Política e negócios. E Língua
Esta
semana, ouvi no rádio uma palavra nova: “economicidade”. Fui pesquisar e
achei-a no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira
de Letras. Como está lá, também, “empregabilidade”. E como o meio nacional dos
negócios usa esses termos! Muitos neologismos, às vezes, outras vezes
expressões em desuso que alguém descobre em textos antigos, sei lá!
Uma
novidade que me incomoda mesmo é “empreendedorismo”. Associo-a a outros
substantivos do mesmo formato e sou conduzido a pensar que a palavra deveria
ser “empreenderismo”, já que trata da ação de empreender. Mas fazer o quê? Não
sei de onde partiu – foi coisa muito recente – aquilo de substituir “jogos
para-olímpicos” por “jogos paralímpicos”. Pelo pouco que conheço da Língua,
esta “última flor do Lácio inculta e bela”, a fusão do “a” final de “para” (a sugerir
paralelismo) com a inicial “o” de “olímpico” deveria eliminar o “a”, ficando
“parolímpico”, e não essa maluquice de “paralímpico”.
Se
foi invenção de coleguinhas da área de esporte, danou-se! É que não se fazem
mais jornalistas como antigamente: os chamados “cronistas esportivos” do
passado sempre me pareceram mais cultos. Aliás, a regra se aplica a vários
segmentos profissionais, infelizmente. Como bem analisou Alexandre Garcia, recentemente,
é por conta da péssima qualidade da Educação no Brasil que nunca conquistamos
um Prêmio Nobel (o Chile tem dois; a Argentina, cinco!).
Se
seguirmos o raciocínio que pode ter norteado quem inventou isso de
“paralímpico”, é provável que chamemos a próxima edição dos milenares torneios
gregos de “Jogos Límpicos”. Os seguidores de Galvão Bueno devem deliciar-se com
essas bobagens.
Na
linha dessa permissividade calcada nas falhas do nosso sistema educacional,
chegamos ao meio político: o deputado petista que relatou os trabalhos da CPMI
da Petrobrás apontou mais de 50 pessoas para serem processadas, por sua
sugestão; mas isentou todos os políticos envolvidos nos trambiques!
Ora...
O segmento dos negócios anda praticando cursos de capacitação como jamais se
fez na história deste país! Eu mesmo, induzido por alguns amigos, fui cursar
quase cem horas de treinamento para me tornar “Coach” – coisa que está na moda,
gente! É interessante, sim, mas é incrível notar o quanto os “treinees” são
desinteressados quanto ao verniz das coisas da cultura. Aliás, cultura para
eles limita-se apenas aos comportamentos setoriais. Esse meio tem a mania de
“inglesar” suas falas. Assim, eles não falam em caso quando querem exemplificar
algo – eles dizem “case” (a pronúncia é “queise”). Não param para um
lanchezinho (lanche é uma boa palavra inglesa bem aportuguesada; até parece
palavra nossa), mas realizam um “coffee break”. Eu, hem?
São
as falácias na Língua Portuguesa, causadas pelo despreparo dos que se acham
muito sabidos – afinal, eles integram o segmento mais bem pago. Falar bem para
quê? E esse comportamento (ou “cultura”) é o mesmo dos políticos que sofismam
em seus discursos e relatórios, agindo e propondo medidas que satisfaçam o
poder maior ou seus partidos – verdadeiros bastiões de blindagem eficaz, desde
que o sujeito se mostre mais fiel que os cãezinhos de suas escolhas.
E
arremato com o nosso modo goiano de demonstrar insatisfação:
–
Ah, nem!
*
* *
3 comentários:
Ah, nem, mesmo. Concordo e sofro também, Luiz De Aquino Alves Neto. O povo sempre se achando moderno, rs.
Odeio a palavra "paralímpico". Ah, nem mesmo.
Parabéns, Dom Luiz de Aquino, pela excelente crônica! Se continuarem a vilipendiar nosso idioma, não sei o que ocorrerá daqui a uns anos. Será horrível!
Eu simplesmente adoro suas abordagens sobre mudanças na língua. Sua observação do Paralímpico foi tão pertinente que mereceria uma campanha em nível nacional via Facebook para mudar novamente e ficar como você sugeriu, "Parolímpico", que tem muito mais lógica, e sem contar que soa muito melhor.
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