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domingo, março 29, 2015

O protocolo, as vaias e o conflito


O protocolo, as vaias e o conflito


Vaias e gritos contra o governador Marconi na recepção a Dilma Rousseff, no Paço Municipal. Certo que aquele evento, na quinta-feira, dia 19, em Goiânia era temerário: a presidente vinha à cidade logo após o domingo de manifestações contrárias em todo o país – e Goiânia participou com uma concentração e passeata de 60 mil pessoas. A recepção nos limites do Paço Municipal possibilitou uma certa confiança na segurança montada, e tal se deu.

Temerária também era a presença do governador Marconi Perillo na recepção – mas ele foi. E foi vaiado, como era de se esperar. As postagens dos radicais nas chamadas redes sociais mostram que os fundamentalistas pró-Dilma são radicais contra Marconi, enquanto os fundamentalistas anti-Dilma não diferem muito dos militares do PT e de seus aliados mais à esquerda – movem-se mais pelo ódio que por ideologia.

Houve as vaias e a reação do governador. Ele justificou com firmeza sua postura, lembrou que jamais exerceu posição agressiva à presidente e que reconhecia a legitimidade de sua eleição. Nas redes, opiniões conflitantes e radicais, de novo. Uns mostrando-se decepcionados com o governador, outros definindo-o como aprendiz de Iris Rezende. E os menos radicais apontando para a conveniência (absorver para si os que apoiavam Dilma e estão, agora, insatisfeitos com ela) e o protocolo (a diplomacia deve ser uma constante nas relações entre os entes governamentais).

Marconi agiu certo, a cordialidade é dever de um governador ante a presidente. E, convenhamos, ela foi, de fato e legitimamente, eleita. Oponho-me a ela, pelo péssimo governo realizado e pelas promessas de campanha que caíram no vazio assim que o TSE assegurou que ela estava reeleita. E acho também que agiu certo o Sr. Cid Gomes, ministro da Educação até a última quarta-feira.

Para uma "pátria educadora", o corte de sete bilhões na verba da Educação, a bagunça instalada nos computadores que operam o FIES e o esvaziamento (por isso) da autoridade do ministro, o desfecho se justifica. O Parlamento sentiu-se ofendido. Poxa, coitadinhos! Ele falou que 400 ou 300 seriam adeptos do "quanto pior, melhor" e que tal postura acontece para viabilizar a extorsão – ou achaque – ao Executivo, negociando os votos e ações.

Alguém duvida? Ora: naquela manhã, a Folha divulgou uma pesquisa de opinião em que o apoio à presidente Dilma caiu a 13% e apenas 9% dos brasileiros consideraram os parlamentares ótimos e bons. Ou seja: Cid Gomes está certo. E se é para cair, que se caia com dignidade (ainda que com uma boa dose de grosseria).

O fato é que Dilma Roussef, após a eleição, arriscou-se numa empreitada de esvaziamento do PMDB, o principal partido na rede de apoio ao PT, o partido a que está, agora, filiada e que se sente o rei do poleiro. Esqueceu-se, talvez de quantos senadores, deputados federais, governadores, deputados estaduais, prefeitos e vereadores tem o antigo “manda-brasa”. Parece-me que o MEC foi sabotado com a redução de verbas e o empastelamento dos programas do FIES na rede de computadores.

Imagino que outros ministros, como Gilberto Kassab, estão com suas barbas de molho (as mulheres... bem, com o advento da depilação, elas não se preocupam com isso. Até porque o feminismo é o partido mais forte na base, ainda que sequer tenha registro no TSE). Isso de desencastelar o PMDB furou, falou, faliu. O governo está se desintegrando. O ministro da Fazenda amarelou quando levou um pito da presidente, mas Cid foi atrevido – chutou o pau da barrada e jogou caca no ventilador.

E por maior que seja o respeito que se deve ter para com a presidente da República, Dilma Rousseff que se cuide melhor – e já se previne: há de reatar o namoro com o PMDB.

***

Esta crônica foi escrita há dez dias e deveria ser publicada no caderno de Opinião Pública do DM. Por alguma razão não o foi, e eu o considerei anacrônico a partir da terça-feira seguinte (dia 23 passado), mas os editores o publicaram neste domingo, 29/3/15. L.deA. 


sábado, março 21, 2015

O Sesc e a homenagem a José Veiga






O Sesc e a homenagem a José Veiga



Sejam tolerantes, queridos leitores! Volto a falar do centenário de José J. Veiga – ou seja, dos eventos que se desenvolvem em torno do magnífico e virtuoso romancista, novelista e contista brasileiro de projeção internacional. Para nós (goianos), é o menino que deixou Corumbá de Goiás para morar na capital (a antiga Goiás) aos 12 anos; aos 20, num “especial” (um automóvel fretado), chegou a Leopoldo de Bulhões (que era, então, o fim da linha) e tomou um trem para o Rio de Janeiro, onde viveu até 1999, com um intervalo de cinco anos em Londres.

Desta vez foi no Sesc Centro, em seu novo prédio da Rua 15, onde temos o Teatro e a Biblioteca. Ali ouvimos belíssima palestra do consagrado Ignacio de Loyola Brandão, que contou de seus dois encontros com José e do processo criativo. Deliciei-me! Loyola Brandão sabe das coisas... ele não viajou na história de que entre José e Veiga havia Jacinto Pereira (respectivamente, o nome do meio de seu pai e o nome de solteira de sua mãe). O jota-ponto foi sugerido por João Guimarães Rosa – amigo de José – por conta de melhor sonoridade e – isso o próprio Zé me contou – por uma questão de equilíbrio numerológico.

Guimarães Rosa era supersticioso? Não sei! Certamente era numerólogo e acho muito interessante saber que o autor de Sagarana, amante e escultor das palavras, era também um admirador dos números. E o próprio José disse-me, certa vez, de que gostava que seus livros tivessem quatro palavras. E exemplificou: “A Máquina Extraviada não teve grande sucesso na primeira edição; para a segunda, decidi mudar para A Estranha Máquina Extraviada – e ele deslanchou”. Noutra crônica, voltarei ao caso do nome de José – sei que ele será assunto em meus escritos outras vezes, ainda.

Em Corumbá de Goiás, José J. Veiga e Bernardo Élis, os dois mais conhecidos escritores nascidos na cidade – ambos em 1915 – foram homenageados nesta sexta-feira, dia 20 (esclareço: escrevo na manhã desta mesma sexta-feira, portanto não posso contar da festa em Corumbá, ainda). E ao ser convidado, parei para pensar, emocionado: “Que outra cidade em Goiás festejará, num mesmo ano, o centenário de dois de seus filhos com tamanha projeção no mundo literário?”. José atravessou os limites geográficos, isto é, as fronteiras e os oceanos, e Bernardo, maravilhoso autor de belíssimos contos, alcançou a honraria do fardão acadêmico, sendo o primeiro (e, ainda, o único) dos goianos a ter lugar entre os 40 da Casa de Machado.

E volto à festa no Teatro e na Biblioteca do Sesc, em Goiânia. Fui surpreendido, ao lado da minha amiga Dênia Diniz de Freitas, sendo homenageados pela instituição. Recebemos, cada qual, uma placa. A de Dênia reza:

Uma homenagem do Sesc Centro por sua inestimável colaboração, como bibliotecária, ao catalogar o acervo literário de José J. Veiga, que hoje integra a Biblioteca e mantém a memória deste célebre contista goiano e renomado nome do realismo mágico brasileiro.

E a minha está assim:

Somos gratos por sua contribuição ao Sesc Centro e à comunidade goiana pela entrega do acervo pessoal do escritor José J. Veiga, que por certo manterá viva a memória desse célebre contista goiano e renomado nome do realismo mágico brasileiro.

Assinam José Evaristo dos Santos, presidente do Sistema Fecomércio, e Giuglio Settimi Cysneiros, diretor regional do Sesc Goiás.

Foi Dona Clérida, viúva de José, quem, no dia 20 de setembro de 1999, um dia após a despedida final, quem me ligou para dizer que meu amigo lhe dissera para incumbir-me de cuidar de seu acervo. E foi Dênia quem se prontificou, sem remuneração alguma, a trabalhar no preparo daquele acervo, tal como o entreguei ao Sesc – após oito anos de andanças, ofertas e detalhamento. Eu já estava cansado dos chás-de-cadeira de meses e até anos, mas quando procurei o Sesc, tive apenas 15 minutos para ouvir uma resposta afirmativa.

Estou, sim, muito feliz!

***


Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.


sábado, março 14, 2015

Escritor Pedro J. Bondaczuk escreve sobre José J. Veiga

Sobre o nosso José J. Veiga, o escritor Pedro J. Bondaczuk ( Ele não é mineiro. Nasceu em Horizontina, Rio Grande do Sul, é filho de russos e morador de Campinas),escreveu o seguinte editorial em seu blog (http://pbondaczuk.blogspot.com.br/2015/02/resgate-da-memoria-de-um-icone.html), pelo que agradeço - muito mais pela homenagem a José do que pela referência a mim.
L.deA.




Resgate da memória de um ícone literário




A Literatura Brasileira é riquíssima, posto que nem todos saibam ou mesmo admitam. Contudo, é pouco divulgada pelos grandes veículos de comunicação. Pudera! Vivemos em um país de dimensões continentais e só muito recentemente passamos a contar com a internet, que nos aproxima e nos permite nos informarmos adequadamente sobre personalidades (e grandes escritores) fora de nosso âmbito doméstico. Principalmente os que são justamente reverenciados em seus respectivos Estados de origem, mas ignorados no eixo Rio-São Paulo.

Graças à rede mundial de computadores pude “remendar”, recentemente, minha olímpica ignorância a propósito de ases das letras não tão divulgados por aqui, embora alguns contem até com projeção internacional. É o caso do jornalista e escritor goiano José Veiga – que assinava seus trabalhos literários (e seus livros) como José J. Veiga – nascido em Corumbá de Goiás em 2 de fevereiro de 1915 e que faria, portanto, cem anos amanhã, caso estivesse vivo. Infelizmente não está. Faleceu, em 19 de setembro de 1999, no Rio de Janeiro, em conseqüência de câncer no pâncreas e complicações causadas por anemia.

A data, para mim, passaria “em branco” e eu conservaria minha ignorância a respeito, não fora a providencial e bem vinda intervenção da Doutora Mara Narciso – médica em Montes Claros, jornalista de inegáveis predicados e de muito talento, além de refinada escritora, como atestam seus brilhantes textos publicados em vários espaços da internet, inclusive neste nosso, onde é, há um bom par de anos, assídua colunista fixa – que me forneceu esclarecedoras pistas a propósito de José J. Veiga. Foram essas fontes informadas que me levaram ao conhecimento (se não pleno, pelo menos bastante razoável) de um dos mais importantes ficcionistas da rica (e tão pouco divulgada) Literatura Brasileira. Concluo que, embora me considere razoavelmente informado, conheço, se tanto, só 5% do mínimo que deveria e gostaria de conhecer.

Mara forneceu, sobretudo, informações sobre duas crônicas de Luiz de Aquino, ambas publicadas no Diário da Manhã de Goiânia – uma datada de 1º de fevereiro do ano passado e outra fresquinha, de hoje – a propósito dessa ilustre personalidade, que até então eu desconhecia, ambas sumamente esclarecedoras, já que o autor dos dois textos privou da amizade do escritor. As duas estão em mãos, bem à minha frente. Mas agora conto com tanta informação sobre José J. Veiga, que a maior parte nem poderá ser utilizada, por falta de espaço nestas nossas informais reflexões diárias.

E por que esse ficcionista (sobretudo, contista) é tão importante? Não haveria exagero nessa avaliação? Não!!!! José J. Veiga (que estreou um tanto tarde em literatura, aos 44 anos de idade, em 1959) é considerado um dos maiores autores em língua portuguesa do realismo fantástico. Era tão habilidoso que conseguia fazer crítica política e social com lirismo e humanidade, sem deixar, no entanto de ser incisivo na dose exata. É uma façanha! Tentem fazer isso e verão como é complicado. José J. Veiga publicou pelo menos quinze livros, boa parte dos quais no exterior: em Portugal, Espanha, México, Estados Unidos, Inglaterra, Dinamarca, Suécia e Noruega. Começou a carreira já premiado. Seu livro de estréia, “Os cavalinhos de Platiplanto”, contendo doze contos, ganhou o Prêmio Fábio Prata.

Luiz de Aquino revela, em uma das suas citadas crônicas, que, apesar de reconhecido e admirado pelo seu imenso talento, José J. Veiga era sumamente modesto. E, mais, era tímido. Isso não me surpreende. Os gênios são, salvo uma ou outra exceção, discretos e comedidos. Pelo conjunto de sua obra, o escritor goiano recebeu, em 1997, o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, além do Jabuti.

Se no eixo Rio-São Paulo pouco, ou nada se fala desse insigne autor, o mesmo não ocorre em seu Estado natal. Exemplo? A rodovia estadual GO-225, que liga a cidade em que nasceu a Goiânia, hoje ostenta seu nome. Cerca de nove meses antes de sua morte, em 31 de janeiro de 1999, ele recebeu consagração popular. Um júri escolhido pelo jornal goiano “O Popular” (com o qual já tive o privilégio e a honra de colaborar anos atrás), incluiu seu livro “A hora dos ruminantes” (publicado em 1966), por unanimidade, como uma das vinte obras mais influentes de todos os tempos de escritores goianos.

Que a data de 2 de fevereiro, que assinala o centenário de seu nascimento, seja marco de ampla divulgação de seu nome e de sua obra por todo o território nacional. Da minha parte, sinto-me privilegiado por poder preencher mais uma lacuna – entre tantas – da minha ainda escassa cultura literária, incorporando mais um ícone à extensa relação dos meus escritores prediletos, até por ser especialista, mestre e inovador do gênero que escolhi para centralizar minha atividade em Literatura: o conto.

Para seu conhecimento, amável e paciente leitor, relaciono os livros publicados por José J. Veiga: “Os Cavalinhos de Platiplanto” (1959); “A Hora dos Ruminantes” (1966); “A Estranha Máquina Extraviada” (1967); “Sombras de Reis Barbudos” (1972); “Os Pecados da Tribo” (1976); “O Professor Burim e as Quatro Calamidades” (1978); “De Jogos e Festas” (1980); “Aquele Mundo de Vasabarros” (1982); “Torvelinho Dia e Noite” (1985); “A Casca da Serpente” (1989); “Os melhores contos de J. J. Veiga” (1989); “O Almanach de Piumhy” - Restaurado por José J. Veiga (1989), “O Risonho Cavalo do Príncipe” (1993); “O Relógio Belizário” (1995); “Tajá e Sua Gente” (1997) e “Objetos Turbulentos” (1997). Como se vê, é uma obra farta (para quem começou a fazer ficção tão tarde) e de profundo conteúdo estilístico e filosófico, que fez do seu autor, com toda justiça, um dos maiores (se não o maior) autores em língua portuguesa do realismo fantástico.

Boa leitura

O Editor

Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk

Exemplo e motivação

José J. Veiga em sua última visita a Goiás (foto de Osair Manassan, 1998),
Exemplo e motivação


No começo da semana, dia 9, o Instituto Histórico e Geográfico de Goiás promoveu o primeiro evento de homenagem a grandes goianos centenários, com Gilberto Mendonça Teles discorrendo sobre José J. Veiga, para o deleite dos amigos, dos leitores e de estudiosos da obra do grande contista goiano, o único dentre nós que transpôs fronteiras, conquistando a exigente Europa.

Veiga, pelo traço genial de Almir (do DM).
A Academia Goiana de Letras já elaborou um calendário em torno de pelo menos quatro destes – José J. Veiga, Eli Brasiliense, Bernardo Élis e Carmo Bernardes (o IHGG inclui outras pessoas, todas elas integrantes, em vida, dos quadros daquele Instituto) – e os reverenciará no decorrer de 2015. Também a Academia Pirenopolina de Letras, Artes e Música (APLAM) já anunciou homenagens aos quatro grandes escribas, que, coincidentemente, têm passagens pela histórica cidade.

No momento em que me dispunha a traçar estas linhas, vejo uma chamada do Jornal Hoje, da Rede Globo, dando conta de que o técnico Dunga convocou o Furacão da Copa (de 1970), o imortal atleta Jairzinho, a participar de sua equipe. E o inesquecível ídolo da melhor de todas as Seleções do Mundo em todos os tempos, na grandeza de sua simplicidade, justifica: “Ele me quer como fator de estímulo e motivação”.

Emocionei-me!

Na miudeza dos meus parcos feitos nas letras e na ação cultural em Goiânia e cercanias, tenho frequentado escolas, especialmente da rede pública, a convite de professores que querem mostrar aos meninos estudantes que eu já vivi aquela realidade.

Compreendo esse empenho, o dos mestres, em mostrar-nos aos meninos. Afinal, por ser jornalista, meu nome aparece na mídia. Por ser escritor, eles podem ver meu nome em capas de livros etc. E não me custa revisitar os ambientes colegiais que me levam em viagens de tempo. Vejo-me naqueles rostos, naqueles horários curiosos e nos sorrisos de surpresas. E vejo-me, em muito menor escala, repetindo Gilberto Mendonça Teles e o próprio José J. Veiga.

Jairzinho, o Furacão, terá muito o que dizer como sugestões e conselhos aos nossos craques de agora. E terá sempre muito o que contar sobre sua vivência em clubes e na Seleção. Ele falará de como eram os uniformes e (especialmente) as chuteiras daquele tempo, dos árbitros e da imprensa, de suas emoções e das concentrações... Feliz de quem puder ouvir essas histórias e, mais ainda, de quem as absorver como exemplos e lições de vida e experiência.

O mesmo poderiam fazer Rivelino, Tostão, Gerson, Clodoaldo, Brito... Aliás, quase todos dentre aqueles 23 (alguns eram cheios de empáfia já naquele tempo; hoje, têm cabelos brancos). O mesmo, noutro campo, fazem pessoas como o já citado GMT, os poetas Coelho Vaz e Aidenor Aires, Iuri Rincón Godinho e Adriano Curado. Ou o professor José Fernandes, o competente escritor Alaor e seu igual e irmão Eurico Barbosa... Enfim, um grande número de intelectuais da pena que discorrerão sobre os nossos ídolos centenários. Deles, diremos o que sempre dissemos, contaremos de suas competências, de suas vivências, de seu talento e do quanto elevaram o nome de nosso Estado além dos horizontes do gado e dos grãos, do pequi e (lamento) da sub-arte que nos tem servido de referência.

A placa sumiu, mas a rodovia Corumnbá-Pirenólis chama-se José J. Veiga;
Na próxima quarta-feira, o SESC de Goiás homenageará José J. Veiga, também. É que em sua Biblioteca Central, na Rua 15, está o Espaço José J. Veiga, criado para acolher o acervo literário do autor de Sombra de Reis Barbudos e O Relógio Belisário. Esperamos aqui o casal Carla e Gabriel Martins (ele é sobrinho e herdeiro de José J. Veiga) e a bibliotecária Dênia Diniz de Freitas (de Belo Horizonte). Dênia foi quem, a meu pedido, organizou o acervo para que fosse trasladado para Goiânia.

Particularmente, estou muito feliz. Por escolha de José e sua esposa, Clérida Geada, tornei-me depositário de tal acervo, de que cuidei com a parceria da Academia Goiana de Letras (Casa Altamiro) até abril de 2007, quando o entreguei aos cuidados do SESC. Agradeço a fineza e a visão de realidade dos líderes José Evaristo e Giuglio Cysneiros, bem como de toda a equipe da Biblioteca Central.

É assim, com este estado de espírito, que festejo este ano de 2015 – eu que privei do convívio e de excelentes momentos com esses quatro grandes.
Ouvindo boas dicas do Mestre (Barraca do Escritor, em Goiânia), 1982.


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Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.


quarta-feira, março 11, 2015

​ DM, 35 anos!




Desde os tempos de preto-e-branco, mas foi o pioneiro em cores.


DM, 35 anos! 



Nestes tempos de concentração total nas telinhas dos tais “ismartefones” – isso que já foi telefone e hoje serve para acessar Internet, localizar-se geograficamente, trocar mensagens e imagens, fazer compras e consultas e, em breve, servirá até para exames clinico-laboratoriais... – e do total descaso para com o próximo, paramos para festejar os 35 anos do DM, um jornal analógico, em papel e tinta, vendido em bancas...

Ora: hoje ninguém mais se concentra – foca! (do verbo focar; como substantivo, trata-se de um mamífero da região Ártica e, na gíria jornalística, o aprendiz de jornalismo, o repórter em primeiro emprego ou, para usar a expressão da moda, o estagiário). Hoje, ninguém mais se lixa (se liga, diríamos antes) para o próximo, mesmo que o tal de próximo seja a mãe.
Capa do DM - ontem, 11/03/2015

Mas é aniversário do Diário da Manhã, o nosso DM, jornal diário que chegou às bancas e aos jornaleiros (existiram, um dia) no dia 12 de março de 1980. A cidade encheu-se, dias antes, de painéis (já eram chamados de outdoors) com fotos de alguns dos nossos. A minha cara não apareceu naquele imenso cartaz, pois quando foi concebido eu ainda integrava a equipe do Cinco de Março. E acompanhei Marco Antônio Silva Lemos do CMpara o DM, na Editoria de Política - fiquei por conta da Câmara de Goiânia.

Há poucos dias, escrevi que a Assembleia Legislativa nos deve – aos jornalistas e à História de Goiás – o reconhecimento do dia 5 de março como Dia da Imprensa Goiana. Certamente, os menos avisados imaginaram que eu me referia ao semanário que antecedeu este diário, mas a motivação maior está na data de 1930, quando pela primeira vez circulou um jornal no Centro-Oeste, a Matutina Meiapontese (em Pirenópolis). É certo que, apesar de ter sido o nosso semanário a principal trincheira goiana pelas liberdades, ao longo daqueles anos de ditadura, ninguém usaria o argumento de um veículo, apenas, para justificar esse registro.

Mas é o momento de regozijo pelos 35 anos do DM, sim! Um jornal que nasceu grande, que foi perseguido e até fechado uma vez pela intolerância dos que não acreditavam que os anos de arbítrio já não eram mais. Um veículo que, pelas mesmas razões, sofreu discriminação política e financeira também em nome da intolerância.


O DM sempre foi a cara da cidade...

Seria bom demais poder abraçar todos os companheiros daqueles tempos de começo, mas muitos já se foram – e entenda-se a mudança para outros veículos, para outras unidades federativas, para outras profissões e até para o Plano Superior. Não sendo, pois, possível, abracemos os que ainda nos são próximos, regozijemo-nos com os que transformaram suas vidas e busquemos na saudade o conforto das ausências eternas.


No afã do ofício, disposto a manter ágeis os dedos que digitam e lúcida a mente que recorda e cria, recria e ainda propõe, festejo a continuidade e antevejo outros anos, outros lustros, outras décadas.

Lustros... Quantos saberão ainda o que quer dizer isso? E falei ainda em trincheira, painéis, aprendiz e, talvez, outras palavras adormecidas. Perdoem-me os novos, sejam leitores ou colegas, confesso que gosto de exercitar a memória e as palavras. Foi esse gostar que me tirou da solidão das leituras, da grandeza do ensino e da monotonia das rotinas para me fazer repórter, redator, editor, articulista, cronista e sei lá mais o quê!

Sei, sim, que gosto do que faço. E gosto de tê-lo feito por aqui – desde o Cinco de Março.



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Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.

domingo, março 08, 2015

Prazer em festejar

"ELA" - foto roubada do álbum do artista Roos Ross no Facebook (se ele reclamar eu removo)

Prazer em festejar


No decurso da semana, ouvi notícias desencontradas sobre o estado de saúde de Fernando Alonso após o acidente que sofreu durante um treino. Diziam que ele despertou sem lembrar-se de sua vida real, isto é, sentia-se como um adolescente que corria de kart e que sonhava ser um piloto de Fórmula 1. No dia seguinte, a notícia era sobre a reação um tanto indignada do atleta, ridicularizando os dois jornais que divulgaram tal versão.

Perfeitamente normal, a brabeza do campeão. Quem gosta de ser considerado sem-memória? Isso de se perder no tempo deve ser igual a estar no meio do mato sem saber das referências para se sair dali. É indispensável a consciência de nossa história e do espaço geográfico.

Há algum tempo, uma senhora mal-humorada publicou no Facebook algo parecido com isso: “Amanhã é meu aniversário. Não me deem parabéns, eu não fiz nada, não realizei nada, apenas me desejem feliz aniversário porque dar parabéns em aniversário é burrice”. Fiquei a imaginar... E viajei num espaço que só eu conheço, um misto de memória e imaginação, buscando saber como teriam sido as tais festas pagãs da antiguidade – essas que nos deram o Carnaval, a Páscoa, o Natal... Sei que elas se ligavam à geografia e ao registro temporal dos antigos, que essas festas associavam-se às mudanças de estações (os solstícios e equinócios).

Todos festejamos aniversários de nascimento, de namoro, de casamento e de muitas outras ocorrências de menor monta nas vidas individuais, mas de forte significação social. E conheço pessoas de comparável mau-humor – tomando por referência a senhora que recusa parabéns – ante datas, aquelas que acusam o comércio de marcar o calendário com o Dia das Mães e o dos Namorados e até o Natal.

Eu gosto muito de datas assim. E o comércio faz muito bem em nos lembrar disso e nos sugerir que presenteemos as pessoas: trocar presentes é gesto de grandeza social e emocional. E, convenhamos, o que seria de nossas vidas sem o comércio? Não precisei viver toda a vida para concluir que “coisas supérfluas” dependem do momento e das nossas atividades, e não de uma lista que alguma autoridade setorial tenta nos impingir. Para mim, batom é quase sempre supérfluo (mas é lindo ver uma mulher bem maquiada!), como um dicionário que tanto me serve há de ser superficial para aquela senhora que prefere sapatos a livros.

Tudo isso, queridos leitores, só para manifestar minha alegria neste 8 de Março, o Dia Internacional da Mulher (este dia pode bem ser supérfluo, pois sou dos que reverenciam a mulher todos os dias, mas se a humanidade se concentra para festejar, quero festejar junto!). Como quero lembrar também que o próximo dia 14 é o Dia Nacional de Poesia (o dia de nascimento, em 1847, do poeta Castro Alves) e também o 21 de Março (equinócio de Primavera no Hemisfério Norte e, obviamente, de Outono para nós), Dia Internacional da Poesia.

E entre estas datas de alto alcance social, vou festejando cada dia no âmbito das relações pessoais nos aniversários de amigos e parentes, é claro! Festejo o bom estado de Fernando Alonso, o campeão, e os aniversários diários de tantos que me são queridos! Festejar é celebrar, comemorar (lembrar junto).

Ah... a vida seria muito sem-graça se não festejássemos tanto!

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Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.

quarta-feira, março 04, 2015

Nosso Dia da Imprensa



Marco Antônio: jornalista, executivo e gestor público, duas vezes juiz e duas vezes desembargador.  



Nosso Dia da Imprensa

(E a posse de Marco Antônio Silva Lemos)



Hoje é 5 de março, um dia que os legisladores regionais já deviam ter consagrado como o Dia da Imprensa – em Goiás, sim, mas igualmente em todo o Centro-Oeste... E já justifico: neste dia, há 185 anos, circulou pela primeira vez a Matutina Meiapontense (meia-pontense, escreveríamos hoje). Esse veículo de comunicação foi criado em Meia-Ponte (Pirenópolis) pelo comendador Joaquim Alves de Oliveira.

Pois é... 5 de março de 1830! E o novo informativo tornou-se, imediatamente, oficial das províncias de Goiás e Mato Grosso – dois imensos territórios cujos limites constituíram, até a promulgação da Constituição de 1988, o que se convencionou ser a Região Centro-Oeste (com a nova Constituição, o espaço que é hoje o Estado de Tocantins passou a integrar a Região Norte).

O jovem desembargador do Amapá, no início da década de 90.
O jornal pioneiro circulou até 1834, sendo veiculadas 526 edições, tendo como redator (o que hoje chamaríamos de editor-geral) o padre Luiz Gonzaga de Camargo Fleury, destacado político, religioso e homem de letras que enaltece nossa História, inclusive pela numerosa prole de sobrenomes nobres na genealogia goiana.

Na terça-feira, 3 de março, fui a Brasília. Meu amigo e colega Marco Antônio Silva Lemos (jornalista sob cujas ordens e orientações atuei como repórter no Cinco de Março e no Diário da Manhã) foi empossado desembargador do Distrito Federal e Territórios. Precocemente, ele se aposentou no mesmo cargo do então recém instalado Estado do Amapá, no início da década de 90. Decidiu-se por reiniciar a carreira jurídica, logo após a aposentadoria.

É uma situação inédita! Nenhum outro brasileiro, em toda a História, ocupou duas vezes esse mesmo cargo. Goianiense (do bairro de Campinas, isto é, obviamente atleticano), Marco Antônio é o terceiro goiano, em apenas dez meses, a ser empossado desembargador no Distrito Federal. Encontrei lá alguns raros colegas dos nossos tempos de 70 e 80, mas, estranhamente, ninguém que representasse o Tribunal de Justiça nem o governo de Goiás... Aliás, nem mesmo a Associação Goiana de Imprensa dignou-se a prestigiar o velho companheiro.

Mas estivemos lá, uns raros companheiros: Djalba Lima e Wilson Silvestre (também do CM e do DM), para citar os daqueles tempos, e Euler Belém. Na volta, ouvi no rádio os resumos do dia... Renan Calheiros, esse que sempre cito como exemplo de não se ser político, comete um ato admirável – devolve uma Medida Provisória à Presidência da República – para enfatizar a independência do Legislativo (até Aécio Neves o elogiou por isso); e o ministro Teori Zavascki recebe relatório do Procurador Geral da República, com pedido de publicação dos nomes de 54 investigados da Operação Lava-Jato.

Na manhã de quarta-feira, o deputado acreano Sibá Machado fala à imprensa com a impostação de paladino da ética e dos direitos individuais para exigir que os nomes dos políticos sejam mantidos em sigilo: “Não podemos julgar por conta do clamor popular”, argumentou ele.

Pensei, de imediato, o que comentaríamos numa reunião de pauta no saudoso Cinco de Março ou no DM dos primórdios. Veio-me à memória o riso sarcástico de Marco Antônio Silva Lemos sobre as mudanças de tons e de argumentos conforme o cidadão deputado estivesse na oposição ou no poder. E recordei também o inconfundível tom de voz de Djalba Lima a enfatizar: “Não há nada mais parecido com um conservador que um liberal no poder. Substituam liberal por MDB e conservador por ARENA e a medida se aplica com justeza” (eram essas as palavras, ou era esse o sentido delas; e na solidão da viagem de volta não contive um riso... substituindo liberal por PT e conservador por PSDB).

Meu abraço orgulhoso ao velho amigo Marco Antônio e um breve remorso por não termos aproveitado para, ao menos, marcarmos uma ligeira reunião daqueles tempos, mas com cada um de nós 35 anos mais vividos, mais experientes e, sem dúvida, mais competentes!



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Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.