito "Bernardo Guimarães, o
romancista da Abolição", de José Armelim).
O ERMITÃO DO MUQUÉM = CICI
PINHEIRO
Obs: A PRODUÇÃO PAROU E
AS CENAS GRAVADAS DESAPARECERAM POR UMA AÇÃO ABSURDA DA CENSURA IMPOSTA PELA
DITADURA .
(7) CINEMA EM PIRENÓPOLIS
– SIMEÃO, O BOÊMIO
O diabo
mora no sangue (1968) – Filme completo
(8) É TEMPO DE GOIÂNIA
Heloísa Helena de Campos
Borges
Santo Agostinho, no seu livro Confissões, assim fala sobre o mistério do tempo:
“Minha alma se inflama no desejo de deslindar este enigma tão
complicado! Que é, pois, o Tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei; mas se quiser
explicar a quem indaga, já não sei. Talvez fosse mais correto dizer que há três
tempos: o presente do passado, o presente do presente e o presente do futuro. O
presente do passado é a memória; o presente do presente é a percepção direta; o
presente do futuro é a esperança.”
Tenho certeza de que o desdobrar do tempo em memória, percepção
direta e esperança, sugerido por Santo Agostinho, está de acordo com o que
muitos dos habitantes de Goiânia sentem durante o mês de outubro, mês do
aniversário da nossa cidade, pois no decorrer dos seus 31 dias, de modo
simultâneo, inúmeros momentos esforçados da construção da nova capital são
rememorados, a insegurança do seu presente é debatida, todavia um futuro
promissor sempre lhe é sonhado.
Que Goiânia é uma cidade bonita e agradável, não há dúvida. Entretanto,
tem suas questões. Há poucos dias, mais uma vez, foram demonstradas graves
modificações do seu traçado original, arquitetado pelo urbanista Atílio Corrêa
Lima, que aliava desenvolvimento à preservação das reservas naturais da cidade
que nascia. Até mesmo o trajeto da Avenida Anhanguera, que deveria cruzar a
cidade em linha reta no sentido leste/oeste, foi mudado.
Não se sabe bem o porquê, em certa altura, a Avenida Anhanguera
ganhou curvas, distorcendo a intenção primeira do plano da cidade. E os
vestígios da mudança do seu traçado ainda existem. Para vê-los, basta
atravessar a Avenida Independência em direção do centro, à direita do Terminal
Praça da Bíblia. Como prova da alteração, lá se encontram, dando continuidade à
linha reta do antigo trajeto da Avenida Anhanguera, dois trechos com pista
dupla, arborizados com as palmeiras que tanto a embelezavam.
Porém, mesmo com todas as distorções, Goiânia é minha cidade
natal e não a troco por nenhuma outra, pois, ainda hoje, a vastidão do seu
horizonte me serve de guia nos momentos de busca e de recordação.
Não são raras as vezes em que relembro a Goiânia da minha
infância. Eram poucos os seus automóveis, algumas as jardineiras e menos ainda
os carros de praça, nome dado aos taxis daquele tempo.
Aos meus olhos, Goiânia resumia-se nestes pontos: Praça Cívica,
Botafogo, Lago das Rosas, Horto Florestal, Igreja Sagrado Coração de Maria,
Santa Casa de Misericórdia, Mercado Central, Estação Ferroviária, Avenidas
Anhanguera, Tocantins, Goiás e Paranaíba.
Assisti à chegada de muitos avanços, por exemplo, o asfalto e,
com ele, a diminuição do pó vermelho que infernizava a vida das nossas mães.
Entretanto, um local me atraía em especial: a Praça Cívica com
suas fontes luminosas e jardins. Era mesmo muito bonita! Meu pai, Elysio
Campos, um dos farmacêuticos pioneiros da nossa cidade, possuía um carro marca
Morris Oxford e quase todas as noites passeava com a família para mostrar as
novidades da capital. Aproveitava para nos ensinar o nome do governador, do
prefeito, a importância dos locais visitados.
Infalivelmente, o passeio terminava na Praça Cívica. Hora da
pipoca, do algodão doce, delícia que eu, fascinada, presenciava o açúcar se
transformar em nuvem formada por fios adocicados.
Contudo, meu pai foi além do lazer. Apresentou-me a Praça Cívica
também como local político. Quando do suicídio do Presidente Getúlio Vargas, eu
me lembro de termos ido à Praça Cívica para, entre os cidadãos goianos,
compartilharmos da repercussão do acontecido. Eu pouco entendia, mas observei o
movimento inabitual que havia e, desde então, guardei a certeza de que, em
Goiânia, o local, por excelência, para avaliar satisfações e insatisfações do
povo é a Praça Cívica. A História de Goiás pulsa nela.
No transcorrer da minha vida, quantos acontecimentos comprovaram
esta minha convicção. Muitos deles dignificantes, outros revoltantes. Quem se
esquece da deposição do Governador Mauro Borges Teixeira? Quem não reflete
sobre as últimas manifestações? E as Festas de final de ano?
Ora, entre pesares e prazeres, não tenha dúvida, minha Goiânia,
eu sou uma das suas filhas amorosas. E por tudo que você me ofereceu, por tudo
que com você eu aprendi, por tudo que por você eu escolhi, entrego-lhe estes
meus versos pelos seus 80 anos de vida:
Goiânia, minha Goiânia,
mais que ninguém você sabe
dos meus passos, dos meus gestos
da minha sede sem fim.
Desde sempre eu a levo em mim
não importa aonde vou
suas vozes, os mitos, aromas...
e seus mistérios de mulher.
Parabéns, Goiânia!