Páginas

sábado, novembro 08, 2014

Vergonha alheia

Vergonha alheia



Lá pelos idos de 1964, um dos milicos multi-estrelados que ocuparam o pódio teria dito, repetindo de alguém mais antigo: “O preço da liberdade é a eterna vigilância”. Sim. Há quem a atribua ao terceiro presidente dos Estados Unidos, Thomas Jefferson, e também a outros estadistas de menor vulto daquele país, mas o verso ecoou por alguns espaços enevoados daquele abril.

Recordo que os defensores do golpe justificavam com essa frase, tida naqueles dias como se fosse do tal brigadeiro, mas alguém da imprensa cuidou de desqualificar o autor (sei lá o que aconteceu com tal jornalista). Sei mesmo é que a arrogância dos que se sentiam vitoriosos ao pronunciar a frase, com o indisfarçável propósito de justificar as prisões, os IPM e as torturas, durou pouco; os opositores imbuíram-se dela e passaram a conclamar consciência. Sei que esse foi um dos berços da resistência: a vigilância ininterrupta para resgatar a liberdade.

Mais recentemente, ouvi no rádio que ao colherem-se os louros numa outra revolução (1917, na Rússia), alguém indagou aos líderes sobre a liberdade ao povo, e a isso Stálin teria respondido com outra pergunta: “Liberdade para quê?”.

Desde a queda do muro de Berlim, os conceitos de esquerda e direita perderam o sentido no mundo. Caso ainda existam, é nas mentes de uns poucos, mas muito arraigadamente nas dos radicais de dois extremos que buscam preservar condutas e preceitos de antes. Esses dois extremos agem de modo a justificar como “em defesa do povo” as medidas contraditórias que a presidente reeleita tomou nestas primeiras duas semanas; o lado oposto, radical na mesma intensidade, tenta emplacar um movimento pelo impeachment da eleita (com base em quê, ora! Fez-se o jogo, dentro das regras; o resultado se deu rapidamente e não se o discute, fim de papo!).

Nas redes sociais, o clamor do ódio continua. De ambas as partes. São frases e apelos de provocações irracionais, raivosos, capazes de propiciar conflitos físicos em massa. Nos diálogos, há sempre os que propõem (alguns até exigem) a harmonia, a volta à paz, ainda que com o contraditório – tudo isso é do jogo democrático – mas há sempre os que transportam para este campo as atitudes das chamadas “torcidas organizadas”. Pessoas incapazes de exercer a conversa, a conferência, a conciliação das idéias.

E na mídia, o triste! Entende-se, a grosso modo, que profissionais da imprensa sejam pessoas melhor informadas e capazes de se expressar com desenvoltura. Mas a estes há políticos, alguns até parlamentares, da ala de apoio ao governo pregando a volta da censura, mascarada sob um eufemismo qualquer, tema esse que ressurge todas as vezes em que se noticiam irregularidades que envolvem o governo ou seus partidos de sustentação.

E do outro lado, alguns profissionais fazem o jogo miúdo dos radicais. Para bons ouvintes, frases e conceitos de Diogo Mainardi e Arnaldo Jabor enojam.  O primeiro, que abnega a pátria e vive longe, não corta o cordão; em seu ofício de ridículo oficial regiamente pago, procura sempre denegrir o país e a nação; agora, xingando os nordestinos que, em massa, preferiram Dilma a Aécio – dentre as boçalidade proferidas, chamou-os de bovinos (muitos nordestinos, em revide, associaram-no a outro animal com chifres).

Arnaldo Jabor difere pouco do burguesinho ítalo-ianque, mas desqualificou os eleitores do PT, tirando o foco centrado no Nordeste, mas estendendo-o até a “ignorantes intelectualizados”, certamente se referindo aos professores e artistas que se mobilizaram pró-Dilma.

Envergonho-me por eles...


* * *


4 comentários:

Cesinha Canedo disse...

Boas palavras Luiz de Aquino, um pouco de sensatez nesse mar de burrices radicais que se ouve por aí.

Luiz Chein disse...

Luiz, a interpretação e entendimento do que é dito por Mainardi e Jabor vai depender de que lado se posiciona quem os lê. Quem é pró-Dilma odeia, se envergonha. Quem é contra, delira, pois é o que gostaria de dizer. Aliás, foi o próprio PT que difundiu a idéia de dois "Brasis", o dos pobres e miseráveis e o das "elites", sabedor que com esse jogo poderia ganhar a eleição. Da mesma forma que você se envergonha por eles, Diogo e Arnaldo, eu e mais de 50 milhões de brasileiros nos envergonhamos por Lula, Dilma "et caterva". Permita-me fazer estas colocações, sem mágoas.
Abraços.

Elder Rocha Lima disse...

Luiz de Aquino: Você está nomeado meu guru político-ideológico. Sua posição sobre esses dois indivíduos, Jabor e Mainardi, coincidem plenamente com o que penso deles - idiotas ilustrados ou lustrados, não sei, mas que são idiotas, não há dúvidas!

Mara Narciso disse...

A importância desse dois "articulistas" varia de acordo com o espaço que a eles é dado fora do espaço dos mesmos. Para continuar com animais e infantilidades, melhor botar-lhes a língua. Embora seja gesto infantil, avesso às perseguições que praticam. Seus resultados podem destruir pessoas.