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domingo, dezembro 31, 2006

Encantado; por toda a vida!

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Por toda a minha vida, eu sei”... Há coisas que não fazemos por partes, e uma delas é viver: não se vive aos pedaços. Muito e quase tudo se diz da TV Globo, mas nunca se poderá dizer contra a qualidade de seus programas especiais, como este da quinta-feira, uma seqüência de “flashes” da vida de Elis Regina. Magistral, não fosse tão curto.

“...que vou te amar. E cada verso meu será”... Será um dia, um gesto, uma decisão. Atravessei, desde os 18 anos, o agreste da falta da liberdade, que nos é chuva do bem que encharca a terra dos nossos sonhos. Aprendi, primário dos anos cinqüenta, as maravilhas do mundo, os nomes de peso de cientistas, artistas das formas em duas ou três dimensões, músicos e poetas; aprendi os guerreiros teimosos, como Bolívar e José Martí, e filósofos eternos, feito Sócrates ou Ghandi, o guerreiro da paz. E sei agora da Fazenda do Encantado, com um mil e setecentos alqueires de legítima reserva de cerrado, em bichos e plantas.

É beira do Araguaia, rio manso e forte. Manso? Que nada!... Rio marco de divisa-união, Goiás e Tocantins de cá, Mato Grosso da banda esquerda. Batista Custódio é teimoso. E também faz dos dias da vida versos de ação. Ou decisão, conforme o dia. Ou o caso. Tem lá aquele muro, cem metros de longo, paralelo à margem, alicerce cavado de oito metros, porque o Araguaia não é manso quanto nós; nós rugimos sem violência; ele ataca sem rugir. Águas que lambem barranca e invade chão, constrói lezírias.

Sobre o muro pousarão estáticos nomes de sempre. Desde Sócrates até JK, sem esquecer o Sidarta e o Rabi da Galiléia, Hipócrates e Nossa Senhora, a mãe do Nazareno, São João (o Batista), o voador Dumont de Minas e Paris, Einstein, Homero e Castro Alves. Vinte e três estátuas: menos que as canções de um cantor em discos vários, ou que os poemas de um poeta de esquina, feito eu.

Elis Regina cantava... E cantava versos de braveza, buscava letras-reportagens que contassem o Brasil da exceção; contou de chibatas e morreu feito a vítima derradeira a dar a vida nas mãos sangrentas do regime: ironicamente, houve um Shibata a “periciar” sua morte. Enquanto a ouvia, imaginava o muro da Fazenda Encantado, reserva biológica. Batista Custódio, jornalista e visionário, trocou o ganho da soja e dos bois pelo prazer de plantar centenas de milhares de novas vidas vegetais; com isso, fez ressurgir animais vários: “As onças nunca atacam o homem”. E diz mais: “Marreco é valente, enfrenta raposa; se voasse, não morria, mas ele enfrenta a raposa o leva já morto”.

No Encantado, nem ratos podem ser mortos, eles integram a cadeia alimentar; que morram, pois, naturalmente. E Elis cantava o hino da anistia: “Caía a tarde, feito um viaduto”. E diz, na canção de Aldir e Bosco, de um Brasil “que sonha com a volta do irmão do Henfil”. E havia quem não quisesse a volta do irmão do Henfil!

Já cheguei aos 61 anos; não quero viver muito mais, não. Mas quero viver para ver o muro com as 23 estátuas dos que fizeram esta humanidade. Gostaria de viver para ver o fim da onda de ações do chamado “crime organizado”, este que patrocina universitários, forma advogados e médicos, engenheiros e pedagogos que lhes assegurem a organização de suas empreitadas. Gostaria de viver para ver o fim do “crime do colarinho branco”. Mas, minha gente, para que tanto? Elis tinha a minha idade e foi-se aos 36 anos. Estou dentre os que nada fazem, mas esperneiam.

Na parede em frente, o hino do Colégio Pedro II; somente no ano passado percebi que, desde 1958, fiz daquele hino uma trilha para a vida. Espero poder continuar. Essa trilha evita a omissão, pois acredito nos versos: “Alentemos ardente / a esperança de buscar, de alcançar, de manter / no Brasil a maior confiança / que só pode a ciência trazer”.

E ciência, queridos e amadas, é escrever; é cantar; é plantar. Plantemos nossos ideais, que os sonhos acontecem.

sexta-feira, dezembro 29, 2006

Ano-Novo feliz!

Um Ano-Novo é novo até que o jornal do primeiro dia fique
velho. E isto acontece poucas horas após o despertar do
sujeito, em ressaca ou não. Mas um Ano-Novo é um marco
de recomeço, de renovação instintiva do Ser Homem, fêmea
ou macho, ainda que o ano não nos traga
um número de referencial.
Como 2007, por exemplo.







As luzes e os estouros vários
e fogos ao céu, em escuro de fundo,
sugerem: em dez segundos, seremos nós
a contar na ordem inversa. É como se de tudo
se fizesse o novo e novos rumos e portas ressurgem.

Não é nova a década que vem.
Nem o ano é novo de todo, porque
adiamos decisões, acertos, e faltam-nos
coisas muitas: rever pessoa amada, recomeçar
os planos e trazer de ontem apenas a cor da saudade.



É novo o ano, e chega a ser referencial de fé: nove é
bom de cabala. Que nos lê sorte, sem mistério.
Mas dois mil e sete.. Mas não é, sequer,
simétrico, como o é dois mil e dois.
Não é, mesmo, espelhado.

Mas há certa mente capaz de bom de desenho, a fazer,
do sete, um dois invertido. Aos zeros, no meio,
dá-se de certo o que é inverso aos iguais e,
ai, sim, um visual grato aos olhares
faria do Ano (Novo) bonito.

...Que lhe deseja
este Aquino, Luiz

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Natal: estações e vôos meus

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Sempre achei que a Primavera, além das flores e do astral elevado que nos causa, tem algo mais de mágico: é a estação de esperar pelo Natal. Os menos avisados preferem dizer que é a ante-sala do Verão. E a gente dos trópicos (em Goiânia, estamos a 17° de Latitude Sul) fica imaginando as características das estações nas ditas Zonas Temperadas... No Brasil (digo isso para quem foi péssimo em Geografia), a Zona Temperada pega boa parte do Estado de São Paulo e mais todo o Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Mas as estações do ano estão em reforma: o efeito estufa, o aquecimento global e ainda El Nino (aquele fenômeno do aquecimento das águas do Oceano Pacífico) estão bagunçando os cenários que se transformam conforme a época do ano. Bom mesmo seria presenciar as quatro estações de acordo com os conceitos dos velhos livros de Geografia... Neve no Inverno; flores e pássaros na Primavera; sol e belezas humanas no Verão; árvores desfolhadas e vento no Outono.

Enquanto isso não me acontece (e só acontecerá se eu viajar), vou curtindo as notícias na tevê. Soube ontem que não neva estes dias em Nova Iorque, EUA; mas, no Colorado, lá do lado Oeste, a neve atingiu seis metros. Poxa! Dois andares, siô! Sei que os conflitos continuam matando na Palestina, que os norte-americanos e seus aliados estão perdidos por conta da guerra no Iraque, que um cientista paranaense conseguiu produzir mudas de Araucária em laboratório e os vôos continuam atrasados, em todo o Brasil.

Ah, por falar no apagão aéreo: a imprensa precisa mostrar, com riqueza de detalhes, o abuso de preços nos bares dos aeroportos. Um copinho d’água custa, em média, R$ 1,50; um pão de queixo, de R$ 0,50 na padaria, atinge até R$ 2,10 nos aeroportos. E ninguém reclama! Vi que cancelar vôos, nesta época, não é “privilégio” nacional, não... Na banda nobre do Planeta, o Hemisfério Norte, o “fenômeno” anda acontecendo, também.

Muito bem, não viajarei mais, este ano; e espero viajar somente quando os aviões estiverem mais comportados, com as bênçãos dos controladores de vôo, das companhias aéreas e da meteorologia. Enquanto isso, espero a chuva passar e escrevo. E deixo-me voar sem controle nem razão social, explorando meu tempo passado e revendo estações outras: as do ano e as do trem da juventude, uniforme e colégio, tesão e silêncio. E o tempo, que me permite ir ao passado (mas não me revela o futuro), conta-me que as peles macias de ontem são, hoje, sulcos de rugas e lembranças, também.

Vou ao espelho, noto minhas marcas de tempo; confiro com alguma foto antiga, do tempo de imberbe: os tempos, tanto o geográfico quanto o histórico, são inexoráveis. Jamais os vencemos. Tudo o que tenho a fazer só vale se fizer agora. Não há como adiar nem fazer por ontem.

Assim, fica-me o sabor do beijo ao calor das termas, Caldas Novas; o chiado dos nossos pés na areia, praia e Rio; e inocência ginasiana do passeio de mãos dadas pela Quinta da Boa Vista, a vista bonita dos sobradões de Marechal Hermes, o primeiro beijo na boca (antes: olhos e nariz).

Viajar passado não sugere atraso, nem desconforto. Viajar futuro é sonhar. E se for para sonhar, sonharei vermelho e verde e branco, com sinos de lembrar bonança, bondade, festa de caminhar aos céus.

Natal de lembranças e novas esperanças. Sonhar, sim, mas sonhar Jesus.

Assim seja!

sábado, dezembro 16, 2006

Poesia Rio e Minas; morte em Cabo Branco

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Escrevo sob emoções: uma viagem de poesia e a tristeza de uma notícia... Falarei, antes, da alegria.

Viagem com os percalços dos vôos atrasados e o alívio nas chegadas; dias plenos de bons e belos encontros, com colegas de bancos escolares dos idos de 1958 até o prazer de ouvir outra vez, após quarenta e cinco anos, a professora de Geografia da minha quarta série de ginásio. No meio, lanches e chopinhos, ruas e mar e montanhas, surpresas e sorrisos.

Maris Stella, Helena Coutinho, Marluci Costa, Heliane Sampaio, Leila Arruda, Paulo e Laurita Cardoso, Eneida Alencar (pessoas que vi mais de uma vez, estes dias; todos usaram a famosa “peninha na gola” do uniforme colegial). Emoção forte ao rever Dona Umbelina, minha sempre Mestra, e de conhecer Dona Vera, mãe de Helena, formada em 1939 no Imperial Colégio de Dom Pedro II. Sueli Catão e Miguel com Sílvia, a outra Sílvia, Corina, Liberato, Paulo Queiroz, Kátia, Amauri, Sandra, Célio... Olhem, não digo mais: falta espaço para tantos nomes. Mas tenho de enfatizar Lília. Olhando para o escudo de primeiro ano colegial, aplicado no bolso de minha camisa branca, perguntou: “Luiz, quem pôs esse escudo na sua camisa?”; eu disse, fora minha Tia Miriam. “Puxa vida, ela te ama! Se fosse você mesmo, ou sua mulher, ou ainda sua mãe... duvido que estivesse tão bem aplicado”.

Demorei alguns segundos para conferir, detalhadamente, o trabalho de minha tia. Lília tinha razão: era um pequeno trabalho de amor. Ela não costurou o emblema no bolso para ser retirado horas após, não. O tradicional escudo ficou bem costurado, sem vestígios da linha pelo lado externo, e posto para durar todo um ano letivo. Ou seja: esses encontros de ex-alunos, realizados para que nós próprios revivamos nossos anos mais verdes, chegam também aos nosso familiares, e, neste caso, Tia Miriam curtiu comigo esse reviver. Lília completou, com o apoio dos demais colegas à nossa volta: “Amor de tia é muito forte; muitas vezes, mais forte que amor de mãe”. Entendi: amor de mãe é conseqüência, é essência da maternidade. Já o amor de tia (ou tio) é como que eletivo e, quando vem, vem muito forte.

Não comentei o fato com Tia Miriam, preferi contar de público, nesta crônica. E, com essa decisão, cheguei a Belo Horizonte. Fui para o lançamento da antologia “Terças Poéticas jardins internos”, reunindo poetas de dezenas de saraus realizados em quase todos os meses de 2005 e 2006. Obviamente, estou nela: participei do “Terças Poéticas”, há exatamente um ano, quando pude autografar “As uvas, teus mamilos tenros” nos jardins internos do Palácio das Artes, na famosa Avenida Afonso Pena.

Reencontrei Wilmar Silva, Dênia Diniz, José Aloise Bahia, Camila Diniz, Luciene, Tânia Diniz... Conheci Tida Carvalho, fui hóspede do Neto (José Alves), menino acadêmico de jornalismo, cartunista de mão cheia (ganhei nova caricatura dele) e tive, ainda, a sempre agradável companhia de Bambino, outro ex-aluno do Colégio Pedro II, hoje cidadão voluntário de Belo Horizonte.

Chega a sexta-feira e, com ela, de João Pessoa, Paraíba, a notícia triste: morreu Sivuca. Não que a morte seja triste: ele sofria muito, há tempos, com um câncer renitente. Triste foi saber que, ainda doente, e após uma vida inteirinha dedicada ao Brasil e à música, não conseguia patrocínio para lançar seu DVD. Conseguiu, por fim, mas o tempo restante já era pouco: pôde, apenas, mostrá-lo em solenidade fechada.

A morte chegou antes que o mostrasse ao público.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Há algo no ar...

"Há algo no ar além dos aviões de carreira". A frase, do saudoso e sempre novo Aparício Torelli, mais conhecido como Barão de Itararé, ficou além dele. E nunca foi tão atual, essa máxima surgida com o propósito satírico. Há, efetivamente, muita coisa a mais no ar, e boa parte dessa muita coisa está ligada aos próprios aviões (de carreira ou não).

Há muito tempo entendo que a verdade é uma falácia, sempre. Ou seja, se é falácia, não é verdade. A verdade não é senão uma conveniência, e a verdade é a versão de quem pode mais. E poder é algo absolutamente relativo. Chegaram mesmo a cunhar uma frase imbecil, a preferida pelos puxa-sacos de plantão (e existe sempre, em todos os lugares, um puxa-saco de plantão): "Manda quem pode, obedece quem tem juízo".

É triste constatar que, efetivamente, houve falha humana, possivelmente dos controladores de vôo, naquele fatídico acidente com o Boeing da Gol, em setembro. Como não se pode negar, também, que os pilotos ianques falharam por desligar equipamentos. A realidade dos fatos, que vem a ser a coisa mais próxima de verdade, jamais será plenamente conhecida; então, a verdade há de ficar com quem pode mais. E aí, veio o tal de "apagão aéreo" para incomodar a nação inteira, numa evidência de que, para a pessoa que pretenda usar o máximo possível de sua cidadania, não existem fatos isolados.

Claro, claro: somos peças de uma só máquina; ou, vendo por outro ângulo, somos, cada um de nós, peça indispensável de muitas máquinas. A profissão mais importante do mundo é aquela da qual precisamos num dado momento. E neste momento histórico, no Brasil, o controlador de vôo é um dos mais importantes profissionais.


Voei de Goiânia ao Rio na última quinta-feira. E, como sempre, tive conexão em Congonhas. Como eu, nenhum passageiro comum entende a razão que nos obriga, em pelo menos 50% dos trajetos, a fazer conexão em São Paulo, onde estão dois dos mais ativos aeroportos brasileiros. Se vamos ao Nordeste, conexão em Sampa; se vamos ao Sul, conexão em Congonhas; se vamos a Campo Grande, conexão em Guarulhos.

A quinta-feira foi um dia de paz relativa nos aeroportos. Houve atrasos, sim, mas não havia pane nem os controladores empatavam a fila. Apenas as companhias aéreas tentavam conciliar vôos, cancelando alguns, juntando dois em um só, adianto decolagens, aguardando novas tripulações, etc. e mais etc.
Em síntese, decolar em Goiânia foi um ato com pouco mais de hora e meia de atraso; a espera em Congonhas, que seria de três horas, não foi reduzida, mas um pouco mais demorada, de modo que chegada ao Rio, prevista para as 14 horas no Galeão, aconteceu às 16h30min no Santos Dumont. Mas o cidadão, esse ser humano cheio de direitos, sempre quer um pouco mais. Diverti-me com os argumentos de uma senhora, aparentando experiências de cinqüenta anos, reclamava diante da câmera da tevê: "Sou filha de europeu. Somos um povo subdesenvolvido sim. Imaginem: ontem, o meu vôo foi cancelado; hoje, cheguei com dez minutinho de atraso e não pude embarcar".


Ou seja: na cabecinha dela, um atraso por razões técnicas ou de mobilização de classe é subdesenvolvimento; mas o atraso dela há que ser respeitado.

Eu, hem!


terça-feira, dezembro 05, 2006

Dueto: Chris Herrmann e eu

DUSSELDORF

O espelho diz-me sorridente
Da poesia doce e veemente
Que tu trazes no peito
Refletindo-o direito
Tua face contente
Sob o céu quente
Saudade mente
Dor mente
Do seu
Dorf
Dor
D+
+

Chris Herrmann
..

ALÉM DO ESPELHO

Li além do espelho; não me iludiu

o reflexo, o reverso: e o poema
escrito no peito, era feio,
era torto e imperfeito.
Era eu o poema, era
meu o peito e era
eu quem mentia
e escondia
aonde ia
a luz,
o dia.

Luiz de Aquino

segunda-feira, dezembro 04, 2006

A crítica e os críticos

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Penso seriamente em adotar uma postura sobre críticas: reproduzi-las aqui, para apreciação de todos. É que há inúmeros comentários sobre meus textos, quase todos favoráveis. Elogios, ainda que agradem, não nos aperfeiçoam. Gosto muito de comentários, desses que entram no tema e acrescentam, e ilustram. Mas, às vezes, recebo alguma crítica, e sempre procuro publicá-la.

Desta feita, porém, não foi comentário sobre texto do blogue, mas, sim, de um poema do meu livro “As uvas, teus mamilos tenros” (obviamente, de poesia erótica). Uma poetisa, escorada em décadas de amizade, achou que podia me dizer desaforos e qualificou o poema “Lábios, túrgidos lábios”(*) de “macarrônico e pornográfico”.

Bem, pornográfico todos sabem o que é: algo relativo à pornografia; e pornografia, é:


- “PORNOGRAFIA s.f. Tudo o que se relaciona à devassidão sexual; obscenidade, licenciosidade; indecência. / Caráter imoral de publicações, gravuras, pinturas, cenas, gestos, linguagem. (2002 Enciclopédia Koogan-Houaiss Digital);

E a outra palavra:


MACARRÔNICO adj. Fig. Diz-se da língua mal falada ou de composição literária mal executada: latim macarrônico, poesia macarrônica (segundo o mesmo dicionário).

O meu livro, está nos créditos, teve revisão de três professoras universitárias de Literatura, todas são também autoras literárias e mães de filhos e filhas; esse livro não é unanimidade, mas tem sido bem aceito em todos os locais aonde chegou. E justo uma velha amiga me dá essa “qualidade”!

Vou simplificar: A qualidade de texto, cuido dela desde a minha infância. Fui aluno de professores exigentes e aprendi a distinguir um texto fraco ou medíocre de um bom texto. E sei bem separar o que é pornográfico do que é erótico ou sensual. Portanto, rechaço com dignidade os epítetos que a amiga (?) me atribui. Omito seu nome, porque não darei fama a quem me agride; pela minha lavra, letra de forma só a quem realmente a merece. E concluo:

Macarrônico, cara senhora, é o seu texto, não o meu. Quanto à pornografia, entendo que é assim que você vê o sexo. Eu o vejo com amor.


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(*) Eis o poema em questão:



Lábios, túrgidos lábios
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Eu te caço, Loba,
pelas sendas da noite quente
e me asseguro de que o sol
não se anuncie tão cedo!

Eu te quero, Loba,
e nos teremos plenos
de volúpia e pêlos.

Inquieta-me o instante,
o agora em que toco teus lábios
com meus lábios e recebes minha língua,
e tenho a tua. Sorver tua saliva e sentir
teus seios a me ferir o peito.

Minhas mãos, sem pedir licença,
abrem-te os laços, os fechos, os botões.
Eu te toco com intimidade,
tateio tuas costas, sinto o volume
de tuas nádegas e o calor que elas abrigam.

Ah! O alimentar-me de tua pele eriçada,
a têmpera exata do forjar de Baco
quando nossos corpos, na efervescência de hormônios,
desejam-se plenos e prometem prazeres sonhados,
desejados, felizes...

Eu te quero,
esguia e clara como te vejo e tenho,
e sentirei teu úmido sexo
a festejar com o meu
a primavera da carne.

Com o cuidado de porcelanas,
beijarei teu corpo
com a delicadeza das sacristias.
E de joelhos, venerarei teus pés,
procurando a idolatrada,
amada mulher!

Tocarei teus cabelos e teus pêlos
com o toque dos mágicos e farei verter
de tuas entranhas
o mel de me saciar,
porque o beberei de tua virilha,
buscarei fruir dos pequenos lábios
essa seiva enérgica, doce e acre,
para untar-me a boca...

Meus dedos passearão tua pele
buscando entradas.
Sutis, entrarão em tua boca, ouvidos e narinas.
Explorarão o declive do teu colo,
as colinas dos teus seios e os picos,
bicos túmidos, sensíveis e sensuais.

Descobrirão teu umbigo,
cingirão tua cintura, farão pouso
em tuas nádegas suaves e excitantes,
e entrarão entre elas
à busca ávida do olho pulsante.

"Tuas nádegas abrem-se para receber meus dedos... E me delicio com tuas contrações sistemáticas que fazem brotar ainda mais o mel que te desce nos pêlos pubianos, encharcando os pequenos lábios, umedecendo os grandes e vertendo para os meus”.

A cabeça, erguida em prece,
vislumbra a fêmea, ereta e dócil
a acolher-me terna.

Genuflexo, enlaço-te as nádegas
e inebria-me o perfume
de teu ventre pleno
da volúpia ardente, ansiada
e finalmente vindoura!


A língua busca teu néctar.
Bocas que buscam prazeres e licores...
Adoro sentir-me lambendo tua virilha,
deliciando-me com teus pêlos.

Mãos que adoram seios e costas,
mamilos e nádegas e entre as nádegas!
E te bebo toda!
Sinto-te vibrando em minha boca!
Contorcendo, estertorando... goza!
Meus dedos te adentram, atrás...

Brinco com a língua, o clitóris.
Deslizo mais: pequenos lábios
(beijo-os, e minha língua encontra a gruta
gostosa e úmida e quente...).
Beijo-te costas, desliso a língua
em tuas nádegas, exploro-as,
penetro.
Beijo-te as coxas. Beijo-te o sexo.


Delícias ao acariciar-te os mamilos
e beijar-te devagar e quente; e ao morder teus lábios
como se morde uma cereja.
Sugá-los, como sugo morangos maduros.

Ah, nossos pés que se tocam nus,
peles que eriçam simultâneas!

Beijinhos e lambidinhas,
suaves, ternas, sacanas... Quero entrar em ti
com intimidade e conforto...

Viver todas as chances
de gozar.
Penetrar-te.
Abraçar-te por trás,
ter teus seios em minhas mãos,
entrar.

Absorver teu cheiro, e te pôr o meu.
Sentir teu corpo na leveza
de minha língua andarilha
que não se cansa de te saber sabores.
E tuas mãos, quero-as no meu corpo:
exploradoras, passeantes e desinibidas.
Porque as minhas
exploram-te também e sabem
onde parar, onde indagar,
onde entrar...

Mãos de amparo e de toque,
de espera e carícias...
Dedos que tateiam a pele
e percorrem dorsos,
descobrem vales e grotas.

Aceita a intimidade de minha língua
que desce por teu corpo
como a água do teu banho,
escorre, corre e
alcança tuas partes íntimas
e se deleita...

E tua língua na minha...
Salivas cúmplices!

Vou beijar-te: costas e nádegas,
mordiscá-las...
Demorar nos mamilos,
deixá-los túmidos e excitados...
Descer devagar,
brincar nos pêlos...

Acolho o cheiro de teu púbis,
a essência de teu sexo,
a pressão de tuas coxas
e a carícia de tuas nádegas.

Ah, mas preciso antes beber teu néctar mais íntimo! Sentir o pulsar do teu clitóris nos meus lábios, o roçar de teus pêlos no meu rosto, o calor de tuas entranhas nos meus dedos. Mulher, eu te quero! Eu te beijo o sexo e me molho de teu molho, eu te entro, então, com volúpia e amor, e te beijo a boca... Teu cheiro doce em minha boca... Tuas coxas em meus quadris... E molhas-me a virilha e me beijas a boca...

... e te convido
para gozar comigo,
e te espero, e me esperas,
e te sinto convulsiva em mim,
e te exploro feliz,
e te sinto a me descobrir
no êxtase do gozo pleno!



Visita ao tempo

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Lembranças são coisas boas que a gente vê por dentro de nós. São imagens retidas na mente e que muitas vezes nos mente, acrescentando coisas por nós desejadas às imagens de antes.


Parêntese: engraçada a palavra “antes”; certa vez ouvi de Cora Coralina “antanho”, que já havia lido em romances de antigamente; tudo é “antes”. Fecho parêntese, mas continuo a pensar na palavra antes e nas coisas de antes.

Circulei a Praça Tamandaré. Fiz, na memória, um filminho que começou nos primeiros anos da década de 1960. Era um largo imenso, despovoado e desprovido de coisas urbanas; não tinha mais qualquer árvore grande, nem as pequenas e retorcidas que deviam, sim, ter coberto aquele chão dez anos antes que eu a visse. Era cruzada por duas estradas vermelhas do chão nu que fora cerrado, as avenidas (na planta) C e E; a Avenida C tornou-se Assis Chateaubriand, dizem que foi porque os militares impediram o então prefeito Íris Resende de homenagear o presidente Juscelino; e a Avenida E, pelo prefeito Manuel dos Reis, passou a ser República do Líbano, no mesmo embalo das homenagens às Forças Armadas, gerando novos toponímios: Praça General Xavier Curado (em frente ao Lago das Rosas), Praça Santos Dumont (no Setor Aeroporto) e Praça Tamandaré (a velha e ampla Praça E).

O asfalto fez do Setor Oeste um bairro dito “nobre”. Raríssimas árvores originais sobraram, como um ipê roxo na esquina das ruas 6 e 3. Jaci Fernandes, quando secretário de Ação Urbana, mandou plantar muitas árvores no espaço onde antes se instalavam parques e circos visitantes. Mas nada de pequi, sucupira, pau-ferro, jenipapo... Nada! Jaci pretendia estender por vários outros pontos abertos da cidade seus minibosques, mas a medida ficou pelo meio. Nessa época, a Praça Tamandaré se tornou referência. Meu filminho termina com uma triste constatação: não existe mais nenhum dos imóveis que abrigaram os bares e restaurantes de vinte anos atrás. A memória da praça se foi, substituída pelas agências bancárias.

Esta semana, o moço boêmio de antes, agora “sexy-agenário”, tomou um chope num novo bar, margem esquerda do córrego Vaca Brava, que agora é temporário. Não posso dizer que o lado de lá é Jardim América sem ofender os “nouveaux-riches” (ou “emergentes”) que preferem chamar o lugar de “Bueninho”. O amplo terreno do boteco ostenta uma árvore nativa. Uma. Só uma, belíssimo exemplar de angico, madeira nobre.

Ainda bem que está em terreno particular; se estivesse do lado de fora, já o teriam derrubado. Tem sido assim, nesta atual gestão municipal. Em lugar de se monitorar toda a arborização, substituindo as mongubas que a cada chuva trazem riscos, por suas quedas ameaçadoras, a prefeitura simplesmente elimina qualquer árvore para não obstruir fachadas comerciais.

Triste: para se fazer cidade, Goiânia matou as campinas, o cerrado e a mata que, em harmonia, formavam a paisagem natural destas plagas (isto também é palavra de antes); e, agora, cuida de fazer um futuro áspero e seco. E eu me pergunto: se a Justiça cassa o prefeito de Anápolis por descumprir lei do próprio município, o motivo para Goiânia não é igual? Afinal, há leis de preservação nas três esferas de poder.