Vergonha
alheia
Lá pelos idos de 1964, um
dos milicos multi-estrelados que ocuparam o pódio teria dito, repetindo de
alguém mais antigo: “O preço da liberdade é a eterna vigilância”. Sim. Há quem
a atribua ao terceiro presidente dos Estados Unidos, Thomas Jefferson, e também
a outros estadistas de menor vulto daquele país, mas o verso ecoou por alguns
espaços enevoados daquele abril.
Recordo que os defensores do
golpe justificavam com essa frase, tida naqueles dias como se fosse do tal
brigadeiro, mas alguém da imprensa cuidou de desqualificar o autor (sei lá o
que aconteceu com tal jornalista). Sei mesmo é que a arrogância dos que se
sentiam vitoriosos ao pronunciar a frase, com o indisfarçável propósito de
justificar as prisões, os IPM e as torturas, durou pouco; os opositores
imbuíram-se dela e passaram a conclamar consciência. Sei que esse foi um dos
berços da resistência: a vigilância ininterrupta para resgatar a liberdade.
Mais recentemente, ouvi no
rádio que ao colherem-se os louros numa outra revolução (1917, na Rússia),
alguém indagou aos líderes sobre a liberdade ao povo, e a isso Stálin teria
respondido com outra pergunta: “Liberdade para quê?”.
Desde a queda do muro de
Berlim, os conceitos de esquerda e direita perderam o sentido no mundo. Caso
ainda existam, é nas mentes de uns poucos, mas muito arraigadamente nas dos
radicais de dois extremos que buscam preservar condutas e preceitos de antes.
Esses dois extremos agem de modo a justificar como “em defesa do povo” as
medidas contraditórias que a presidente reeleita tomou nestas primeiras duas
semanas; o lado oposto, radical na mesma intensidade, tenta emplacar um
movimento pelo impeachment da eleita (com base em quê, ora! Fez-se o jogo,
dentro das regras; o resultado se deu rapidamente e não se o discute, fim de papo!).
Nas redes sociais, o clamor
do ódio continua. De ambas as partes. São frases e apelos de provocações
irracionais, raivosos, capazes de propiciar conflitos físicos em massa. Nos
diálogos, há sempre os que propõem (alguns até exigem) a harmonia, a volta à
paz, ainda que com o contraditório – tudo isso é do jogo democrático – mas há
sempre os que transportam para este campo as atitudes das chamadas “torcidas organizadas”.
Pessoas incapazes de exercer a conversa, a conferência, a conciliação das
idéias.
E na mídia, o triste!
Entende-se, a grosso modo, que profissionais da imprensa sejam pessoas melhor
informadas e capazes de se expressar com desenvoltura. Mas a estes há
políticos, alguns até parlamentares, da ala de apoio ao governo pregando a
volta da censura, mascarada sob um eufemismo qualquer, tema esse que ressurge
todas as vezes em que se noticiam irregularidades que envolvem o governo ou
seus partidos de sustentação.
E do outro lado, alguns
profissionais fazem o jogo miúdo dos radicais. Para bons ouvintes, frases e
conceitos de Diogo Mainardi e Arnaldo Jabor enojam. O primeiro, que abnega a pátria e vive longe, não corta o
cordão; em seu ofício de ridículo oficial regiamente pago, procura sempre denegrir
o país e a nação; agora, xingando os nordestinos que, em massa, preferiram
Dilma a Aécio – dentre as boçalidade proferidas, chamou-os de bovinos (muitos
nordestinos, em revide, associaram-no a outro animal com chifres).
Arnaldo Jabor difere pouco
do burguesinho ítalo-ianque, mas desqualificou os eleitores do PT, tirando o
foco centrado no Nordeste, mas estendendo-o até a “ignorantes
intelectualizados”, certamente se referindo aos professores e artistas que se
mobilizaram pró-Dilma.
Envergonho-me por eles...
* * *
4 comentários:
Boas palavras Luiz de Aquino, um pouco de sensatez nesse mar de burrices radicais que se ouve por aí.
Luiz, a interpretação e entendimento do que é dito por Mainardi e Jabor vai depender de que lado se posiciona quem os lê. Quem é pró-Dilma odeia, se envergonha. Quem é contra, delira, pois é o que gostaria de dizer. Aliás, foi o próprio PT que difundiu a idéia de dois "Brasis", o dos pobres e miseráveis e o das "elites", sabedor que com esse jogo poderia ganhar a eleição. Da mesma forma que você se envergonha por eles, Diogo e Arnaldo, eu e mais de 50 milhões de brasileiros nos envergonhamos por Lula, Dilma "et caterva". Permita-me fazer estas colocações, sem mágoas.
Abraços.
Luiz de Aquino: Você está nomeado meu guru político-ideológico. Sua posição sobre esses dois indivíduos, Jabor e Mainardi, coincidem plenamente com o que penso deles - idiotas ilustrados ou lustrados, não sei, mas que são idiotas, não há dúvidas!
A importância desse dois "articulistas" varia de acordo com o espaço que a eles é dado fora do espaço dos mesmos. Para continuar com animais e infantilidades, melhor botar-lhes a língua. Embora seja gesto infantil, avesso às perseguições que praticam. Seus resultados podem destruir pessoas.
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