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quinta-feira, dezembro 31, 2015

Memórias tristes

Há cerca de 90 anos, era essa a paisagem caldas-novense, no largo que hoje se chama Praça Mestre Orlando.



Memórias tristes


Sim, é Caldas Novas...

A cidade em que apenas duas arquiteturas urbanas foram salvas. E, não por coincidência, ambas criadas pela família Gonzaga de Menezes – a igreja, edificada por Luiz Gonzaga de Menezes, dando origem ao povoado (em 1850 foi sacralizada) – mas os desinformados afirmam que a história começa em 1911, o ano da emancipação política (como se nascêssemos ao completar 18 anos).

A Igreja (primeiro, de Nossa Senhora do Desterro; depois - e até hoje - de Nossa Senhora das Dores) era assim até 1928.
Essa igreja tinha duas torres, até 1928. Os danos do tempo pediram reforma, mas a torre à direita (de quem a observa) exigia mais investimento e a solução, ante a falta de dinheiro, foi a amputação. Veja, agora, o que escrevi há poucas semanas no grupo (Facebook) “Caldas Novas das antigas”:

A meu pedido, e sobre uma foto feita por mim, o artista plástico e jornalista Sebastião Prates, um dos mais notáveis dentre os artistas goianos, acrescentou a torre mutilada em 1928... Essa arte é de 1981, o ano em que um padre um tanto afoito, com o apoio de um Conselho Paroquial intencionalmente montado só com forasteiros, resolveu demolir a Igreja - a mais antiga das edificações, origem do povoado que se formou em entre 1848 e 1850, por iniciativa de Luiz Gonzaga de Menezes. Como jornalista, atuei com dedicação para impedir esse crime patrimonial e histórico - e venci, graças a Deus!
Em 1928, a torre foi "amputada". Sebastião Prates sugere, aqui, que se restaure a parte faltante. 
Foi justamente na década de 80 que senti cristalizada a invasão da cidade. Ora, éramos todos descendentes próximos, em primeira ou segunda geração, de pioneiros adventícios. Por isso, suponho eu, aceitamos passivamente a vinda dos novos habitantes, que diziam “ter escolhido viver” na minha terra – mas a motivação não era o amor telúrico, mas a gana ambiciosa da exploração turística.

Esse aspecto é o que tenho na memória desde sempre (nasci em 1945, a pucos metros da Matriz de Caldas Novas).

E deu no que deu... A segunda edificação é o famoso Casarão dos Gonzaga, o sobrado onde nasceu o Dr. Osmundo Gonzaga (tio da minha cunhada Lucinha). E a transfiguração dos imóveis sobreviventes – de residências para fins comerciais – “enfeiou” a cidade. Dezenas ou centenas de construções que só sobrevivem em velhas fotos em preto-e-branco – ou nas memórias de nós próprios, antes que a senilidade as apague ou o tempo nos vença.

O famoso Casarão dos Gonzaga - é a outra obra que conserva, ainda, o aspecto arquitetônico
original. O resto, bem...


Há algumas décadas a sociedade local não tem sequer a tranquilidade de eleger um bom prefeito – o último, se bem me recordo, foi Antônio Sanches – um forasteiro que respeitou a cidade (e não sei de outro que possa ser definido assim). A Câmara Municipal, na atual gestão, tem apenas um caldas-novense nativo em sua composição – Sílio Junqueira. Em vias de reeleger-se para mais um mandato, o atual prefeito (que conclui em 2016 seu terceiro mandato) tripudia sobre a memória da cidade, ignorando sua história e protelando a reforma do tradicional Balneário Municipal Pedro Tupá.

Enfim... É ruim encerrar um ano com este desabafo memorial. É triste, porém, um cidadão portador das vantagens do Estatuto do Idoso ver sua terra natal ser vilipendiada em troca do interesse pessoal de um pequeno grupo de empresários e políticos. Esse mal-estar ensina-me que é compreensível o medo natural ante as mudanças – é que as mudanças por nós permitidas costumam, muitas vezes, virar-se contra nós próprios.

A população consciente de Caldas Novas é mínima... e muito triste.

Mas renovemos nossas esperanças para 2016. Quem sabe os poderosos mudem e passem a proporcionar alguma alegria ao povo?

* * *

Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.


domingo, dezembro 20, 2015

João Marcello, cantor e jornalista, guia internacional de turismo. Agora, Cidadão Goianiense - legalmente!

Discurso do jornalista, profissional de turismo e, principalmente, musicista (instrumentista, cantos e compositor) João Marcello (que os colunistas sociais dizem "nascido Marcelo da Silva Alves), em 16/11/2015, ao receber o título de Cidadão Honorário, em sessão solene na Câmara Municipal de Goiânia:


João Marcello - jornalista, profissional de turismo internacional e cantor talentoso, compositor espontâneo, mineiro de BH, goianiense por escolha e, agora, por Decreto Legistlativo!


Uma coisa é o palco, um banquinho e um violão – e uma plateia às vezes atenta, às vezes dispersiva que procuro conquistar com o repertório bem selecionado, o tom ideal e o acerto dos acordes.

Ou um grupo de turistas ávidos por saberem tudo de todos os lugares por onde arrastamos as nossas malas, mundo afora.

Ou ainda na missão de levar a Palavra de Deus ao coração das pessoas...

Outra coisa é estar neste púlpito – que, num ambiente político, chamamos de tribuna – tendo por ouvintes atentos amigos queridos e parentes leais.

(Eu discutia este introito com o Luiz de Aquino quando fiquei em dúvida entre púlpito, tribuna e parlatório... Foi quando a Mary Anne indagou se não seria um cadafalso – aquele palco muito usado na França das guilhotinas e por estas américas colonizadas e que, convenhamos, anda fazendo muito falta em Brasília!).



Boa noite, Vereadora Célia Valadão, você que começou a fazer esta festa há alguns meses, quando inventou de me dar o prazer de ser goianiense de direito – pois, de fato, eu já o era desde os meus primeiros passos por aqui.

Boa noite vereador presidente, amigo querido Anselmo Pereira! Minha saudação cordial a todos os membros desta casa pelo carinho da unanimidade a mim proporcionado.

 Boa noite, gente amiga – gente de casa (a minha casa), gente das suas casas que me toleram, gente dos bares e das tocatas, dos ambientes escolares (não é mesmo, queridos companheiros de Jornalismo na ALFA?) e profissionais da propaganda, do trade turístico, das caminhadas da Fé – ocasiões do aprendizado em Cristo e dos cânticos que, para nós, músicos gospel, são orações que elevam a alma aos pés de Deus.

Boa noite aos ausentes, aqueles que, no dizer do fabuloso Rolando Boldrin, viajaram antes do combinado. Ausentes, mas fortemente presentes no meu coração goianiense:
- Magda Santos
- Nivaldo Silva
- Anete Teixeira
- Paulo Fernando Pinheiro Rabelo
- Nelson Sanches (nosso querido Napa), irmanado ao nosso saudoso Geraldo Amaral 
- Wilson Vieira dos Santos
- Leleco (que marcou presença na imprensa e nesta Casa)
- Júlio Vilela
- Julson Henrique
- Pitico
- Os pianistas Assis e Luiz Carlos
- Os cantores Josaphat Nascimento (primeiro seresteiro de Goiânia), Marco Colheirinhas, Vanda, Boi do Roque



Além destes, muitos foram os profissionais da imprensa que me deram acolhida nesta querida cidade – meus parceiros Luiz de Aquino e Hamilton Carneiro, Jaime Câmara Junior, Maurício e Fátima Roriz, Rachel Azeredo, Paulo Beringhs, José Guilherme Schwan, Fábio Roriz, Cesinha Canedo, Reynaldo e Ana Cláudia Rocha, Peninha, Arthur Rezende Filho, Ciça Carvello, Carlos Brandão, Ulisses Aesse, Ivone Silva, Ana Manuela Fiadeiro, Britz Lopes, Luiz Carlos de Morais Rodrigues, Sueli Arantes, Elizete Araújo, Wassil Oliveira, Marcelo Heleno, Nelsimar Moraes, Jorge Cajuru, Amauri Garcia, Alípio Nogueira, Jackson Abrão, Neila Valadares, Handerson Pancieri, Malu Longo...
- e a saudosa Maria José! Dentre tantos mais, momentaneamente não lembrados, mas igualmente queridos e importantes.

Eu poderia começar arrolando as razões da minha paixão por esta cidade. Começaria pela sua topografia – o alto da Serrinha, do Mendanha e do Morro do Além, antes visíveis de todos os pontos deste sítio escolhido por Pedro Ludovico (e compreendo bem as razões de tal escolha).

Eu passearia pelas margens dos incontáveis caudais, desde o modesto Caveirinha (hoje, limite do meu quintal) até o imponente Meia Ponte, ao qual rendem águas o Cascavel, o Anicuns, o Botafogo, o Capim-Puba do Lago das Rosas e outros tantos de cortes sinuosos na pele verde das campinas e suas flores,

Não é difícil entender a inspiração de Atílio Correia Lima, o poeta das linhas que definem esta Capital como dona de um dos mais belos traçados urbanísticos, de sugestão da escola francesa dos anos vinte daquele nosso século – aquele “século passado” que Cora Coralina dava como o tal em que nascemos! (Hoje, somos nós que trazemos conosco todas as idades).

Honra se faça também ao mineiro Armando Augusto de Godoy. Atílio, filho de Paris e formado sob a arte e as técnicas francesas, traçou as ruas e, com isso, também os nossos destinos; esse mérito, divide-o com o Armando de Godoy continuou, implantando aqui o aconchego das cidades-jardins inglesas.

Goiânia da modernidade, da inovação, do rompimento com as tradições da antiga capital (sem nenhum demérito), do traçado elegante, do segundo maior acervo art-déco do mundo (rendida apenas por South Miami Beach, nos EUA), dos telhadinhos ideológicos das telhas francesas (que goteiravam horrores nos tempos de chuvas fartas), dos muitos parques, da exuberância de suas áreas verdes, dos bares, da boa MPG...

Viver este dia é passear no passado... Digo isso porque não me faço goianiense agora – este status eu o tenho desde que, literalmente, despenquei nesta terra!

(Verbalizações de improviso: 
 - Caminhão despencando na chegada;
 - Tempo em Ceres; 
 - Tempo na França - Clipe de FUI PRO MUNDO; 
 - Tempo em São Paulo).


  
E, quase finalizando, evoco os versos de Jorge Versilo: “Não se ofenda com meus amores de antes. Todos tornaram-se pontes para que eu chegasse a você!”. Viver noutras terras foi a escolaridade da vida para que eu me amasiasse a Goiânia!

Quero nessa oportunidade, dividir esse título com tantos amigos que, como eu, não nasceram aqui, mas que adotaram essa terra como sua, terra essa em que um dia, todos foram, de certa forma, “imigrantes” em busca de fazer a história acontecer.

Como profissional de turismo, tornei-me viandante, ainda que pelos ares, na rapidez deste nosso tempo. Em todas as minhas partidas, delicio-me com as viagens, apaixono-me pelas terras visitadas – mas nada é mais fascinante, emocional e feliz do que a volta. Lá do alto, pela minúscula janela do avião, encanta-me de olhar e sentir a ternura sagrada do traçado “atiliano” – que é para mim, sem qualquer dúvida, o santo manto de Nossa Senhora Aparecida!

Muito obrigado!

De Mara Narciso

Lembrar de quem fomos para
ter certeza de quem somos


Mara Narciso (*)

            Os laços dados na infância e na juventude são os mais apertados. Os fatos são marcados a ferro, e tornam-se inesquecíveis. Os passos escolares iniciais e com quais meninas convivemos nos primeiros anos de vida determinam boa parte do que seremos. Pessoas queridas, com as quais tivemos pouco ou nenhum contato durante as últimas décadas podem ou não nos acrescentar alguma coisa agora? Personalizando: para que eu vou nessa reunião com ex-colegas do Colégio Imaculada Conceição, que não vejo há 45 anos (ou mais)? Eu vou gostar de estar com essas pessoas? Em quem elas se tornaram? O que vou achar delas? O que elas vão achar de mim?

            A internet proporcionou muitos retornos e encontros com o passado, e resgatar tem sido a palavra de ordem. Num primeiro contato virtual no grupo do WhatsApp poderá acontecer uma ebulição meio despudorada para se mostrar o que de mais importante aconteceu. As pessoas de maior brilho tomam conta da conversa, dominam a cena, falam mais, sentem que têm mais coisas a dizer, e dizem. Há quase uma obrigação de explicar que a vida teve um grande sentido, que foram construídos bons afetos e boas coisas, que se foi feliz. Ou quase. Outras não, mas muitas querem mostrar a imagem que têm agora, com cuidado na escolha das fotos, expondo lugares, maridos, amores, filhos e netos. Não há propriamente uma disputa, mas as posições logo se definem.

            Na quase demarcação de território, pode acontecer uma leve tensão inicial, pois as letrinhas não têm entonação. Cada uma demonstra, ao escrever, a sua característica mais marcante, seja ela para a linha religiosa, o espírito solidário, a propensão a coordenar ou a capacidade de agregação. Procura-se mostrar o melhor lado, mesmo nas discordâncias, pois afinal, não se chegou até aqui em vão. A experiência de vida trouxe traços de sabedoria e equilíbrio, assim a calmaria chega em forma de brincadeiras e risos. Todo mundo quer ver todo mundo. A agitação física e psicológica se faz notar. Poucas ex-colegas não querem participar, e, adicionadas, saem do grupo. As que estão excitadas com as loucas possibilidades que se avizinham ficam perplexas. Mas por quê?

            As colegas mais afins já estão à vontade. Algumas já se encontram esporadicamente, outras moram fora há vários anos. Umas poucas estão no exterior. Os principais dados sociais foram informados, tais como, profissão, estado civil e prole, sendo, pois desnecessários pessoalmente. Fala-se dos pais, dos professores, das lembranças estudantis marcantes.      
      
A boa expectativa quanto ao primeiro encontro manifesta-se nos preparativos, e na ansiedade juvenil vem a pergunta: com que roupa eu vou? No primeiro momento do reencontro, depois de tanto tempo, há susto, um pouco de medo, seguidos de alegria e dúvidas: fui lembrada, lembrei? A visão de fotos antigas postadas fez seu papel de ligar passado e presente. Assim, olhando o rosto da mulher madura se busca a menina de outrora, logo resgatada. Então, vem a fase da descontração, ainda que algumas se sintam falando sozinhas, ou isoladas, enquanto outras se mostram as rainhas da festa, coisa previsível, até devido às características psicológicas.

  Depois, vem o segundo grande encontro. É a confraternização de fim de ano. Há pouca ansiedade e agitação, mas muita alegria e felicidade. Quase todo mundo está à vontade, e tudo parece normal. Não se sente à cabeça girando como se estivesse num túnel do tempo, o que foi relatado na primeira vez. Também não há julgamentos ou críticas, apenas a sensação de se estar num porto seguro, um lugar que parece ter sido sempre nosso. As lembranças são leves. Fixamos no que foi bom e engraçado. Não é preciso ficar ligadas no lado pesado da vida. Estamos aqui, vivemos, lutamos, vencemos cada uma ao seu modo, a maioria na ativa e umas poucas aposentadas.

Depois do jantar, dizemos que o encontro foi perfeito. Os fortes sentimentos despertados na juventude persistem. O convívio com pessoas educadas e de bons princípios nos fizeram ser quem somos. Sabemos ter sido um privilégio essa convivência que gerou amizades feitas para durar, e, não importa que as contingências da vida tenham nos separado. Temos diante de nós, muitas histórias de vida para conhecer. A fervura continua, queremos descortinar cada filme, ler cada romance, programar novas aventuras. 

Apenas por que é bom!

Mara Narciso: médica, jornalista e escritora (Montes Claros-MG).
19 de dezembro de 2015


sábado, dezembro 19, 2015

Natal de ternura e versos

Literatura Goyas, Antologia 2015 e Histórias de Ternura


Natal de ternura e versos



Nas últimas semanas, “um amigo meu” recém saído da faixa dos “sexy-agenários”, anda propalando aos quatro ventos o seu desencanto ante a realidade nacional. Nossas universidades despejam bacharéis mal formados – legitimamente chamados de “analfabetos funcionais”. A classe política está desacreditada, falida, suspeita e parte dela, expressiva pelo peso dos nomes, encarcerados ou obrigados a usar tornozeleiras eletrônicas.

Em 1964, num manifesto à nação para justificar o golpe de Estado, os militares conspiradores afirmaram que “as elites civis estão falidas”. Será? E agora, hem? Não quero falar dessa proposta petista para tirar a presidente Dilma (petista, sim! Quantas vezes, desde Fernando Collor, o PT apresentou pedidos de impeachment?). Não quero falar nas artimanhas do Eduardo Cunha. Nem dos “pastores” que se parecem muito mais com as siglas partidárias do que com as “denominações” de suas igrejas.

Esse “meu amigo” chega a dizer que preferia ter morrido alguns anos atrás – não sofreria tanta vergonha nem seria obrigado a admitir que a nossa geração faliu, fracassou, errou em tudo! Mas, incrivelmente, a dos nossos filhos, também! E não foi suficiente mostrar-lhes, como o fizemos, os pontos em que falhamos.

Então, questiono esse “meu amigo” dizendo-lhe que podemos enfiar a cabeça na areia. Ou melhor, enfiar os olhos e toda a concentração em algo que os-de-agora não sabem fazer: percorrer nossas estantes, escolher alguns livros, sempre há alguns que não lemos ou mesmo aqueles que somos tentados e reler.

Ou, então, recorrer à iniciativa de alguns amigos – Ademir Hamu, que aliou-se à Rossana Almeida R. Alencastro Veiga e, juntos, produziram uma belíssima antologia a que chamaram de Histórias de Ternura. E também o Adalberto de Queiroz, que recrutou 46 poetas numa antologia – Literatura Goyaz, Antologia 2015 – de poemas e minicontos.

Coincidência – 46 casos de ternura (alguns produziram dois textos) na antologia de Ademir e Rossana, 46 poetas na coletânea poética de Adalberto. Eu próprio marquei presença nos dois livros. Histórias de Ternura teve lançamento festivo e muito concorrido no Bougainville, e Literatura Goyaz, Antologia 2015 terá sua festa em janeiro.

Em ambos os casos, os livros podem ser adquiridos diretamente com seus organizadores (custam, cada um, o preço módico de R$ 20,00; acho que é a primeira vez que uso a palavra “módico”, mas não vou explicá-la). Na última sexta-feira, fiz um “kit” – um de meus livros de poemas e mais um exemplar Histórias de Ternura e Literatura Goiás, Antologia 2015 – e presenteei o amigo-secreto na minha primeira confraternização deste Natal.

Aguardo, pelo correio, o Volume 5 de outra antologia de que participo – Pedro II Tudo ou Nada? -, organizada pelos meus queridos Mirian Cavalcanti, Paulo Rubem S. Valente e Fernando Quintella. São algumas dezenas de crônicas e poemas, publicados a cada ano, por joviais coroas que estudaram no tradicional CPII, no Rio de Janeiro. A condição para se participar é apenas a de ter sido aluno do Imperial Colégio. Ou seja, entre nós há também alguns jovens que sentem o mesmo amor que nós e gostam de recordar tudo o que marcou nossa vida de adolescentes em uniformes (ainda mais naquele uniforme!).

Deste falarei assim que receber meus exemplares!

***


Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.

domingo, dezembro 13, 2015

Ritos e... Ratas!


Ritos e... Ratas!


As manhãs de domingo em casa de minha avó Inês (escrevíamos Ignez), lá em Marechal Hermes, nos anos de 1956 e seguintes eram agitadas! Adultos que trabalhavam estavam em casa, crianças estudantes estavam em casa ;os sábados eram tidos como dias úteis, e acordávamos cedo no domingo, dia de folga e prazer.

Eram muitos os jornais diários no Rio, então capital federal. E, aos domingos, vinham cheios de coisas boas! Nesse dia, comprávamos O Jornal, O Dia, Diário de Notícias, e, às vezes, o Correio da Manhã. Como se lia naquele tempo! Eram dois os hábitos bons, quase desaparecidos – a leitura (de livros, jornais e revistas) e o rádio. Músicas, novelas e notícias eram constantes no rádio e os jornais detalhavam as informações.

Eram os saudosos “cinquenta anos em cinco”, o mandato de Juscelino Kubitschek de Oliveira. Construía-se Brasília, as represas de Furnas (no Rio Grande) e Três Marias (no São Francisco), asfaltavam-se rodovias. O Brasil, até então quase que exclusivamente litorâneo, descobriu-se terra adentro.

Tivesse eu, menino de 15 anos, adormecido naquele saudoso 1960 (antes que se elegesse Jânio Quadros para começar o desvario no Palácio da Presidência da República) e acordado nestes anos pós-miliares, pós Sarney e pós Collor, não compreenderia o quanto se desqualificou o cargo de Presidente da República! Vou pular FHC e Lula e centrar atenção nos discursos de improviso da Senhora Presidente.

Não quero recordar a campanha de 2014, quando imaginei que atingíramos o mais baixo nível dos colóquios políticos da História – as reuniões da Comissão de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara Federal mostram-nos que “o buraco é mais em baixo”, é bem mais fundo! Não quero recordar aquilo de “a mulher sapiens”, nem a descoberta “do valor da mandioca”, nem o modo como a vacilante senhora tenta definir a casa própria.

Espanta-me que se queixe ao ser citada como desonesta (um eufemismo oposicionista, já que nada se prova de ações desonestas dela como cidadã – mas nem seus correligionários a isentam de suspeitas no exercício do cargo, pois que enfatizam sua “honestidade pessoal”). O problema, Dona Dilma, é que a senhora, ao que parece, acoberta erros graves de “cumpanheros”, pois solidariza-se, sem muito disfarçar com os que se defendem de modo claudicante de evidências surgidas em investigações que a senhora diz “permitir” – ou “ter instituído”.

Estranham-me as notícias de que “o Planalto” (nome metafórico para o poder) manda que os deputados da base poupem Cunha. Estranha-me que se possa noticiar (porque se pode comprovar) esforços no sentido de se barganhar proteções – nem o Cunha cai do posto de segundo na linha sucessória, nem a senhora é alvo de processo de impeachment.

Mas o Cunha roeu a corda, feito rato (desculpe, nenhuma insinuação de minha parte, por favor!). E Sua Excelência desce da soberana posição de Maior Mandatária desta Nação Brasileira para “se defender”. Ora, não era o momento! O povo brasileiro já vê no deputado Eduardo Cunha um refinado escroque. Como político corrupto, ele faz de Moisés Lupion um arremedo de trombadinha desarmado. E a Presidente da República desce de seu pedestal para responder ao melian... Desculpem-me novamente – ao presidente da Câmara!

A senhora, Dona Dilma, não deve jamais falar de improviso! Mas não deve também confiar tanto em seus assessores, já que estes não a orientam devidamente! Dizem que a senhora é autoritária o bastante para não aceitar conselhos de quem é regiamente pago para orientá-la (conheço políticos menores com igual rompante).

Mas, Senhora Presidente, contenha-se! Respeite isso que um de seus ícones (seu, mas não meu), o ex-presidente José Sarney, chamou de “Liturgia do Cargo” e contenha-se. É que todas as suas gafes já alimentam a história que se lerá amanhã.


***

Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.

sexta-feira, dezembro 11, 2015

Natal - Sônia Maria Santos

Sônia Maria Santos, poetisa

NATAL
Sônia Maria Santos

No calendário da memória
Natal é luz que seduz ainda.
Em criança, a missa do galo,
depois a janta, na justa medida.

Simples, no arrastar da lida,
o pão em fatias, o amor calado;
no tempo, em sua asa frágil,
natal de estrela e orvalho!

Primordial é seguir ouvindo
sonoro sino soando encantado,
e uma lapinha pronta no coração,
para Jesus, o menino amado.

Alegria, o melhor presente,
devoção, doce amor ao outro,
alma nova - um círio ardente,
um brinde! É Natal de novo!

quinta-feira, dezembro 10, 2015

Poemas natalinos - José Fernandes e Miguel Jorge

Dois poemas:



1) De JOSÉ FERNANDES


NATAL

Estou Natal e vejo o mundo recomeçar
nesse fim de mundo em que o menino
olha do fundo da manjedoura os burros
e seus pecados sempre renovados.


Pisando sobre a maçã, ele redime a serpente
fantasiada de Eva com tentações tantas repetidas
pela mensagem de um fim que deveria ser
começo.

Estou Natal e vejo esse mundo esquecer-se
de que tudo começa com o sopro do menino
nas vacas que pastam a manjedoura pensando
o saber do tempo.

Estou Natal e ouço as trombetas anunciarem
um novo tempo aos jumentos que enxergam
apenas os resultados de sua jumenta sabedoria
que os leva a imaginarem-se eternos

não pela força do espírito, mas pela quantidade
da imagem e dos números multiplicando
sete vezes sete a máquina do tempo e suas novas
serpentes.

Mas, como estou Natal, renasço novo velho
de alma e espírito no desejo de que o menino
cresça em cada homem o humano de homem
em sua travessia de tudo e nada ou de nada
e tudo.

(Natal de 2012)


2) De MIGUEL JORGE

O Natal do Menino


Neste Natal, que não se percam as esperanças,
mesmo entradas em melancólica desarmonia.
Mesmo a se digladiarem entre o sim e o não,
Abrir-se em alegrias para os sonhos
que se têm para sonhar.

Não se percam as vozes no sobrevoo de outras vozes,
Dos que se crêem felizes com o princípio eterno do amar.
Socorrem-nos as rezas a partir do agora. As comezinhas causas
das cozinhas, a segurança de não mais sentir-se armado,
Pois a realidade da vida é igual à própria vida.
(o menino plantou uma árvore de Natal.
Nasceram nela olhos mecânicos. Em um deles
viam-se bombas, como que disfarçadas em pombas.
Em outro, corações partidos, esvaziados de lembranças).
- Vale mais o interior das pessoas, a horizontalidade dos dias,
- O elo das flores, o virar das esquinas sem medo.
- As alvas manhãs sem condenações.
- As alegrias das casas, embora adversidades tantas.
(O menino ficou imaginando: se plantasse outra
árvore, o que nasceria dela? Era bem difícil adivinhar.
Viria outro planeta em seu socorro? Alguém lhe traria
de volta os patins que ontem lhe roubaram? As vozes voltariam
cheias de calor?)

Neste Natal, várias chaves abrirão novas portas, esperamos. Músicas, murmúrios, milagres a se renovarem, ausentes de qualquer surpresa.

Pois, Natal é dar voltas ao mundo, é dar rimas ao universo, é iluminar com novas luzes velhas estrelas.

(O menino fechou os olhos, alguém acendeu uma luz.
Era o sonho que voltava, talvez a iluminar seu futuro.
Havia coisas belas, figurações de anjos, campos de céus,
e uma criança a sorrir na manjedoura).

Neste Natal, precisa-se recorrer às harmonias das cores,
todas elas. Esquecer as armas, mesmo as que se havia
imaginado, que bombas são intervalos para pesadelos.

(O menino ajoelhou e rezou. Não sabia por quem, ou
para quem, mas orava. Estava diante dele mesmo a se dizer:
que os homens, os deuses, as religiões não podem pesar-se
em balanças. As almas se reconhecem, os corações abrigam-se
nas cores que os céus apontam. O mesmo céu que dá vida às flores,
nos intriga com seu silêncio).

O menino não se lembrou de mais nada,
nem mesmo dos patins. Sabia que a vida era
cheia de atalhos. Não havia perturbações,
nem desânimo em seu coração. Lá fora, as árvores
arrebentavam-se em florações e quem por lá passasse
certamente ergueria os olhos para elas. Certamente
sorririam. Certamente não teriam mais pensares para absurdas geografias. Verdadeiramente o dia teria sido.


(Natal de 2015)

quarta-feira, dezembro 09, 2015

Aqueles meninos sob a Águia, outra vez!



Aqueles meninos sob 
a Águia, outra vez!

Sábado passado, dia 5, eu deixei um belo evento de arte e comilança (agora apelidada de gastronomia) e dirigi-me ao restaurante Bartolomeu, do querido ex-aluno Pedro Vasco, no setor Oeste, onde um grupo “da pesada” do tradicional Liceu se encontra todos os anos para recordar a passagem entre as decantadas décadas de 60 e 70 para confraternizar-se – e nisso, envolvem-nos, seus velhos professores. A iniciativa tem por líder o Dr. Pedro Dimas e junta gente, muita gente, de várias profissões, com predominância de engenheiros, seguidos de médicos, administradores, advogados, professores... Decidi agradecer-lhes com a mensagem que transcrevo:

Querido Pedro Dimas,

Esses "meninos sob a Águia", adolescentes da minha juventude, avançam, já, na casa sexy-agenária e o fazem com uma qualidade especial, que é a alegria e a vontade de preservar lembranças, contatos e esse modo de amor imorredouro (um poeta disse que "amizade é um amor que não se acaba").

Não bastassem essas motivações, vocês extrapolam ao envolver também os velhos mestres (sim, nós já somos velhos, mas vocês, não - estarão sempre no limiar entre se ser-adulto e ser-velho (não gosto da palavra idoso, ela me parece antipoética, mas velho soa-me como medalha, maravilha...).

Sinto-me meio-campista nos encontros, quando vejo ali o Prof. José Maria, nosso decano aos 95anos, de quem não fui aluno mas via sempre como o profissional a ser seguido, e a Profa. Eclea Campos Ferreira, colega de magistério no Liceu e minha mestra na Faculdade de Filosofia na UCG (PUC).

Vê-los reunidos é a visagem desfrutada na rampa; poucos passos após, eis-me imerso nessa paisagem e nesse tempo, e as quase três horas que passei com vocês renovaram-me para esperar o futuro porque revivemos o passado, ou melhor, relemos parte das nossas histórias de vida.

Emociona-me, também, o carinho de olhares que trocamos, os gestos de afeto, a cordialidade de tantos e tantos! Você, Ana Maria e Pedro Vasco simbolizam bem a tônica que move esses encontros e, sem exagero, afirmo que renova o desejo de continuar vivendo. 

Obrigado, Pedro Dimas! 
Obrigado, meninos da Águia!



Luiz de Aquino (professor de Geografia e Educação Moral e Cívica, naquele tempo).


Preciso registrar também que, pela segunda vez em sete encontros, os organizadores cuidaram de gravar um CD com músicas de época. Este ano, uma nova edição traz canções dos anos 50 e 60 que marcaram indelevelmente a geração desses garotos do meu tempo moço. Em ambas as capas, o imponente edifício histórico do Liceu e um poema da minha lavra, especialmente para tal fim, escrito assim:

Esses meninos sob a Águia...

Era um tempo de homens rudes, 
mulheres doces - seres severos… 
Tempo de nós muito jovens.

Sonhamos crescer, lutar... Quem sabe? 
Alcançar liberdade – palavra perigosa, 
vigiada e guardada a chave.

Meninos grandes de uniforme bege e branco; 
jovens mestres de jaleco, pastas, livros
e giz ante o quadro escuro...

Quadro negro, quase sempre verde... 
Lousa, massa e cimento
berço de textos e contas – lições.

Calça cáqui, sapatos pretos, saias medianas; 
meninas de meias brancas, muito alvas 
– rigor religioso, aquele!

No peito, a águia! Vigia solene, 
asas  abertas ao voo 
viagem no tempo a vir!


E o sentimento de fé e sonhos. Marcamos: 
 sine die, seja sábado e noite, 
mas em quarenta anos (ao menos).


(Luiz de Aquino - moço professor de 1970, feliz outra vez entre vocês!).