Uma espécie de Antologia da Saudade (capa do Volume 3) |
Memória ou lembrança
As amizades que assim
podem ser chamadas, diz-me um professor, exímio observador das pessoas, são
aquelas que trazemos da infância e da adolescência. As demais – continua ele –
formam-se dentro de conveniências transitórias.
– Ué! – estranhei eu.
– Mas há muitas pessoas da nossa infância que são apenas, digamos, peças das
nossas recordações; são aqueles de quem nos lembramos, encontramos
eventualmente mas não os temos inteiramente no coração.
– Sim – continua o mestre –, mas eu não
disse que todas as pessoas da sua infância são seus amigos; das suas turmas de
colégio, que equivalem à adolescência, alguns permanecem...
Entendi! E ilustro com
uma belíssima história de (re) encontros: em 2005, motivados pelas ferramentas
do Orkut (o Facebook diminuiu drasticamente a importância do Orkut na vida dos
internautas), alguns ex-alunos do Colégio Pedro II – o imperial e tradicional
colégio de Sua Majestade – lançaram uma chamada, de pronto aceita. E, como é da
tradição, no primeiro sábado de dezembro (caiu no dia 3), reunimo-nos para um
almoço numa churrascaria na orla da Enseada de Botafogo, no Rio.
O menino Imperador |
É sempre assim, há
muitas décadas: no primeiro final de semana de dezembro, ex-alunos do CPII
reúnem-se para festejar o aniversário do colégio, inaugurado em 2 de dezembro de
1937 – aniversário do príncipe que cedeu o nome ao Colégio.
A Internet fez com que
os encontros se proliferassem. Se antes havia o churrasco no Engenho Novo (a
Sessão Norte do colégio, em nossa época), há anos acontece também a feijoada de
São Cristóvão (onde é, hoje, a sede do colégio; no meu tempo, era o Internato).
E em choperias, pizzarias e churrascarias, dentre outros locais, os amigos de
infância e adolescência se reencontram. Em 2006 (junho), fizemos um Baile da
Saudade, na AABB da Lagoa, um dos locais onde aconteciam nossos bailes de
formatura (naquele tempo, as cerimônias de formatura nos Ginásios e nos
Colegiais eram plenas, com colação de grau, baile, missa, cultos etc.) e com um
conjunto que era dos nossos preferidos, 40 anos antes!
O Baile da Saudade, em 2006, com músicas e banda dos anos 60 (no momento da foto, olhei para cima). |
Fiz novos amigos
nesses encontros; mas principalmente voltei ao convívio de dois velhos amigos,
uma amizade contraída a 3 de março de 1958, nosso primeiro dia de ginasianos:
Paulo Fernando Cardoso e Paulo Roberto de Oliveira Tostes. E naqueles encontros
descobri pessoas que, se não me foram amigos naquela época foi por absoluta
falta de oportunidade, pois invadiram meu coração de modo igualmente indelével
(ou “indeletável”, se eu tivesse a idades dos meninos de agora).
Desses novos, quero
homenagear, aqui, muito especialmente três dos se eternizam na memória do
Colégio e nas lembranças de quantos sobrevivemos: Fernando Antônio Quintella
Ribeiro, Mirian S. Cavalcanti e Paulo Rubem de Souza Valente, organizadores e
editores de uma série de crônicas e outras “contações” literárias sobre a nossa
vida colegial (este ano, escolheram um poema que escrevi tentando sintetizar
meu sentimento). Eles são os responsáveis por arrancar, de muitos colegas, a
verve da escrita que, após os tempos em que severos professores nos exigiam,
ficou adormecida – mas a alegria das recordações trouxe à tona aqueles
momentos inesquecíveis!
Meu beijo, queridos
Pedrocas! E até o Volume 4!
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6 comentários:
Salve Luiz, salve essa bela crônica, salve CPII !!!
Recordar dessa forma alegre faz um bem! Rever através dos colegas, antigas felicidades, e ver que foi um privilégio tê-las vivido. Ruim é fazer visitas de lamentações. A que você fez é alegria pura, para você e para quem o lê. Bom demais!
Salve Luiz, salve essa bela crônica, salve os anos adolescentes, as memórias, as recordações, as saudades, salve o CPII !!!
Anna Cortás
Salve Luiz, salve essa bela crônica, salve os anos adolescentes, as memórias, as recordações, as saudades, salve o CPII !!!
Luiz de Aquino, Lindo! Lindo! A vida dá voltas, e um dia pelas ondas da internet nos deparamos com amigos de outrora. Que o tempo não apaga da memoria. Lembro quando te conheci em 1983 divulgando seu livro "De mãos dadas com a Lua" nos bares e restaurantes em Goiânia. especificamente "Na Casa da Gente".O tempo ruge e o poeta continua vivo. Beijo na alma.
Eita, você está saudosista mesmo, hem, siô?! O tonzinho nostálgico (e não melancólico) dá uma peculiaridade ao texto. Recordar é bom quando não nos faz sofrer. Beijocas. Lêda
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