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terça-feira, fevereiro 16, 2021

Vingança

 



Vingança (*)

 

Eis-me, Anamélia, de alma aberta,
exposta ao teu senso de amor
e escolha. Nada mais ouvirás
de perguntas, por não ser teu
saber responder. Nada mais ouvirás
de tanto-amar-te se não me deres
de tanto-amar-me.


Impões a distância
e o tempo da ausência,
exiges o silêncio
por tácita anuência.


Dou-te o tempo, aceito a distância,
mas imponho-te em vontade
a infidelidade
da vingança inútil, inútil prazer
de te fazer traída
por não saberes por teu
quem de amor te fez eleita.


 * * * 

  
Poeta Luiz de Aquino

 

 (*) Este poema é do livro Isso de nós (1990). Há outro no livro Sinais da Madrugada (1983)

7 comentários:

Adriano Curado disse...

Belo poema para alegrar esta noite de Carnaval sem folia. Obrigado por nos proporcionar momentos bons em passageiros tempos ruins.

Mirian Da Silva Cavalcanti disse...


Luiz, a sensação que tenho é de que você vem encontrando seu dizer mais próprio. Envelhecer nos traz isso de sínteses luminosamente enxutas, no osso.
Em tempo: AMO a palavra "velho". Adolescente, li "O Velho e o Mar", fascinada pelo título, em primeiro lugar. Mas não sei se "O Idoso e o Mar" me atrairia, qualquer que fosse a fase da vida. Beijo, e parabéns!

Carmem Gomes disse...

Um poema singelo e trágico. Bonito.

Zanilda Freitas disse...

Bonito poema! Esse me levou para os Parnasianos.

Maria Helena Chein disse...


Belíssimo! As imagens, a linguagem, o ser que se expõe e expõe seu intento de infidelidade para aquela que nem se sabe eleita! Grandioso poema do amor que se quer para amar e que se deseja amado.
“Nada mais ouvirás
de tanto-amar-te se não me deres
de tanto-amar-me.”

Mara Narciso disse...

Para a distante, o amor, para a presente, o gozo.

Sônia Elizabeth disse...

Bem construido, com requintados recursos linguisticos.