Madiba disse que vai dormir por toda a eternidade... Ele não sabe, mas não deixaremos: ele será evocado sempre! |
A Morte e a Esperança
Neste
Planalto Central, o Sol já se despedira, na noite de quinta-feira (5 de
dezembro, 2013) quando as rádios e tevês noticiaram, em boletins
extraordinários, que o líder sul-africano Nelson Mandela, de 95 anos, acabara
de falecer. Sim, não era uma luz – mas uma energia diferente espalhou-se pelo
mundo, dando início a um estado de comoção nos que têm informação bastante para
saber o que significou aquele homem.
Venho
dizendo há alguns anos que Mandela é o último estadista digno desse
qualificativo no mundo. E o Século XX acolheu muitos estadistas respeitáveis
pelo mundo afora – ao lado de um número parecido de facínoras que exerceram o
poder sob o carimbo do arbítrio, provocando guerras de ganância e sede de
sangue. No contraponto, tivemos Gandhi e Mandela.
No
Brasil, digno do termo, tivemos Juscelino Kubistchek, que ganhou a injusta
rejeição dos que, bairristas, não queriam perder o status e a concentração de verbas que mantinham os anos dourados,o
fastio, o luxo que condenava à pobreza os povos de 90% do território
continental brasileiro. Depois, tivemos o período de ódio e arbítrio, sem a
legitimidade que se espera de primeiros-mandatários; e a ocorrência de
aventureiros – ora príncipes, ora bufões – da ópera da redemocratização com que
continuamos a sonhar.
Mandela
é diferente. Madiba (o nome foi trocado na infância, pela professora; os
brancos colonizadores não aceitavam os nomes nativos, substituía-os pelos de
heróis ingleses) cuidou de crescer; depois, colocar-se a serviço de sua nação –
e, ao fazê-lo, tornou-se referência para os povos oprimidos. Nem mesmo os 27
anos de prisão arbitrária ofuscaram sua liderança, sua dignidade e sua força.
A
mídia publica, desde a notícia de sua morte, muitas frases fortes e capazes de
sustentar ideais. Destaquei esta: “A
Educação é a arma mais poderosa para mudar o mundo”. (Mandela, o Madiba).
Com
isso, sintetizo minha homenagem de homem comum, anônimo e mínimo nesta
humanidade – ora irascível, ora irracional – que tem tudo para ser melhor, mas
prefere fazer-se cega e surda... Festejo, sim, a morte de um Homem para
agradecer a Deus por nos tê-lo emprestado por 95 anos. Ao morrer, ele me enche
de esperanças!
Do
outro lado, no ângulo em que a morte é razão de lágrimas e lamentos, encontro a
escritora Clara Dawn, num texto espontâneo e cordial, de dores e, sem que ela
própria o perceba agora, de esperanças:
Clara Dawn: a poetisa lamenta em prosa e verso. Ela é grande e busca amoldar-se a novos tempos. |
“... o
céu que veio entardecer o dia do lado de fora da minha janela... Hoje,
despeço-me destes portais e, confesso, os amei. Amei ficar um tempo aqui: o
piso de madeira; a sala espaçosa; a lua cheia que sempre me despertava com seu
clarão invadindo o quarto (cortinas abertas só para surpresa deliberada); bons
vizinhos e a vinte passos do trabalho...Ah, eu amei esta janela com vista para
a Catedral: em versos tantos, pensei debruçada no parapeito, olhando o indo e
vindo das gentes...Mas esta casa, agora, é o leito de um fracasso... lugar
que entristece-me, lugar em que sinto que fracassei na missão de mãe. Estou
partindo... Novo lar, onde o "talvez" possa ser mais que
"se". Não pensem que estou infeliz. Só estou sofrendo, é diferente.
Jamais fui infeliz, sempre tive razões para louvar, mas essa é a primeira vez
na minha vida em que choro sem a culpa pelos tantos em situações piores. (A gente
se fala. Amo a existência de todos vocês).
É,
como se vê, a dor da mãe pela perda que se fará presente por todos os dias de
sua vida. Gostaria de convencê-la de que não falhou como mãe – as mães não
mandam nos destinos dos filhos, estes também trazem de origem o livre-arbítrio.
E
eu, humilde poeta, escriba menor desta província central, louvo-os com amor,
Madiba e Clara!
* * *
2 comentários:
Os fatos intensos e as emoções fortes que deles emanam são inspiradores para os poetas e escritores. Bela crônica. Que seja o marco para a eclosão de coisas boas e festivas.
Luiz, meu amigo querido. Amo o seu ser. Me fez chorar com o seu carinho e sabe disso. Mas são lágrimas de afeição. Tão bom saber-me amada, cuidada, protegida e mimada por tantos amigos e pares. Sou uma pessoa realizada e feliz. Recebo tudo que ofereço e mais ainda. Ter amigos como os que eu tenho é a uma parte da existência que grita: "vale a pena viver". Grata, Luiz, grata.
Postar um comentário