Profa. Umbelina, que, há 54 anos, depurou meu aprendizado; E continuo a aprender com ela (basta-me lembrá-la sempre).. |
Macaco que põe a mão em cumbuca...
Tive
uma professora, no último ano de ginásio (1961), que ensinava Geografia. É bem
provável que eu tenha escolhido essa matéria, quando decidi que deveria ser
professor, por influência dela – Dona Umbelina, uma jovem preta e linda, puro
sorriso e autoridade! Envolvia-nos com sua presença, sua fala e seus conceitos,
ensinava por mapas e versos, por falar e exemplos – uns citados, outros
demonstrados por suas próprias atitudes.
Dona
Umbelina é uma linda mulher, ainda. Imagino-a na casa dos 80 anos – visto que
eu próprio libero-me do voto obrigatório no próximo setembro – e vivi, há menos
de uma década, a felicidade de um reencontro (fui visitá-la em seu apartamento,
no Leme). Ouvi – melhor dizendo, re-ouvi – preciosidades de sua lavra,
sobretudo no que concerne aos processos educacionais. Ela entende profundamente
de pedagogia, viaja por conhecimentos fartos fora de sua formação universitária
(é capaz de ensinar Português e Matemática, Química e Física e outras
disciplinas), como fazia, ainda, no velho casarão do Grajaú (região da Tijuca),
herdade do pai, o marechal João Batista de Mattos, que conheci por indicação
dela, nesse mesmo casarão. Nesse casarão histórico, a mestre de milhares de
alunos saudosos, espalhados pelo Brasil todo e alguns pontos esparsos do mundo
reunia estudantes carentes, preparando-os para exames regulares, para concursos
e vestibulares etc.
São
vários os conceitos lapidares que Dona Umbelina espalhava, todos os dias, nas
muitas aulas que ministrava no Colégio Pedro II e outros estabelecimentos de
ensino da Cidade Maravilhosa. Hoje, estou com um deles martelando-me a memória:
“Aluno precisa aprender a decorar. Sabe por quê? A decoreba é a mãe da
inteligência!”. Já vi e ouvi incontáveis educadores contestar essa máxima, eu
mesmo entre estes; mas o tempo e a razão ensinam-me que Umbelina está certa.
Decorar é o exercício da memória, e sem memória não exercitamos bem o cérebro.
Sem memória não evoluímos – marcamos passo incansavelmente, porque sempre nos esqueceremos
que o passo de agora não é o primeiro...
Por
que evoco tudo isso, agora?
Acho
que por causa do movimento dos professores de São Paulo, Ou de uma advertência
dos professores municipais de Goiânia. Ou do choro generalizado em todo o
território brasileiro, nos três níveis de ensino, nos três níveis de governo.
Ou por causa da dramática situação a que chegaram os profissionais de Saúde da
prefeitura de Goiânia, drama igualmente vivido pelos mestres, ante a decisão
antipática, antidemocrática, inconstitucional e agressiva do Executivo que
manda reduzir os quinquênios, por exemplo, de 10% para 5%. Ou da cínica
declaração do secretário de Finanças que critica os grevistas, acusando-os de
colocar em primeiro plano seus propósitos corporativistas em prejuízo da
população.
Jeitinho
esfarrapado para jogar a população contra os profissionais, hem, siô? Há uns
dez anos, lembro-me bem, eu o elogiei numa das minhas crônicas – ao tempo em
que, no governo do Estado, esse Sr. ocupava a Pasta da Administração. A mudança,
parece-me, não é de ideologia, mas de chefe, hem?
A
empáfia do secretário na tevê durou pouco – o tempo bastante para uma
declaração do promotor que acompanha o caso, que foi claro: o dinheiro da Saúde
há de ser gerido pelo titular dessa Pasta, e não pelo de Finanças, por ser
verba específica, de origem federal – e criticou que se usem tais recursos em controle
financeiro.
Bem!
Creio que minha memória – que foi treinada pela minha inesquecível Umbelina
Professora – me provocou. E sobre a Saúde de Goiânia, nada mais tenho a dizer
(nem o tal secretário dos dinheiros, claro).
* * *
Luiz
de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.
8 comentários:
Pois é! Quando iniciei a leitura, vi um filme passando diante da minha memória, após ter compartilhado uma foto com alguns colegas do nosso Colégio. Como a história da minha professora de Matemática foi trágica, não quero falar dela depois de 51 anos. Sempre leio atentamente suas crônicas e muitas tenho arquivadas. O "jeitinho esfarrapado" a que você se refere não macula apenas Goiás. Exerci duas profissões, aqui no Rio de Janeiro, e delas muito me orgulho. Mas hoje, diante dos descalabros a que estamos submetidos, sinto-me assombrada pelo que os moços terão de começar a enfrentar, se quiserem manter a cabeça erguida.
Em cada época um professor se destaca e fica na memória, na boa memória. A Medicina é aprendida decorando. Boa parte das questões de provas abertas são assim: cite vinte sintomas disso, fale sobre as trinta causas daquilo. Ora, sem decoreba, como responder? Raciocinando? Não me façam rir. Depois, lembrando de tudo, vai se formando o "raciocínio clínico", mas decorar é o começo de tudo. Estava certa a professora Umbelina.
Outra coisa, notei a falta de comunicação sobre novos textos. Peço que não deixe de me enviar as atualizações do seu blog, Luiz, por favor, senão virei aqui aos domingos para buscá-los e acabarei perdendo alguma coisa.
Forte influência dos professores, minhas escolhas também foram realizadas a luz desses bem aventurados profissionais...
Bem lembrado, Luiz! Decorar não exclui o raciocinar, não exclui o desenvolver espírito crítico! Pelo que acompanhei até certo tempo [década de 90] no caso da Geografia ampliou-se bem o foco, mas percebi que os estudantes ignoravam praticamente tudo de relevo, hidrografia etc. Percebi isso quando precisei de um mapa atualizado de hidrografia dos continentes, visto terem mudado muito o número e denominações dos países em alguns continentes, e os adolescentes me olharam espantados, sem saber de que geografia eu estava falando. E não eram estudantes de ensino público não. Viva a professora Umbelina!
Foi minha professora. Não me lembro exatamente o ano, mas tive aulas com ela entre 195 e 1992. Já deve ter seus 90 anos.
Tive a felicidade de tê-la como professora de Geografia (e esta era somente uma das muitas matérias que esta incrível Educadora dominava!), lá pelos idos de 1993-1994, na Unidade Tijuca II. Lembro-me que fiz um desenho de seu rosto num classificador meu, durante uma de suas ipnotizantes aulas. Acabei oferecendo o retrato à ela, que recebeu com muito gosto (lembro que chegou a marejar seus olhos)! Que saudade de suas aulas! O que ela ministrava, adentrava arrebatadoramente no coração dos alunos, de maneira fácil e clara como a luz do sol!
Que privilégio ter participado disto!
Tive a felicidade de tê-la como professora de Geografia (e esta era somente uma das muitas matérias que esta incrível Educadora dominava!), lá pelos idos de 1993-1994, na Unidade Tijuca II. Lembro-me que fiz um desenho de seu rosto num classificador meu, durante uma de suas ipnotizantes aulas. Acabei oferecendo o retrato à ela, que recebeu com muito gosto (lembro que chegou a marejar seus olhos)! Que saudade de suas aulas! O que ela ministrava, adentrava arrebatadoramente no coração dos alunos, de maneira fácil e clara como a luz do sol!
Que privilégio ter participado disto!
Tive a felicidade de tê-la como professora de Geografia (e esta era somente uma das muitas matérias que esta incrível Educadora dominava!), lá pelos idos de 1993-1994, na Unidade Tijuca II. Lembro-me que fiz um desenho de seu rosto num classificador meu, durante uma de suas ipnotizantes aulas. Acabei oferecendo o retrato à ela, que recebeu com muito gosto (lembro que chegou a marejar seus olhos)! Que saudade de suas aulas! O que ela ministrava, adentrava arrebatadoramente no coração dos alunos, de maneira fácil e clara como a luz do sol!
Que privilégio ter participado disto!
Postar um comentário