Academia homenageia Anatole Ramos
Foi
na Academia Goiana de Letras, quinta-feira, passada. Alegria minha por encontrar
lá a prole e a “subprole” de Anatole Ramos – que completaria, neste 2012, oitenta
e nove anos! Aliás, também bisnetos do Mestre havia lá, e isso lembrou-me o
saudoso mestre José Sizenando Jaime: “Uma prole grande é graça divina”, dizia
ele.
Essa
festa estava programada desde os últimos meses do ano passado. Cibele, neta do
Mestre, esteve na AGL e disse ao presidente Getúlio Targino Lima que pretendia
oferecer livros de seu avô para a nossa biblioteca. O presidente não queria
apenas receber as obras, mas acolhê-las com a dignidade que, entendeu ele, o
autor merecia. E foi seguido pela unanimidade das opiniões dos membros da
Entidade.
Ao
comunicar o fato ao plenário da AGL, o presidente foi interrompido várias vezes
pelos acadêmicos presentes. Inclusive por mim. E ao contar algumas passagens
vividas com o meu padrinho literário, acho, entusiasmei-me e fui indicado por Getúlio
Targino como orador na sessão homenagem, em data a ser marcada. E a marca
chegou – dia 21 de junho de 2012.
Discorri
tão-somente acerca do modo de ser do meu inesquecível amigo e conselheiro literário.
É que, ao longo de 15 anos – de 1963 a 1978 – admirei-o em reportagens, artigos
e crônicas nos jornais de Goiânia. Depois, li seus livros. E mais depois, isto é,
a partir de 1978, comecei a desfrutar de sua companhia nas lojas da Livraria
Cultura Goiana, nas cercanias do Café Central e no calçadão do Grande Hotel, pontos
de encontro no tempo em que o Centro da cidade era zona nobre.
Em
1982, levei a ele originais de um livro meu e obtive não apenas uma revisão finíssima,
mas também um prefácio de alta qualidade – como não seria diferente, vindo
dele; esse livro, Sinais da Madrugada,
saiu no ano seguinte. E com o prefácio, repito, que enriqueceu minha escrita. É
que, ao apresentar-me, tal como ele me “viu” e “conheceu” naqueles poemas, e de
discorrer sobre algumas poesias, ele concluiu:
“Excelentes
peças poéticas, que apresentam um Luiz de Aquino que não sabe chorar mágoas nem
fazer versos carregados de juras de amor. Na hora de lamentar-se, ele grita; na
hora de amar, ele propõe sexo. Sem lirismo fresco, sem romantismo (...). Em
tudo, porém, ele põe acento poético, em tudo há conotação lírica (...). A
poesia de um boêmio que fala em sexo com amor e carinho, como o sexo deve ser
mesmo. Como eu entendo o sexo”.
Se
havia, de minha parte, uma admiração indiscutível ao homem, por seu talento
literário, pela sua condição de ser humano voltado para o próximo, capaz de
gastar tempo com principiantes inseguros e, principalmente, donos de futuro
incerto, uma peça do jaez desse prefácio só poderia ser semente de uma amizade
imorredoura. Como ele se foi, conservei o teor e a densidade do meu sentimento
para, sempre que necessário e (ou) possível, estendê-lo aos que lhe são os mais
próximos.
Daí
a minha felicidade de orador oficial naquela noite de memória. Além de mim e da
neta Cibele – a quem Anatole preferia chamar Belinha, sem errar na apreciação –
nas condições de oradores oficiais, também o poeta acadêmico Aidenor Aires e a
presidente da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás, Heloísa Helena,
seguidos da professora Zaíra Turchi, enriqueceram a festa.
Na
minha página do Facebook e também no meu blog –
penapoesiaporluizdeaquino.blogspot.com – os discursos de Cibele e meu podem ser
lidos. Agora, é sonhar com uma provável reedição dos livros de Anatole Ramos, o
homem que noticiava, ensinava, estimulava o aprendizado e o aprimoramento, o
prefaciador de centenas de livros de inéditos, o consultor para todas as dúvidas
atinentes às Letras. E como bem lembrou Aidenor Aires, agora somos nós, seus
aprendizes, a repetir a missão que ele plantou em Goiás – a de apoiar os novos.
* * *
A minha fala na Academia Goiana de Letras:
Por absoluta timidez e, sei
bem, por certeza da má qualidade daqueles rabiscos, eu ocultava meus primeiros
poemas, concebidos por volta de 1960 e 1961. Alguns colegas de ginásio, nos
bons tempos do Rio de Janeiro, conseguiram chegar ao meu caderno secreto, num
momento de lerdeza minha, e leram o que estava escrito. Como bons fofoqueiros,
contaram dos meus exercícios liricos ao professor José Guilherme de Araújo
Jorge, o mais famoso e festejado dos poetas cariocas, então. E recebi estímulos
para continuar.
Pela mesma timidez, e
ansioso por aprender e crescer, mostrei versos meus a alguns colegas do Liceu,
em Goiânia, naquele primeiro ano do Clássico, em 1963. Emílio Vieira
entusiasmou-me a prosseguir, dava-me dicas e luzes, que tentei colher bem. E
continuei escrevendo, naquela Goiânia de paz e marasmo. Não foi difícil
identificar, por pessoas e nomes, os notáveis do meio literário da jovem
cidade, e centrei atenção em dois deles, particularmente: Carmo Bernardes e
Anatole Ramos, ambos cronistas do semanário Cinco de Março; depois, veria seus
nomes e escritos em outros veículos noticiosos, como Folha de Goiás e O
Popular.
Atrevi-me, em algumas
ocasiões, a escrever-lhes cartas comentando algumas de suas crônicas; de ambos
recebi boa atenção, com publicações infalíveis dos meus textos, seguidos de
comentários estimulantes. Foi fácil conhecer Carmo, pois em 1968 eu lecionava
para três de suas cinco filhas. Demorei uns tempos mais para aproximar-me de
Anatole Ramos, e não foi difícil, pois ele também freqüentava as proximidades
do Grande Hotel e a calçada do Café Central – a lanchonete preferida dos
políticos goianos, dos empresários, dos profissionais liberais et cetera.
Carmo foi marcante quando me
decidi por estrear em livro, e o fiz com um livro de contos. Cinco anos depois,
atrevi-me ao segundo livro, e foi um atrevimento e tanto! Esse livro era de
poemas e tomei coragem para procurar o guru de todos os escribas iniciantes em
Goiás – Anatole Ramos.
Desde aquele agosto de 1963,
quando cheguei para ficar, notei que Anatole Ramos era o prefaciador preferido
pelos estreantes. Não tive coragem de procurá-lo quando da publicação do
primeiro livro – O Cerco e Outros Casos
–, mas a poesia era, para mim, um desafio maior. Ouvira de alguns amigos que eu
era péssimo poeta, então resolvi colher um diagnóstico junto a quem tivesse, de
fato, autoridade para empurrar-me para a frente ou sentenciar-me o abandono do
verso.
Levei uma pasta de
cartolina, daquelas com um grampo enfiado em dois furos nas folhas de papel.
Depois de duas ou três semanas, recebi um recado do mestre Anatole; e
imediatamente fui à sua casa, no Bairro Feliz; recebi dele a revisão solicitada
e um prefácio – desejado, mas não pedido – com a explicação pela demora.
– Quando você me trouxe
esses poemas, eu li o primeiro e achei que você havia começado muito mal. E o
deixei aí, sobre o piano... Ontem, lembrei-me de ler seus versos; esse poema
primeiro é triste, é “pra baixo”. Mude a ordem deles, seu livro está bom.
Eu quis saber se devia tirar
aquele poema, mas Anatole recomendou que não:
– Ache o lugar certo. É um
bom poema, mas não abra um livro com um poema negativo...
E o livro saiu com um título
bonito – Sinais da Madrugada – e um
belíssimo prefácio de Anatole Ramos, para minha total alegria.
Prefácios de Anatole eram
definitivos: deixavam claros os defeitos e qualidades da obra, traziam
conselhos para o autor – e os autores aprendizes, em geral, aprendiam também;
eu, pelo menos, aprendi muito com ele. O homem bem-humorado deixava-nos seguros
de nossas existências! Anatole tinha isso de nos convencer que ninguém vive em
vão. Lembro-me de uma crônica sua, dirigida a uma jovem candidata a escritora,
na qual ele definia que a vontade de escrever era, por si só, pelo menos 70% do
necessário ao alcance dessa meta. Os demais 30% eram todo o resto – ler muito,
estudar muito, escrever muito, reler, reescrever, depurar...
Levar os originais de um
livro e buscá-los revisados, e ganhando um prefácio de presente, não eram os
únicos motivos para se ir à casa de Anatole. Não voltar era atitude de
mal-agradecido, de quinta-coluna. Naquelas primeiras visitas, conheci Dona
Lourdes e as meninas, depois os rapazes. Anatole atendia-nos à porta ou no
jardim; levava-nos à sala, e se começasse a nascer mais proximidade, levava-nos
à biblioteca – belíssima coleção de livros ótimos: os nossos, de aprendizes,
misturados com incríveis dicionários, ricos volumes de clássicos mundiais e
brasileiros. E qualquer verso rendia uma grande prosa, qualquer prosa de ficção
virava prosa oral de riquezas inesquecíveis.
Eu não sei, nunca consegui
compreender, a fórmula que alguns homens, notáveis homens, têm para administrar
o tempo. Anatole era dos que lia muito, e lia de tudo: os clássicos, os
romances contemporâneos de qualquer origem, os poetas consagrados nacionais e
estrangeiros, os jornais e as revistas, consultava dicionários e obras de referência.
E, ainda assim, achava tempo para ler os novatos chatos, como eu; e escrevia
prefácios, dava conselhos, acompanhava-nos nas ansiedades da feitura do livro,
comemorava conosco aquela magia de ter nas mãos um rebento das nossas
inventivas literárias. (Certa vez, um desses colunistas de jornal perguntou-lhe
o que estava lendo, queria contar na coluna; Anatole Ramos respondeu, lacônica
e ironicamente:
– Bulas de remédios.
E contava histórias. Falava
dos tempos de estudante; dos tempos de sargento armeiro da Força Aérea
Brasileira, de “pracinha”da Força Expedicionária Brasileira. Contava do ofício
de professor, do de jornalista, e de tudo falava com imensa simplicidade, com
humildade beatificada, com a segurança de quem sabia ter bem escolhido suas profissões.
Contava também da família,
destacava características dos filhos, mostrava o primeiro neto, levado e
inquieto, sua grande alegria. Como gostava de filhos e netos, aquele homem que
não envelhecia! Da esposa falava também, de um modo bem definido quanto a
sentir que era ela a parceira ideal, a educadora indispensável na sociedade de
formar bem os filhos.
Certa vez, no Café Central,
vi-o sacar do bolso um pequeno frasco plástico de onde fez saírem três gotinhas
brancas para adoçar o café. Ele me explicou que tinha diabetes; comentei,
admirado, o bom zelo que tinha para com a saúde, mas fui contestado por Carmo
Bernardes, que interferiu:
– Sacarina no bolso,
Anatole... Mas a cerveja, você jura que não bebe mais?
Carmo era assim, com
lampejos de ranzinza numa alma doce e discreta.
Um dia, era começo de noite,
ouvi a voz por demais familiar às minhas costas; disse-lhe o nome antes mesmo
de me virar, e deparei-me com um homem magro, de bengala, a barba crescida e
alva como nuvem de outono. Achei-o visualmente envelhecido, mas o timbre da voz
e a conversa feliz repetiam-me o homem que vencia a velhice. Era o mineiro
criado no Rio de Janeiro, o homem que questionou a decisão da FAB em lhe dar
uma medalha de mérito como ex-combatente (alegava que não fora combatente, pois
não dera um tiro sequer; mas era ele quem municiava os aviões para os
combates).
Gostava de ler. E de
escrever. De ser repórter, de ser cronista do quotidiano, como cabe a um
cronista verdadeiro. De ser professor. De atender jovens escritores. Gostava de
Cora Coralina. Não se habilitou a
esta Academia, e eu nunca soube a razão. Gostava de liberdades, tanto que não
aceitava a ditadura militar. Tinha uma liberdade sagrada e nos passava esse ensinamento
de apego à dignidade.
Há exatas duas décadas, dois
anos antes de seu desenlace, Anatole Ramos foi alvo da arma difamatória de um
foca (foca, na gíria jornalística, é o aprendiz do ofício; o que hoje
chamaríamos de “estagiário”). Esse moço chegou à redação do jornal com duas
laudas datilografadas e definiu:
– Li dois livros de Anatole
Ramos, não gostei de nenhum. Vou meter o pau nele!
Naquele momento, eu
conversava com Ulisses Aesse, também jovem jornalista, mas com alguns anos de
jornada profissional e boas informações sobre o ofício das letras. Ao seu modo
educado e conciliador, Ulisses disse ao jovem rebelde sem causa:
– Eu não lhe diria jamais
para não publicar qualquer artigo, mas veja bem o que escreveu aí. Anatole é
amigo e ídolo de todos os escritores de Goiás. Ele é o maior cronista dentre
todos, e há ótimos cronistas entre nós. É dele uma grande parte dos bons livros
goianos e se você publicar algo assim, certamente vai receber uma chuva de
contestações e não conseguirá sustentar opinião.
O moço enfiou as duas laudas
na pasta. Sentou-se à mesa, começou a escrever algo contra a máfia dos
cemitérios e, em seguida, rasgou o artigo inédito, certamente malfadado. Uma
pena! Eu mesmo estava ansioso por acabar com a fanfarronada do aprendiz de mau
jornalismo. Costumo dizer que não gosto de polêmicas. Mas aprendi, muito cedo,
a não aceitar desaforos. Por isso, algumas vezes me tomaram por polemista – e
respondo sempre que prefiro beijo na boca.
Ao indicar-me, Senhor
Presidente, para falar sobre Anatole Ramos nesta solenidade, imagino que não sabia
Vossa Excelência da alegria que me dava. Hoje, eu alcanço mais uma entre muitas
realizações na minha vida de escritor. Eu tenho, neste momento, a felicidade de
expressar carinho e agradecimento eterno àquele que, para mim, é, ao lado de
Carmo Bernardes, Joaquim Gomes Filho e José J. Veiga, padrinho de uma humilde
mas tenaz carreira de poeta e contador de causos, reais e imaginários. E mais
feliz me sinto por dizer isso justamente a quem de direito – filhos e netos de
Anatole Ramos.
Muito obrigado!
E o discurso de Cibele Ramos Gayoso:
Boa tarde a
todos!
Sou
Cibele Ramos Gayoso, “neta número 12” de Anatole Ramos, como ele mesmo gostava
de batizar os seus, nas diversas apresentações aos amigos e conhecidos. E filha
do meio de Maria de Lourdes Ramos Gayoso, psicóloga, poetiza e a 5ª dos sete
filhos de Anatole, e de Pedro Jorge Leite Gayoso de Sousa, médico e grande
admirador de Anatole.
Guardo
lembranças vivas e acolhedoras de minha história com meu avô, especialmente de
minhas chegadas à sua casa. Meus cabelos soltos, pés pequenos calçados nas
chinelas, a subir vagarosamente os poucos degraus da entrada de sua varanda da
casa do Bairro Feliz, na Rua L-4, n. 23. Subia e via o vovô em seu quintal,
entre satisfeito, curioso e reflexivo, a alimentar seus jabutis e o perigoso
tracajá, do qual deveríamos manter distância. Sempre me olhava com carinho e
dizia, como nunca alguém me alcunhou “Oi, Belinha!”. Eu sempre parava para
observá-lo, num misto de interesse e amedrontamento diante de seu semblante e
das tantas fábulas que envolviam sua autoridade e presença entre os familiares.
Tinha curta paciência com as peripécias das crianças... Eu sempre curiosa com
as tantas visitas que entravam e saíam de sua casa, sedentas por seus dizeres e
pareceres, incognoscíveis a mim, ainda pequena, mas nem por isso menos
atrativos e misteriosos.
Quero
aqui citar um soneto dele que muito me encantou e que diz de minha busca e
iniciativa na tentativa de me aproximar desse avô-artista, com quem ainda tenho
tanto a aprender. A título de conhecimento, para aqueles que não sabem, Ervália-
MG é a cidade natal de Anatole Ramos.
SONETO
À CIDADE QUE FOI BERÇO E É TÚMULO
Ervália,
tu és túmulo e me guardas
Sepulto
em teus domínios teu passado.
Enquanto
pelo mundo insepultado
eu
vago a procurar a paz que tarda.
Cadáver
de menino embalsamado
em
corpo de homem feito me abastardo
sou
choro e desespero, me acovardo
e
cumpro meu destino perturbado
mas
sinto aí fiquei em longo sono
que
em ti eu permaneço inerte e frio
corpo
tirado às águas de teu rio
órfão
de mim deixado ao abandono
que
se matou de desespero e medo
suicida
inaugurado muito cedo.
Desde que ouvi pela primeira vez esse
soneto, a ele me apeguei com grande carinho e admiração. É o meu preferido dos
sonetos de Anatole. Porque a mim
ele conta da força e propriedade da herança, do berço e das raízes sobre toda
uma vida. E porque acredito nisso e disso não posso fugir, venho aqui
reconhecer essa grande passagem que teve Anatole Ramos em minha vida e nas “lavras
da literatura goiana”, como bem falou minha amiga e escritora goiana Claudia
Carvalho Machado. Inicio essa
empreitada de ressuscitar esse artista porque a mim não me resta alternativa
senão me aproximar de tão interessante herança. Herança que atribui significado
e enriquece tantos enredos e amores nessa dura vida de todos nós.
Tenho
que reconhecer aqui que somente aos 30 anos foi-me possível despertar para a
produção do artista Anatole Ramos e que agora, frente à leitura de suas obras e
de seus tantos escritos inéditos, consigo vislumbrar como sempre foi instigante
a relação de meu avô com a vida e com as pessoas. Apresentava-se sempre muito
intenso e presente em tudo e por esse motivo era muito solicitado para revisão
de livros, opiniões diversas sobre acontecimentos públicos ou mesmo sobre situações
cotidianas, “romances familiares”, assuntos que várias vezes presenciei
enquanto menina nas longas tardes de domingo na sala de sua casa no Bairro
Feliz. Hoje, nas idas e vindas de memórias, saudades e curiosidade sobre esse
meu avô-artista e com o auxílio de meus familiares, reunimos várias obras inéditas
de Anatole e me arvorei a publicá-las a fim de que todos possam delas saber
mais, beber mais. E só posso dizer que nessa aproximação fui presenteada pela
vida de várias maneiras porque posso escutar meu avô me contar ao pé do ouvido
e de maneira graciosa tantos segredos que a vida lhe ensinou a duras penas.
Dores, surpresas, perplexidades, amores, contrariações e desencantos, contados
e cantados de forma tão incrível, me apontando um mundo que com ele ainda tenho
muito a aprender.
Esse
aproximar de meu avô tem aos poucos me cobrado grande trabalho. Zelar por suas
obras, divulgar sua importância, inclusive na autoria do Hino à Goiânia, e
publicar suas obras inéditas é trabalho que parece não ter fim. Mesmo porque,
soube há pouco tempo através de João Luciano Curado Fleury, autor da melodia do
hino, que este está ameaçado de ser substituído por algum “moderno” hino
recentemente intitulado Hino do Aniversário de Goiânia. Causou-me grande
indignação tal ameaça, pois o Hino à Goiânia foi um “filho” muito bem planejado
e instituído de maneira legal com muito empenho de Anatole e Luciano. Este me
contou recentemente sobre a luta para a oficialização deste hino: a letra do
hino foi eleita em concurso oficial e a melodia foi por ele produzida através
de uma contratação formal realizada por via de edital da prefeitura para que,
em casamento (e ainda assim após anos), fossem oficializadas em nossa capital.
E o meu maior pesar e temor é que a história conta (especialmente no Brasil)
que aquilo que foi construído com tanto labor para se oficializar pode ser
criminosamente destituído se isso atender às preferências pessoais e narcísicas
de interesses políticos e de seus favorecidos.
Entretanto,
nessa luta e satisfação em resguardar a produção de meu avô e de dela me
aproximar cada vez mais quero ir até o fim e disso tirar grande aprendizado.
Porque disso já estou enamorada. Publicar suas obras inéditas, numa coletânea
que intitulei Amores de Anatole Ramos, cujo I Volume foi publicado na 4ª
Edição do Goiânia em Prosa e Verso, no último dia 05/10/11 e formalizar uma “casa”
para seu legado são alguns dos primeiros passos nessa empreitada. E percebo que esse trabalho vai
aumentando à medida que divulgo aos seus conhecidos sobre o que tenho feito.
Vejo assim que a vida, que meu avô tanto cultuou e trouxe à tona de forma tão
bela, vem me cobrando mais e mais na direção de divulgá-lo e de com ele
aprender.
Àqueles que o conheceram e tiveram o
privilégio de desfrutar de sua companhia ou de sua obra, deixo aqui os meus
sinceros cumprimentos. Àqueles que
não o conhecem, faço um convite a conhecê-lo: o artista que fala com toda a
alma sobre as coisas em que acredita e às quais dedicou grande parte de sua
vida e obra.
Por: Cibele Ramos Gayoso