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sexta-feira, agosto 10, 2012

Passado e futuro



Passado e futuro

(Fotos: Internet)


Estou a poucas semanas de um novo aniversário.

Novo? Ou velho? O número das translações da Terra em que marquei presença é marcante, insere-me na estatística dos idosos. Gosto disso, porque tenho histórias para contar, tenho fatos e memórias acumulados e boa parte de tudo isso eu registrei em escritos – uns correspondentes aos fatos, outros “enriquecidos” das minha impressões, interpretações e… versões, obviamente.

Ultimamente, e estou certo de que isso é resultante de todo o aprendizado ao longo das minhas décadas, olho firme para o presente; o retrovisor do tempo, uso-o poucas vezes porque sei que o passado existe, sim! Não me apego a ele, pois fui prevenido por Mário Quintana: “O passado não reconhece o seu lugar, está sempre presente”. E cuido pouco do futuro porque ele se constrói a cada instante. Preservo, por instinto e sabedoria, a integridade física – e a dignidade também.

Helena Jobim com o irmão, o "maestro soberano" Tom, na juventude
No quesito “passado”, gosto muito de ler biografias. Claro, tenho ídolos a quem apreciar e referências humanas a considerar. Estes dias, em meio a revisões de quatro livros em fase de prelo, releio Antonio Carlos Jobim – um homem iluminado, de Helena Jobim (irmã do maestro maravilhoso). A autora não se preocupou em ser muito rigorosa com a cronologia; comete idas e vindas que tornam o texto ainda mais gostoso ao meu paladar de leitor. E insere dados e ditos maravilhosos, como frases lapidares de Tom.

Pincei: “Estou numa idade em que começo a olhar para trás. Acho que vai virar saudade”.

E também: “O ouro do Brasil são os jovens”.

Ressalvas naturais em meu pensar, nuanças do meu modo de ser: nada que é linear me interessa. Para mim, as pessoas são como colchas de retalhos, ao modo das antigas costureiras; nenhum retalho escapa, todas as cores e tons são indispensáveis. Somos, cada um de nós, frutos de tudo o que vivenciamos, das companhias – amigos e desafetos – que passaram e passam por nossas vidas. Somos forjados (ou formados) de tudo o que vemos e ouvimos, dos odores e têmperas de tantos verões, outonos, invernos e primaveras.

Estou, ainda, na idade em que morreu Vinícius de Morais; e em vésperas da última de Tom Jobim. “Não pensava na morte. Até Vinícius morrer”- disse, também, o maestro Brasileiro de Almeida (partículas do sobrenome de Tom). Dos livros em revisão que citei acima, dois são meus – um de poemas, outro de crônicas referenciais a três boêmios muito queridos de mim. Isso é fazer para o futuro, o futuro imediato ou remoto, sei lá. E, a este tempo, também, ando juntando muitos escritos sobre mim. Inicialmente, textos sobre mim e meus escritos constantes de prefácios, orelhas e comentários outros nos meus livros.

Sim... sinto que o presente é a mais perfeita mistura entre passado e futuro; pena que se torne passado com a mesma rapidez com que agrega o futuro. Por isso,  conto que estou juntando esses textos para atender indagações de jovens estudiosos de literatura – uns moços e moças amantes das letras que acham nos meus escritos alguma coisa de seu agrado.

Tom e o jovem Chico Buarque
Repito: “O ouro do Brasil são os jovens”. Demoro-me nessas poucas letras, uma frase de ouro do genial compositor que, tão íntimo das artes, mostrava-se bom em prosa, em verso, em letras de canções, em desenho e muito capaz de conceber, demonstrando que teria sido um grande arquiteto – não fosse tudo o que foi e não tivesse abandonado a faculdade no primeiro ano.

Pois é!  Escrevo para satisfazer meu presente; reviso livros que preparo par ao futuro; e releio obras porque o passado é forte, ainda – e sei que vai virar saudade.

Agora, digam-me: um aniversário de 67 anos é novo? Mesmo que sendo uma data velha?


* * *
"Acho que vai virar saudade". Virou, sim, Maestro!




Um comentário:

Mara Narciso disse...

Estar com 67 anos é novíssimo, é novidade. Nunca antes foi assim para você.Viver seis décadas mais sete, encaminhando-se para sete décadas, é privilégio não vivido por muitas pessoas. Declarar a idade é um instrumento imbatível para reduzir o preconceito contra o envelhecer e a velhice. Congratulo a você pela longevidade, pelo clamor aos anos idos e do seu sem medo ao futuro. Parabéns, Luiz de Aquino. Creio que não chegarei aonde você chegou. E falo isso lamentando.