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quarta-feira, fevereiro 04, 2015

Duas vezes desembargador

Marco Antônio Silva Lemos - Duas vezes desembargador




Eis um título ainda não atribuído a nenhum brasileiro em toda a nossa História: um desembargador aposentado, ainda em anos férteis e produtivos, não se acomodou ao tal de “merecido ócio”. Fez novo concurso para a magistratura (no caso dele, na esfera do Distrito Federal e Territórios), foi aprovado, iniciou nova carreira e, agora, é novamente nomeado Desembargador.

Estou falando de um amigo de décadas, colega no ofício jornalístico, meu editor no semanário Cinco de Março e no Diário da Manhã em seus primeiros tempos: Marco Antônio Silva Lemos é um legítimo campineiro – gentílico urbano do bairro de Campinas, em Goiânia. Certamente, torcedor do Atlético e sem dúvida ex-aluno do Colégio Estadual Pedro Gomes.

Dono de um texto impecável, em estilo e correção de linguagem, de gramática e dos demais meandros da Língua, fez brilhante carreira como juiz. Quando da Constituinte, em 1987, foi enviado do Distrito Federal para o então território do Amapá, com a missão de criar o Tribunal de Justiça do Estado a instalar-se. E, com sua visão de atualidade, fez com que aquele fosse o primeiro tribunal informatizado em todo o país. Pouco tempo após, e com base no tempo de contribuição social, aposentou-se. E o restante da história é a que contei linhas acima.

No início da semana, ligou-me para contar a boa nova. Com isso, ele se torna o primeiro caso de um mesmo cidadão vir a ser nomeado duas vezes desembargador. Isto, sem dúvida, é fato de imensa alegria para quem vive, e de orgulho saudável para os familiares e os amigos. E nós, os que compartilhamos no quotidiano com seu método de trabalho, sua curiosidade racional e persistente, sua determinação ante o certo e o ético, regozijamo-nos com o velho companheiro.

Quando editor setorial no Cinco de Março, distribuía pautas bem fundamentadas, com claras orientações sobre o fato em pesquisa, citava fontes e orientava o repórter da melhor maneira possível. Aprendi muito com ele, especialmente no que chamo de visão geral dos fatos, procurando não apenas o foco, mas os efeitos periféricos e a situação histórica – assim, para mim, se faz uma reportagem. E por conta da minha formação acadêmica, chamei a isso “visão geográfica” +do fato, ou seja, além do foco as relações várias com tudo o que se ambienta no caso.

Em comum, tivemos sempre o zelo para com o texto. E descobri um hábito saudável e pouco usual no meu chefe e amigo: ele nunca dava um texto por pronto antes de pesquisar o tema indispensavelmente em volumes de História e de enciclopédias. Imitei esse hábito e jamais me arrependi disso. Outro recurso que me habituei a fazer, depois do aprendizado nesse convívio, foi recorrer sempre a fontes não relacionadas – mas pessoas capazes de melhor informar sobre o assunto tratado.

Aquele cuidado com a reportagem, o capricho de finalizá-la com um texto digno do que chamamos de boa leitura, a consciência de assinar com segurança o trabalho realizado já me pareceram ser o bastante para apostar no bom êxito do meu amigo quando de seu ingresso na magistratura do Distrito Federal e Territórios, há mais de trinta anos. Pelo pouco que conheço do ofício, antevi um juiz comprometido com a Justiça – não o complexo definido em lei, mas mormente a Justiça que entendemos ser a mais próxima do perfeito, essa que se reveste de preceitos da moral e da ética.

Certamente, acertei nos prognósticos – senti isso pela primeira vez quando soube que Marco Antônio Silva Lemos era presidente do TJ do Amapá. Surpreendi-me quando soube de sua volta à ativa – e tive outra espécie de premonição: “Vai acabar desembargador outra vez”. E outra vez acertei.

Como sou dos que  ficam felizes com a vitória dos que me são próximos, festejo mais essa vitória de Marco Antônio. Este fato faz felizes também o Batista Custódio (e sua família), o Luiz Carlos Pampinha, o Djalba Lima... Waldomiro Santos certamente festeja lá no “andar de cima”! Ora, somos muitos a festejar esse fato! E a História da Justiça no Brasil certamente marcará o nome desse companheiro como quem inaugura uma situação que, acredito, dificilmente se repetirá.

Parabéns, Marco Antônio Silva Lemos! A Justiça do Distrito Federal está, agora, ainda melhor aparelhada com a sua volta!


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Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.

Um comentário:

Mara Narciso disse...

Muitos brilham pelos seus próprios méritos e isso já vale uma comemoração. Parabéns ao seu amigo.