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quinta-feira, fevereiro 26, 2015

Foi-se o Carnaval, ficaram as máscaras

Foi-se o Carnaval, ficaram as máscaras


Quem já passou pelos processos de mudança de casa sabem bem o que significam estes tempos que atravessamos na economia do país. De repente, o Brasil ficou pobre. Todo pobre – prefeituras, governos estaduais e governo federal – e chorão, como se uma fatalidade nos atingisse no todo. Mas como chamar de fatalidade o que já se anunciava há décadas?

Vamos lá! Um dos argumentos para se instaurar a ditadura militar, há meio século, foi a questão inflacionária (eram muitos... falavam em ameaça comunista, em falência das “elites civis”, em apelo da família brasileira, em preocupações do alto clero católico etc. e tal – tudo balela, mas era o que argumentavam.

No quinto e último mandato militar, o de João Figueiredo, a inflação chegou de volta, e com muita sede. Sarney – que tinha sido presidente da Arena e se tornou vice-presidente de Tancredo Neves – inventou aquele tal de Cruzado e, logo após, um Cruzado Novo. Adiantou nada! E Collor, que teve o apoio de Bresser Pereira até na pantomima do sequestro de um empresário do ramo de supermercados, veio com aquilo de “uma só bala na agulha” (claro: não há como se ter duas balas na agulha) e fez um monte de besteiras. Itamar Franco, seu vice, desarmou a pistola e viu que o problema não era bala – nem pistola – e deu jeito na inflação.

Com aquilo, ele viabilizou a eleição do “príncipe” Fernando II, que vestiu a carapuça que pertencia a Itamar, apresentando-se como pai do Real. FHC deixou muita gente sem reajuste de salário por oito longos anos, o mesmo período em que elevou o dólar em índice próximo de 400%.

Lula ouviu falar em Henrique Meireles e levou-o para o Banco Central, dando-lhe status de ministro. Foi bom, isso. E Dilma, matrona não tão bem informada, mudou tudo e conduziu-nos a essa coisa que vivemos agora. As denúncias da roubalheira na Petrobrás estavam no auge quando os preços do barril de óleo caíram vertiginosamente. No mundo inteiro os combustíveis tiveram seus preços reduzidos – menos no Brasil.

Agora, caminhoneiros em todos os cantos do país começaram a se organizar e protestar, bloqueando as principais rodovias sem, contudo, cometerem atos de agressividade (claro, há pontos de exceção, mas a tônica dominante é o respeito a quem passa) e o governo, com um advogado Geral da União que mais parece um porta-de-cadeia transforma a AGU em instituição de governo, quando a Nação espera instituições de Estado.

Na manhã desta quarta, quando escrevo, acontecem reuniões e conversas na capital federal, mas os áulicos de Dona Dilma avisaram, antecipadamente, que sequer aceitam discutir redução dos preços de combustíveis. Isso, aos ouvidos e olhos da nação, soa como o que a oposição espalhou e que, no princípio, era tomado como fofoca: a elevação dos preços visa a cobrir o rombo investigado pela Polícia Federal no que a gente conhece como Operação Lava-Jato.

Mais uma vez, a presidente reeleita acena com truculência e desrespeito ao contribuinte e ao trabalhador. Em momento algum ela admitiu, por exemplo, reduzir os impostos sobre o óleo diesel. E, no meio de tudo isso, uma pergunta incomoda: se o aumento foi embasado nos custos dos derivados de petróleo, porque o etanol também subiu de preço? E porque o consumidor argentino compra gasolina brasileira, na bomba, a R$ 1,90 e nós, os exportadores, pagamos entre R$ 3,40 e R$ 4,49?

Os estudantes estão nas ruas questionando aumentos nas passagens de ônibus, em Goiânia. Os infiltrados mascarados (dizem que são baderneiros custeados por partidos de apoio ao governo, para desmoralizar o movimento) saem quebrando tudo pela frente. Uns poucos radicais da extrema direita (isso ainda existe? Tenho dúvidas... existe mesmo os que defendem seus interesses muito parcitulares com unhas e dentes) pregam o afastamento de Dilma Rousseff e outros poucos radicais, notadamente petistas, defendem – até com argumentos ainda mais ridículos os atos sórdidos e falaciosos – os cínicos assaltantes daquela que há mais de 60 anos é razão de orgulho nacional.

Enquanto isso, ela, a Sra. Dilma Rousseff, teima em reajustar a tabela do Imposto de Renda em 4,5% - dois pontos abaixo do índice de inflação. Será essa a falácia que a convence de que o povo brasileiro está enriquecendo?


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Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.

5 comentários:

Maria Helena Chein disse...

Luiz,

muito clara sua opinião sobre os desastres dos nossos governos,
principalmente do desgoverno atual. Onde vamos parar?

Bjs.

Maria Helena

Jô Sampaio disse...

Li sua crônica. Coerência, imparcialidade, atualidade. Retrata bem nosso quadro político e o perfil dos que nos governam há anos. Faltou-lhe apenas dizer o gesto que fará Itamar Franco sempre lembrado.

Jô disse...

Coerência e imparcialidade numa crítica bem atual. Todos têm sua grande parcela de responsabilidade; embora Itamar, com seu gesto de saliência com Mírian Ramos, seja o menos pernóstico de todos.

Maria Abadia disse...

Um panorama histórico. A sensação é de impotência. O Brasil descarrilhando e todos nós, assistindo, vc descreveu muito bem, abs

Zanilda Freitas disse...

Esta é uma análise coerente da atual situação que o País vive no momento. Parabéns por pelo texto que reuniu toda nossa história de sufoco gerado por governos incompetentes!