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quinta-feira, dezembro 10, 2015

Poemas natalinos - José Fernandes e Miguel Jorge

Dois poemas:



1) De JOSÉ FERNANDES


NATAL

Estou Natal e vejo o mundo recomeçar
nesse fim de mundo em que o menino
olha do fundo da manjedoura os burros
e seus pecados sempre renovados.


Pisando sobre a maçã, ele redime a serpente
fantasiada de Eva com tentações tantas repetidas
pela mensagem de um fim que deveria ser
começo.

Estou Natal e vejo esse mundo esquecer-se
de que tudo começa com o sopro do menino
nas vacas que pastam a manjedoura pensando
o saber do tempo.

Estou Natal e ouço as trombetas anunciarem
um novo tempo aos jumentos que enxergam
apenas os resultados de sua jumenta sabedoria
que os leva a imaginarem-se eternos

não pela força do espírito, mas pela quantidade
da imagem e dos números multiplicando
sete vezes sete a máquina do tempo e suas novas
serpentes.

Mas, como estou Natal, renasço novo velho
de alma e espírito no desejo de que o menino
cresça em cada homem o humano de homem
em sua travessia de tudo e nada ou de nada
e tudo.

(Natal de 2012)


2) De MIGUEL JORGE

O Natal do Menino


Neste Natal, que não se percam as esperanças,
mesmo entradas em melancólica desarmonia.
Mesmo a se digladiarem entre o sim e o não,
Abrir-se em alegrias para os sonhos
que se têm para sonhar.

Não se percam as vozes no sobrevoo de outras vozes,
Dos que se crêem felizes com o princípio eterno do amar.
Socorrem-nos as rezas a partir do agora. As comezinhas causas
das cozinhas, a segurança de não mais sentir-se armado,
Pois a realidade da vida é igual à própria vida.
(o menino plantou uma árvore de Natal.
Nasceram nela olhos mecânicos. Em um deles
viam-se bombas, como que disfarçadas em pombas.
Em outro, corações partidos, esvaziados de lembranças).
- Vale mais o interior das pessoas, a horizontalidade dos dias,
- O elo das flores, o virar das esquinas sem medo.
- As alvas manhãs sem condenações.
- As alegrias das casas, embora adversidades tantas.
(O menino ficou imaginando: se plantasse outra
árvore, o que nasceria dela? Era bem difícil adivinhar.
Viria outro planeta em seu socorro? Alguém lhe traria
de volta os patins que ontem lhe roubaram? As vozes voltariam
cheias de calor?)

Neste Natal, várias chaves abrirão novas portas, esperamos. Músicas, murmúrios, milagres a se renovarem, ausentes de qualquer surpresa.

Pois, Natal é dar voltas ao mundo, é dar rimas ao universo, é iluminar com novas luzes velhas estrelas.

(O menino fechou os olhos, alguém acendeu uma luz.
Era o sonho que voltava, talvez a iluminar seu futuro.
Havia coisas belas, figurações de anjos, campos de céus,
e uma criança a sorrir na manjedoura).

Neste Natal, precisa-se recorrer às harmonias das cores,
todas elas. Esquecer as armas, mesmo as que se havia
imaginado, que bombas são intervalos para pesadelos.

(O menino ajoelhou e rezou. Não sabia por quem, ou
para quem, mas orava. Estava diante dele mesmo a se dizer:
que os homens, os deuses, as religiões não podem pesar-se
em balanças. As almas se reconhecem, os corações abrigam-se
nas cores que os céus apontam. O mesmo céu que dá vida às flores,
nos intriga com seu silêncio).

O menino não se lembrou de mais nada,
nem mesmo dos patins. Sabia que a vida era
cheia de atalhos. Não havia perturbações,
nem desânimo em seu coração. Lá fora, as árvores
arrebentavam-se em florações e quem por lá passasse
certamente ergueria os olhos para elas. Certamente
sorririam. Certamente não teriam mais pensares para absurdas geografias. Verdadeiramente o dia teria sido.


(Natal de 2015)

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