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sexta-feira, dezembro 06, 2013

Madiba e Clara: a Morte e a Esperança.

Madiba disse que vai dormir por toda a eternidade... Ele não sabe, mas não deixaremos: ele será evocado sempre!


A Morte e a Esperança


Neste Planalto Central, o Sol já se despedira, na noite de quinta-feira (5 de dezembro, 2013) quando as rádios e tevês noticiaram, em boletins extraordinários, que o líder sul-africano Nelson Mandela, de 95 anos, acabara de falecer. Sim, não era uma luz – mas uma energia diferente espalhou-se pelo mundo, dando início a um estado de comoção nos que têm informação bastante para saber o que significou aquele homem.

Venho dizendo há alguns anos que Mandela é o último estadista digno desse qualificativo no mundo. E o Século XX acolheu muitos estadistas respeitáveis pelo mundo afora – ao lado de um número parecido de facínoras que exerceram o poder sob o carimbo do arbítrio, provocando guerras de ganância e sede de sangue. No contraponto, tivemos Gandhi e Mandela.

No Brasil, digno do termo, tivemos Juscelino Kubistchek, que ganhou a injusta rejeição dos que, bairristas, não queriam perder o status e a concentração de verbas que mantinham os anos dourados,o fastio, o luxo que condenava à pobreza os povos de 90% do território continental brasileiro. Depois, tivemos o período de ódio e arbítrio, sem a legitimidade que se espera de primeiros-mandatários; e a ocorrência de aventureiros – ora príncipes, ora bufões – da ópera da redemocratização com que continuamos a sonhar.

Mandela é diferente. Madiba (o nome foi trocado na infância, pela professora; os brancos colonizadores não aceitavam os nomes nativos, substituía-os pelos de heróis ingleses) cuidou de crescer; depois, colocar-se a serviço de sua nação – e, ao fazê-lo, tornou-se referência para os povos oprimidos. Nem mesmo os 27 anos de prisão arbitrária ofuscaram sua liderança, sua dignidade e sua força.

A mídia publica, desde a notícia de sua morte, muitas frases fortes e capazes de sustentar ideais. Destaquei esta:  “A Educação é a arma mais poderosa para mudar o mundo”. (Mandela, o Madiba).

Com isso, sintetizo minha homenagem de homem comum, anônimo e mínimo nesta humanidade – ora irascível, ora irracional – que tem tudo para ser melhor, mas prefere fazer-se cega e surda... Festejo, sim, a morte de um Homem para agradecer a Deus por nos tê-lo emprestado por 95 anos. Ao morrer, ele me enche de esperanças!

Do outro lado, no ângulo em que a morte é razão de lágrimas e lamentos, encontro a escritora Clara Dawn, num texto espontâneo e cordial, de dores e, sem que ela própria o perceba agora, de esperanças:

Clara Dawn: a poetisa lamenta em prosa e verso. Ela é grande e busca amoldar-se a novos tempos.

“... o céu que veio entardecer o dia do lado de fora da minha janela... Hoje, despeço-me destes portais e, confesso, os amei. Amei ficar um tempo aqui: o piso de madeira; a sala espaçosa; a lua cheia que sempre me despertava com seu clarão invadindo o quarto (cortinas abertas só para surpresa deliberada); bons vizinhos e a vinte passos do trabalho...Ah, eu amei esta janela com vista para a Catedral: em versos tantos, pensei debruçada no parapeito, olhando o indo e vindo das gentes...Mas esta casa, agora, é o leito de um fracasso... lugar que entristece-me, lugar em que sinto que fracassei na missão de mãe. Estou partindo... Novo lar, onde o "talvez" possa ser mais que "se". Não pensem que estou infeliz. Só estou sofrendo, é diferente. Jamais fui infeliz, sempre tive razões para louvar, mas essa é a primeira vez na minha vida em que choro sem a culpa pelos tantos em situações piores. (A gente se fala. Amo a existência de todos vocês).

É, como se vê, a dor da mãe pela perda que se fará presente por todos os dias de sua vida. Gostaria de convencê-la de que não falhou como mãe – as mães não mandam nos destinos dos filhos, estes também trazem de origem o livre-arbítrio.

E eu, humilde poeta, escriba menor desta província central, louvo-os com amor, Madiba e Clara!

* * *




2 comentários:

Mara Narciso disse...

Os fatos intensos e as emoções fortes que deles emanam são inspiradores para os poetas e escritores. Bela crônica. Que seja o marco para a eclosão de coisas boas e festivas.

Clara Dawn disse...

Luiz, meu amigo querido. Amo o seu ser. Me fez chorar com o seu carinho e sabe disso. Mas são lágrimas de afeição. Tão bom saber-me amada, cuidada, protegida e mimada por tantos amigos e pares. Sou uma pessoa realizada e feliz. Recebo tudo que ofereço e mais ainda. Ter amigos como os que eu tenho é a uma parte da existência que grita: "vale a pena viver". Grata, Luiz, grata.