Marco Antônio Silva Lemos - Duas vezes desembargador
Eis um título
ainda não atribuído a nenhum brasileiro em toda a nossa História: um
desembargador aposentado, ainda em anos férteis e produtivos, não se acomodou ao
tal de “merecido ócio”. Fez novo concurso para a magistratura (no caso dele, na
esfera do Distrito Federal e Territórios), foi aprovado, iniciou nova carreira
e, agora, é novamente nomeado Desembargador.
Estou falando de
um amigo de décadas, colega no ofício jornalístico, meu editor no semanário
Cinco de Março e no Diário da Manhã em seus primeiros tempos: Marco Antônio
Silva Lemos é um legítimo campineiro – gentílico urbano do bairro de Campinas,
em Goiânia. Certamente, torcedor do Atlético e sem dúvida ex-aluno do Colégio
Estadual Pedro Gomes.
Dono de um texto
impecável, em estilo e correção de linguagem, de gramática e dos demais
meandros da Língua, fez brilhante carreira como juiz. Quando da Constituinte,
em 1987, foi enviado do Distrito Federal para o então território do Amapá, com
a missão de criar o Tribunal de Justiça do Estado a instalar-se. E, com sua
visão de atualidade, fez com que aquele fosse o primeiro tribunal informatizado
em todo o país. Pouco tempo após, e com base no tempo de contribuição social,
aposentou-se. E o restante da história é a que contei linhas acima.
No início da
semana, ligou-me para contar a boa nova. Com isso, ele se torna o primeiro caso
de um mesmo cidadão vir a ser nomeado duas vezes desembargador. Isto, sem
dúvida, é fato de imensa alegria para quem vive, e de orgulho saudável para os
familiares e os amigos. E nós, os que compartilhamos no quotidiano com seu
método de trabalho, sua curiosidade racional e persistente, sua determinação
ante o certo e o ético, regozijamo-nos com o velho companheiro.
Quando editor
setorial no Cinco de Março, distribuía pautas bem fundamentadas, com claras
orientações sobre o fato em pesquisa, citava fontes e orientava o repórter da
melhor maneira possível. Aprendi muito com ele, especialmente no que chamo de
visão geral dos fatos, procurando não apenas o foco, mas os efeitos periféricos
e a situação histórica – assim, para mim, se faz uma reportagem. E por conta da
minha formação acadêmica, chamei a isso “visão geográfica” +do fato, ou seja,
além do foco as relações várias com tudo o que se ambienta no caso.
Em comum, tivemos
sempre o zelo para com o texto. E descobri um hábito saudável e pouco usual no
meu chefe e amigo: ele nunca dava um texto por pronto antes de pesquisar o tema
indispensavelmente em volumes de História e de enciclopédias. Imitei esse
hábito e jamais me arrependi disso. Outro recurso que me habituei a fazer,
depois do aprendizado nesse convívio, foi recorrer sempre a fontes não
relacionadas – mas pessoas capazes de melhor informar sobre o assunto tratado.
Aquele cuidado com
a reportagem, o capricho de finalizá-la com um texto digno do que chamamos de
boa leitura, a consciência de assinar com segurança o trabalho realizado já me
pareceram ser o bastante para apostar no bom êxito do meu amigo quando de seu
ingresso na magistratura do Distrito Federal e Territórios, há mais de trinta
anos. Pelo pouco que conheço do ofício, antevi um juiz comprometido com a
Justiça – não o complexo definido em lei, mas mormente a Justiça que entendemos
ser a mais próxima do perfeito, essa que se reveste de preceitos da moral e da
ética.
Certamente,
acertei nos prognósticos – senti isso pela primeira vez quando soube que Marco
Antônio Silva Lemos era presidente do TJ do Amapá. Surpreendi-me quando soube
de sua volta à ativa – e tive outra espécie de premonição: “Vai acabar
desembargador outra vez”. E outra vez acertei.
Como sou dos que ficam felizes com a vitória dos que me são
próximos, festejo mais essa vitória de Marco Antônio. Este fato faz felizes
também o Batista Custódio (e sua família), o Luiz Carlos Pampinha, o Djalba
Lima... Waldomiro Santos certamente festeja lá no “andar de cima”! Ora, somos
muitos a festejar esse fato! E a História da Justiça no Brasil certamente
marcará o nome desse companheiro como quem inaugura uma situação que, acredito,
dificilmente se repetirá.
Parabéns, Marco
Antônio Silva Lemos! A Justiça do Distrito Federal está, agora, ainda melhor
aparelhada com a sua volta!
* * *
Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da
Academia Goiana de Letras.
Um comentário:
Muitos brilham pelos seus próprios méritos e isso já vale uma comemoração. Parabéns ao seu amigo.
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