Luiz de Aquino e Ursulino Leão, num café da manhã em homenagem ao grande Acadêmico, romancista e cronista. |
Ursulino Leão com o saudoso imortal da ABL Antônio Olinto |
Ursulino
Leão: 76
anos de crônica!
anos de crônica!
Lá
pelos idos de 1960, cursando o terceiro ano ginasial, tive um professor por
poucos dias – lecionou-nos por duas semanas, apenas, enquanto o titular se
tratava de alguma enfermidade de que não me recordo agora. Aliás, sequer me
recordo os nomes dos dois mestres – mas o substituto, um vetusto senhor (devia
ter uns 45 anos), cuidou de nos ensinar coisas como de que precisa um católico
para ser eleito Papa. Todos dizíamos que tinha de ser cardeal, e o mestre contou
que não, pois qualquer católico pode ser eleito Papa, conforme as leis
canônicas – e nos passou um verdadeiro manual de como-se-tornar-papa
em-poucas-lições.
O
outro ensinamento foi em pouquíssimas frases: ele nos perguntou, subitamente, o
que entendíamos por literatura. E mostrou-nos, sem grande esforço, que um poema
pode não conter poesia, que um romance ou um conto pode bem ser escrito sem os
elementos de arte que fariam do texto uma obra de arte, realmente – isto é,
literatura.
E
continuou conceituando. Disse que uma receita culinária pode nos chegar com os
requintes de arte que nos encanta. Que a ata de uma reunião, ou mesmo uma
escritura cartorial, um relatório empresarial e ainda um simples e prosaico
bilhete podem conter poesia!
Poesia, como a entendo não é apenas uma peça formal, matematicamente construída, com os rigores da métrica e da rima. A alma do texto é a arte. É a poesia. Como o tempero é “a alma” do alimento. Arte é algo que a pessoa traz em si – as técnicas ele aprende. Por isso é que numa turma de 30 alunos dois ou três podem ser poetas, algum pode ser músico, alguns notabilizar-se-ão por seus talentos especiais nas mais variadas atividades humanas.
O professor José Sisenando Jayme, cujo centenário (20 de junho) já festejamos em alguns espaços de memória e de letras, foi daqueles que sabiam despertar competências. E não ficava de lanterna na mão, feito Diógenes. Ele espalhava a luz sem escolher a quem iluminar mais, contudo, sabia bem dosar suas preferências – é claro, ninguém admiraria um professor segregacionista.
Era 1940; o jovem professor de Português no Colégio Anchieta, de Bonfim, Goiás (hoje, Silvânia), mandou que seus alunos produzissem uma redação. Meticuloso e atento, José Jayme destacou uma redação entre as que lia (corrigia) naquela tarde.
Existia,
no colégio, um jornal chamado A Voz Juvenil, fundado justamente pelo aluno José
Sisenando Jayme, em parceria com seu colega Benedito Odilon Rocha. O jovem mestre,
em seus 24 anos, contou ao aluno, no dia seguinte:
–
Sua redação foi a melhor da turma, gostei muito! Já a corrigi, vou publicá-la n’A
Voz Juvenil.
Com
esse gesto do professor, o aluno Ursulino Tavares Leão estreou como cronista.
Em breves períodos, interrompeu suas publicações, mas há algumas décadas
investiu-se da rotina dessa modalidade de narrativa curta e, quando se dá por
fé, eis que esse meu querido confrade, já entrado na casa dos 90, comemora 76
anos de cronista!
Parabéns,
cronista Ursulino Leão!
Obrigado,
professor José Jayme!
*****
Luiz de
Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.
11 comentários:
Ah, a Literatura! Invejados e invejáveis são os que trazem na alma a capacidade de reunir letras e transformá-las no instrumento capaz de atingir a sensibilidade de quem ainda pulsa. Parabéns e obrigada a você também, poeta!
Li e gostei muito! Conheci muito Ursulino Leão. Eu era criança e ele visitava muito meu tio Zezé Batista,na cidade de Santa Terezinha de Goiás,onde morávamos!
Parabéns para a longevidade do cronista e também para quem escreve sobre ele...
Bela notícia!
A longevidade somada ao talento nos dá presentes admiráveis como este. Vida longa a Ursolino, um leão das letras.
O escritor Ursulino Leão merece a admiração de todos nós. Parabéns pelo texto.
Dois mestres!
Ate que enfim, mando um recado a Ursulino. Estou com saudade de ler as suas crônicas,
Ursulino é um patrimônio...
Justa homenagem a este grande cronista, Ursulino Leão, Luiz de Aquino.
O Dr. Ursulino Leão é um gigante da crônica, além de contista talentoso.
Termino de ler "Idílio na Serra da Figura" e há contos marcantes do cronista Ursulino.
Abraços,
Beto.
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