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domingo, fevereiro 28, 2021

Aconchego


Arte: Nonatto Coelho

 

Aconchego


Assim como chego, 
silente e triste, 
deixo marcas de assanhar saudades.


Tenho sede 
e bebo o néctar de seus lábios (todos 
os que me dás de terna).


Tenho fome, sorvo estrelas do teu desejo 
e, para o frio, abri-me de amor 
em tenra cova.


Poeta Luiz de Aquino

sábado, fevereiro 27, 2021

Amor e fogo


 Amor e fogo


A dor que vem do confronto 
é dor de doer por pouco
e esquecer.


O que dói
é a dor de dentro, 
feito fogo de fundo: 
mágoa nas águas 
que correm sem volta.


Melhor morrer de amor. 
Amor é incêndio.


Poeta Luiz de Aquino


sexta-feira, fevereiro 26, 2021

Terno



Terno



Passeio meus dedos
nos seus cabelos,
e deles faço água de cascata
para encantar meu faz-de-conta.


Entendo seus olhos semicerrados
e a respiração ofegante,
a ternura da cabeça
em abrigo no meu peito


                (almofada de pétalas para
                aconchegar seus medos,
                seus anseios, suas dúvidas
                e seu repouso).


* * *
Poeta Luiz de Aquino

quinta-feira, fevereiro 25, 2021

Cálice


Cálice


Tua boca: cálice 

de precioso veneno, 

que me entorpece,

e não mata, 

e me seduz.


Mas não domina: 

Conduz-me a voos felizes...

Poeta Luiz de Aquino, da Academia Goiana de \Letras.

quarta-feira, fevereiro 24, 2021

Tatuagem

 Tatuagem 

 


Meu poema é prece em pele

que se eriça, me atiça, enfeitiça. 

Brota leve e lento

e cresce crespo, selvagem

e doce, dócil, digitado 

feito flor, fácil e tátil:


                     − É que te amo!


Poeta Luiz de Aquino


terça-feira, fevereiro 23, 2021

De mãos

De mãos

  

Eu te dou minhas mãos
e tomo nos olhos
teus olhos de susto.
Há tempos, eu sei, podíamos saber
de nós próprios
e a vida seria bem outra, talvez.

 

Eu te dou minhas mãos
e te espero sorrir, insegura:
haverá um beijo, é possível,
e haverá teu tremor entre meus braços.

 

Eu te dou minhas mãos
e te tomo nos braços
e te convido para olharmos,
lado a lado,
a profundidade do futuro:
se aceitares,
dar-me-ás tuas mãos
e as tomarei comungando
nossos corações.

 

 * * *

Poeta Luiz de Aquino

segunda-feira, fevereiro 22, 2021

Mais um sinal

 


Mais um sinal

 

Fosse bom estar só
e não haveria tanta noite
todos os dias.
Fosse bom estar só
e não haveria essa busca
aos quatro cantos.
Fosse bom estar só
e não haveria este canto
sem melodia.

 

Antes que a noite se acabe,
olha outra vez pro meu lado.
Se houver um sinal,
sairemos os dois por aí
e nossas mãos vão se dar
e nos vamos olhar no escuro
e não veremos a noite acabar.


De carinho, ficará a lembrança
dos teus pés nos meus
sob os lençóis
e tua voz embargada
a me dizer bom dia.

 
Poeta Luiz de Aquino





 

domingo, fevereiro 21, 2021

Trova

 

Trova

 

Na pele, cor de avelã;
nos olhos, amor inteiro.
Faz-me feliz na manhã,
vestida feito um canteiro.

* * *

Poeta Luiz de Aquino








 

sábado, fevereiro 20, 2021

Voz e chama

 Voz e chama





Uma semana inteira e 
só eras voz. 
Carinhos em sons, balsâmicos, 
telefônicos. 
Mas sugerem o toque das mãos, 
de rostos e lábios 
e línguas que anseiam morangos.

 

Sei da saudade,
da ausência,
da distância.



Mas já nos veremos. 
Teu olhar vai acender o meu.

 * * * 

 
Poeta Luiz de Aquino


 

sexta-feira, fevereiro 19, 2021

Refazendo

 

Refazendo

 

Muitas vezes me pus
a delinear teu corpo,
senti-lo em mim.

 

Sim... alguma prosa e os versos
lembram imagem e cheiro
 – sua figura leve e meiga.

 

Pele morna, textura excitante 
e toque suave 
a eriçar-me os pelos.

 


Os hormônios, como se fervessem,
moviam-me ao Nirvana
de todos os gozos.

 

                    Delicio-me no vulcão
                    dos teus desejos 
                    a fazer par com os meus!



Poeta Luiz de Aquino


quinta-feira, fevereiro 18, 2021

Jogo poético


 
Jogo poético, 

segundo tempo 


Poema de duas estrofes
de 45 minutos, sujeitas
a uma ou duas sílabas mais... 


Versos que são passes, palavras
que são dribles,
sem faltas nem laterais. 


O certo é que se tem
por prêmio que se dá o vate
um gol em cada sílaba (não 
mais).


 

Poeta Luiz de Aquino

quarta-feira, fevereiro 17, 2021

Templo

 

Templo

 

Mãos: nós as temos por selos
do amor ingênuo, preso como
as lágrimas da ausência.


Fizemos dos olhos 
sondas de nossas almas. 
Viajo sonhos 
quando seus pés me acarinham.

 

Bocas: silêncio no cio,
calam-se gêmeas porque nos sabemos
um só corpo de nossas muitas almas
amantes.

 

Olhos: mansas lagoas
que só de olhar me atiçam
e enfeitiçam.

 

            Quero ser mero regato
            afluente desses lagos,
            vertente desses olhos.


* * * 

 
Poeta Luiz de Aquino

terça-feira, fevereiro 16, 2021

No silêncio das mãos

 


No silêncio das mãos

 

Eu queria poder te cantar
um afago, um agrado ou um fado,
quem sabe? Um afeto discreto ou
um gesto falando de amor.

 

Eu queria dizer pros teus olhos
do gosto e dos sonhos,
dos risos e angústias que trago
dos dias na espera
de um brilho de sol.

 

É assim, ó Amada, que eu gosto
de tanto pensar em te ver.
É assim, ó Amada, que eu quero
pra sempre pensar em te ver.
E é assim, ó Amada, que penso em querer
te querer.

 

E que um rio, um fio reviva a esperança:
seremos, então, mais amantes
no silêncio das mãos entrelaçadas.


* * *


Luiz de Aquino,  poeta.




Vingança

 



Vingança (*)

 

Eis-me, Anamélia, de alma aberta,
exposta ao teu senso de amor
e escolha. Nada mais ouvirás
de perguntas, por não ser teu
saber responder. Nada mais ouvirás
de tanto-amar-te se não me deres
de tanto-amar-me.


Impões a distância
e o tempo da ausência,
exiges o silêncio
por tácita anuência.


Dou-te o tempo, aceito a distância,
mas imponho-te em vontade
a infidelidade
da vingança inútil, inútil prazer
de te fazer traída
por não saberes por teu
quem de amor te fez eleita.


 * * * 

  
Poeta Luiz de Aquino

 

 (*) Este poema é do livro Isso de nós (1990). Há outro no livro Sinais da Madrugada (1983)

domingo, fevereiro 14, 2021

Amanhece

 


Amanhece

 

Eu sei de mim,
que me furto nos copos
em bares menores da noite.

 

Eu sei de meus gritos
íntimos
quando sinto o silêncio dum olhar
qual mortalha de tudo
o que seria nosso.

 

São gritos perdidos
num peito enorme,
de coisas estranhas que se expandem
na solidão das noites.

 

De nada vale o trinar do pardal
na manhã:
a noite foi longa
e só. 


* * *

Luiz de Aquino, poeta.


sábado, fevereiro 13, 2021

Último poema para M. A.

 

Último poema para M. A.

 

Não me amarga a boca,
eu tive o teu beijo.
Difícil é conter o amargo nos olhos,
a dor na lua cheia.

 

Tive o teu beijo. Andei muitas léguas
no ziguezague dos bares
— Há vida nos bares da vida,
vida pouca em tantos bares!

                        Não me dói, nada me dói.
                        Nada bebo. Dos garçons
                        desperto a ira:

                        — Nada?
                        — Cicuta! On the rocks!


* * * 


Luiz de Aquino, poeta.



 

quinta-feira, fevereiro 11, 2021

Luiz Fernando

 Luiz Fernando:




Ele chegou com o Sol, as seis e meia deste hoje, 11 de fevereiro, 2021. Mas como era esperado!... 
O pai (meu filho Fernando) escolheu seu nome ainda na adolescência, e minha nora Flávia o gerou com esse tipo de amor que nós, homens, só entendemos quando nos pomos na condição de filhos. Seu irmão grandão, o Daniel, participou em silêncio e brilho nos olhos desde a notícia da gravidez. 
Por causa deste netinho que me faz feliz, que me faz babão por ser meu xará e para acarinhar os pais dele, deixo de publicar poesia hoje. 
Estou perdoado?

Luiz de Aquino, poeta e avô (de novo)

quarta-feira, fevereiro 10, 2021

Natural

Natural

 


Nos olhos, ônix e filigranas

de água-marinha. Mas traz nos dedos

asas suaves

de amplas borboletas.

 


                    Os lábios... Ah, vou bebê-los

                    até o sol nascer outra vez!


 * * *

      Poeta Luiz de Aquino

        




terça-feira, fevereiro 09, 2021

Lembrar lembranças

 Ilustr.: Roos, 1990, e Internet


Poema de lembrar lembranças

 

Volvo ao ventre: feto.
Venho à luz, fito fatos,
faço foco — imagens difusas,
turvos vultos na memória.
Fotografia encardida, sépia esmaecida.

 

            Lembro cores e sons,
            passos pequenos
            de mulher descalça.

 


Caldas Novas: teu seio
inteiro em minha mão inteira,
mamilo intumescido nos meus lábios...

 

            — Lembra o hímen sob espuma,
            banheira de hidromassagem.
            E o prazer de se fazer mulher!

 


... passos miúdas na calçada,
noite cúmplice!
Ligo o rádio toca Beatles,
Jovem-Guarda, Rolling Stones...
Toca Elis e Wanderléia,
Rock’n Roll, Iê-iê-iê...

 

Let’s twist again!
Quem diria?!

 * * *

Luiz de Aquino, poeta.



segunda-feira, fevereiro 08, 2021

Isso de nós


 

Isso de nós

 

Num dia qualquer
eu te veria travestida
de outra voz, outro cheiro, outro olhar.

 

Temos isso de nós: tato e olfato.
Ficou-me o teu beijo
e o desejo explode
a cada carícia

 

Inquieta-me a ânsia
para que livres nos tenhamos
na cumplicidade de línguas e olhares,
de gestos e atos, palavras e fatos.

 

E sonho-te e te quero
como quero que me sonhes.

 

O presente tem pressa.
Falarei de amor
ante o silêncio dos teus olhos.

 

 * * *


    

Luiz de Aquino, poeta.