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sábado, fevereiro 28, 2015

AGL – Iuri para presidente

Iuri Rincon Godinho



AGL – Iuri para presidente



A cada dois anos, os membros efetivos da Academia Goiana de Letras elegem seu novo presidente. Existe o preceito da reeleição para mais um mandato – sempre preguei um mandato único de três anos, mas não fui ouvido. As pessoas, parece, gostam de se sentir paparicadas e a reeleição sugere isso.

O atual presidente, Getúlio Targino Lima, exerce o seu segundo mandato, o que prenuncia mudança em setembro, o mês da eleição. E com uma antecedência de sete meses (muito tempo para um interstício de apenas dois anos), o tema foi suscitado em reunião plenária, recentemente.

E já que se falou nisso, que se mexam os interessados, claro! Academias de Letras trazem consigo – pela vitaliciedade de seus membros – a conotação da maturidade. A começar por um critério subjetivo, mas insistente, de se buscar eleger escritores mais velhos. Dos atuais membros, um tentou eleger-se no verdor dos vinte anos, foi aconselhado a desistir – mas persistiu. E passou pelo constrangimento de não obter um voto sequer.

Academias gostam, também, de eleger figuras notáveis da sociedade, da economia e da política. A Academia Brasileira de Letras já elegeu Getúlio Vargas, José Sarney, Marco Maciel e Fernando Henrique Cardoso, além de jornalistas em evidência no momento de suas candidaturas, tudo isso em detrimento de notáveis escritores – só para citar, Mário Quintana foi derrotado três vezes.

Mas não quero abordar critérios de escolha de novos membros – isso é do foro íntimo de cada acadêmico (eleitor) e pressupõe-se que cada um sabe o que faz. E o mesmo acontece quando da escolha de novo presidente (e outros membros da Diretoria). Já tivemos, na AGL, presidentes com mais de dez anos de exercício do cargo, situação que se corrigiu na reforma estatutária de 1996. Essa prática de se perpetuar na presidência é nefasta, tanto para a entidade quanto para o vaidoso que insiste em não passar o bastão. Mas, enfim, essa continuidade se dá também pela omissão ou pelo conformismo de quem vota. Ou de quem não se candidata.

Gosto de renovação. E gosto também de ver ideias novas num campo em que o conservadorismo já deixa picumãs. Dentre os membros da AGL, há raríssimos jovens – e esclareço que, diante da nossa realidade, permito-me dizer jovem aos que tenham menos de 60 anos.

Vejo como capaz de inovar, sem quebra das tradições da Casa e das características de respeito aos vultos que tão bem marcaram aquele sodalício, o acadêmico Iuri Rincon Godinho.

Poeta, jornalista, publicitário, empresário, editor... Homem de ideias e de fazer, destaca-se pelo espírito empreendedor e arrojado. Demonstrou isso tão logo concluiu seus estudos, mal entrado na casa dos vinte anos, ao criar a Contato – sua agência de comunicação, de publicidade e editora. Não sei, sinceramente, se suas edições já atingem marcas de centenas, mas suponho que sim. Tem trânsito livre nos meios econômicos, sociais, literários, das artes plásticas, da política e no mercado de eventos, é autor de inúmeras obras que vão da poesia à história, coordena várias coleções editoriais – enfim, não é fácil discorrer sobre os feitos de Iuri sem pecar por omissões e esquecimentos.

Gostarei muito de vê-lo presidente da Academia Goiana de Letras, a Casa criada em 1939 por Colemar Natal e Silva. Iuri, um incontestável homem de cultura – e não uma pseudo celebridade que por acaso publicou um ou dois livros – já presidiu a União Brasileira de Escritores de Goiás e disse a que veio. Sem ocupar cargos de realce, marca presença com força e eficiência em vários segmentos. Atualmente, dirige a Casa Altamiro, também da AGL, e nos traz novidades.

Estou seguro de que, presidente da AGL, dará continuidade ativa a trabalhos lançados e expressivos dos últimos presidentes – Hélio Moreira e Getúlio Targino – com realce para a construção do novo imóvel, ao lado da sede histórica, proporcionando-nos espaço e funcionalidade.

Conte comigo, Iuri!


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Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.


quinta-feira, fevereiro 26, 2015

Foi-se o Carnaval, ficaram as máscaras

Foi-se o Carnaval, ficaram as máscaras


Quem já passou pelos processos de mudança de casa sabem bem o que significam estes tempos que atravessamos na economia do país. De repente, o Brasil ficou pobre. Todo pobre – prefeituras, governos estaduais e governo federal – e chorão, como se uma fatalidade nos atingisse no todo. Mas como chamar de fatalidade o que já se anunciava há décadas?

Vamos lá! Um dos argumentos para se instaurar a ditadura militar, há meio século, foi a questão inflacionária (eram muitos... falavam em ameaça comunista, em falência das “elites civis”, em apelo da família brasileira, em preocupações do alto clero católico etc. e tal – tudo balela, mas era o que argumentavam.

No quinto e último mandato militar, o de João Figueiredo, a inflação chegou de volta, e com muita sede. Sarney – que tinha sido presidente da Arena e se tornou vice-presidente de Tancredo Neves – inventou aquele tal de Cruzado e, logo após, um Cruzado Novo. Adiantou nada! E Collor, que teve o apoio de Bresser Pereira até na pantomima do sequestro de um empresário do ramo de supermercados, veio com aquilo de “uma só bala na agulha” (claro: não há como se ter duas balas na agulha) e fez um monte de besteiras. Itamar Franco, seu vice, desarmou a pistola e viu que o problema não era bala – nem pistola – e deu jeito na inflação.

Com aquilo, ele viabilizou a eleição do “príncipe” Fernando II, que vestiu a carapuça que pertencia a Itamar, apresentando-se como pai do Real. FHC deixou muita gente sem reajuste de salário por oito longos anos, o mesmo período em que elevou o dólar em índice próximo de 400%.

Lula ouviu falar em Henrique Meireles e levou-o para o Banco Central, dando-lhe status de ministro. Foi bom, isso. E Dilma, matrona não tão bem informada, mudou tudo e conduziu-nos a essa coisa que vivemos agora. As denúncias da roubalheira na Petrobrás estavam no auge quando os preços do barril de óleo caíram vertiginosamente. No mundo inteiro os combustíveis tiveram seus preços reduzidos – menos no Brasil.

Agora, caminhoneiros em todos os cantos do país começaram a se organizar e protestar, bloqueando as principais rodovias sem, contudo, cometerem atos de agressividade (claro, há pontos de exceção, mas a tônica dominante é o respeito a quem passa) e o governo, com um advogado Geral da União que mais parece um porta-de-cadeia transforma a AGU em instituição de governo, quando a Nação espera instituições de Estado.

Na manhã desta quarta, quando escrevo, acontecem reuniões e conversas na capital federal, mas os áulicos de Dona Dilma avisaram, antecipadamente, que sequer aceitam discutir redução dos preços de combustíveis. Isso, aos ouvidos e olhos da nação, soa como o que a oposição espalhou e que, no princípio, era tomado como fofoca: a elevação dos preços visa a cobrir o rombo investigado pela Polícia Federal no que a gente conhece como Operação Lava-Jato.

Mais uma vez, a presidente reeleita acena com truculência e desrespeito ao contribuinte e ao trabalhador. Em momento algum ela admitiu, por exemplo, reduzir os impostos sobre o óleo diesel. E, no meio de tudo isso, uma pergunta incomoda: se o aumento foi embasado nos custos dos derivados de petróleo, porque o etanol também subiu de preço? E porque o consumidor argentino compra gasolina brasileira, na bomba, a R$ 1,90 e nós, os exportadores, pagamos entre R$ 3,40 e R$ 4,49?

Os estudantes estão nas ruas questionando aumentos nas passagens de ônibus, em Goiânia. Os infiltrados mascarados (dizem que são baderneiros custeados por partidos de apoio ao governo, para desmoralizar o movimento) saem quebrando tudo pela frente. Uns poucos radicais da extrema direita (isso ainda existe? Tenho dúvidas... existe mesmo os que defendem seus interesses muito parcitulares com unhas e dentes) pregam o afastamento de Dilma Rousseff e outros poucos radicais, notadamente petistas, defendem – até com argumentos ainda mais ridículos os atos sórdidos e falaciosos – os cínicos assaltantes daquela que há mais de 60 anos é razão de orgulho nacional.

Enquanto isso, ela, a Sra. Dilma Rousseff, teima em reajustar a tabela do Imposto de Renda em 4,5% - dois pontos abaixo do índice de inflação. Será essa a falácia que a convence de que o povo brasileiro está enriquecendo?


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Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.

sábado, fevereiro 21, 2015

O mico e a vergonha na cara


Sebastião Nery, jornalista e catador de histórias do folclore político.



O mico e a vergonha na cara


Feliz novo ano, meus amigos! Sim, que o Ano-Novo (escrito assim) é aquele Dia da Confraternização Universal, ou 1º de janeiro. Já convencionamos, em nossa pátria, que o ano de verdade só começa após o Carnaval. Mas... Quarta-feira de Cinzas é dia de ressaca e meio-expediente, quinta e sexta são dois dias p’ra valer na semana inteira... Então, que o ano comece, de verdade, na segunda-feira seguinte à farra momesca.

Quarta-feira de Cinzas foi o dia de saber quem foi a escola campeã no samba carioca. Deu Beija-Flor de Nilópolis. Quer dizer, nem carioca a Beija-Flor é – ela é da Baixada Fluminense, ou seja, está sediada além dos limites da Cidade Maravilhosa, a que tem por gentílico a decantada e declamada palavra “carioca”.

E antes ainda da votação, a imprensa já dava notas ou informes sobre uma verba de 10 milhões de reais advindos da Guiné Equatorial, o país que foi tema do enredo da escola de Neguinho. O ditador que comanda os destinos de um dos mais pobres países do mundo negou, atribuiu a “empresas brasileiras” a montagem da tal verba – e essas empresas são, coincidentemente, algumas das envolvidas nos escândalos denunciados na Operação Laja-Jato da Polícia Federal.

Alguns com maior zelo moralista apontaram os desvios de conduta de inúmeras outras agremiações sambistas: chefes de milícias, traficantes, contraventores (mas estes são do passado) e outros meliantes sustentam o luxo instituído por Joãozinho Trinta (ele escrevia Joãosinho e a imprensa cega e mal alfabetizada respeitava a transgressão gramatical). O samba, por si, passou a ser artigo de segundo plano, ou apenas pano-de-fundo.

No Facebook, muitas vozes se ergueram, algumas em defesa dos que buscam recursos em ambientes escusos, como o do tráfico e dos chantagistas milicianos. E o argumento escuda-se no fato de que “muitos políticos” ou “a maioria deles” elege-se com evidentes caixas-dois formados com essas verbas inconfessáveis – em troca, é claro, a prática da proteção ao submundo.

Diante de tudo isso, visitei minhas estantes, procurei e localizei um enorme volume de Sebastião Nery – Folclore Político (este, com 1.950 histórias). E fui à historinha de número 681 (pág. 227), literalmente assim:

Folclore Político (1.950 histórias) - 2002
“Adauto Cardoso, Carlos Lacerda e Ary Barroso eram a linha de frente da bancada da UDN na Câmara de Vereadores do Rio, logo depois da derrubada da ditadura Vargas. Mais atuantes, só a banca do Partido Comunista, liderada por Agildo Barata.

Carlos Lacerda, político e jornalista.
Aparece lá, para uma prestação de contas, o secretário da Saúde do Município, Fioravante Di Piero, médico ilustre, muito rico, pedante, vaidoso. Estava na tribuna, Adauto aparteia:
– Pela brilhante exposição de V. Exa., senhor secretário, vejo que os problemas de saúde do município estão sendo enfrentados com um critério inaplegível.

O Dr. Fioravante Di Piero, no centro. Ele festejou 100 anos há poucos dias.
– E não poderia ser outro o critério, senhor vereador.
Lacerda se mete:
– Nobre vereador Adauto Cardoso, no batente diário da profissão convivo diariamente com as palavras. E nunca ouvi esse adjetivo ‘inaplegível’. O que significa?
– Não sei, acabei de inventá-lo agora. Mas o senhor secretário, que o confirmou, deve saber.
Fioravante Di Piero desceu da tribuna, foi para casa, mandou uma carta de demissão ao prefeito. E desapareceu inaplegivelmente”.


Adauto Cardoso: "Inaplegível^.


Pois é! Já não se fazem mais homens (de ambos os gêneros) como antigamente. Por muito mais, algumas senhoras permanecem agarradas a seus cargos, ainda que apanhadas em flagrantes piores – como mentiras, omissões e insinuantes envolvimentos em escândalos. Por muito mais, Renan Calheiros continua cinicamente senador, reelegeu-se presidente do Senado e implantou cabelos com os nossos impostos. E defensores do governo, bem como opositores os mais radicais, vociferam aos quatro ventos em defesa de seus líderes escroques, sem constrangimentos.

Já não há mais políticos com apego à própria dignidade pessoal, como os que se demitiam e sumiam da mídia quando flagrados num mico.


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Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.

sexta-feira, fevereiro 13, 2015

Não desarmam os palanques?



Gesto expressivo para a juventude dos anos 60 e 70...


Não desarmam os palanques?


Sim: não os desmontam, nem descem deles. Os extremistas da situação continuam festejando os últimos votos que confirmaram Dilma Rousseff presidente para os próximos quatro anos, e os extremistas da oposição falam em impeachment como se a medida fosse – como dizem os petistas mais afoitos – um terceiro turno (aliás, petista mais afoito pareceu-me o ministro Dias Toffoli ao encerrar os trabalhos pós-eleitorais vociferando o jargão “terceiro turno”).

Pessoas que tiveram o privilégio da boa escolaridade, portadores de diplomas que lhes asseguram salários confortáveis, ocupantes de bons lugares ao sol dos recursos materiais etc. – de ambos os lados – gastam tempo e espaço nas redes sociais, uns pregando um abaixo-assinado que propõe o impedimento da eleita, outros tentando demonstrar por meios nada convincentes que os escândalos do Mensalão e do Petrolão (em maiúsculas pela magnitude do dinheiro e dos reflexos desses males) foram inventados pela oposição, oposição essa que domina o Supremo Tribunal Federal (sim, alguns chegam a dizer essa bobagem) e que detém todos os veículos de comunicação e constitui o PIG – este, sim, um fictício “partido da imprensa golpista”.


Ainda que mal aplicadas, ainda que mal interpretadas, ainda que formuladas de modo a manter brechas pelas quais alguns conseguem escapulir pelos meandros dos procedimentos processuais, este país tem leis. E são muitas – há quem diga que elas são em número superior ao ideal. É também real que a impunidade permeia os meandros judiciários, como também é verdade que a corrupção, o tráfico de influência e os ouvidos e olhos omissos permitem que uns raros privilegiados cometam infindáveis séries de irregularidades sem serem incomodados.


Foi incrível e decepcionante ver o presidente Lula manifestar-se lá no exterior em defesa dos “companheros” acusados no processo do Mensalão, acusando o STF de “julgar politicamente”. Parece-me ele se deu conta do erro e procurou silenciar-se, depois. E a presidente Dilma, que tanto se contradiz em atos quando lembramos suas frases de campanha, afirma permitir que haja investigações. Mas manter Graça Foster na presidência da Petrobrás lembrou-me Henrique Hargreaves, que se demitiu do ministério para ser investigado –ele retornou ao posto, ante novo convite do presidente Itamar Franco, quando comprovada sua inocência. E não faltam rumores, capazes de levantar desconfianças, de que manter a amiga Graça Foster no mais alto posto da nossa mais amada estatal tinha o propósito de abafar o que fosse possível.


Em suma, são muitas as teorias da conspiração manipuladas em vários dos ambientes da oposição – e da situação também. Decepcionam-me os dois lados por seus exageros, cometidos de tal maneira que nos deixam – a nós, leitores de tantas baboseiras – ofendidos pelo quanto menosprezam nossa inteligência.


Quem conversa comigo, quem convive comigo já ouviu de mim que votei na Dilma em 2010 porque Lula pediu – e eu não a conhecia. Agora, não votei nem mesmo com Lula pedindo, porque já a conheço. E sinto-me confortável por não ter votado nela, nestes dias em que o segundo mandato se nos é apresentado como o mandato que – disse a candidata Dilma Rousseff – Aécio Neves estaria exercendo, com aumentos de impostos, cortes orçamentários volumosos na verba da Educação, denúncias mil de corrupção e outras medidas igualmente antipáticas.



Mas daí a pregar impeachment... Que nada! Ela que continue presidente. Nosso papel é permanecermos vigilantes, cobrando medidas saneadoras e respeitadoras (andamos fartos de mentiras, Dona Dilma!) e responsabilizando-se (isto sim!) pelos erros graves que a fizeram cometer um governo tão ruim que ela mesma o reconhece, mudando o rumo do discurso de campanha.



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quinta-feira, fevereiro 12, 2015

Carnaval saudoso

A primeira-dama Dinair Souza Lemos e a psicóloga Maria Luiza de Carvalho


Carnaval saudoso



Vai longe, no tempo e na minha memória, a frase “Carnaval era bom mesmo antigamente” (e suas variações). E lá pelo meio desse tempo, quando eu atravessava a minha década de 40, descobri que o “tempo bom” era apenas o da memória de cada um. Hoje, tenho provas e convicções de que acertei: as marchinhas que me encantaram lá pelos anos 50 e 60 são citadas, hoje, como coisas daquele tempo bom. E divirto-me recordando o som das falas dos mais velhos, remetendo-se cada qual à sua própria mocidade.

“Se você fosse sincera, ô ô ô ô... Aurora” / “Tem, tem, tem um amor em cada porto” / “Menina vai! Com jeito, vai! Senão um dia, a casa cai”. “Alalaô ô ô ô, ô ôô...” Tempo bom era aquele! Sempre o que se passou dez, vinte ou muito mais anos atrás!

E no próximo sábado, nas ruas de Nazário – sim, Nazário, Goiás! Pertinho de Goiânia – um grupo de mais ou menos 125 vovós e similares, gente da própria cidade e de Claudinápolis, desfilarão, no começo da tarde, cantarolando marchinhas daqueles tempos bons – e aposto que os tais tempos bons serão retratados sonoramente por canções bem cadenciadas dos carnavais das décadas de 30, 40, 50 e até 80 do Século em que nascemos!

Mas não estarão sozinhas: elas têm o apoio de uma equipe muito dinâmica e dedicada, liderada pela primeira dama Dinair Souza Lemos (Luciene França, Adriane Novais Mendes, Gláucia Aguiar, Maria Luiza de Carvalho, Elenice Socorro, Flávia Bueno...

Tudo começa quando essas senhoras juntaram-se em torno de projetos de artesanato, de convivência e de atividades variadas que lhes proporcionam bem-estar e sociabilidade. Elas se reúnem nas sessões do projeto Colcha de Retalhos, nas de caminhada e, uma vez por mês, nos bailes promovidos especialmente para esse grupo. Nas últimas semanas, as atenções voltaram-se para a concepção de figurinos de fantasias, escolha de marchas e outras motivações típicas do carnaval. Em síntese, o desfile promete: o grupo vai se dividir em alas – Colombinas, Melindrosas, Odaliscas, Carmem Miranda...

Mas apenas reunir-se para recordar é muito pouco, ainda, por isso as vovós de Claudinápolis e Nazário envolveram também seus netos nessa festa – do que, presumo eu, há de resultar o envolvimento das famílias e da sociedade locais.

Converso com a primeira-dama Dinair, tento sacar mais informações, mas ela se recha num sorriso radiante e feliz, fazendo suspense. E apenas sintetiza: “Sim, haverá surpresas... Mas deixemos que tudo isso fique dentre desse objetivo, o da surpresa”.

Respeito-lhe o capricho e já me preparo. Hei de estar também por lá para testemunhar essa movimentação saudável que deve ser observada, avaliada e adotada por todas as nossas comunidades. A população envelhece, mas não quer se entristecer. Os netos são sempre um aceno de Deus a nos lembrar que a vida continua e havemos sempre de zelar para viver com intensidade todo o tempo de nossas vidas.

Afinal, quando menos esperamos já nos tornamos pais e mães, e num descuido mais profundo, nossos filhos se tornar-se-ão avós também!


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Luiz de Aquino é escritor e jornalista, membro da Academia Goiana de Letras.

quarta-feira, fevereiro 04, 2015

Duas vezes desembargador

Marco Antônio Silva Lemos - Duas vezes desembargador




Eis um título ainda não atribuído a nenhum brasileiro em toda a nossa História: um desembargador aposentado, ainda em anos férteis e produtivos, não se acomodou ao tal de “merecido ócio”. Fez novo concurso para a magistratura (no caso dele, na esfera do Distrito Federal e Territórios), foi aprovado, iniciou nova carreira e, agora, é novamente nomeado Desembargador.

Estou falando de um amigo de décadas, colega no ofício jornalístico, meu editor no semanário Cinco de Março e no Diário da Manhã em seus primeiros tempos: Marco Antônio Silva Lemos é um legítimo campineiro – gentílico urbano do bairro de Campinas, em Goiânia. Certamente, torcedor do Atlético e sem dúvida ex-aluno do Colégio Estadual Pedro Gomes.

Dono de um texto impecável, em estilo e correção de linguagem, de gramática e dos demais meandros da Língua, fez brilhante carreira como juiz. Quando da Constituinte, em 1987, foi enviado do Distrito Federal para o então território do Amapá, com a missão de criar o Tribunal de Justiça do Estado a instalar-se. E, com sua visão de atualidade, fez com que aquele fosse o primeiro tribunal informatizado em todo o país. Pouco tempo após, e com base no tempo de contribuição social, aposentou-se. E o restante da história é a que contei linhas acima.

No início da semana, ligou-me para contar a boa nova. Com isso, ele se torna o primeiro caso de um mesmo cidadão vir a ser nomeado duas vezes desembargador. Isto, sem dúvida, é fato de imensa alegria para quem vive, e de orgulho saudável para os familiares e os amigos. E nós, os que compartilhamos no quotidiano com seu método de trabalho, sua curiosidade racional e persistente, sua determinação ante o certo e o ético, regozijamo-nos com o velho companheiro.

Quando editor setorial no Cinco de Março, distribuía pautas bem fundamentadas, com claras orientações sobre o fato em pesquisa, citava fontes e orientava o repórter da melhor maneira possível. Aprendi muito com ele, especialmente no que chamo de visão geral dos fatos, procurando não apenas o foco, mas os efeitos periféricos e a situação histórica – assim, para mim, se faz uma reportagem. E por conta da minha formação acadêmica, chamei a isso “visão geográfica” +do fato, ou seja, além do foco as relações várias com tudo o que se ambienta no caso.

Em comum, tivemos sempre o zelo para com o texto. E descobri um hábito saudável e pouco usual no meu chefe e amigo: ele nunca dava um texto por pronto antes de pesquisar o tema indispensavelmente em volumes de História e de enciclopédias. Imitei esse hábito e jamais me arrependi disso. Outro recurso que me habituei a fazer, depois do aprendizado nesse convívio, foi recorrer sempre a fontes não relacionadas – mas pessoas capazes de melhor informar sobre o assunto tratado.

Aquele cuidado com a reportagem, o capricho de finalizá-la com um texto digno do que chamamos de boa leitura, a consciência de assinar com segurança o trabalho realizado já me pareceram ser o bastante para apostar no bom êxito do meu amigo quando de seu ingresso na magistratura do Distrito Federal e Territórios, há mais de trinta anos. Pelo pouco que conheço do ofício, antevi um juiz comprometido com a Justiça – não o complexo definido em lei, mas mormente a Justiça que entendemos ser a mais próxima do perfeito, essa que se reveste de preceitos da moral e da ética.

Certamente, acertei nos prognósticos – senti isso pela primeira vez quando soube que Marco Antônio Silva Lemos era presidente do TJ do Amapá. Surpreendi-me quando soube de sua volta à ativa – e tive outra espécie de premonição: “Vai acabar desembargador outra vez”. E outra vez acertei.

Como sou dos que  ficam felizes com a vitória dos que me são próximos, festejo mais essa vitória de Marco Antônio. Este fato faz felizes também o Batista Custódio (e sua família), o Luiz Carlos Pampinha, o Djalba Lima... Waldomiro Santos certamente festeja lá no “andar de cima”! Ora, somos muitos a festejar esse fato! E a História da Justiça no Brasil certamente marcará o nome desse companheiro como quem inaugura uma situação que, acredito, dificilmente se repetirá.

Parabéns, Marco Antônio Silva Lemos! A Justiça do Distrito Federal está, agora, ainda melhor aparelhada com a sua volta!


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Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.

segunda-feira, fevereiro 02, 2015

Amigos meus, vejam a matéria que a minha querida amiga jornalista Viviânia Medeiros escreveu e publicou na revista GO&AZ em seu número inaugural:






domingo, fevereiro 01, 2015

Crônica de Mara Narciso

Minhas honras à visitante:

Transcrevo, a seguir, belíssima crônica da mineira (de Montes Claros) Mara Narciso, médica e jornalista, acerca de um dos mais importantes e dramáticos temas da atualidade, com comentário meu ao fim.

Mara Narciso - médica, escritora e jornalista.

“Oh, Sol, tu que és tão forte, derrete a neve que prende o meu pezinho”!
Mara Narciso

            Eram 14 horas, e próxima da Santa Casa de Montes Claros, vim a pé pela Praça Honorato Alves e entrei na Avenida Coronel Prates. A temperatura de 37 graus à sombra, num janeiro atípico, depois de uma espera de dois meses pela chuva, que não veio, fazia tremular o asfalto. Ri mentalmente de uma frase que costumo dizer: “adoro o calor. Quando o asfalto está tremendo, aí eu estou feliz”. Há muito me cansei de pedir chuva, pela inutilidade do esforço. Não sei se morreremos fritos, assados ou esturricados, mas, ao atravessar a rua, vi, pelo ar de desalento dos transeuntes, andando como almas no inferno, que o fim estava próximo. E, devido ao calor de deserto, boca e olhos secos, e uma sensação de desmaio, contraditoriamente, lembrei-me de um disquinho de histórias infantis, que tinha na casa da minha tia Ninha, e que contava do desespero da formiga, que iria morrer congelada, caso o sol não a esquentasse e a ajudasse a soltar-se da neve, que prendia seu pé.
            Como dizia uma irmã da minha avó, Tia Juracy: “Deus soube somar, subtrair, e multiplicar, mas não soube dividir”. Parece que não, embora, ela mesma fizesse um adendo: “todos estão satisfeitos com a inteligência que receberam, pois não vejo ninguém reclamar de que tenha recebido pouca”. Mas o calor deixa a cabeça fraca, surgindo delírios. E olha que ainda temos água. Pensar em sua total extinção é bom para economizar, mas imaginar a seca final aumentam a sede e a sensação de calor. “Me dê um copo d’água tenho sede/ e essa sede pode me matar// Meu coração só pede um copo d’água/ e os meus olhos pedem o seu olhar//”. (Gilberto Gil)
            Há quem ache que seja exagero e não mudou nada no seu consumo, continuando a lavar quintal, jardim, muros, passeios, ruas e carros com mangueira aberta a ponto de fazer lagoas no meio da rua. Não vou me surpreender quando alguém mais consciente quanto à água, mas inconsciente quanto às leis, agredir fisicamente quem esteja jogando água fora. Mesmo que seja água de cisterna – devido à chuva inconstante, muita gente tem cisterna em casa, mas elas estão secas, com os motores de fora -, ou poços artesianos, que já estão secando. A água subterrânea é de toda a comunidade, e também não pode ser desperdiçada. Há populações que se abasteciam de poço e já estão recebendo água em caminhão-pipa.
            Onde lavo o carro – espacei a lavação para a cada 10 dias, sendo que antes era a cada sete dias, tem cisterna, mas, desde que não choveu em dezembro, o dono mandou reduzir o consumo de água, usando balde no caso de carros mais limpos, e jato sob pressão apenas quando o carro estiver sujo de barro (o que quase não acontece, já que não chove). Ainda assim, está preocupado, pois não tem água para esperar o possível período chuvoso, que deverá começar em outubro/novembro deste ano, já que aqui, no Polígono das Secas costuma chover um mês depois do começo da primavera até março. O restante do tempo não chove. Fevereiro começando, há esperança de que caia chuva neste e no próximo mês.
            Como morei por nove anos no Bairro Morada do Parque, parte alta e ponta de rede, sentíamos na pele a falta de água, que ficava sem aparecer por mais de 48 horas. A companhia enviava caminhões-pipa, que iam enchendo as caixas casa a casa. Na nossa vez era mais fácil e rápido, pois tínhamos um reservatório de mil litros no chão do jardim, com uma bomba submersa que jogava o conteúdo na caixa lá de cima. Assim, aprendemos a estocar e a economizar água. E o que as pessoas estão aprendendo agora, desde1987 a gente já fazia no tempo seco. Simultaneamente ao nosso desenvolvimento de habilidade em lidar com a escassez, pessoas que moravam na parte baixa do bairro e em cujas torneiras corria água o dia todo, não se constrangiam em jogar um rio fora todos os dias.
            É preciso poupar cada gota, pois poderá fazer falta adiante. Ainda assim, há os que insistem em ignorar o apelo das autoridades, as quais usam palavras como restrição hídrica, momento trágico, expectativa do caos e situação gravíssima. O governo, que costuma ocultar as reais situações com o intuito de não alarmar a população, já usa esses termos fortes. Imagino que saibam o que dizem, sendo melhor obedecer-lhes. Muito em breve estaremos dessalinizando a água do mar, ou reutilizando a própria urina, como foi mostrado num filme de ficção científica, de 1994, chamado "Waterworld", com Kevin Costner. Espero não ter de ver isso. Conviver com o Rio São Francisco seco, já foi demais para mim.
(31 de janeiro de 2015)
  









Minha querida Mara,

É raro eu não me surpreender com suas crônicas. Recentemente, Brasigóis Felício - poeta e cronista, meu confrade (e um dos melhores cronistas deste país) - escreveu o que sempre notamos, ele e eu: são muitos os escritores, ficcionistas e poetas, que se esforçam por produzir crônicas e não o conseguem. Recordei, de imediato, as nossas conversas quando, na década de 80, trabalhávamos juntos na Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Goiânia. Eu lia uma crônica em algum dos nossos jornais (eram quatro os diários goianienses daquele tempo) e lhas mostrava. O poeta lia até o final (nunca o vi fazer como eu, desistir de um texto a meio) e arrematava minha observação ou consulta com uma mínima frase: "Falta molho". 

Quando recepcionei Leda Selma na AGL, lá pelo ano 2000 (ou terá sido 2001, não estou certo), defini que ninguém é bom cronista se não for também poeta; a isto, Luiz Augusto Sampaio, um dos nosso bons cronistas também, reclamou: "Eu nunca fiz um verso" - e respondi-lhe que basta querer, porque competência ele tem.

Bem, quero chegar ao ponto: seus textos mais recentes têm brotado com as indispensáveis nuanças de poesia esparsadas na prosa boa de se ler - a prosa que "segura o leitor pelo pescoço até a última palavra", no dizer de José Mendonça Teles. Esta, a de hoje, expõe sua alma poeta desde o título. É muito bom buscar socorro na memória da infância - essa memória que não nos deixa esquecer que todos nascemos poetas, mas a maioria se esquece disso e endurece o coração à medida que soma anos (ao contrário do que disse sua tia, não é Deus que não soube dividir, somos nós que desprezamos o somar).

Meu beijo de carinho e de parabéns por este texto. Sem água, não apenas viveremos muito mal (ou não viveremos mais), como nos privaremos de tudo o que embeleza os cenários - árvores, jardins, lagos, chuva, rios, geleiras, mares, cascatas, nuvens, arco-íris, pele bonita, olhares ricos e cheios de brilho, banheiras de nos enfeitar a luxúria, mãos macias para os carinhos, o gelo a tilintar nos copos em brinde, o sabor infantil dos sorvetes e picolés, a ternura boêmia de um copo de chope, as ricas cores e os inefáveis sabores das frutas - enfim, tudo o que temos por vida.
  
Luiz de Aquino