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sábado, maio 28, 2016

Ursulino Leão: 76 anos de crônica!

Luiz de Aquino e Ursulino Leão, num café da manhã em homenagem ao grande Acadêmico, romancista e cronista.




Ursulino Leão com o saudoso imortal da ABL  Antônio Olinto


Ursulino Leão: 76 

anos de crônica!


Lá pelos idos de 1960, cursando o terceiro ano ginasial, tive um professor por poucos dias – lecionou-nos por duas semanas, apenas, enquanto o titular se tratava de alguma enfermidade de que não me recordo agora. Aliás, sequer me recordo os nomes dos dois mestres – mas o substituto, um vetusto senhor (devia ter uns 45 anos), cuidou de nos ensinar coisas como de que precisa um católico para ser eleito Papa. Todos dizíamos que tinha de ser cardeal, e o mestre contou que não, pois qualquer católico pode ser eleito Papa, conforme as leis canônicas – e nos passou um verdadeiro manual de como-se-tornar-papa em-poucas-lições.

O outro ensinamento foi em pouquíssimas frases: ele nos perguntou, subitamente, o que entendíamos por literatura. E mostrou-nos, sem grande esforço, que um poema pode não conter poesia, que um romance ou um conto pode bem ser escrito sem os elementos de arte que fariam do texto uma obra de arte, realmente – isto é, literatura.

E continuou conceituando. Disse que uma receita culinária pode nos chegar com os requintes de arte que nos encanta. Que a ata de uma reunião, ou mesmo uma escritura cartorial, um relatório empresarial e ainda um simples e prosaico bilhete podem conter poesia!


Novamente, eu e Usrulino.


Poesia, como a entendo não é apenas uma peça formal, matematicamente construída, com os rigores da métrica e da rima. A alma do texto é a arte. É a poesia. Como o tempero é “a alma” do alimento. Arte é algo que a pessoa traz em si – as técnicas ele aprende. Por isso é que numa turma de 30 alunos dois ou três podem ser poetas, algum pode ser músico, alguns notabilizar-se-ão por seus talentos especiais nas mais variadas atividades humanas.


O professor José Sisenando Jayme, cujo centenário (20 de junho) já festejamos em alguns espaços de memória e de letras, foi daqueles que sabiam despertar competências. E não ficava de lanterna na mão, feito Diógenes. Ele espalhava a luz sem escolher a quem iluminar mais, contudo, sabia bem dosar suas preferências – é claro, ninguém admiraria um professor segregacionista.


José Jayme, o grande professor.


Era 1940; o jovem professor de Português no Colégio Anchieta, de Bonfim, Goiás (hoje, Silvânia), mandou que seus alunos produzissem uma redação. Meticuloso e atento, José Jayme destacou uma redação entre as que lia (corrigia) naquela tarde.

Existia, no colégio, um jornal chamado A Voz Juvenil, fundado justamente pelo aluno José Sisenando Jayme, em parceria com seu colega Benedito Odilon Rocha. O jovem mestre, em seus 24 anos, contou ao aluno, no dia seguinte:


– Sua redação foi a melhor da turma, gostei muito! Já a corrigi, vou publicá-la n’A Voz Juvenil.



Com esse gesto do professor, o aluno Ursulino Tavares Leão estreou como cronista. Em breves períodos, interrompeu suas publicações, mas há algumas décadas investiu-se da rotina dessa modalidade de narrativa curta e, quando se dá por fé, eis que esse meu querido confrade, já entrado na casa dos 90, comemora 76 anos de cronista!

Parabéns, cronista Ursulino Leão!

Obrigado, professor José Jayme!

*****

Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.


domingo, maio 22, 2016

Cidadão comum é rigorosamente controlado, mas político...

Ficha suja, mas limpo no SPC!



Semana de correr demais, mais que o trivial, tentando solucionar problemas, produzir textos, abrir novos trabalhos (debalde) e pensar que a sobrevivência está mais complicada hoje, nestes tempos de tantas maravilhas tecnológicas. Não temos mais o encanto das noites escuras quando esperávamos que o brilho das estrelas nos despertasse o encanto. E nas noites de luar, esses tais hormônios de alegria e de bem-estar, capazes de nos conduzir aos sonhos. Havendo um violão e uma bela voz e alguém a quem despertar com acordes e versos, haveria serenata.

Alguém dentre os meus leitores amigos, com peso e coragem para pedir ou cobrar, conhece o sr. Jayme Rincón? Já lhe mandei mil recados, notas de jornais, crônicas inteiras e acreditei que atenderia – afinal, ele queria ser prefeito. Mas como votar num candidato a prefeito que, como gestor de grandes obras, não consegue sequer mandar que algum subalterno providencie as placas de identificação da GO-225, a Rodovia José J. Veiga, que liga Pirenópolis e Corumbá de Goiás?

A vida moderna pede noites artificialmente iluminadas. E por isso ficamos sem o cintilar das estrelas e o luar já não nos desperta as paixões. As serenatas não há mais. Os cantadores perderam o romance. Os poetas trocaram o declamar ao sereno pelo dedilhar nos teclados. Mas, ah, que vontade de reviver serenatas sob um céu de límpidas estrelas, de luar prateado e ostensivo, o corpo leve sob a ação desses delírios românticos!

A nação se sacode em muitos pontos, muitos, protestando contra o afastamento da Dama Gastadora. Normal... ninguém quer perder poder e o substituto não se cerca de confiáveis. Fico intrigado: por um cheque devolvido no sistema bancário, uma prestação com pagamento atrasado e outras ocorrências similares um cidadão comum, pagador de impostos, pai da família ou gerador de empregos fica com “o nome sujo”, tem seus créditos suspensos e é olhado com desconfiança.
Claro, isso de se exigir ficha limpa é coisa “de país com bom ordenamento jurídico” e outras falácias conceituais. Claro está que só se aplica aos trabalhadores corretos, empregado ou patrão (que não patrocina campanhas nem distribui propinas).

Há anos, muitos anos, escrevi uma canção, musicada pelo saudoso José Pinto Neto, decantando uma serenata à mulher amada... 

Vejo o seu rosto moreno 
mais alegre que o luar. 
Faz um aceno e um sorriso (como é puro!) 
se despede no escuro Ai, que vontade de ficar!


Entre uma canção e outra, um poeta erguia a voz e declamava versos de amor, exaltando a beleza e a postura da amada. Buscava poemas conhecidos, ia aos românticos e aos contemporâneos, Álvares de Azevedo e Gonçalves Dias, Castro Alves e Cassimiro, ou recorria a Bandeira, Vinícius, Drummond, Paulo Mendes Campos, Brasigóis, Aidenor, Joaquim Machado, Yeda Schmaltz, Sônia Elizabeth... 

Mas um cidadão cheio de votos ou padrinhos – suspeito de mandar matar, apontado como recebedor de propinas, como aliciador de autoridades, notório praticante ativo de escravidão, peculato, desvio de verbas públicas e outras sujeiras mais – é nomeado ministro ou líder em Casa do Parlamento sob a justificativa “Ele ainda não é réu”.

A serenata era a confissão sem constrangimentos do sentir e do desejo. Era a boêmia em exercício, coisa de quem separava as horas de trabalho e estudos e se dedicava à construção de seu futuro calcado no amor com responsabilidade. Acabou-se! O amor não pede mais serenatas, sustenta-se nas conveniências.
Ao mesmo tempo, os homens públicos construíam-se sob a luz das leituras e do aprendizado da História e dos compromissos com a sociedade. Era o tempo em que política existia para o bem-servir. Acabou-se. Quando mais suja a ficha, mais firme é a corda do alpinismo político!

(Mas, por favor, Jayme Rincón, mande repor as placas da Rodovia GO-225).


*****



Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.

quinta-feira, maio 19, 2016

Palestra na Academia Goiana de Letras sobre José Sisenando Jayme











A obra de Jarbas Jayme veio a lume quatro anos após sua morte, por iniciativa do filho José Sizenando Jayme (1973). É a maior obra de genealogia jamais publicada no Brasil e teve opinião favorável de Catulo da Paixão Cearense.





José Sisenando Jayme
 
(20 de junho de 1916 – 4 de outubro de 1994)




O notável e honrado Acadêmico José Sisenando Jayme foi o quarto ocupante – como assim designamos os membros efetivos deste Sodalício, pela cronologia – da Cadeira número 8, que tem por patrono Alceu Victor Rodrigues.

Antecederam-no Sebastião Fleury Curado, Joaquim Câmara Filho e José Lopes Rodrigues.

Sucedeu-o Isócrates de Oliveira, também pirenopolino. Hoje, o ocupante da Cadeira 8 é o poeta anapolino Paulo Nunes Batista (nascido na Paraíba).

Tive a alegria de compartilhar com o mestre José Jayme, assim chamado abreviadamente, na condição de seu aluno da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, então chamada Universidade Católica de Goiás, desde “1968 – o ano que não terminou”, como está no título de famosa obra do escritor Zuenir Ventura. Éramos, então, a maior turma de Geografia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da UCG. E por ser o nosso primeiro ano, todos os mestres eram-nos novidades, ainda que Goiânia fosse, então, uma cidade com um pouco menos de 400 mil habitantes – isso implica dizer que os profissionais de nível superior eram, praticamente todos, sobejamente conhecidos. E José Sisenando Jayme era o Procurador do Estado, o Diretor do Liceu, o Diretor do Instituto de Educação de Goiás e, no circuito da própria universidade, era ele um dos pioneiros que lutaram para que existisse a Faculdade de Filosofia, embrião da Universidade de Goiás – o termo Católica entraria mais tarde, como que em analogia à Universidade Federal de Goiás, cuja instituição se dá, efetivamente, em 1960.

Nos últimos meses, venho conversando com vários amigos, familiares meus, familiares dele... E nesse afã, com alguns ex-alunos do saudoso mestre. É bom falar sobre ele! Os comentários e conceitos são sempre precedidos de sorrisos felizes, evidência de que as lembranças são sempre boas.

“Ele era o professor que mais contava casos, tinha sempre algo de engraçado ou importante a nos contar – mas era, ao mesmo tempo, o que mais matéria nos dava. Os casos eram contados, quase sempre, como ilustrações da matéria ensinada” – comenta o aluno José Samuel de Sousa.

O professor de Geografia Física – séries adiante, ensinou-nos Geografia do Brasil – portava sempre uma pasta de couro marrom e, além dela, alguns livros e mapas. Usava um jaleco longo. Suas aulas incluíam, além do uso dominante do giz ao quadro-negro, os citados mapas – vários deles, como de relevo, hidrografia, oceanográfico, climático etc., conforme o tema da aula. Era pontualíssimo (“britânico”, dizíamos dele), não gostava que qualquer de nós chegasse atrasado – a bronca era inevitável – e não gostava de dar segundas chamadas das provas mensais – aplicava zero a qualquer aluno faltoso (o que frequentemente acontecia comigo, que faltava a algumas aulas enquanto lecionava em colégios). A salvação estava num recurso matemático – as médias ponderadas.
O geógrafo José Jayme era versado também em História, o que lhe facilitava as pesquisas
genealógicas, em seguimento ao ofício que seu pai exerceu com maestria.

O professor José Sisenando Jayme usava, ainda, as famosas fichas de aulas. Trazia-as na tal pasta de couro, amareladas pelo tempo, escritas em caligrafia vigorosa e clara. Mas era perfeitamente capaz de, consultando-as, discorrer sobre temas atuais e exemplos recentes – como quando ilustrou o fenômeno dos deslizamentos dos morros. A ficha era antiga, o conteúdo da matéria era claro e o exemplo, atual – ele ilustrou essa unidade com os graves e trágicos deslizamentos em morros habitados do Rio de Janeiro – motivo de um lindo e triste samba da época cujo autor me escapa, mas a canção começava assim: Pisa devagar na lama. / A lama foi / O morro que se desmanchou. / Pisa devagar na lama, / A lágrima que o morro derramou.

"Casas de Deus. Casas dos Mortos. Casa dos Homens" é uma obra em dois volumes, com pesquisa iniciada por Jarbas Jayme e concluída pelo filho José S. Jayme. Mas a obra foi editada após a morte de José, pela filha Maria José (Bizé) Jaime. Prefácio de Oscar Niemeyer.



Os dois volumes de "Pirenópolis - Casas de Deus,
Casas dos Mortos, Casas dos Homens".

Era um crítico severo, com fundamento na Geografia, das atitudes e medidas aplicadas em situações de risco. Tinha receitas práticas para evitar tragédias assim. Ensinava-nos Geografia Física com exemplos e amostras práticos e reais. Certa vez, levou-nos à sua chácara no município de Anápolis, à margem da BR-060. Ali, onde passamos um dia de campo muito agradável, tivemos a confirmação de boa parte de seus ensinamentos, especialmente sobre a contenção de voçorocas – essas fendas enormes, rasgos alongados na terra, que o nosso homem rural chama de grota. Ele construía barragens transversais a distâncias calculadas, de modo que a própria ação das enxurradas – que causam esses rasgos no chão – efetuassem os depósitos de aluviões, construindo naturalmente um novo relevo, amenizando a força das águas selvagens.

Nosso último encontro foi na fundação da Academia Pirenopolina de Letras,
Artes e Música - APLAM. Ganhei dele alguns livros e este autógrafo.
Falava-nos de relevo e vegetação, detalhava a influência do primeiro na formação da flora, discorria sobre os animais como “consequência” da vegetação. Lembrava, à luz da Teoria de Wegener, nossas semelhanças com a África e contava práticas próprias – costumava fazer contatos e visitas às embaixadas africanas em Brasília. Pedia – era atendido – que lhe fornecessem sementes de plantas nativas do continente berço da humanidade e lograra reproduzir boa parte delas em sua chácara. Contou-nos de uma, chamada massala (tenho dúvidas se com SS ou Ç), que tem o tamanho e a forma de uma laranja, mas a casca é lisa e rígida, “gostosa de se comer e produz delicioso suco”, dizia-nos ele – e nos serviu o falado suco.


Algumas obras do mestre José Sisenando Jayme.
De espírito comunitário – como convém a um homem das chamadas humanidades (vale lembrar que o curso pós primário, chamado ginasial na minha geração, até 1943 era dito Curso de Humanidades, e foi o que ele cursou no Ginásio Anchieta, da então Bonfim, colégio em que exerceu o magistério – onde foi professor do nosso confrade Ursulino Leão e responsável por fazer do ex-presidente desta Academia um cronista, no distante ano de 1940. Ou seja, – permitam-me este aposto – o nosso querido Ursulino é o decano dentre todos os cronistas de Goiás, pois exerce essa prática há completos 76 anos)!

Minha turma concluiu o curso em 1971. Por razões financeiras, tive de trancar a matrícula justo naquela última série. Só consegui nova matrícula em 1974, a última turma em série (desde 1972, o ensino acadêmico em todo o país, à exceção do curso de Direito, passou ao malfadado sistema de créditos, pelo qual tínhamos de correr muito entre uma aula e outra, num intervalo de cinco minutos, muitas vezes em outros prédios, atravessando avenidas e a enorme Praça Universitária).

Naquele ano de 1974, meu nome foi para a lista de Colação de Grau pela segunda vez – mas fui advertido de que não poderia colar grau, pois devia matérias (a universidade não conseguia dizer quais...). E foi em 1974 que ele se despediu da UCG. Nossa turma prestou-lhe uma comovente homenagem, fui escolhido como orador. Preparei um discurso escrito e ao término, ele me pediu o texto, e agradeceu mais ou menos assim:

– Obrigado! Tem uns errinhos de português, mas o que vale é o propósito.

Reli várias vezes o texto, mostrei-o a uma querida professora dos tempos do Liceu e ela também não achou os erros que ele dizia haver.

Após nossos anos de relação professor-aluno, passamos a nos tratar como amigos. Ele certamente não tinha mais, para comigo, a postura austera do professor ante seus alunos, mas jamais abriu mão da autoridade sobre mim, e a demonstrava com a fala forte de um pai sobre o adolescente, assim:

– Você está muito gordo! (Sim, eu tinha mais de 95 quilos de peso).

– Ah, professor, não se preocupe, é fruto da idade, cheguei aos 40 anos. – E ele, sem perder a razão, contestava-me:

– Não é coisa de idade, não. É de boca! Feche a boca e emagreça!

E se despedia, tomando caminho.

Tenho comigo lembranças e suvenires de uma noite muito especial para ambos – a noite de 16 de abril de 1994. Os volumes de “Goiás, humorismo e folclore” e “Origem da Família Fleuri”, com sua dedicatória. Foi a noite solene em que instalamos, tendo-a como data de fundação, a Academia Pirenopolina de Letras, Artes e Música. O local foi a Pousada Santa Bárbara, em Pirenópolis, ao lado da Igreja do Bonfim. Tenho uma fotografia, certamente das últimas dele, quando de seu discurso de improviso (o filho Luiz Jaime deve ter consigo uma fita cassete com esse discurso gravado), no qual ele discorreu, sem consultar qualquer escrito, sobre vida e obra dos 26 patronos das primeiras 26 Cadeiras Acadêmicas!

José Jayme discursa na inauguração da APLAM. Nunca mais nos vimos, mas esse evento (16/4/1994) foi o fecho de ouro de u ma vida voltada para a
cultura, o ensino, a ciência e a pesquisa. 

No dia seguinte, ele viajou para Brasília, ficaria na casa da filha Bizé – Maria José Jaime. Lá, sofreu uma queda e no decurso do tratamento, descobriu-se que o câncer, que ele vencera alguns anos antes, estava de volta.

Faleceu pouco depois das sete horas da manhã, exatamente oito horas após a morte de seu amigo, o igualmente querido professor Joaquim Gomes Filho, seu amigo e conterrâneo. Era o dia 4 de outubro, aniversário de Bizé, sua filha primogênita.

Como disse antes, conversei com muitas pessoas, neste agradável exercício de aquecimento (hoje, dizem “esquenta” – temos até programa de tevê com esse nome) que antecede a redação. Dentre estes, a contribuição mais expressiva e fundamentada que obtive foi do notável Nilson Gomes Jaime, agrônomo e pesquisador, que nestes dias desenvolve os passos finais para um livro muito esperado – A Família Jaime/Jayme.

Nilson Gomes Jaime é natural de Palmeiras de Goiás, cidade cuja população, em elevado percentual, descende de famílias da antiga Meia Ponte, a nossa Pirenópolis. A obra “Famílias Pirenopolinas”, de Jarbas Jayme, trazida a lume em 1973, pela iniciativa do imortal cujo centenário de nascimento hoje festejamos, é considerada ainda hoje a maior obra de genealogia produzida no Brasil até os nossos dias.

Jarbas Jayme, pai do nosso José Sisenando, ou somente Professor José Jayme, deixou também outros originais – inclusive o “Esboço histórico de Pirenópolis” – e o filho, também incansável pesquisador, cuidou de publicar, dando continuidade ao conjunto de obras do pai.

Nilson Jaime decidiu pesquisar a família Jaime/Jayme, a partir de Jarbas e José Jayme, e seu livro deverá ser lançado nos albores da próxima Primavera! Já realizou dezenas, centenas (suponho eu) de visitas e entrevistas, pessoalmente ou por telefone, valeu-se de e-mails e das redes sociais para os contatos e “descobriu” e integrou ao corpo maior da família (incluam-se também muitos outros sobrenomes, ou melhor, quase todos os sobrenomes de Pirenópolis e Palmeiras de Goiás), juntando outras unidades da Federação Brasileira.

Não transcrevi aqui trechos desse verbete – que ocupa cinco laudas em corpo 14 – em respeito ao ineditismo e à confiança do autor.

Eu agradeço, cordial e penhoradamente, esta ajuda inestimável e o abraço, primo Nilson Gomes Jaime, pela sua ajuda! 




                               

Post Scriptum – O nosso homenageado era filiado ao Colégio Brasileiro de Genealogia: 



        

sábado, maio 14, 2016

Benedito, Normanha, José Jayme e Dona Nelly


José Normanha com a filha, a poetisa Renata.
 




Esses notáveis centenários


Há alguns anos, constatei, como se ao acaso, que pelo menos quatro dos nossos mais expressivos escritores nasceram em 1915: José J. Veiga (2 de fevereiro), Eli Brasiliense (18 de abril), Bernardo Elis (15 de novembro) e Carmo Bernardes (2 de dezembro). Fixei-me nesses quatro e aguardei o momento de revelar isso, conclamando pessoas, entidades e instituições a festejar as expressivas figuras de nossas letras.

Divulguei os nomes dos quatro no informativo da Academia Goiana de Letras, que Iuri R. Godinho e eu produzíamos, sob a direção do nosso confrade Eurico Barbosa. A ideia seria publicar, no decurso do ano de 2014, textos dos quatro grandes das letras goianas que, no ano seguinte, completariam 100 anos – mas nosso veículo de comunicação foi extinto.

Pouco antes do término de 2014, dirigi-me à diretoria da AGL, propondo homenagens àqueles notáveis – dos quais somente José J. Veiga não fora membro da Casa, “por não morar em Goiás” (ele próprio recusava). E o acadêmico Eurico Barbosa adicionou o quinto nome, o do poeta Pedro Celestino da Silva Filho, que presidiu a Academia. Ele também nascera em 1915, em Corumbaíba, no dia 27 de outubro.


Em 16 de abril, 1994, festa de fundação da Academia Pirenpolina de Letras, Artes e Música - uma das últimas fotos de José Sizenando Jayme (de pé).
  


Sei que despertei interesses. Os nossos cinco escritores foram devidamente lembrados e homenageados na Academia Goiana. E a Academia Pirenopolina de Letras, Artes e Música promoveu sessão em homenagem aos quatro por mim lembrados inicialmente, pois tiveram passagens por Pirenópolis (Bernardo Elis e José J. Veiga, nascidos em Corumbá, têm grande parte de seus familiares na antiga Meia Ponte; Carmo Bernardes trabalhou, quando moço, em fazendas locais e Eli Brasiliense viveu lá, onde se casou).

A Secretaria de Educação e Cultura do Estado também homenageou os escritores centenários, tal como os citei – mas ignorou minha participação em todo aquele empenho, como se partisse de seus técnicos e assessores a “descoberta”. Anotei, também, outras omissões e prefiro esquecê-las, apesar das evidências apontarem para um esforço no sentido de destacar outros confrades ou colegas.


José Normanha com a filha, a poetisa Renata.
No decorrer das homenagens, no âmbito da Academia Goiana de Letras, houve a troca de presidentes, quando foi eleita presidente a poetisa Lêda Selma de Alencar, substituindo Getúlio Targino Lima. Lêda já se mostrava entusiasmada com as homenagens por mim propostas e continuou com a agenda. E no início deste ano, levantei quais seriam os nossos confrades nascidos em 1916. Encontrei os muito queridos Benedito Odilon Rocha (poeta, de Corumbá de Goiás, 7 de abril), José Normanha de Oliveira (contista, cronista e poeta, de Carinhanha, Bahia, 21 de abril)), José Sizenando Jayme (ensaísta, de Pirenópolis, 20 de junho) e Nelly Alves de Almeida (ensaísta e crítica literária, de Jaraguá, 1 de outubro).

O poeta Benedicto Odilon Rocha

No ano passado, tive a alegria de discorrer, na AGL, na APLAM (Pirenópolis) e em eventos externos sobre Carmo Bernardes (a quem tenho a honra de suceder na Cadeira 10 da AGL) e também sobre José J. Veiga, com ênfase para a Semana Cultural do Setor Jaó e da grandiosa festa promovida pelo SESC de Goiás, que trouxe o notável Ignácio de Loyola Brandão para palestrar sobre o nosso autor de Sombra de Reis Barbudos (nessa ocasião, fui agraciado com uma placa, como um agradecimento por eu lhe confiar o acervo literário do goiano traduzido em dezenas de países mundo afora, o nosso Veiga.

Na Academia Goiana, já tivemos duas sessões de homenagens aos centenários de 2016. A primeira delas, dedicada ao acadêmico José Normanha, em palestra proferida pelo confrade Hélio Moreira. A seguinte, em homenagem a Benedito Odilon Rocha, deu-se pelas lembranças e o texto escorreito, límpido e emocionante de seu filho, o jornalista e acadêmico Hélio Rocha. No segundo semestre, o acadêmico Miguel Jorge proferirá palestra sobre a notável professora Nelly Alves de Almeida.


Dona Nelly, à direita.

Na quinta-feira, dia 19, estou incumbido, pela presidente Lêda Selma, para falar sobre José Sizenando Jayme, meu mestre na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de Goiás – hoje, Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Conto com as presenças dos meus amigos e leitores à sessão, que se dará às 17 horas, na Casa Colemar (Rua 20, 225 – esquina com Rua 15 – Centro).

E a Academia Pirenopolina (APLAM) prestará homenagens a três desses centenários, em função da proximidade geográfica e familiar com Jaraguá e Corumbá – Dona Nelly, José S. Jaime e Benedito Rocha. Aguardo apenas que o presidente, escritor Adriano Curado, divulgar as datas para, com a mesma alegria, oferecermos os festejos de nossas almas felizes, pois que pudemos conviver com esses talentosos e profícuos confrades nas letras.


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Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.

sábado, maio 07, 2016

Mãe - presença eterna!


Dona Lilita, sob o talento do mestre Amaury Menezes 



Para que não seja ausência



Eu escolhi não escrever uma crônica, hoje. Esta foi uma semana ruim, pesada, cheia de nuvens turvas, plúmbeas – não nos céus, o que nos alegraria muito por conter a baixa umidade atmosférica, mas no cenário político, nos horizontes econômicos e, inevitavelmente, na nossa esperança. Escolhi reproduzir uma crônica em que homenagearia a condição quase santa da mulher – isso de ser mãe. Não apenas gestar e parir, mas envolver-se, emocionar-se, aceitar a missão não só de gerar, mas de formar os novos seres.

Nas páginas deste meu blog, uma foto especial entrou-me pelos olhos e sacudiu-me o peito. Sou sensível às boas lembranças – essas a que chamamos de saudade, ou seja, o lembrar sem dor, o recordar para se fazer feliz. E essa foto, escolhi-a para ilustrar esta crônica (que decidi escrever).

Padre Alcides celebrou uma missa no quintal de nossa casa, em Caldas Novas, era 22 de outubro de 1994, a data em que, 50 anos antes, meus pais se casaram ante o juiz de paz. Por razões daquele momento da história ou das circunstâncias locais, o casamento religioso não se deu. Coube, pois, ao reverendo Padre Alcides, merecedor da minha admiração especial, celebrar aquela missa em que, com propriedade, ele falou mais ou menos assim: 

– Não houve um sacerdote para ungir este casamento, mas Deus o fez, ou os teria separado. Quem sou eu, pois, um humilde padre, para negar o óbvio? Deus os casou, eu apenas O referendo e celebro, neste aniversário de 50 anos.

E disse à minha mãe, Dona Lilita (nos papéis, Élia Borgese de Aquino Alves), que desse a Comunhão ao meu pai – e o gesto é claro.



Nesta sexta-feira de maio, antevéspera do Dia das Mães, viajo a outro maio, 60 anos atrás. Fazia, então, dois meses que eu chegara ao Rio de Janeiro para morar e estudar. Minha avó Inês (ou Ignez, como se escrevia nos tempos de seu registro) acordou-me cedo, no nosso sobrado histórico de Marechal Hermes: 

– Levante e se arrume, vamos a Niterói!

Fomos. Era o que ela me prometera. Nesse dia, tomamos o trem até a Central do Brasil, e então a primeira novidade: um bonde – o Praça XV – e na tal Praça XV saltamos para tomar a barca – segunda novidade em tão pouco tempo!  Emocionei-me na travessia da Baía de Guanabara mas ainda conheceria o ônibus elétrico (a terceira novidade do dia). Em casa da tia-prima Iná, encontrei os primos Inazinha e Colombinho Vieira de Sousa. E foi a Inazinha, de sete anos (eu tinha 10), quem me mostrou a canção que começava assim: “Ela é a dona de tudo / ela é a rainha do lar” – e contou-me que estávamos no Dia das Mães (aqui em Goiás não sabíamos disso; ou melhor, em Caldas Novas não sabíamos que havia um Dia das Mães).

Meus pais não estão conosco. Inazinha também se foi, recentemente (17 de novembro, 2015, dois dias antes de seu aniversário) e deixou dois filhos e netos. Sentirei a falta de muitas outras mães neste domingo, dia 8 – como minha sogra e, há bem poucos dias, a Adriana, cunhada caçula. Mas não estarei triste. Aprendi, com o tempo, a aceitar a morte como a transferência da alma para o outro plano, pois a matéria é perecível, tem curta duração. Tento, pois, guardar o que pude apreender da essência de cada um dos meus queridos.

Padre Alcides, à esquerda; e Dona Lilita põe a Hóstia Santa na boca de meu velho
Israel na Missa de 50 anos.

Fiquemos, então, com essa de minha mãe a oferecer a Hóstia Santa ao seu velho companheiro. Para mim ficaram os livros e os acordes que recebi na infância.



* * * * *


Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.