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terça-feira, janeiro 07, 2020

É o que você quer?


É o que você quer? Ou vai se omitir?


Como se dividem as sociedades, sob a ótica política?

“Ah, existem muitos critérios, mas no Brasil só três: esquerda, direita e neutros. As religiões estão começando a entrar nessa divisão também por aqui” – respondeu-me uma amiga. Retruquei:

A esquerda, neste mundo ocidental, é o apelido que se dá a quem luta por conquistas sociais, e a direita é o crachá dos conservadores que acreditam que quem quer progredir materialmente está de olho em suas mansões, fazendas e empresas. A direita é constituída de pessoas individualistas que se agrupam sob a égide de seus interesses exclusivos, ainda que explorem a massa trabalhadora, sempre se recusando a lhes proporcionar os direitos mínimos que lhes proporcionem uma ligeira independência e dignidade.

E acrescentei: Não temos representatividade religiosa na política. O nosso maior segmento é o católico, com o qual a arrasadora maioria (mais de 90%) dos espíritas se alinham. A minoria pentecostal, com cerca de 30 anos de atividades no país, se faz com a mobilização das massas menos esclarecidas, catequizadas pelas igrejas norte-americanas que se infiltraram aqui a começar pelas periferias das grandes cidades e espalhando-se pelas cidades do interior e, aos poucos, ocupou espaços centrais nas metrópoles.

Essa massa é mobilizada pelas pregações nos púlpitos e a formação das tais "bancadas evangélicas". Você chamaria o tio do prefeito Crivella (do Rio de Janeiro) ou ele próprio de religioso? Só a conveniência dos seus seguidores e associados aceitam isso – mas os que a ele se associam sabem muito bem de seus propósitos. O fracasso dessa empreitada já se faz mostrar na pessoa desse sobrinho, Marcelo Crivella.

O sistema de poder hoje instalado na capital federal e em alguns Estados são braços fortes da infiltração da CIA no nosso processo político. As patacoadas de Jair Messias, cometidas todas as manhãs em duas ou três frases fortes – e quase sempre inacreditáveis – no cercadinho do Palácio da Alvorada são coisas pensadas, programadas e cujos efeitos são aguardados com euforia por seus mais-próximos.

Só os néscios não percebem isso.

O medo que se tem "dos comunistas" é uma bandeira tão idiota quanto a que ergueu, há 40 anos, o presidente Collor, ao posar de moderno Don Quixote, apontava sua lança contra “marajás” e o “sindicato do golpe”.

O medo que se deve ter é das recentes formações de neonazistas, disfarçadas de neointegralistas e até mesmo de neoimperialistas.

Um grupo neofacista se manifesta, por exemplo no Norte de Minas. Um dos afoitos membros desse grupo ostenta o Sigma da década de 1930, evoca Plínio Salgado, exalta de Plínio Correia de Oliveira (que liderou, nas décadas da ditadura, o grupo Tradição, Família e Propriedade) e ostenta a bandeira do Império Brasileiro, pregando o retorno do Império do Brasil sob a inevitável liderança de um “tataraneto da Princesa Isabel – um sujeito que emite notas oficiais, em nome da Família Imperial, de ostensiva natureza neofacista.

Ainda que eu viva até os 118 anos, posso não sair desta vida vencedor, mas sairei com a alegria de ter lutado até o fim.



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Luiz de Aquino é escritor e jornalista, membro da Academia Goiana de Letras