Clube do afago
O Brasil assiste, com indisfarçável e inevitável
perplexidade, as várias falas e transcrições das delações premiadas – expressão
e prática tão em moda nestes tempos pós-mensalão, pós-Lula e no foco central do
terremoto que racha todo o Planalto Central, as Gerais, a imensa Planície
Costeira, a Amazônia, o Agreste e os sertões de Caatinga e Cerrado, de Pantanal
e Pampas, sem descuidar das regiões montanhosas.
Poderíamos perguntar aos juristas em que consistem
tais delações, e ouviríamos (ou teríamos de ler) enfadonhos textos eivados de
termos técnicos que soam bem aos ouvidos e olhos dos profissionais do Direito,
mas tornam-se ladainhas soníferas para nós-outros, os marginais de tais
práticas e predicados.
E caímos, pois, no conceito genérico de que se trata
de entregar quem mandou o inquirido cometer esses atos de apropriação de
dinheiro alheio (e muito alheio! É dinheiro do povo brasileiro) e de posar de
árbitros para distribuir tais fortunas, com o zelo de reservar para si próprio,
suas famílias e outras pessoas estimadas, como amigos e amantes.
Essa Operação Lava Jato não poupou gêneros nem
formosuras – há mulheres entre os meliantes, algumas de apreciável beleza! E
muitos homens poderosos, desses sobre os quais jamais supomos que ocuparão os
bancos dos réus nem as celas das prisões. Mas, gente, que inocentes somos nós,
hem?
No limiar da minha sétima década, recordo muitos
momentos e cenas vividas desde a infância. São ocasiões em que pessoas
humildes, fossem pessoas do povo anônimo ou trabalhadores identificados como
“os mais humildes”, assim chamados por terem de aceitar a humilhação vinda dos
engravatados porque emprego sempre foi coisa muito difícil de se preservar – ou
mesmo conseguir.
Uma vez empregado, o cidadão cuida de oferecer o melhor
de si. Para isso, aceita ordens esdrúxulas e opiniões descabidas; estuda e
procura aprender sempre mais; e oferece o melhor de si, em atos, postura e
resultados. Bem, sou do tempo em que se esperava dos subalternos (neste meio
estava eu) não só bons resultados, como também um certo espírito de iniciativa
– coisa que hoje apelidam de “pró-atividade”. Com o passar dos anos, ficávamos
experientes – hoje, empregados nesse nível têm “expertises”.
E um funcionário assim, em grandes empresas ou no
serviço público, eram usados e abusados. Conheci pessoas que redigiam ofícios,
relatórios, memorandos, bilhetes para a amante do chefe, pedidos de clemência
por várias razões, petições, artigos científicos de várias naturezas e eram
recompensados com sorrisos e tapinhas nas costas; quando este competente e
esquecido empregado precisava de algo, os tapinhas nas costas eram substituídos
por pé-na-bunda, e em seu lugar empregam-se esguias silhuetas de faces
maquiadas e sapatos de grifes, com salários nababescos e pouca produtividade
(aparente).
E vejo o escarcéu que esse Sr. Sérgio Machado anda
fazendo no Ministério Público, na Justiça e. por consequência, nas mídias! E
imagino quantas vezes os que se valeram de seus préstimos para obter recursos
para suas campanhas políticas e seus caprichos não lhe deram pés-na-bunda!
E agora... Hem?
*****
Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia
Goiana de Letras.
Um comentário:
O amigo que, atolado em atos ilícitos, vendo muitos dos seus colegas sendo preso, arma-se de um celular, provoca o tema e grava tudo. Depois publica. Nem mesmo os anjos decaídos criariam uma estratégia tão demoníaca para derrubar pessoas, partidos e governos. E para quê? Indignação passa longe. O negócio é livrar a própria pele.
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