Sempre há muito o que se se ler, ainda. Ou reler. Adeus, Gabo! |
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Petrobrás,
Garcia Marques e
o prefeito xenófobo
o prefeito xenófobo
Notícia triste, ainda que
inevitável: Gabriel Garcia Marques, o grande escritor colombiano, prêmio Nobel
de Literatura pelo romance Cem Anos de
Solidão (prefiro O Amor nos Tempos do
Cólera) está com câncer. Mais detalhadamente: tem metástase, quer dizer, os
tumores já se espalham. A notícia está nos veículos impressos e obviamente na
mais moderna das mídias – a Internet.
Ao dizer, acima, que a notícia
é triste, ainda que inevitável, denuncio dramas do ofício jornalístico – esta
obrigação diária das más notícias,
quando o bom seria haver mais foco nas boas-novas.
Tristes, também, essas que
envolvem a Petrobrás (com acento, que sou nacionalista, uai!). Graça Foster,
com todos os erros de um português ruim, desmitificou a fábula de que comprar
uma sucata por quase quatro vezes o seu valor real seria um bom negócio. Nisso,
deixou a mancha da mentira sobre quem divulgou que o preço original da tal
refinaria de Pasadena (que os globais chamam de “Passadina”) valia apenas 42, 5
milhões de dólares.
O valor real da tal
refinaria era de 360 milhões de dólares.
E aí veio o que nos parecia,
antes, ser o pivô de toda a história, o diretor Nestor Cerveró, a esclarecer o
que foi divulgado como obscuro: todo o processo foi exaustivamente estudado,
esmiuçado, envolveu o seu próprio grupo de trabalho e até mesmo uma empresa de
consultoria norte-americana; o negócio poderia não ter sido “um bom negócio”,
em termos, mas foi um negócio regular, segundo o parecer obtido e encaminhado
ao Conselho presidido pela (na época) ministra Dilma Rousseff.
Cerveró, assim, deixa de ser
vilão para se tornar boi-de-piranha. E o que fica é a impressão de que o
Conselho, como é comum em tais Conselhos, funciona com uma pessoa (seu
presidente, ou seu presidente e uma assessoria técnica) que “examina” um
processo, expõe aos seus pares o que leu e/ou concluiu e aguarda votos; e os
pares votam apoiando o que manifesta aquele que expôs o caso.
Em meio a isso, a notícia de
que o prefeito da pequenina e ótima cidade de Carlos Barbosa, no Rio Grande do
Sul, prefere substituir as comemorações de sua excelente performance na avaliação
do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) por uma advertência – é preciso
evitar que baianos e goianos invadam nossa cidade e a fome apareça.
Pegou mal, hem? Vi no DM, vi
no Facebook, botei a boca no trombone, contei que aqui acolhemos bem a gauchada
que migra para todo o Brasil, que destrói nosso cerrado para plantar eucalipto,
soja e cana e nós os aceitamos bem; mas somos rechaçados (como eu próprio ouvi
de um gaúcho, há alguns anos, que “de São Paulo pra cima é tudo nordestino, uma
raça que não trabalha enquanto a gente aqui se mata para sustentar toda aquela
cambada”. Entendi ver no prefeito palrador o mesmo pensamento e fui cortado da
lista de amigos de uma poetisa de Porto Alegre, que me acusou de nivelar-me a
ele, quando ela, sim, referenda o pensamento xenófobo (sim: alguns gaúchos
pensam que somos todos estrangeiros).
Enfim, ao apreciar o “affaire”
da vez na Petrobrás, repito a sensação que vivi em 1979, quando os exilados
puderam voltar à pátria: nossos ídolos têm pés de barro! Descobrir isso é como
depurar nossos sentimentos. É o mesmo que ver afastar-se alguém que tivemos por
amigo.
É que desfazer uma amizade
que sequer poderia ser considerada assim dá-me a mesma alegria da conquista de
um novo amigo. A gente sempre quer se cercar do que nos parece melhor.
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5 comentários:
Li sua crônica. Muito boa como sempre. Com Gabriel Garcia Marques aprendi muito lendo suas obras, especialmente com "Cem anos de solidão", os problemas que arranjaram para a Petrobrás deixam qualquer brasileiro indignado e eu não fujo a regra. Com relação a esse "prefeitinho", deixou passar uma ótima oportunidade de ficar calado, esse cretino. A você meu amigo jornalista meus aplausos.
Ludovina Braga Machado, obrigado pelo comentário solidário. Uma gaúcha removeu-me de sua lista de "amigos" no face e eu a bloqueei, claro; e ela exigiu mais, que eu apagasse seu e-mail, o que fiz com grande alegria. Isso significa um pouco mais: eles, os separatistas, odeiam-nos de fato e odeiam ainda mais que demostramos nossa indignação. Mas não me calarão batendo o pé ou as bravatas daquelas três facas...
Amigos arrepiam-se quando falo o que preciso. Taxam-me de louca. Sem loucos estaríamos nas cavernas no século XXI. Os conformados não saem do lugar. É preciso de gente como Gabriel Garcia Marques,para tomar posições determinantes, outros que esmiúçam documentos e encontram os culpados por jogar fora nosso dinheiro, e é indispensável também expurgar os xenófobos e excluir com pompa e circunstância a lista de contatos virtuais, na qual há aqueles que não têm nada em comum com a gente. Apenas desapreço. Já vão tarde de um lugar que nunca deveriam ter entrado.
Voltei, e li sua crônica. Tenho um orgulho imenso por ser brasileira, paulista e filha de nordestinos. Lamento profundamente que em nossa terra que acolhe e acolheu tantas raças, tantos povos hajam pessoas que não conhecem o Brasil e nem os seus irmãos brasileiros. Aliás em um país tão grande, de dimensões continentais acredito que não seja possível conhecer a história e a cultura de cada estado e portanto creio que não nos cabe o direito de julgar ou medir um povo. Só me resta unir-me à sua indignação.
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