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sábado, dezembro 31, 2016

Feliz Ano-Novo!

Os sonhos, o íntimo e o tempo




Carlos Drummond de Andrade, num poema, disse bem (como é de seu feito e feitio):

Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Ora, nós sabemos, o homem primitivo concebeu a ideia do ano por observar as estrelas, o Sol, a Lua – a natureza, posto que tudo isso se transforma a períodos certos.

Dias e noites primeiro; a semana, após, que são as fases da Lua, em quatro etapas, que resultam em meses. A cada três meses, na Zona Temperada (as duas faixas entre os trópicos e os círculos polares) dão-se as estações, que são quatro também, e eis que se fez o ano. Ao homem coube notar, memorizar e deduzir.

Recebemos, qualquer de nós, centenas ou até milhares de mensagens de otimismo pela passagem do Novo Ano. E, de uns tempos para cá, tenho visto críticos precipitados a censurar o que chamam de ignorância – achar que mudando o ano tudo muda. Houve até quem me enviasse uma mensagem dizendo que “se branco nos desse a paz, os médicos não teriam depressão” e outras na linha “se amarelo chamasse fortuna” e “se o verde garantisse a esperança” – em todas as frases, a conclusão pessimista de quem anda de mal com a vida.

Por isso voltei a Drummond, fui reler o famoso poema “Cortar o tempo”. A ninguém dou o direito de invadir-me o íntimo e criticar meus sonhos. Deus permitiu-me a vida e incumbiu-me de defini-la; meus pais cuidaram dos meus primeiros passos, primeiras palavras e despertares – e eu fiz do caminhar o meio para a escolha do destino; das palavras, a ferramenta para conviver; e, da capacidade de observar e acordar, fiz meu modo de criação. De tudo isso fiz meus sonhos, e de minhas ações fiz as conquistas.

Usarei branco, amarelo, verde, vermelho ou azul, ou sejam lá quais tons se me tocarem para vestir-me de feliz. Eu não ensaiei a felicidade, não a escrevi, não acreditei que todos os momentos seriam felizes, não. Aprendi que um momento se torna feliz quando paro e o observo, avalio e agradeço ao Criador por permitir-me vivê-lo, experimentá-lo e aprender com ele.

Os sonhos, pois, muitas vezes são exclusivos, dizem respeito à nossa satisfação pessoal e íntima. E também muitas vezes os sonhos são sociais – do casal, da família, do círculo próximo e mesmo da sociedade a que nos integramos. E o tempo, este tempo natalino que se une ao de trocar o ano, é tempo histórico. Sempre nos referimos a algo do nosso passado, que igualmente se confunde com o passado coletivo, ou seja, a História. E há sempre a atenção para como tempo geográfico, o tempo-clima, o que nos sugere a praia ou o edredom, a roupa leve ou os casacos de lã. No nosso caso, neste paralelo 17ºS, só cuidamos se teremos céu límpido ou chuva. Vestimo-nos de quaisquer cores e calçamo-nos com conforto porque queremos festejar e dançar, queremos esticar a noite última do ano e a primeira madrugada com intensidade para, ao fim, “pegar o Sol com a mão” e fortalecer os sonhos, renovando energias.

Com esperança, fé e alegria. Com companheirismo, solidariedade e caridade. Com muitos abraços, muitos olhares de boa luz e beijos de amor.

E termino com os votos do poeta de Itabira (do poema citado):

Para você,
Desejo todas as cores desta vida.
Todas as alegrias que puder sorrir.
Todas as músicas que puder emocionar.
Para você neste novo ano,
Desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
Que sua família esteja mais unida,
Que sua vida seja mais bem vivida.

Feliz 2017!

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Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.

domingo, dezembro 25, 2016

Feliz Natal!

Luzes, abraços, sorrisos e paz!


Tenho lido, aqui e ali, avaliações descabidas acerca do tempo e do calendário. Ora, leitores, o dia é nitidamente definido pela dança dos astros no que temos por infindável: o Sol nos dá toda a sugestão porque a nossa casa, a Terra, que caminha ao seu redor, parece estática. Em seguida, a semana – conceito lunar sugerido pelas quatro fases do satélite, fases tais que, concluídas, dão-nos os meses.

A outra medida, mais sensível nas zonas temperadas, vem-nos das quatro estações do ano, e o ano já está, pois, definido. O homem antigo festejava os quatro tempos com providências de semear, cuidar-produzir, colher e armazenar. Mas os menos atentos imaginam que a medida do tempo é mero interesse do comércio, e maldizem o comércio em seu todo, contrapondo com a adoração religiosa – sem saber, pois, que os festejos religiosos derivam dos procederes da economia, ciência da sobrevivência tão mal interpretada!

Alguém disse que não presenteará seus queridos porque o aniversário é de Jesus. Uai! Até onde sei, o que fizermos de afeto e carinho, de bem-amar o próximo e demonstrar isso resulta em presentes ao legítimo aniversariante, sim! Portanto, vamos presentear.

De mim, ofereço-lhes este meu sentir ante o Natal do Cristo. É que vivo tempos de meditar e agradecer, de reconhecer que não vivi em vão e que a cada dia uma Graça Divina se repetiu em 365 natais a cada ano, nestes meus 71, três meses e um decêndio. Recebam, amigos, meu carinho nestes versos:


É Natal

Primavera que traz chuva,
que traz paz, que amacia
o ar de se respirar.

Chuva de repor a cor
nos campos de flores
e pastos. E Sol de luz

que aquece os dias, dá vida
às vidas de plantas e bichos,
anuncia o Verão de risos

e nos saúda com sinos
em verde e carmim
de festa e Natal.

É bom festejar, brindar e sorrir
e trocar carinhos e mimos
em fitas, verniz e crepom.

Mas é tempo: oremos
em louvor do Cristo que nasce
e nos brinda em Graças.


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Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.

sábado, dezembro 17, 2016

As mãos da paz

As mãos da paz


Era 1979, agosto. O Brasil vivia ainda o regime do arbítrio, mas os ventos da Anistia já se anunciavam no horizonte de todos os quadrantes. A notícia da morte de Pedro Ludovico correu a cidade, invadindo-nos os ouvidos como a luz de um raio nos enche os olhos. Tinha 89 anos e estava viúvo há algum tempo.

Repórter do Cinco de Março, o semanário que antecedeu o nosso DM, evitei a Assembleia Legislativa ao longo do dia, local do velório. Era perto de meia-noite quando, ao lado de alguns colegas de trabalho, cheguei ao Palácio Alfredo Nasser (sede do Legislativo goiano). O local já se esvaziava quando, de um carro, dois homens desceram e cuidaram de auxiliar o terceiro, idoso, bastante conhecido de todos – o udenista Wilmar Guimarães, ferrenho adversário de Pedro Ludovico Teixeira ao longo de toda aquela era política. Seus acompanhantes, se bem me recordo, eram o seu irmão caçula, William, e seu filho Wilmar (Guima).

Os presentes – jornalistas e políticos, além de alguns populares – olhavam com perplexidade. O embate político entre Pedro e Wilmar era notório; mas o velho adversário, amparado pelos moços, caminhava determinado até o corpo em velório. Levava uma rosa, que depositou no peito do morto e, sabendo que surpreendia, esclareceu que “sempre fomos adversários políticos, jamais inimigos”, e arrematou com referências elogiosas ao caráter, à coragem e à determinação de Pedro, fatores que o marcaram bem.

Esse quadro vem-me à lembrança ao ver a manchete de hoje do DM, dando conta do gesto de paz entre os dois maiores líderes políticos de Goiás desde aquele agosto de 1979 – Iris Rezende Machado e Marconi Perillo. Iris firmou-se no quadro político de Goiânia nos anos de 1950, quando se elegeu vereador. Na década seguinte, elegeu-se deputado estadual, depois prefeito e foi cassado pelo regime militar, punição que os generais haviam imposto também ao senador Pedro Ludovico.

Iris retornou à política elegendo-se governador em 1982. O jovem deputado federal Marconi Perillo – que já cumprira um mandato de deputado estadual – atreveu-se a pleitear o Palácio das Esmeraldas em 1998, enfrentando Iris numa campanha histórica e consolidou-se, assim, sua trajetória de grande líder, só comparável mesmo a Iris Rezende. Mas divergências de postura e escolhas políticas, fortalecidas pelas posições contrárias nos pleitos seguintes, criaram uma barreira ao convívio desses polos das preferências do eleitorado goiano.

O anúncio dessa proposta de harmonização chega-me como um sinal de boas-novas ante as cascatas de más notícias que invadem nosso bem-estar a cada novo noticiário de rádio e tevê. Goiás tem vivido tempos difíceis, também, com o quadro da economia local e a crise que atinge todos os governos nos três níveis da vida pública. Enfrentamos, agora, outras medidas amargas dentre as providências para conciliar arrecadação e gastos, e sabe-se bem que a herança de Paulo Garcia chegará a Iris, mais uma vez eleito prefeito de Goiânia, com “um gosto amargo de fel”, como o verso de Gonzaguinha.

A harmonia entre o Paço Municipal e o Palácio Pedro Ludovico é vital para Goiânia e os goianos, e Marconi tem procurado esse mesmo tom entre o Governo e as Prefeituras em geral. Iris, no pedestal de seus 60 anos de vida pública, o rosário de vitórias e o aprendizado calejado nos ofícios exercidos (vereador, deputado, prefeito, governador duas vezes, ministro de Estado duas vezes e senador, além do retorno à prefeitura de Goiânia, agora, pela quarta vez) conhece bem os benefícios dessa harmonia.

Entendo que ambos, Iris e Marconi, pensam em Goiás. E assim pensando, oferecem-nos a esperança de tempos melhores, como se Marconi propusesse a Iris um fraterno abraço pelo aniversário na próxima semana, e Iris retribui com os afagos natalinos.

E Goiás, todo o Estado, se regozija com esse gesto de sabedoria que bem resultará nas hostes políticas.

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Luiz de Aquino é jornalista e escritor.

Nossas letras têm futuro!

Nossas letras têm futuro!


Amigos e leitores, esta foi uma semana de alegrias, como um sol na tempestade dos noticiários em que o nojo atingiu níveis superiores ao susto ante a desfaçatez, a desvergonha e o cinismo estampado em rostos cercados de luz e microfones ante as câmaras. Não sei de “coxinha” nem de “petralha” que aceite a cara de pau institucionalizada dos rostos do bigode grisalho que macula a menor sociedade da União, a de Roraima e do olhar repugnante encimado pelo implante sofisticado de pelos a desacatar a Constituição, a Justiça e suas decisões – tudo em desfavor do povo.

No DM de sexta-feira, a notícia do armistício político entre os dois maiores nomes da política contemporânea, em Goiás. E festejamos o momento, com a renovação de esperanças, superando o conflito que só interessava mesmo a meia-dúzia de áulicos de cada lado – mas que prejudicava os dois e, mormente, o povo de Goiás.

Outra notícia, de menor monta nas atenções dos leitores, trouxe-me (e a tantos milhares ou milhões de goianos) o desmentido ao derrotismo dos que, descrentes de si mesmos, achincalham-nos por nivelar os demais aos seus porões de desânimo. Refiro-me à notícia da página 5, na mesma edição de sexta-feira, 16/12/16, com a manchete “Três meninas gênios em Goiás” - os textos estão, integrais, na página do DM: https://impresso.dm.com.br/edicao/20161216/pagina/5.

O evento foi a 5ª. edição da Olímpíada de Língua Portuguesa, da Fundação Itaú e do Ministério da Cultura, que envolveu as 27 unidades federativas, 4.873 municípios, 39.662 escolas, 170.244 participantes. Foram avaliados 50.600 textos enviados e vinte estudantes foram festejados como finalistas, dentre eles três goianos. Aliás, três goianas, dignificando suas cidades – Anápolis (poema), Vianópolis (crônica) e Caldas Novas (artigo de opinião) – respectivamente, Ana Letícia Penha Gonçalves, da Escola Municipal Manuel Gonçalves Cruz, sob a orientação da profa. Patrícia Parreira da Silva; Mayara de Aleluia Pereira, da Escola Municipal Antônio de Sousa Lobo Sobrinho, com orientação da profa. Elisete Tavares; e a outra, da minha terrinha natal, é Brenda de Souza Soares, do Centro de Educação de Jovens e Adultos Filostro Machado Carneiro, orientada pela profa. Aldenir Chagas Alves.

Bem! Vivi um ano e alguns meses em Anápolis (1966/67) e sei que existe, sempre houve, um forte núcleo de criação e preservação de arte em várias linguagens. A cidade quis crescer com a marca de boas escolas, públicas e particulares, e boa evidência é o fato de ali se achar o câmpus com a reitoria da Universidade Estadual de Goiás.

De Vianópolis, sei de ouvir dizer. Importante estação ferroviária, referência de grandes lembranças de amigos – e até mesmo alguns parentes afins. É bom lembrar que a mais importante discoteca de Goiânia, nas décadas de 60 e 70, era a de Fabiano Viegas (primo de minha mulher), só para situar. E sei também que a cidade é governada (ele foi reeleito) por um jovem idealista, de pés no chão e muito juízo na cabeça, Issy Quinan, de quem sempre me fala o amigo Cleverlan do Vale.

Já da minha cidade natal, Caldas Novas, sinto rebrotar o amor às letras. Foi ali que nasceu, em agosto de 1889, a primeira poetisa de Goiás, Leodegária de Jesus. Tinha um ano quando a família se mudou para Jataí, onde o pai, professor, conseguiu emprego de professor. O pai eleito deputado, mudou-se para a capital, Cidade de Goiás. Aos 17 anos incompletos, estudante, Leodegária estreou em livro – Coroa de Lírios (poemas) – que mereceu comentário de ninguém menos que o poeta Osório Duque Estrada (ele mesmo! O autor da letra do Hino Nacional Brasileiro). Infelizmente, Caldas Novas, governada nas últimas cinco décadas por prefeitos alheios ao fazer artístico (houve uma ou duas exceções, mas já vai tempo, também), ignora este fato.

Resumindo: além da poetisa Leodegária tivemos, no campo das letras, dignos de realce, Genesco Bretas, Oscar Santos, Celso de Godoy, Juca de Godoy, José Pinto Neto e quase ninguém mais. Somos três, ao menos, ali nascidos, que desenvolvemos o ofício literário fora da terrinha – Waldir do Espírito Santo Castro Quinta, Delermando Vieira Sobrinho e eu. E, agora, muito feliz, vejo surgirem essas três estudantes a destacar-se num certame de tamanha importância e volume de participantes.

Ah, tenho de terminar, o espaço acabou! Mas encerro dizendo que quero conhecer essas três meninas, suas mestras e suas escolas.

Permitem-me?

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Luiz de Aquino é escritor e jornalista, membro da Academia Goiana de Letras.


domingo, dezembro 11, 2016

Vergonha internacional

Renan provocou e o Supremonos proporcionou essa vergonha internacional

De festas e escárnios


Costumo dizer que a única coisa de que não tenho preguiça é de escrever. Sim, porque muitas vezes sinto preguiça até de falar, quanto mais praticar caminhada, ir à farmácia ou ao açougue, ligar para desejar Feliz Natal (a expressão se tornou tão automática que a pronunciamos sem considerar o real sentido) ou repetir bons-dias, quando sempre é possível expressar alegria e formular votos de modo diferente.

Agora, chegamos aos meados do último mês do ano – e aprendemos desde cedo a partilhar a vida em períodos. Ora, dias e noites são fáceis de se conceber, nosso relógio biológico nos sugere a fome e a sede, o sono e repouso, a disposição de encarar fatos e atos do quotidiano. As semanas, estas já medimos sem as barreiras das medidas artificias – já os meses e anos, ainda que com suas marcas fortes, pelos ciclos lunar e solar, estes nos exigem outra forma de atenção.

O tempo, as sete décadas já vividas, prenunciam-me a velhice. Quando será que vou me sentir de fato velho, hem? Por enquanto, tenho rugas e cãs... Pausa! Preciso explicar, por se tratar de palavra pouco usual, que “cãs” é como denominamos nossos cabelos grisalhos ou brancos; inseri a palavra num poema e ele foi publicado como “cães”. E o diagramador me acusa, hoje, de ser “agressivo com os pobres revisores”. Mas, convenhamos, como ser tolerante com revisor descuidado?

Reabro o tema, fecho a pausa. O tempo, que transforma nossas belezas visuais em material descartável, pronto para a reciclagem, o tempo costuma alumiar melhor nosso interior, sobretudo nosso pensamento, que nos sugere novos e saudáveis conselhos.

Nestes dias, tão marcados pelas confraternizações, tenho tido momentos agradáveis de convívio, de variação de cores e de luzes, de musicalidade (poxa! Que lindeza a apresentação da Orquestra Sinfônica Jovem na festa de encerramento do ano pela Academia Goiana de Letras!). Vivi também uma série de bonitas festas literárias, com novos livros de muitos amigos – e até mesmo um livro meu, conjugado com o de Iuri Godinho, quando trouxemos novos livros sob um só título, livros esses com capas que resultam da divisão mediana de uma belíssima tela de Alexandre Liah...

Contudo, amigos meus, contudo, houve também a vergonha escancarada, o deboche público que só mesmo os néscios se encorajam para praticar. Claro, claro: refiro-me a esse ser abominável que os alagoanos mandaram para o Senado e seus pares (os que nós outros, dos demais estados, também enviamos) elegeram para presidir nossa Câmara Alta. Renan Calheiros, que expôs seu desrespeito à própria família ao deixar vir a público um romance paralelo com uma bela jovem, romance esse com frutificação e arranjos para que uma empreiteira bancasse a pensão alimentícia, debochou do Senado, provocou e vilipendiou a Justiça e humilhou a Nação.

Mas ele não agiu só (outro alagoano, há um quarto de século, vociferava na solidão do Palácio da Alvorada – “Não me deixem só!” – mas nós o deixamos só, sim!). Contou com o apoio de um grupo de colegas sobre os quais lançamos nossas mais vis suspeitas. E conseguiu envolver pelo temor (ao que tudo indica) os nobilíssimos senhores da Justiça, e deu no que deu.

A idade é alta, eu sei. E gosto disso, gosto muito! A idade exige de mim posturas mais lúcidas e racionais, mais sóbrias e positivas. Mas, amigos meus, só de mim? Só de nós, trabalhadores, gente que rala sem limites para viver com o mínimo de dignidade?

Eles, os “excelências”, precisam tomar consciência. E se isso lhes for muito difícil, que tomem ao menos vergonha na cara.


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Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.

domingo, dezembro 04, 2016

De dores e livros

Os nossos livros: Família Jaime/Jayme, de Nilson
Jaime, e os gêmeos Amor em Dose Dupla, de Iuri
Godinho e Luiz de Aquino.



De dores e livros


Angústia e ansiedade são, sem qualquer dúvida, os sentimentos reinantes no meio político desta Nação. Estou seguro do que digo, no que tange ao lado passivo da política – o eleitor – nos intervalos de dois anos entre uma e outra votação para eleger um bando de párias que nos aprecem filhos da Pátria, mas...

Bem! O certo é que vivemos estes dias que nos abalam o emocional desde os tempos da campanha presidencial de 2014: de um lado, a incompetência comprovada tentando ficar – e ficou; do outro, a dúvida por feitos nababescos e gastos idem, aliados aos comentários sobre hábitos nada ortodoxos ante o que esperamos de quem se habilita para presidir o Estado, gerenciar o País, ser o elemento de confiança da Nação.

A semana mal começada sacudiu-nos em comoção com o terrível desastre que, ao que tudo indica, não foi acidente, mas a infindável crônica das mortes anunciadas. Um piloto empresário, antes militar, sediado em pátria de Evo, certamente simpático e envolvente, usando de meios que arriscamos imaginar, habilitou-se como preferido por algumas equipes de futebol desta América do Sul. Sugere-se que ele seduzia pessoas de determinados ambientes para conseguir contratos.

De repente, a Chapecoense se tornou mais notícia que o Corinthians e o Flamengo; de repente, a pequena Chapecó tornou-se a meca do futebol mundial; de repente, emocionamo-nos e todo o mundo se emociona com o que vimos acontecer em Medelín. E de repente, não mais que de repente, aconteceu o que todos temíamos – mas esperávamos. Os facínoras que elegemos para a Câmara Federal fizeram outro desastre.

Em que aqueles 300 e tantos deputados se diferem do piloto assassino da La Mia – a empresa de uma só aeronave, com sede na Bolívia e atendendo, de modo canhestro, clientes brasileiros? Cada deputado, desde o que apresentou aquelas malfadadas e espúrias emandas à proposta do Ministério Público até cada um dos que votaram a seu favor emendas, cada qual é um piloto Alejandro Miguel Quiroga.

Escrevo de véspera para que este texto saia no domingo, no Diário da Manhã. Neste domingo, é certo que acordo temeroso, preocupado com acontecerá no Brasil nas manifestações deste 4 de dezembro, pois não temos a conduta dos americanos que, em seus protestos, limitam-se a conduzir cartazes e cantar refrãos que traduzem indignações. Nossos protestos descambam-se para a baderna – o que a opinião pública repudia, a despeito legitimidade da causa.

No contraponto destas más-novas, vivi dias de intensa alegria ao mesclar a tristeza nacional com feitos do meu feitio – quero dizer, livros. Ao lado do meu amigo de infância (a dele, que é duas décadas mais jovem) Iúri Rincon Godinho, lancei Amor em Dose Dupla. Ou ele lançou Amor em Dose Dupla ao meu lado. É que, por ideia dele, assim denominamos, como perfeitos xarás, nossos novos livros de poemas sob a temática do amor e dos hormônios do sexo (quarta-feira, 30/11).

As capas, concebeu-as Alexandre Liah, artista de ponta: um corpo nu de mulher, que, dividido ao meio, foi aplicado em nossos livros, cabendo-me a parte inferior, posto que Iúri preferiu os fartos úberes. Nossos livros, a módicos 50 reais os dois exemplares, ou R$ 30 por um, estão à venda na Contato ( 62 3224-3737); ou comigo mesmo.

O dia seguinte, primeiro de dezembro, foi o da festa da Família Jaime/Jayme, de berço pirenopolino, expandida por todo Goiás (de sempre, contando o Distrito Federal e o Tocantins), Minas, Rio de Janeiro, São Paulo e todo o Brasil, além de meio mundo! Por esses cantos espalham-se os Jaime, Jayme e outros nomes consanguíneos, como Rattes, Mendonça, Lopes, Pina, Siqueira etc, etc. Loas ao autor, Nilson Jaime!

Que as próximas horas, bem como os próximos dias e meses, sejam de paz e juízo. Que os calhordas a que temos de dizer “excelências” se toquem, que se ajeitem e, principalmente, que se danem nas mãos da Justiça que eles, responsáveis pelas maiores mazelas, querem agora incriminar.

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Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.

Família Jaime / Jayme

Comendador e padre Luiz Gonzaga de Camargo Fleury, o patriarca.

Uma saga, muitas grafias

Jaime ou Jayme, uma só 

família e muitas linhagens


 Luiz de Aquino, especial para o DM


Enfim, o dia! Neste 1º de dezembro de 2016, vem à luz o livro FAMÍLIA JAIME/JAYME – GENEALOGIA E HISTÓRIA, de Nilson Jaime.

São 1,148 páginas. Capa de Luiz Gonzaga Jayme de Oliveira.
Depois de 16 meses de trabalho ininterrupto, em viagens e visitas, contatos e consultas, pessoalmente ou por telefone, especialmente o celular, e muitos e-mails trocados (há uma estatística, nesta página, em box), cerca de oito mil pessoas biografa- das, pesquisas em livros e internet, o autor Nilson Go- mes Jaime (literariamente, Nilson Jaime) fechou-se, nas últimas semanas, nos basti- dores da gráfica, isto é, no trabalho de edição da obra, que se concluiu com mais de 1.100 páginas em um só volume.

Nilson Jaime, o autor reunido com primos, coletando dados.


O engenheiro agrônomo, mestre e doutor, transmudou-se em pesquisador, historiador e genealogista para dar segui- mento à obra que o encantou no albor da juventude – Famílias Pirenopolinas, de seu parente Jarbas Jayme, em edição póstuma empreitada por seu filho José Sisenando Jayme, em 1973.

Nilson Jaime achou, talvez, um tanto tímida a abordagem da família Jaime (que, na segunda geração, começava a adotar o Y em alguns registros). Após a leitura, procurou conhecer pessoalmente José Sisenando Jayme para melhor se informar. Notou, por exemplo, que da segunda mulher do genearca coronel João Gonzaga Jaime de Sá, registrou-se, na fabulosa obra que o inspira, somente os nomes dos filhos, mas não se cuidou da continuidade dessa ala da descendência do “primeiro Jaime” – ou “Vô Jaime”, como a família se refere a ele.

Coronel João Gonzaga Jaime de Sá – o
primeiro Jaime.


Com o passar dos anos, a curiosidade e a vontade de continuar a obra só fez aumentar. Teoricamen-te, omitir a descendência de Leocá-dia Pereira era ignorar cerca de me-tade daquela descendência, pois o segundo casamento rendeu-lhe prole maior que o primeiro. A motivação, pois, é a que define o autor: resgatar os escritos de Jarbas Jayme e não deixar que se perdessem os dados publicados quanto a esta família. E suprir lacunas deixadas por Jarbas Jayme, como a linhagem afrodescendente.

Leocádia, que fora escrava, viu-se livre por iniciativa de João Jaime e tornou-se esposa do viúvo, ainda que os costumes de então lhes impedissem a união religiosa – e, posteriormente, civil. Este deve ser o detalhe que despertou Nilson Jaime a pesquisar incansavelmente toda a ramificação dos Jaime (e Jayme) que, a partir de Pirenópolis, radicam-se em Rio Verde e Palmeiras de Goiás (que já se chamou Alemão, Palmeiras e Mataúna).

Em poucas décadas, os Jaime e Jayme estariam também em Anápolis, teriam passagens pela antiga capital, alguns escolheriam Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo (capital) e Ribeirão Preto, marcando presenças em vários outros municípios brasileiros.

A construção da nova capital de Goiás trouxe Jaime/Jay-me também para Goiânia. Em seguida, a família seria  identi-ficada também no novo Distrito Federal, Brasília.

Desde que o mundo se tornou a “aldeia global” de que nos falava Marshall McLuhan, os Jaime e Jayme começaram a se espalhar também pelo mundo. A nova hégira coincide, ou tem excelente veículo justamente nisso, com as facilidades da formação acadêmica. Nas últimas décadas, muitos foram os que concluíram sua formação escolar com vistas a obter melhores condições profissionais. Em pouco tempo,  gradua-ção era pouco e as especializações surgiram, bem como as titulações mais elevadas do mundo acadêmico. Muitos des- cendentes alcançaram títulos de mestres e doutores e, consequentemente, imiscuíram-se no mundo das pesquisas e do ensino de graus elevados.

Hoje, o nome Jaime, em sua forma original ou com o pomposo Y, manda notícias de todos os cantos do mundo. Ou seja, podemos parafrasear o dístico britânico dos séculos anteriores, segundo o qual o sol não se punha jamais sobre terras do Império: O sol não se põe sobre o nome Jaime /Jayme.

A atitude do autor, Nilson Jaime, agora, é aguardar as críticas e comentários para, numa provável segunda edição, corrigi-las. O que mais sugere, porém, essa obra, é a conti- nuidade dos registros. Espera-se, também, que descendentes dos demais filhos do patriarca, o comendador Luiz Gonzaga de Camargo Fleury, padre católico, jornalista, professor e político, que gerou outros filhos de sobrenomes igualmente ilustres e marcantes na vida pública (política, letras, artes, música, direito, medicina e tantos outros segmentos), sejam estimulados e tragam, também, suas histórias e genealogia.


   


 BOX 1 - Família Jaime/Jayme em números
Número de páginas: 1.148, equivalente a três livros de 380 páginas; 55.000 linhas; 15.000 parágrafos; 600.000 palavras; 400 fotografias; 8.000 biografados; 16 meses de trabalho; 5.760 horas de trabalho; 1.200 telefonemas (com duração de 10 minutos a 1 hora); 1.000 e-mails recebidos; 40.000 km rodados em automóvel.
 Período abrangido: 500 anos (1509 a 2016).
 Número de linhagens: 24; maior linhagem: Mendonça (980 membros ou 1.600 incluídos os cônjuges).
Maior número de filhos:
a) Major Frederico Jayme (de Rio Verde): 24 filhos, assim como o genearca, Coronel Jayme;
b) Sizenando Jaime: 23 filhos, com duas mulheres;
c) Maria da Conceição Lopes, 19 filhos, com um só marido.
Cidades com maior número de descendentes:
1) Goiânia
2) Pirenópolis
3) Anápolis
4) Rio Verde
5) Palmeiras de Goiás
6) Belo Horizonte, MG
7) Brasília, DF
8) Ribeirão Preto, SP
9) Uberlândia, MG.

FORMAÇÃO ACADÊMICA
Cerca de 88 mestres, doutores e pós-doutores.
POLÍTICA
Destaque:
- Luiz Gonzaga de Camargo Fleury: Membro da Junta Governativa Estadual (1822-24) e Presidente da Província de Goiás (1837-39).

 Luiz Gonzaga Jaime - desembargador, senador; foi
o primeiro Jaime a graduar-se
Senadores
- Luiz Gonzaga Jayme (desembargador), Senador por três mandatos (1909-21);
- Leoni Mendonça (6 meses, 1974-75);
- Max Lânio Gonzaga Jaime (6 meses, 1988-89).
Ligação afim, por casamento:
- Marconi Perillo (duas filhas Jaime) e Ronaldo Caiado (dois filhos Jaime).
Deputados Federais:
- Iturival Nascimento: deputado estadual por duas vezes e deputado federal por quatro mandatos;
- Tullo Hostillo Gonzaga Jayme: Deputado Federal, 1917-20;
- Geraldo de Pina: duas vezes Deputado Federal (1963-66 e 1968).
Ligação afim, por casamento:
Nion Albernaz (quatro filhos Jaime).
Deputados Estaduais:
- Major Frederico Gonzaga Jayme, duas vezes intendente de Rio Verde e três vezes deputado estadual (1909-20); Dr. Genserico Gonzaga Jayme (1935-37); Ronaldo Jaime, Altamir Mendonça, Plinio D’Abadia Gonzaga Jaime, Frederico Jaime Filho: todos 3 vezes. Ainda: Kepler da Silva, Alcyr Mendonça, José Mendonça, Iron Jayme do Nascimento e Olímpio Jaime (Presidente da Assembleia).
Prefeitos:
Mais de 50 mandatos, em Pirenópolis, Palmeiras de Goiás, Anápolis, Rio Verde, Jandaia, Petrolina de Goiás, Silvânia, Niquelândia, Britânia, Vila Propício, em Goiás, Arapoema - TO, e Araçuaí - MG.
Música:
Leo Jaime, Fernando Perillo, Debora de Sá, Tainá Pompeu e Maestro Joaquim Jaime.
Esportes: Carlos Jayme (Medalhista Olímpico) e Oswaldo Mendonça Júnior (bicampeão mundial de Karatê-Do).
Professores: Universidade de Colúmbia, EUA: Prof. Ph.D. Carlos Gustavo Vasconcelos de Moraes; Padre Josafá de Siqueira: Reitor da PUC Rio; Fernando Gonzaga Jayme: Diretor da Faculdade de Direito da UFMG; Prof. Dr. Cristóvam Mendonça Filhos, Ph.D, professor da USP; Patrícia Gonzaga Jaime, com pós-doutorado, professora da USP.
Literatura e história: Jesus de Aquino, Jayme Jarbas e José Sisenando Jayme, entre outros.





 BOX 2 - O autor

Nilson Jaime com o neto Miguel
 NILSON GOMES JAIME - Bisneto do “Vô Jaime” (o genearca da família Jaime), natural de Palmeiras de Goiás (15/04/1962). Engenheiro agrônomo, Mestre (M.Sc.) e Doutor (D.Sc.) em Agronomia pela UFG. Fez seus estudos primários na Escola Paroquial São Vicente de Paula (1968-1972) e o ginasial no Colégio Estadual de Palmeiras de Goiás (1973-1976).

Foi jornaleiro em sua cidade natal (1971-75), dos oito aos treze anos, vendendo os jornais Correio Brasiliense, Folha de Goiaz e Cinco de Março, período em que iniciou a formação de sua diversificada biblioteca pessoal. Ainda criança, não dispondo de livros e enciclopédias em sua casa, montou acervo com mais de seis mil recortes de jornais e revistas, principalmente sobre História, Geografia, Filosofia, Música, Artes e Ciências. Esse acervo era muito procurado por colegas para pesquisas escolares, na década de 1970. 

Estudou no Colégio Estadual Professor Pedro Gomes (1977) e no Colégio Objetivo (1978-1979). Foi aprovado em seu primeiro concurso vestibular, aos 17 anos, na Universidade Federal de Goiás (UFG) (1980), fez política estudantil e lutou ativamente pela derrubada da Lei do Boi (Lei nº 5.465, de 03/07/1968), que reservava 50% das vagas nas Universidades Federais a filhos de fazendeiros.

Graduou-se Engenheiro Agrônomo em 1984, aos 22 anos. No mesmo ano de sua formatura (1984) foi aprovado em concurso público, tornando-se Professor (1985-88) das disciplinas Tecnologia de Produtos de Origem Vegetal (TPOV) e Tecnologia de Alimentos, nos cursos de Agronomia, Nutrição e, posteriormente (2002-03), Engenharia de Alimentos, da UFG.

Foi Editor de Agropecuária do jornal Diário da Manhã (1988), colunista da revista Campo & Negócios, de circulação nacional, e sócio fundador da Academia Palmeirense de Letras e Artes (Apla, 2005), onde ocupa a Cadeira nº 5, patronímico do genealogista Jarbas Jaime. Em 2 de julho de 2016, por sugestão dos acadêmicos Luiz de Aquino Alves Neto e Fausto Jaime, teve seu nome aprovado para membro da Academia Pirenopolina de Letras, Artes e Música (Aplam), empossado no dia 27/08/2016, na cadeira nº 9, patronímico do Maestro Silvino Odorico de Siqueira.


O autor tem três filhas: Raquel, Sarah e Déborah. E um netinho – Miguel Jaime Cardoso (n. 29/10/2015).

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Luiz de Aquino é escritor e jornalista, membro da Academia Goiana de Letras.

sábado, dezembro 03, 2016

Itaney Francisco Campos (posse na AGL)

Itaney Francisco Campos

Academia Goiana de Letras empossa

novo imortal

Luiz de Aquino, especial para o DM

A presidente da Academia Goiana de Letras entrega o diploma de Membro Efetivo ao poeta Itaney Francisco Campos

Em Sessão Magna de Posse, como prevê seu estatuto, a Academia Goiana de Letras, sob a presidência da escritora Leda Selma de Alencar, empossou o novo membro do sodalício – o poeta Itaney Francisco Campos. Ele foi eleito para a Cadeira 37, que se vagou com o falecimento do dicionarista e pesquisador Mário Ribeiro Martins.

Membros da Academia Goiana de Letras

Desde julho, a sede da Academia Goiana de Letras passa por reformas. Em virtude disso, e sendo o novo membro da AGL desembargador, a solenidade aconteceu no auditório do Pleno do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás.
Em bela peça literária, o acadêmico Eurico Barbosa dos Santos enfocou a biografia e a obra do poeta e historiador que, naquele momento, acolhia nos umbrais da AGL. Contou de seus estudos e do ofício de juiz, de seus autores prediletos e de sua poesia, mas discorreu também sobre a Casa – não a edificação, mas a entidade Academia Goiana de Letras. Para tanto, viajou aos primórdios da fundação, em 1939. Falou do modelo que inspira as academias de letras no Brasil – a Academia Brasileira de Letras e a casa mater, ou seja, a Academia da França.

Eurico Barbosa discursou recebendo o novo imortal

Eurico Barbosa exaltou a qualidade literária do admirado homem de leis, leu um de seus poemas e avaliou, com propriedade, o peso sóbrio do juiz no fazer poético, bem como do homem poeta no ofício do julgamento.
De minha parte, como escritor e jornalista, ao me propor à elaboração de uma matéria desta natureza, dispenso os procederes de repórter e vasculho a memória e algum papel, seja jornal, seja livro. Deixo de expor aos leitores uma reportagem, mas oferto-lhes as minhas impressões acerca de uma figura humana, um magistrado da nossa Alta Corte de Justiça no Estado – o desembargador Itaney Francisco Campos. Esse jurista, que assim se formou e aprimorou, é, porém, poeta – e isto ele o é de nascença, teima e muita leitura. Soube dele, pelas primeiras referências, em tempos idos há três décadas, quando a Assessoria Especial de Cultura da Prefeitura de Goiânia, na pessoa de sua titular, profª Yara Araújo de Souza, possibilitou a edição de seu livro Notícias Históricas do Bairro de Campinas (1985). Depois, muito tempo depois, fui agraciado com seu volume de poemas Inventário do Abstrato (2009, Prefeitura de Goiânia / PUC Goiás / Kelps) e, por último, alcancei Orações no Templo da Justiça (2015, Gráfica e Editora Bandeirante).
O poeta Itaney Francisco Campos, ao discursar tomando posse na Cadeira 37
O poeta e magistrado Itaney Francisco Campos nasceu em Uruaçu, no centro-norte de Goiás antes do desmembramento do território do Estado de Tocantins. Filho do promotor e, depois, procurador de Justiça Cristovam Francisco de Ávila. É de sua lavra um excelente compêndio intitulado A Família Fernandes e a Fundação de Uruaçu – Reminiscências. E seu irmão Ítalo Campos é poeta, morador de Vitória e membro da Academia Espírito-Santense de Letras. Sua presença tem sido constante nos eventos artísticos-literários da cidade e, não raro, também no interior. Sua poesia é alvo preferido de tantos os que dela tomam conhecimento.



Leila Regina (mulher) e Raquel (filha), figuras proeminentes
na carreira e na obra do novo acadêmico.
A fala do novo acadêmico

Sugere a tradição acadêmica que o empossando discorra sobe o Patrono de sua Cadeira e, também, o último ocupante – mas é também da tradição discorrer sobre antecessores remotos. No caso da AGL, a Cadeira 37 tem por patrono Crispiniano Tavares, engenheiro e escritor, baiano de nascimento, formado pela Escola de Minas de Ouro Preto e que atuou por tempos em Goiás, falecendo em Rio Verde. Sua obra (contos) só foi publicada após sua morte precoce (envolveu-se num romance com a mulher de um auxiliar; o flagrante resultou na agressão do marido traído, que feriu de morte o rival; este, mesmo ferido, buscou uma arma e matou a tiros o agressor, falecendo horas após).
A Cadeira 37 teve, porém, apenas um ocupante, o Promotor e Procurador de Justiça Mário Ribeiro Martins, autor de vasta obras enciclopédicas sobre academias goianas e seus membros. Itaney Francisco Campos fez o histórico de seu patrono e o panegírico de seu antecessor, “como manda o figurino”, mas foi farto ao expor sua satisfação e seu agradecimento pela nova situação. E não esqueceu de valorar o empenho e a solidariedade em família, em especial de sua mulher, Leila Regina, e Raquel, sua filha e também escritora – sem, contudo, esquecer de se referir aos filhos distantes: Marlon, diplomata, servindo em Maputo (Moçambique), e Matheus e Ana Laura que, com o primeiro neto, Lauro Wollmer, vivem em Hamburgo (Alemanha).

Um poema do acadêmico Itaney Francisco Campos


Expressão espontânea de

 boas-vindas


Aidenor Aires, poeta e acadêmico da AGL, aposentou-se na seara das leis, tendo sido, tal como o pai de Itaney, Promotor e Procurador de Justiça. Apreciou com alegria incontrolável a festa de ingresso do irmão de versos Itaney F. Campos na Casa Colemar Natal e Silva. Eis o que ele postou nas redes sociais, horas após a solenidade: 

Aidenor Aires, poeta
e acadêmico.

"Entre tantos eventos dolorosos, entre tantas agressões à sensibilidade e às boas criações humanas, ontem, de tarde à noite, participamos de um momento de beleza e exaltação da vida. Foi a posse do poeta Itaney Campos na Academia Goiana de Letras. Itaney tem uma vida bem construída, educação e princípios invejáveis.
Em todo o tempo de nossa convivência, as vezes em que estivemos próximos sempre foi para mim de enriquecimento com sua inteligência e humanidade. É um escritor preocupado com a carpintaria do poema, adestrando versos e disciplinando palavras. Não obstante haver críticas (fundadas) às academias, algumas vezes o sodalício acerta em sua escolha. Este é um momento em que a AGL acerta o alvo.
Ytaney soma. Agrega seus atributos de pessoa excelente e de intelectual digno. Mais diria sobre ele. Longe de mim a rasgação de seda. Por isso, sua recepção foi concorrida no auditório do TJ, e depois, em um descontraído jantar, sem pompa ou ostentação, mas com a acolhida delicada e cortês dele e de sua família. Até seus colegas de profissão, que ali compareceram, deixaram suas sisudas togas para um momento de amável confraternização - alguns juízes e desembargadores.
Conheço todos que lá estiveram. Não citarei nomes para não dar à minha memória estragada a oportunidade de me pregar mais uma peça. Todos ficamos felizes com a festa de Itaney. Tenha ele vida longa. Não confie na imortalidade acadêmica. Produza muito. Produza bem. Assim se cava a longevidade literária”.

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Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.