Foi-se
o Carnaval, ficaram as máscaras
Quem já passou
pelos processos de mudança de casa sabem bem o que significam estes tempos que
atravessamos na economia do país. De repente, o Brasil ficou pobre. Todo pobre
– prefeituras, governos estaduais e governo federal – e chorão, como se uma
fatalidade nos atingisse no todo. Mas como chamar de fatalidade o que já se
anunciava há décadas?
Vamos lá! Um dos
argumentos para se instaurar a ditadura militar, há meio século, foi a questão
inflacionária (eram muitos... falavam em ameaça comunista, em falência das
“elites civis”, em apelo da família brasileira, em preocupações do alto clero
católico etc. e tal – tudo balela, mas era o que argumentavam.
No quinto e
último mandato militar, o de João Figueiredo, a inflação chegou de volta, e com
muita sede. Sarney – que tinha sido presidente da Arena e se tornou
vice-presidente de Tancredo Neves – inventou aquele tal de Cruzado e, logo
após, um Cruzado Novo. Adiantou nada! E Collor, que teve o apoio de Bresser
Pereira até na pantomima do sequestro de um empresário do ramo de
supermercados, veio com aquilo de “uma só bala na agulha” (claro: não há como se
ter duas balas na agulha) e fez um monte de besteiras. Itamar Franco, seu vice,
desarmou a pistola e viu que o problema não era bala – nem pistola – e deu
jeito na inflação.
Com aquilo, ele
viabilizou a eleição do “príncipe” Fernando II, que vestiu a carapuça que
pertencia a Itamar, apresentando-se como pai do Real. FHC deixou muita gente
sem reajuste de salário por oito longos anos, o mesmo período em que elevou o
dólar em índice próximo de 400%.
Lula ouviu falar
em Henrique Meireles e levou-o para o Banco Central, dando-lhe status de
ministro. Foi bom, isso. E Dilma, matrona não tão bem informada, mudou tudo e
conduziu-nos a essa coisa que vivemos agora. As denúncias da roubalheira na
Petrobrás estavam no auge quando os preços do barril de óleo caíram
vertiginosamente. No mundo inteiro os combustíveis tiveram seus preços
reduzidos – menos no Brasil.
Agora,
caminhoneiros em todos os cantos do país começaram a se organizar e protestar,
bloqueando as principais rodovias sem, contudo, cometerem atos de agressividade
(claro, há pontos de exceção, mas a tônica dominante é o respeito a quem passa)
e o governo, com um advogado Geral da União que mais parece um porta-de-cadeia
transforma a AGU em instituição de governo, quando a Nação espera instituições
de Estado.
Na manhã desta
quarta, quando escrevo, acontecem reuniões e conversas na capital federal, mas
os áulicos de Dona Dilma avisaram, antecipadamente, que sequer aceitam discutir
redução dos preços de combustíveis. Isso, aos ouvidos e olhos da nação, soa
como o que a oposição espalhou e que, no princípio, era tomado como fofoca: a
elevação dos preços visa a cobrir o rombo investigado pela Polícia Federal no
que a gente conhece como Operação Lava-Jato.
Mais uma vez, a
presidente reeleita acena com truculência e desrespeito ao contribuinte e ao
trabalhador. Em momento algum ela admitiu, por exemplo, reduzir os impostos
sobre o óleo diesel. E, no meio de tudo isso, uma pergunta incomoda: se o
aumento foi embasado nos custos dos derivados de petróleo, porque o etanol
também subiu de preço? E porque o consumidor argentino compra gasolina
brasileira, na bomba, a R$ 1,90 e nós, os exportadores, pagamos entre R$ 3,40 e
R$ 4,49?
Os estudantes
estão nas ruas questionando aumentos nas passagens de ônibus, em Goiânia. Os
infiltrados mascarados (dizem que são baderneiros custeados por partidos de
apoio ao governo, para desmoralizar o movimento) saem quebrando tudo pela
frente. Uns poucos radicais da extrema direita (isso ainda existe? Tenho
dúvidas... existe mesmo os que defendem seus interesses muito parcitulares com
unhas e dentes) pregam o afastamento de Dilma Rousseff e outros poucos radicais,
notadamente petistas, defendem – até com argumentos ainda mais ridículos os
atos sórdidos e falaciosos – os cínicos assaltantes daquela que há mais de 60
anos é razão de orgulho nacional.
Enquanto isso,
ela, a Sra. Dilma Rousseff, teima em reajustar a tabela do Imposto de Renda em
4,5% - dois pontos abaixo do índice de inflação. Será essa a falácia que a
convence de que o povo brasileiro está enriquecendo?
*.*.*
Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da
Academia Goiana de Letras.
5 comentários:
Luiz,
muito clara sua opinião sobre os desastres dos nossos governos,
principalmente do desgoverno atual. Onde vamos parar?
Bjs.
Maria Helena
Li sua crônica. Coerência, imparcialidade, atualidade. Retrata bem nosso quadro político e o perfil dos que nos governam há anos. Faltou-lhe apenas dizer o gesto que fará Itamar Franco sempre lembrado.
Coerência e imparcialidade numa crítica bem atual. Todos têm sua grande parcela de responsabilidade; embora Itamar, com seu gesto de saliência com Mírian Ramos, seja o menos pernóstico de todos.
Um panorama histórico. A sensação é de impotência. O Brasil descarrilhando e todos nós, assistindo, vc descreveu muito bem, abs
Esta é uma análise coerente da atual situação que o País vive no momento. Parabéns por pelo texto que reuniu toda nossa história de sufoco gerado por governos incompetentes!
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