PRESIDENTE JOSÉ XAVIER DE
ALMEIDA JÚNIOR
De 26/10/1953 a 29/10/1957
![]() |
A meu encargo, dados biográficos e considerações sobre a obra de Xavier Júnior. |
José Xavier de Almeida
Júnior, o poeta Xavier Júnior,
nasceu no Palácio Conde dos Arcos, na Cidade de Goiás, no dia 20 de outubro de
1902, filho de Amélia Augusta de Morais e Almeida e de José Xavier de Almeida,
então governador de Goiás. Cursou o primário em Morrinhos e, como aluno
interno, o Ginásio Diocesano de Uberaba. Na Universidade do Brasil (hoje,
Universidade Federal do Rio de Janeiro), na capital federal, formou-se em Medicina. Antes, pensou em cursar
Direito, talvez por sua vocação natural para as letras. Casou-se aos 39 anos
com Domitila dos Santos Fleury de Almeida e teve
quatro filhos.
Praticou a medicina por
pouco mais de vinte anos. Uma queda de retina afastou-o da clínica, provocando
uma aposentadoria precoce – e, assim, dedicou-se ele mais ainda à poesia e,
mais tarde, também à crônica e à crítica literária.
Foi membro da Academia
Goiana de Letras, membro fundador da Cadeira 13. Ocupou a presidência do
sodalício no período de 26/10/1953 a 29/10/1957.
Em seus primeiros meses
de vida, a família se transferiu para Petrópolis (RJ) e depois Juiz de Fora
(MG), vindo a família a morar em Morrinhos, onde Xavier Júnior começou os
estudos e, por conta disso, viveu outros ares até se formar, no Rio de Janeiro.
A par dos estudos, dedicou-se à
Poesia desde 1920. Viveu, portanto, um período de intensas transformações no
Brasil e no mundo: as novidades do após-guerra, a partir de 1918; o golpe que
afastou o presidente Washington Luís e impediu a posse do presidente eleito
(Júlio Prestes), dando início à “era getulista”, que se estendeu por 15 anos,
terminando ao mesmo tempo em que alemães e japoneses se rendiam aos aliados na
Segunda Guerra; viveu as grandes inovações tecnológicas – o rádio, o cinema sem
sonoridade e até as imensas telas coloridas do “cinemascope”, a televisão, a
conquista do espaço, a miniaturização que possibilitou a popularização dos
computadores e da telefonia celular.
Inevitável, pois, seria
a evolução de sua literatura desde os primeiros versos, antes que completasse
vinte anos, até as vésperas de seus últimos dias. E, ainda assim, por integrar
a Academia Goiana de Letras e (mais ainda) a sua presidência, sofreu
discriminações e críticas desairosas de uma geração mais nova.
A obra,
porém, aí está. Sua obra e sua vida. Ao alcance dos críticos que, imagino,
silenciam-se pelo arrependimento – mas tal rejeição está em A Poesia em Goiás (segunda edição em
1983, pela Editora da UFG), (pág. 112) do poeta e crítico literário Gilberto
Mendonça Teles, o mais antigo membro da AGL (empossado em 11/03/1961).
Obra
Cesareana
Segmentar (estudo estatístico)
– Tese de doutoramento. Rio, Tipografia Leuzinger,1927.
A
Viagem de Frei Trapie – Uberlândia, Tipografia Alvina,
1931.
A
Canção do Planalto (poemas) – Rio, Tipografia Emiel,
1942.
Leituras
e lembranças – Goiânia, Editora Oriente, 1971.
Apreciações
sobre a poesia de Xavier Júnior e, em especial, sobre A Canção do Planalto
(Do livro A Poesia em Goiás , de
Gilberto Mendonça Teles, segunda edição em 1983, pela Editora da UFG)
A
Canção do Planalto fora publicado em 1937, em edições
do jornal Voz do Sul, de Anápolis,
sob o título À Margem da Vida. São
poemas datados de 1920 a 1942, ano da nova publicação, obviamente, com o
acréscimo de poemas publicados entre 1937 e o ano da nova edição.
Gilberto
Mendonça Teles, na obra acima citada, refere-se a Xavier Júnior como “um dos
principais poetas desse tempo” –
referindo-se ao período pré-modernista em Goiás. Escreveu GMT: “Nesse livro,
que revela um poeta também eclético, com acentos parnasianos, simbolistas e
modernistas, Xavier Júnior nos dá bem as dimensões de sua arte, zelosamente
construída em qualquer dos rumos ecléticos que se propunha. Ali encontramos
pela primeira vez em Goiás a divulgação do haicai, o menor poema de forma fixa,
de origem japonesa, de que se tem notícia nas literaturas. Uma análise estética
de A Canção do Planalto nos confirma
as influências apontadas, as quais, (...) longe de lhe diminuir a obra, dão-lhe
uma natureza dinâmica que é afinal de contas o inconformismo, a preocupação com
novos roteiros a seguir. Assim, o poema que dá o título ao livro, com arroubos
épicos, lembra, pela concepção temática, o ‘Caçador de Esmeraldas’. A linguagem
vocabular de muitos poemas corroboram ainda essa aproximação parnasiana,
bastando lembrar o verso Sacode o corpo
todo ao brônzeo duende, em que, a par de ‘corpo’ e ‘brônzeo’, há toda uma
contenção de forças, cuja célula é o ditongo imperfeito de ‘brônzeo’,
transmitindo ao verso uma como intensa vibratibilidade plástica, idealizada
pelos parnasianos. Há, ainda, palavras como ‘argonautas’, títulos de poemas
como ‘Holocausto da Volúpia’, ‘Salamandra’, ‘Pantápole’, e tantos outros que
não deixam dúvida quanto à sua filiação literária”.
Gilberto discorre mais sobre o poeta
Xavier Júnior: “Os acentos verdadeiramente modernistas são poucos e se
encontram nos poemas citados na Antologia” (refere-se à seleção feita por ele
próprio, GMT, sob os títulos As Chuvas de
Ouro e Coração Vazio). E cita A.
G. Ramos Jubé, que escreveu: “Xavier Júnior, ao lado de José Lopes Rodrigues,
comandou o grupo de reação ao movimento modernista de 1942”.
Em seguida, traz o que publicou
Vítor de Carvalho Ramos ao referir-se a Xavier Júnior: “No seu livro não dita
velharias, sonetinhos inexpressivos, de temas banais, ao alcance de qualquer
vate medíocre. Nada de monotonia e vulgaridade dos passadistas. Seus poemas,
num ritmo novo, são espontâneos, palpitantes de emoção e tomam, por vezes, a
cadência épica. Se, em algumas de suas poesias, o sentimento predominante é o
da tristeza e do pessimismo, todavia esse sentimento é resignado e
compreensivo, sem as exclamações e desespero dos retóricos. O lirismo de Xavier
Júnior é em tom menor, sutil, emotivo, às vezes elegíaco. Sua musa é mais
descritiva. Prefere refletir algo da graça e da ternura da alma da natureza”.
Também Leo Lynce, no jornal Araguaia, escreveu: “Xavier Júnior, que é, sem favor, a mais completa
expressão da cultura literária goiana desses nossos dias de absorventes
utilitarismos, dá-me a impressão que tive de Afrânio Peixoto e tenho de José
Lins do Rego: mesmo com o consultório a transbordar de clientes e mesmo
escrevendo sobre medicina, o doutor passa para o segundo plano e é sempre o
escritor que interessa. A ideia da pena e não a da agulha de injeção é que
perdura”.
Prosa
ficcional
Ponta
de Linha (romance) é obra pulicada
postumamente pela família quando do centenário de nascimento do autor (2002).
Escrito nos primeiros anos da década de 1940, permaneceu inédito, pois, por
cerca de 60 anos. Xavier Júnior valeu-se, certamente, da chegada dos trilhos a
Anápolis, em de 1937, onde viveu de 1935 a 1952.
A concepção do romance acontece ao
tempo em que se construía Goiânia, que substituía a antiga capital de Goiás. O
texto, de ótima linguagem e criatividade ficcional, prende o leitor até o final
da trama, com uma história de amor e amancebamento de um jovem médico com uma
fazendeira, numa pequenina cidade à beira do trem.
Leo Lynce (outra vez o nosso
primeiro modernista) assim se expressou sobre Ponta de Linha:
(...)
romance que tive a fortuna de ler em forma datilográfica e sem cuja publicação
“desaparecerá, sem dúvida, nas diluições da tradição oral” uma das fases mais
curiosas da vida goiana, ou melhor, da vida Anapolina (...)
O
romance de Xavier Júnior, como o título está a indicar é um depoimento pessoal
(desculpada a expressão jurídica), um documento filmado em tecnicolor, todo ele
palpitante de vida e de interesse humano, a fixar o milagre operado pela via
férrea, ou seja, a transformação da antiga Sant’Ana das Antas em moderna urbe,
capital econômica e meca política do Estado – a portentosa Anápolis de hoje.
* * *
Ainda nos anos de 1940, a obra, em seu original, recebeu
críticas e louvações dos companheiros escritores da época; e ao ser lançada,
mereceu referências exaltadas de um ex-aluno de Xavier Júnior – o escritor e
também acadêmico José Asmar, bem como comentários favoráveis de tantos quanto
tiveram acesso ao livro – eu inclusive.
* * *
![]() |
Luiz de Aquino, membro da AGL, Cadeira 10. |