Eu quero mais ministros de cor
Luiz de Aquino
Vez em quando, ouço de alguém aparentemente bem-formado (quero dizer, gente que cursou universidade) que a solução para os nossos problemas está na volta do regime militar. Nesses momentos, sinto uma dor no estômago e algum hormônio ruim invadir-me o corpo, chego às raias da depressão. Mas reajo, ciente de que, para o nosso bem, essas pessoas não conseguem dar eco a suas vozes. A não ser por esparsos momentos, como aquele jornalão paulistano a decretar, em seu editorial, que o Brasil, de 64 a 85, viveu uma “ditabranda”.
Sim, leitor, a Folha decretou. Aliás, a Folha aprendeu a decretar justo nos tempos em que reinava a “ditabranda”. Não foi à toa que disseram que, naqueles tempos, era a Folha o jornal de “maior tiragem” no país. A referência não era ao número de exemplares rodados e distribuídos, mas, sim, ao número de “tiras” nos quadros de sua redação.
Por um tempo, os resquícios da ditadura militar foram chamados de “entulho democrático”, como se os aceitássemos como sobras de construção que enfeiam e incomodam. Alguns idiotas qualificam a ditadura como “militar e civil”; nunca vi nada mais insensato, pois os civis que participaram do golpe foram logo alijados do processo e só tiveram vez os baba-ovos, eternos mariposas da luz do poder, como ACM, Sarney e outros menos expressivos.
Mas o triste é que o entulho continua por aí. Os oportunistas, os agregados eternos do poder não soltam o osso. Empoleram-se ao poder como mariscos na rocha. Mamaram na ditadura até o fim e, com a boca torta pelo hábito, mamaram na era Sarney, no curto reinado de Collor, na regência de Itamar e no império de FHC. E continuam apegados nos mandatos de Lula.
Os mais espertos conseguiram empregos vitalícios. E nesses cargos “ad vitam” existem, felizmente, os que trazem consigo o lastro do conhecimento intelectual e técnico indispensável. Falo do ministro Joaquim Barbosa, em realce desde o instante em que, semana passada, afrontou o presidente do Supremo com a coragem dos que nada têm a temer. Ou perder.
Certo, o ministro! Felizmente que outros há de sua estirpe. Infelizmente, uns outros preferiram alinhar-se ao duvidoso presidente, dono de atitudes corajosas, mas inexplicáveis ao bom senso, como teimar em manter em liberdade autores de graves lesões à Pátria, escudados no poder do dinheiro e da influência que a pecúnia exerce sobre alguns. De imediato, nada menos que oito ministros alinharam-se com o presidente – mas a Nação Brasileira alinhou-se com Joaquim Barbosa.
Está certa, a Nação. Temos de nos alinhar com os nossos iguais. E a Nação, neste caso representada pela sua maioria pensante e trabalhadora, esta que tem vergonha na cara, enxerga no homem mestiço, símbolo da nossa identidade maior, aquilo com que sonhamos para o nosso Congresso e as assembléias legislativas e câmaras municipais. Ele agiu do modo como esperamos dos Executivos dos três níveis. Ele agiu, enfim, como queremos que ajam os ministros dos nossos tribunais.
Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras. E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com. Blog: http://penapoesiaporluizdeaquino.blogspot.com.