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sábado, junho 18, 2016

Clube do afago

Clube do afago




O Brasil assiste, com indisfarçável e inevitável perplexidade, as várias falas e transcrições das delações premiadas – expressão e prática tão em moda nestes tempos pós-mensalão, pós-Lula e no foco central do terremoto que racha todo o Planalto Central, as Gerais, a imensa Planície Costeira, a Amazônia, o Agreste e os sertões de Caatinga e Cerrado, de Pantanal e Pampas, sem descuidar das regiões montanhosas.

Poderíamos perguntar aos juristas em que consistem tais delações, e ouviríamos (ou teríamos de ler) enfadonhos textos eivados de termos técnicos que soam bem aos ouvidos e olhos dos profissionais do Direito, mas tornam-se ladainhas soníferas para nós-outros, os marginais de tais práticas e predicados.

E caímos, pois, no conceito genérico de que se trata de entregar quem mandou o inquirido cometer esses atos de apropriação de dinheiro alheio (e muito alheio! É dinheiro do povo brasileiro) e de posar de árbitros para distribuir tais fortunas, com o zelo de reservar para si próprio, suas famílias e outras pessoas estimadas, como amigos e amantes.

Essa Operação Lava Jato não poupou gêneros nem formosuras – há mulheres entre os meliantes, algumas de apreciável beleza! E muitos homens poderosos, desses sobre os quais jamais supomos que ocuparão os bancos dos réus nem as celas das prisões. Mas, gente, que inocentes somos nós, hem?

No limiar da minha sétima década, recordo muitos momentos e cenas vividas desde a infância. São ocasiões em que pessoas humildes, fossem pessoas do povo anônimo ou trabalhadores identificados como “os mais humildes”, assim chamados por terem de aceitar a humilhação vinda dos engravatados porque emprego sempre foi coisa muito difícil de se preservar – ou mesmo conseguir.

Uma vez empregado, o cidadão cuida de oferecer o melhor de si. Para isso, aceita ordens esdrúxulas e opiniões descabidas; estuda e procura aprender sempre mais; e oferece o melhor de si, em atos, postura e resultados. Bem, sou do tempo em que se esperava dos subalternos (neste meio estava eu) não só bons resultados, como também um certo espírito de iniciativa – coisa que hoje apelidam de “pró-atividade”. Com o passar dos anos, ficávamos experientes – hoje, empregados nesse nível têm “expertises”.

E um funcionário assim, em grandes empresas ou no serviço público, eram usados e abusados. Conheci pessoas que redigiam ofícios, relatórios, memorandos, bilhetes para a amante do chefe, pedidos de clemência por várias razões, petições, artigos científicos de várias naturezas e eram recompensados com sorrisos e tapinhas nas costas; quando este competente e esquecido empregado precisava de algo, os tapinhas nas costas eram substituídos por pé-na-bunda, e em seu lugar empregam-se esguias silhuetas de faces maquiadas e sapatos de grifes, com salários nababescos e pouca produtividade (aparente).

E vejo o escarcéu que esse Sr. Sérgio Machado anda fazendo no Ministério Público, na Justiça e. por consequência, nas mídias! E imagino quantas vezes os que se valeram de seus préstimos para obter recursos para suas campanhas políticas e seus caprichos não lhe deram pés-na-bunda!

E agora... Hem?

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Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.

Um comentário:

Mara Narciso disse...

O amigo que, atolado em atos ilícitos, vendo muitos dos seus colegas sendo preso, arma-se de um celular, provoca o tema e grava tudo. Depois publica. Nem mesmo os anjos decaídos criariam uma estratégia tão demoníaca para derrubar pessoas, partidos e governos. E para quê? Indignação passa longe. O negócio é livrar a própria pele.