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domingo, outubro 27, 2013

NOITES GOIANAS - PARA AQUELES QUE AMAM GOIÁS...

Olá filhos, irmãos, amigos e toda a humanidade!
Continuando, caminhando, seguindo e cantando a canção... Hoje, NOITES GOIANAS - PARA AQUELES QUE AMAM GOIÁS... POETA LUIZ AQUINO e ESCRITORA HELOISA HELENA.

Olá, Poeta Luiz de Aquino, boa noite!

Através do grande amigo Miguel Jorge, felizmente hoje, posso lhe dizer das flores colhidas em seu jardim...
O seu discurso de posse na AGL (1) é aformoseada síntese da história literária e das artes em Goiás, também, jornalismo e geopolítica, conservando os traços de suas antigas e radiosas fisionomias. No Rio de Janeiro o gemido do atrito das ferragens, rodas-trilhos, e o sacolejar do vagão bole a sensibilidade, reaviva a lembrança, bate forte o coração do jovem estudante: imagens e aromas do cerrado, leituras dos gibis do seu primo Rogério lá em Caldas, próxima a Araguari, Cidade Sorriso, última parada em Minas Gerais antes de seguir em Goiás a Maria Fumaça da Mogiana: "Café-com-pão, café-com-pão, café-com-pão... Voa fumaça, corre cerca, ai, seu foguista, bota fogo na fornalha que eu preciso muita força, muita força, muita força..." (Manuel Bandeira, in Trem de Ferro).  A mancha de óleo jogada em terra (figura literária de Carmo Bernardes), o encontro no interior do ônibus, as filhas de Carmo Bernardes – são partículas transfiguradas em ondas quânticas premonitórias de um grande escritor!
Poeta Luiz Aquino, por motivos especialíssimos estou em Uberaba. Aqui, revirando a cabeça em surdas almofadas, rememorizo o seu discurso de posse na AGL e suas publicações; entreato descarrego os segredos de Leo Lince, pai do saudoso amigo Cruciano, quando escreveu na Gazeta de Uberaba, anterior ao jornal Lavoura e Comércio: “ - Por razões especiais, após muitos anos, voltei a Uberaba. Uberaba aformoseou-se sem perder os traços de sua velha fisionomia. Em Uberaba eu posso andar abraçado com a minha saudade...”; no transcurso passei pelo velho sobrado no alto do Morro da Onça, esquina com a ladeira Silva Jardim, local outrora de reuniões políticas memoráveis, residência do médico João Henrique (2), hoje, solitária, à venda, murmurando ao som dos ventos uivantes...
Eu nasci em Carmo do Paranaíba, cidade próxima a Patos de Minas. Carmo Bernardes, eu, inúmeros mineiros, desde as Candeias das picadas de Goiás, seguimos para o rumo do Sertão... (3)
Parafraseando o amigo Brasigóis no discurso de apresentação para a sua posse na Cadeira No. 10 na AGL, ao revelar o seu sentimento por Pirenópolis e Caldas Novas e o poema “Uberaba uma cidade singular” de Quintiliano Jardim(4) fundador do Jornal Lavoura e Comercio, também sou acometido em uma dúvida atroz:

Uberaba de ontem... Uberaba de hoje.
Goiânia de hoje... Goiânia de ontem.
Não sei qual das duas quero mais;
Se a Uberaba dos meus tempos de menino;
Se a Goiânia dos meus tempos primaveris;
Se as duas dos meus dias outonais.

O ministro Pascoal Carlos Magno (5) também foi acometido de delírio atroz, imaginou ser possível transportar o acervo cultural de Pirenópolis para a Aldeia de Arcozelo...
O Triângulo de Goiás, hoje Triângulo Mineiro, irmãos siameses, eternamente banhados pelas águas do Rio Paranaíba, desde a sua nascente na Cidade de Rio Paranaíba, conserva as mesmas tradições culturais.
Meu estimado poeta Luiz Aquino, a notícia do lançamento do seu livro CONCERTO DE BOÊMIOS atiçou o braseiro adormecido em meu coração: relampaguearam chispas desde as nossas reuniões do GEN e AGT no Lago das Rosas, com faíscas para todos os lados, atingindo o Teatro de Emergência e a casa de Cici Pinheiro, no Criméia Leste, onde eu construí a personagem GONÇALO (6) sob a direção dela; - todos acordaram: Meu grande amigo João Bênio (7) e os colegas de todas as noites, após os ensaios, na taberna Tiptop, da Rua Sete; meus irmãos Otavinho Arantes, Geraldo Valle, Oscar Dias, Luiz Fernando Valadares, Miguel Jorge, Heleno Godoy, Cirinho Palmerston, Aldair Aires, Hugo Brockes... 
Ecoaram no túnel do tempo as sinfonias de todas as Serestas, quando nós boêmios, madrugada adentro, éramos convidados pelos pais das donzelas a compartilhar um aperitivo em suas casas e desfrutar o especial momento de boemia.

Sérgio Sampaio - História de Boêmio

Marisa Monte - Ontem ao Luar

Tetê Espíndola – Sertaneja

O seu livro Concerto de Boêmios, bordado em romantismo pela poesia e sons das violas de seus pais, seu avô e amigos, especialmente sua mãe Borgese (não é Borges; Borgese é sobrenome italiano. Nota minha, Luiz de Aquino) aqui “Das Conquistas, Sacramentos e Uberabas”, terras de Boêmios Seresteiros, atiçou o fogo da Boemia dentro mim e de todos...


Charles Aznavour - La Boheme - 2. PPS 4981K Visualizar Baixar 

O aniversário de Goiânia, o artigo da querida Heloisa Helena (8) e Concerto de Boêmios abriram-me a cortina do sonho e da fantasia e a oportunidade de manifestar gratidão e felicidade a todos.  
Estou exultante em compartilhar com você as pesquisas elaboradas para o INSTITUTO LAMAR LAMOUNIER – CIENTÍFICO E CULTURAL.
Críticas e sugestões são motivos para o aprimoramento das pesquisas e o meu enlevo. Grande, forte e carinho abraço,

Lamar Lamounier

PS.:
(1)- DISCURSO DE POSSE ACADEMIA GOIANA DE LETRAS - http://www.jornaldepoesia.jor.br/luizdeaquino3.html
(2) Moisés Augusto de Santana - Jornal Lavoura e Comércio

(2)Goiás tem histórico de violência contra jornalistas

(2)Forja de Anões - Jornal Revelação On-line                 

(3)Quilombo do Ambrósio:


(4) “UBERABA, DE ONTEM E DE HOJE DE MINHA SAUDADE”
(5)Aldeia de Arcozelo ou Centro Cultural Paschoal Carlos Magno é o maior centro cultural da América Latina em área. Está localizado em Paty do AlferesRio de JaneiroBrasil, em uma fazenda histórica onde ocorreu a revolta de escravos liderada porManuel Congo.

Ressalta-se, no entanto o descaso do poder público com esse inestimável patrimônio, bem como as lamentáveis condições de conservação de alguns dos prédios, um dos quais com o telhado afundando.

O Ermitão de Muquém (trecho do livro inédito "Bernardo Guimarães, o
romancista da Abolição", de José Armelim).

O ERMITÃO DO MUQUÉM = CICI PINHEIRO
Obs: A PRODUÇÃO PAROU E AS CENAS GRAVADAS DESAPARECERAM POR UMA AÇÃO ABSURDA DA CENSURA IMPOSTA PELA DITADURA .

(7) CINEMA EM PIRENÓPOLIS – SIMEÃO, O BOÊMIO

O diabo mora no sangue (1968) – Filme completo

(8) É TEMPO DE GOIÂNIA 
Heloísa Helena de Campos Borges

Santo Agostinho, no seu livro Confissões, assim fala sobre o mistério do tempo:
Minha alma se inflama no desejo de deslindar este enigma tão complicado! Que é, pois, o Tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei; mas se quiser explicar a quem indaga, já não sei. Talvez fosse mais correto dizer que há três tempos: o presente do passado, o presente do presente e o presente do futuro. O presente do passado é a memória; o presente do presente é a percepção direta; o presente do futuro é a esperança.”
Tenho certeza de que o desdobrar do tempo em memória, percepção direta e esperança, sugerido por Santo Agostinho, está de acordo com o que muitos dos habitantes de Goiânia sentem durante o mês de outubro, mês do aniversário da nossa cidade, pois no decorrer dos seus 31 dias, de modo simultâneo, inúmeros momentos esforçados da construção da nova capital são rememorados, a insegurança do seu presente é debatida, todavia um futuro promissor sempre lhe é sonhado.
Que Goiânia é uma cidade bonita e agradável, não há dúvida. Entretanto, tem suas questões. Há poucos dias, mais uma vez, foram demonstradas graves modificações do seu traçado original, arquitetado pelo urbanista Atílio Corrêa Lima, que aliava desenvolvimento à preservação das reservas naturais da cidade que nascia. Até mesmo o trajeto da Avenida Anhanguera, que deveria cruzar a cidade em linha reta no sentido leste/oeste, foi mudado.
Não se sabe bem o porquê, em certa altura, a Avenida Anhanguera ganhou curvas, distorcendo a intenção primeira do plano da cidade. E os vestígios da mudança do seu traçado ainda existem. Para vê-los, basta atravessar a Avenida Independência em direção do centro, à direita do Terminal Praça da Bíblia. Como prova da alteração, lá se encontram, dando continuidade à linha reta do antigo trajeto da Avenida Anhanguera, dois trechos com pista dupla, arborizados com as palmeiras que tanto a embelezavam.
Porém, mesmo com todas as distorções, Goiânia é minha cidade natal e não a troco por nenhuma outra, pois, ainda hoje, a vastidão do seu horizonte me serve de guia nos momentos de busca e de recordação.
Não são raras as vezes em que relembro a Goiânia da minha infância. Eram poucos os seus automóveis, algumas as jardineiras e menos ainda os carros de praça, nome dado aos taxis daquele tempo.
Aos meus olhos, Goiânia resumia-se nestes pontos: Praça Cívica, Botafogo, Lago das Rosas, Horto Florestal, Igreja Sagrado Coração de Maria, Santa Casa de Misericórdia, Mercado Central, Estação Ferroviária, Avenidas Anhanguera, Tocantins, Goiás e Paranaíba.
Assisti à chegada de muitos avanços, por exemplo, o asfalto e, com ele, a diminuição do pó vermelho que infernizava a vida das nossas mães.
Entretanto, um local me atraía em especial: a Praça Cívica com suas fontes luminosas e jardins. Era mesmo muito bonita! Meu pai, Elysio Campos, um dos farmacêuticos pioneiros da nossa cidade, possuía um carro marca Morris Oxford e quase todas as noites passeava com a família para mostrar as novidades da capital. Aproveitava para nos ensinar o nome do governador, do prefeito, a importância dos locais visitados.
Infalivelmente, o passeio terminava na Praça Cívica. Hora da pipoca, do algodão doce, delícia que eu, fascinada, presenciava o açúcar se transformar em nuvem formada por fios adocicados.
Contudo, meu pai foi além do lazer. Apresentou-me a Praça Cívica também como local político. Quando do suicídio do Presidente Getúlio Vargas, eu me lembro de termos ido à Praça Cívica para, entre os cidadãos goianos, compartilharmos da repercussão do acontecido. Eu pouco entendia, mas observei o movimento inabitual que havia e, desde então, guardei a certeza de que, em Goiânia, o local, por excelência, para avaliar satisfações e insatisfações do povo é a Praça Cívica.  A História de Goiás pulsa nela.
No transcorrer da minha vida, quantos acontecimentos comprovaram esta minha convicção. Muitos deles dignificantes, outros revoltantes. Quem se esquece da deposição do Governador Mauro Borges Teixeira? Quem não reflete sobre as últimas manifestações? E as Festas de final de ano?
Ora, entre pesares e prazeres, não tenha dúvida, minha Goiânia, eu sou uma das suas filhas amorosas. E por tudo que você me ofereceu, por tudo que com você eu aprendi, por tudo que por você eu escolhi, entrego-lhe estes meus versos pelos seus 80 anos de vida:

Goiânia, minha Goiânia,
mais que ninguém você sabe
dos meus passos, dos meus gestos
da minha sede sem fim.
Desde sempre eu a levo em mim
não importa aonde vou
suas vozes, os mitos, aromas...
e seus mistérios de mulher.

Parabéns, Goiânia!

Heloísa Helena de Campos Borges
heloisacampos48@gmail.com



Um comentário:

Luiz de Aquino disse...

Caríssimo Lamar,

Tive notícias suas e de seu Centro Cultural quando, aos 15 anos de sua filha, foi ela levada à AGL pelo nosso amigo José Fernandes, poeta e mestre refinado nos ofícios das letras. Fui acometido, naquela ocasião, de uma dor de saudade: lembrei-me de Você e Cirinho Palmerston encenando, no DCE (aquela boate com teto conversível instalada entre a Av. Anhanguera e a Rua 3, a Araguaia e a Rua 6), "A história do zoológico", acho que de Eduard Albee.
Lembrei-me dos nossos ensaios de uma peça infantil - eu fazia o Grilo Falante; Mário Alberto, Pai Gepeto; Zanilda era a Fada; Jorge Miguel era o Gato Fígaro e Sidnei Santos, o Pinóquio. Você estava sempre lá, ajudando-nos.
Estranhas vias, estas de Goiânia: neste intervalo de 50 anos, eu não mais o vi. Mantenho, a intervalos, diálogos com Mário; e recentemente reencontrei Zanilda e temos conversado bastante sobre aqueles tempos.
Agora, você me surpreende com esta mensagem, que li emocionado. Falta, ainda, abrir os anexos, e o farei já, já! Precisava muito responder-lhe e contar das lembranças despertadas, da saudade imortal e da alegria recém despertada.
Meu abraço, Lamar! Quando retorna? Gostarei muito de vê-lo!

Luiz de Aquino