Renovar. Ou
não…
A gente não
precisa ser tão preciso... nem tão sertão, ou sertanejo. Aliás, o termo
sertanejo já não se refere mais ao que nasce ou vem do sertão, ou o que lá
existe. Tornou-se referencial a quem, dono de algum dom de nascença (no caso, a
voz; ou a musicalidade) escolhe aplicá-lo sem cuidar de algo trivial e de
excelentes resultados – o estudo em torno de tal dom.
Mas eu falava
de precisão, exatidão; ou de precisão, necessidade. E renovo a frase: a gente
não precisa ser tão exato. Ao dizê-lo, quero referir-me ao fim de mais um ano,
ou às vésperas da Passagem, que os franceses chamam de réveillon (e a gente
repete aqui na terra brasilis:
reveión). Sei de pessoas que correm atrás de pagar todas as contar e começar o
ano em ritmo de nova vida, sem contas a pagar; e os que dedicam a última
semana, estes dias pós Natal, para analisar os feitos dos últimos 360/365 dias:
perdas e ganhos, feitos e adiados, planos e surpresas.
Tenho amigos
que costumam sugerir-me, sempre, textos alusivos a essas datas – o mesmo repetindo-se
no Carnaval, na Semana Santa, na Semana da Pátria et cetera. E, como “sou facim”, costumava atender... Até que me
enchi daquilo. Era muito previsível, trazer textos festivos atrelados ao
calendário. Eu costumava, por exemplo, duas vezes ao ano (nos primeiros dias de
julho e em meados de abril) escrever sobre o nascimento de Vinícius de Morais
(outubro) e sua morte (julho). Até que, já na segunda metade da década de 90,
escolhi me calar. Foi o bastante para que os colegas da imprensa não se
referissem ao Poetinha da Bossa Nova: eu não despertei as lembranças de
ninguém.
Há um ano,
comentei (devo ter escrito em algum lugar) que em 2013 era para se festejar o
centenário do menino da Rua Lopes Quinta. Mas eu próprio não festejei esse
centenário. E não o fiz para não parecer, a mim mesmo, injusto: muitos outros
artistas especiais nasceram naquele 1913. E em 1912; e em 1914. Constatei que a
década da Primeira Guerra Mundial foi pródiga em artistas talentosos e
populares (Dorival Caymmi, Ciro Monteiro, Rubem Braga, Luiz Gonzaga, Jorge
Amado etc. e tal), bem como a de 40, que já começou sob os fogos da Segunda
Grande Guerra.
Entendi que
os tais períodos pós-guerras são mesmo de grandes avanços, tanto nas ciências e
na tecnologia quanto nas artes. Foi na década de 40 que nasceram poetas,
compositores, cantores, instrumentistas e outros artistas mais, de ambos os
gêneros, o grosso deles constituindo o que a mídia especializada chama de “a
geração de ouro da MPB”.
Pensando
assim, firmo ponto neste ponto: não é mesmo necessário ser tão preciso; basta
que sejamos necessários, ainda que falhos. Alguém já falou que canalhas também
envelhecem; passo a pensar que só temos por anjos aqueles que morreram mais
cedo e não tiveram tempo bastante para se mostrarem vilões. Logo...
Logo, não foi
exatamente em 2013, mas nos últimos anos, que descobri canalhas mascarados de
amigos. Mascarados, sim, porque as faces reais não eram de amigos. Nem de
inimigos admiráveis (admito: tenho alguns desafetos cujos defeitos são os que
os impedem de me serem próximos).
Mas é bom,
ainda que fixados nas datas que fecham o ano, termos a certeza sobre ex-amigos.
A gente precisa aprender a perdoar o próximo, mas principalmente perdoar a si
próprio. Não sou um anjo de candura e perfeição, mas nos últimos dias tenho
gostado de perdoar-me pelos enganos vários e reincidentes acerca de indivíduos
a quem ofereci abraços e dos quais recebi risinhos sarcásticos.
Perdoei-me. E
foi bom!
* * *
3 comentários:
Gostei, Dom Luiz de Aquino! É exatamente por isso que perdoei todos aqueles que, de alguma forma, procuraram diminuir-me, pois, em vez de me fazerem mal, fizeram bem.
Menino Luiz, que crônica!!!!!Você foi nota 1000, nesta!!!!!
Gostei Luiz.Gostei muito e acho que ando "precisada" de perdoar-me pelos enganos vários e reincidentes, como você diz, pelos muitos enganos que muitas vezes andei cometendo, até por comodidade.
Postar um comentário