A dignidade e a truculência
Que estranha
quinta-feira, essa de 23 de abril de 2015! Aniversário de meu irmão Edmar, data
consagrada ao Santo da minha devoção, Jorge da Capadócia, reunião ordinária da
Academia Goiana de Letras e uma lista grande de eventos culturais, com ênfase
para o lançamento da revista Raízes Jornalismo Cultural (de Clara Dawn e
Doracino Naves) e do livro Otávio Lage – Empreendedor, Político, Inovador (do jornalista
e escritor Jales Naves.
Amigos meus no foco das
festas, sim, para minha alegria. Mas o noticiário pelo rádio do carro deu-me
conta do espancamento de professores dentro do Paço Municipal de Goiânia.
Sim, leitores e amigos
de outras plagas, no Paço Municipal de Goiânia! O goianiense, nativo ou
adventício, sabe, sobejamente, que estes tempos não são bons para a capital de
Goiás e muito menos para os seus funcionários da Saúde e da Educação (nem para
os demais porque a gestão que vivemos é deplorável). A Guarda de Sua Excelência
o prefeito de Goiânia aplicou com rigor e perfeição gás-de-pimenta e cassetete
no professorado que tentava ser ouvido. Mas as “otoridades” do Paço preferiram
alegar que a visita não fora agendada, daí a “repressão” aos que insistiam.
Este evento é um
parêntese nos meus registros desta semana... Eu queria mesmo falar apenas dos
eventos de quinta-feira, Dia de São Jorge, com lançamentos de livros e
revistas, vernissage etc., mas a
truculência do prefeito petista antipovo impede-me de ser leve e feliz. Cresci
com aquilo de admirar os adultos por seus feitos e sonhando ser muita coisa –
locutor de rádio, engenheiro, professor ou piloto. A curiosidade conduziu-me às
leituras, a vontade de conhecer o mundo mostrou-me a Geografia, o desejo de
conhecer a Humanidade fez-me admirador da História e formei-me professor. A
delação na ditadura impediu-me continuar ministrando aulas e fiz-me jornalista
– o caminho mais curto da Geografia para a História, na minha história de vida.
E me fiz escritor,
poeta e principalmente leitor. O professor em mim nunca morreu. O jornalista
cresceu forte. E é dessas duas profissões que me orgulho e sobrevivo – não de
rendas, mas de emoções e alegrias, de fundamentos para a criação da poesia, do
conto e das apreciações que resultam em crônicas.
Cumprimento Clara e
Doracino, agradecendo-lhe o espaço que me foi ofertado em seu número de
estreia. E abraço, efusivamente, o amigo Jales Naves pela brilhante obra
biográfica acerca de Otávio Lage, um dos governadores-pioneiros do meu querido
Goiás. Jerônimo Coimbra Bueno, no final da década de 40 do século passado,
antecipou-se à União, separando as pastas de Educação e Saúde; Mauro Borges, no
início da década de 60, governou com critérios e estratégias, formatando a
organização do Estado – foi também pioneiro ao criar, antes da União, uma Pasta
para o Planejamento. E Otávio Lage deu o passo seguinte, governando sob um
Plano de Governo. Foi o último dos eleitos antes que o regime militar impusesse
os biônicos e consagrou-se como um grande gestor público, sempre respeitado por
todos os que o sucederam.
E não teriam seus
familiares escolha melhor que a de Jales Naves para pesquisar, entrevistar e
redigir essa obra que tenho em mãos e devorarei já nos próximos dias (afinal, é
um prazer indescritível sentir que muito do que já se faz história foi presenciado
por nós).
Otávio Lage fez
histórias e deixou grande exemplo. Pena que ainda produzimos políticos que
conseguem eleger-se, mas não aprendem com o passado e os que construíram para o
futuro. A estes, resta mandar bater.
* * *
Luiz de Aquino é jornalista e
escritor, membro da Academia Goiana de Letras.
2 comentários:
Festas importantes acabaram perdendo o brilho devido a estes lamentáveis, porém evitáveis acontecimentos.Que não se repitam, e seu desabafo sirva de freio, de alguma maneira.
Meu filho Marco Antonio disse: "Professor apanha do aluno, apanha da polícia. Uma profissão subversivamente suicida".
Postar um comentário