Educação,
Cultura e Esporte
Há um tempo, não muito,
conversávamos uma professora universitária e eu. Inevitavelmente, caímos no
tema Educação e ouvi dela que “não tenho como me ocupar de formar o cidadão; a
mim me cabe formar o profissional”. Não me foi difícil mostrar-lhe que a escola
básica, isto é, as fases da tenra infância, seguida do processo da
alfabetização e do fundamental, e ainda o que chamamos hoje de Ensino Médio,
são os momentos em que, de fato, se forma o indivíduo; os cursos
profissionalizantes, ou seja, a universidade, visa de fato à formação do
profissional.
Ainda alcancei a
universidade com algo entre 20 e 30 cursos, considerando a diversidade nos
cursos de licenciatura (formação de professores) e nos de engenharia, cada
habilitação equivalendo a um curso; hoje, quantos cursos já no universo
acadêmico? A atividade humana multiplicou-se e convivemos hoje com milhares de
novas atividades, muitas delas integradas em segmentos diferentes,
re-universalizando as relações humanas (sim, pois houve um tempo em que
receávamos que um médico especializado em tratar do dedo mindinho não se
entenderia com um polegar).
Sou também do tempo em que
as escolas ensinavam, por exemplo, Canto Orfeônico e Trabalhos Manuais, e as
aulas de Línguas estimulavam-nos à leitura e à prática de escritas como o
poema, a descrição, a dissertação, a carta... Éramos motivados a escrever. E
assim, convivi, na mocidade e também na fase madura da vida profissional com
bons redatores, ainda que não literatos. E dos meus contemporâneos, os que não
escolheram tocar algum instrumento tornaram-se, ao menos, bons ouvintes,
capazes de selecionar músicas de melhor qualidade, acopladas a letras de apelo
poético (os professores de Letras ensinam que “letra de música” é canção – um
termo variante do poema).
Nas últimas décadas, como
sempre fiz ao longo de muitos e muitos anos, visito escolas. Converso com
professores e estudantes, revivo meus tempos de professor e reanimo-me à
escrita. Percebo que existe uma geração profissional em salas de aula a
denunciar falhas em sua formação acadêmico-profissional; no meio acadêmico,
professores reclamam que os alunos saem do Ensino Médio mal preparados – e
entramos no ciclo vicioso.
O triste é que as
autoridades da Educação preocupam-se com a pré-escola e com o Ensino
Fundamental, mas abandonam o Ensino Médio à sanha comercial dos cursinhos que
objetivam tão-somente fazer com que o aluno passe nos exames vestibulares – é o
que nos preocupava em 1970, quando nasceu a “indústria dos cursinhos”.
Os governos falam em
Educação apenas para referir-se à formação da mão-de-obra, e deixam a formação
do cidadão para os quadros subalternos do Ministério da Educação; o Ensino
Médio tornou-se o gargalo asfixiante entre aquilo de se fazer-o-cidadão e
formar profissionais.
Por que digo tudo isso?
Porque antevejo uma grande chance, em Goiás, para a melhoria do Ensino Médio e,
com a extensão aos ambientes municipais, ao Fundamental; refiro-me à junção
política das áreas de Cultura e Esportes à Educação. Há anos reclamávamos da
falta de bons representantes esportivos nas Olimpíadas; e de uns poucos anos
para cá, sentimos uma queda vertiginosa do nível cultural dos nossos novos
profissionais acadêmicos – e, por
extensão, os de nível médio também (haja vista a disseminação da música
comercial de má qualidade na preferência de grande parte dos profissionais
liberais, ao lado da confissão nada constrangedora de notáveis quanto à leitura
e ao teatro, por exemplo).
Essa reforma anunciada e em
fase de apreciação pela Assembléia Legislativa poderá nos propiciar esta
chance. Vai depender, muito, dos nomes escolhidos para os três postos –
secretário e subsecretários.
* * *
2 comentários:
Aprendendo com o mestre. Pensava que canção era o mesmo que melodia. Vejo que é poema musicado.
Bravo Luiz, ser cronista é isso ai, enxergar com olhos argutos os problemas que afligem o país, abraço
Miguel Jorge
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