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segunda-feira, janeiro 09, 2017

Caldas Novas:



A Praça Mestre Orlando, na década de 1950 - retalhos da memória!



Memórias tristes (*)


Sim, é Caldas Novas...

A cidade em que apenas duas arquiteturas urbanas foram salvas. E, não por coincidência, ambas criadas pela família Gonzaga de Menezes – a igreja, edificada por Luiz Gonzaga de Menezes, dando origem ao povoado (em 1850 foi sacralizada) – mas os desinformados afirmam que a história começa em 1911, o ano da emancipação política (como se nascêssemos ao completar 18 anos).

Essa igreja tinha duas torres, até 1928. Os danos do tempo pediram reforma, mas a torre à direita (de quem a observa) exigia mais investimento e a solução, ante a falta de dinheiro, foi a amputação. Veja, agora, o que escrevi há poucas semanas no grupo (Facebook) “Caldas Novas das antigas”:

Artista e arquiteto, S. Prates projetou a reposição da torre.
A meu pedido, e sobre uma foto feita por mim, o artista plástico e jornalista Sebastião Prates, um dos mais notáveis dentre os artistas goianos, acrescen-tou a torre mutilada em 1928... Essa arte é de 1981, o ano em que um padre um tanto afoito, com o apoio de um Conselho Paroquial intencionalmente montado só com forasteiros, resolveu demolir a Igreja - a mais antiga das edificações, origem do povoado que se formou em entre 1848 e 1850, por iniciativa de Luiz Gonzaga de Menezes. Como jornalista, atuei com dedicação para impedir esse crime patrimonial e histórico - e venci, graças a Deus!

Foi justamente na década de 80 que senti cristalizada a invasão da cidade. Ora, éramos todos descendentes próximos, em primeira ou segunda geração, de pioneiros adventícios. Por isso, suponho eu, aceitamos passivamente a vinda dos novos habitantes, que diziam “ter escolhido viver” na minha terra – mas a motivação não era o amor telúrico, mas a gana ambiciosa da exploração turística. 

E deu no que deu... A segunda edi-ficação é o famoso Casarão dos  Gonza-ga, sobrado onde nasceu o Dr. Osmundo Gonzaga (tio da minha cunhada Lucinha). E a transfiguração dos imóveis sobreviventes – de residências para comerciais – “enfeiou” a cidade. Dezenas ou centenas de construções que só sobrevivem em velhas fotos em preto-e-branco – ou nas memórias de nós próprios, antes que a senilidade as apague ou o tempo nos vença.

O Casarão dos Gonzaga, a segunda arquitetura respeita em Caldas Novas.

Há algumas décadas a sociedade local não tem sequer a tranquilidade de eleger um bom prefeito – o último, se bem me recordo, foi Antônio Sanches – um forasteiro que respeitou a cidade (e não sei de outro que possa ser definido assim). A Câmara Municipal, na atual gestão, tem apenas um caldas-novense nativo em sua composição – Sílio Junqueira. Em vias de reeleger-se para mais um mandato, o atual prefeito (que conclui em 2016 seu terceiro mandato) tripudia sobre a memória da cidade, ignorando sua história e protelando a reforma do tradicional Balneário Municipal Pedro Tupá.
Enfim... É ruim encerrar um ano com este desabafo memorial. É triste, porém, um cidadão portador das vantagens do Estatuto do Idoso ver sua terra natal ser vilipendiada em troca do interesse pessoal de um pequeno grupo de empresários e políticos. Esse mal-estar ensina-me que é compreensível o medo natural ante as mudanças – é que as mudanças por nós permitidas costumam, muitas vezes, virar-se contra nós próprios.

A população consciente de Caldas Novas é mínima... e muito triste.

Mas renovemos nossas esperanças para este novo ano. Quem sabe os poderosos mudem e passem a proporcionar alguma alegria ao povo?


(*) Republico esta crônica, um ano após, na esperança de atingir os brios de quem possa fazer algo, se é que ainda haja tempo.

***

Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.



2 comentários:

Sueli Soares, professora e advogada. disse...

Boa noite! Seria maior o prazer de ler sua crônica, se seu depoimento fosse o oposto do que acabei de ler. Estive na sua cidade natal, em agosto de 2012, e resta-me apenas uma bela e triste fotografia. Ao final, sua esperança renovada é sentimento que atingirá seus conterrâneos, porque sempre é tempo. Espero alvissareiras linhas suas!⏳

Ah, querida Sueli Soares, é um sonho que, receio eu, jamais verei realizado!

Unknown disse...

"Nossos"administradores públicos, não dão a mínima importância ao patrimônio histórico e cultural de nosso país. É triste ver o quão degrada foi esta praça, hoje você não tem sossego nem para sentar e observar o vai e vem das pessoas pois, somos abordados e quase obrigados a entrar nos botecos que tomaram conta do espaço. Sou a favor da modernização das cidades, mas sou radicalmente contra a degradação de nossa história. Imagino como seria bom caminhar pelas ruas do centro da cidade se as fachadas das construções do século passado ainda estivessem à mostra, se a poluição visual do comércio fosse reduzida e pudéssemos olhar para o alto e observar apenas a paisagem urbana com sua beleza aos nossos olhos.