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domingo, novembro 23, 2014

Educação, Cultura e Esporte

Educação, Cultura e Esporte


Há um tempo, não muito, conversávamos uma professora universitária e eu. Inevitavelmente, caímos no tema Educação e ouvi dela que “não tenho como me ocupar de formar o cidadão; a mim me cabe formar o profissional”. Não me foi difícil mostrar-lhe que a escola básica, isto é, as fases da tenra infância, seguida do processo da alfabetização e do fundamental, e ainda o que chamamos hoje de Ensino Médio, são os momentos em que, de fato, se forma o indivíduo; os cursos profissionalizantes, ou seja, a universidade, visa de fato à formação do profissional.

Ainda alcancei a universidade com algo entre 20 e 30 cursos, considerando a diversidade nos cursos de licenciatura (formação de professores) e nos de engenharia, cada habilitação equivalendo a um curso; hoje, quantos cursos já no universo acadêmico? A atividade humana multiplicou-se e convivemos hoje com milhares de novas atividades, muitas delas integradas em segmentos diferentes, re-universalizando as relações humanas (sim, pois houve um tempo em que receávamos que um médico especializado em tratar do dedo mindinho não se entenderia com um polegar).

Sou também do tempo em que as escolas ensinavam, por exemplo, Canto Orfeônico e Trabalhos Manuais, e as aulas de Línguas estimulavam-nos à leitura e à prática de escritas como o poema, a descrição, a dissertação, a carta... Éramos motivados a escrever. E assim, convivi, na mocidade e também na fase madura da vida profissional com bons redatores, ainda que não literatos. E dos meus contemporâneos, os que não escolheram tocar algum instrumento tornaram-se, ao menos, bons ouvintes, capazes de selecionar músicas de melhor qualidade, acopladas a letras de apelo poético (os professores de Letras ensinam que “letra de música” é canção – um termo variante do poema).

Nas últimas décadas, como sempre fiz ao longo de muitos e muitos anos, visito escolas. Converso com professores e estudantes, revivo meus tempos de professor e reanimo-me à escrita. Percebo que existe uma geração profissional em salas de aula a denunciar falhas em sua formação acadêmico-profissional; no meio acadêmico, professores reclamam que os alunos saem do Ensino Médio mal preparados – e entramos no ciclo vicioso.

O triste é que as autoridades da Educação preocupam-se com a pré-escola e com o Ensino Fundamental, mas abandonam o Ensino Médio à sanha comercial dos cursinhos que objetivam tão-somente fazer com que o aluno passe nos exames vestibulares – é o que nos preocupava em 1970, quando nasceu a “indústria dos cursinhos”.

Os governos falam em Educação apenas para referir-se à formação da mão-de-obra, e deixam a formação do cidadão para os quadros subalternos do Ministério da Educação; o Ensino Médio tornou-se o gargalo asfixiante entre aquilo de se fazer-o-cidadão e formar profissionais.

Por que digo tudo isso? Porque antevejo uma grande chance, em Goiás, para a melhoria do Ensino Médio e, com a extensão aos ambientes municipais, ao Fundamental; refiro-me à junção política das áreas de Cultura e Esportes à Educação. Há anos reclamávamos da falta de bons representantes esportivos nas Olimpíadas; e de uns poucos anos para cá, sentimos uma queda vertiginosa do nível cultural dos nossos novos profissionais acadêmicos – e,  por extensão, os de nível médio também (haja vista a disseminação da música comercial de má qualidade na preferência de grande parte dos profissionais liberais, ao lado da confissão nada constrangedora de notáveis quanto à leitura e ao teatro, por exemplo).

Essa reforma anunciada e em fase de apreciação pela Assembléia Legislativa poderá nos propiciar esta chance. Vai depender, muito, dos nomes escolhidos para os três postos – secretário e subsecretários.

* * *


2 comentários:

Mara Narciso disse...

Aprendendo com o mestre. Pensava que canção era o mesmo que melodia. Vejo que é poema musicado.

Miguel Jorges (da AGL) disse...

Bravo Luiz, ser cronista é isso ai, enxergar com olhos argutos os problemas que afligem o país, abraço
Miguel Jorge