
Repensar a Pátria
Nestes tempos de dúvidas sustentáveis contra o Congresso Nacional e boa parte de seus membros, ressurgem discussões sobre a estrutura da representação popular no Brasil. Os fatos que nos levam a tais questionamentos sustentam-se numa máxima talvez ainda não escrita: Política é coisa boa; ruins são os partidos.
Política não é apenas o processo de campanha, eleição, câmaras, assembléias, Congresso e governos, não. Política começa na discussão de alguma medida a ser tomada em família, passa pela escolha do síndico do condomínio, dos líderes de bairros, sindicalistas e representantes classistas, antes de chegarmos aos partidos. Aí, onde os conchavos e acertos se fazem à revelia dos eleitores e demais cidadãos, começam as maracutaias. Dizem políticos membros de todos os partidos: nenhuma das agremiações escapa, todas negociam postos, decisões e obras, tudo envolvendo muito dinheiro.
Ah, e vêm-nos à memória ditos poéticos de políticos de outrora... na moda, agora, está Rui Barbosa, o grande jurista e tribuno baiano de referências internacionais. O que pouco se sabe é que, como político, deixou marca também discutíveis, que vão desde a queima dos documentos sobre a escravidão e o tráfico de africanos até um discurso infeliz no Senado, criticando a primeira-dama, jovem e talentosa artista Nair de Teffé, por levar Chiquinha Gonzaga e o “corta-jaca” aos jardins do Catete: Rui acusou-a de levar à nobreza dos jardins palacianos “o bodum das senzalas”.
Como se vê, ninguém é perfeito; muito menos quando próximos (ou desejosos) do poder. Menos ainda quando o poder é exercido por aquele que derrotou o orador (no caso, o marechal Hermes da Fonseca).
Política boa pode, e deve, e tem que ser feita, nos grêmios e instituições classistas. E essas instituições classistas é que devem, para o bem nacional, representar a gente brasileira num congresso realmente popular. Um congresso de líderes, colhidos por votação direta nas comunidades mais humildes, como as favelas e bairros periféricos, nas associações e sindicatos de profissionais, de produtores, de comerciantes, profissionais liberais, produtores, industriais... mas o que temos é isso aí, com jogadas milionárias inexplicáveis, desde as pequeninas convenções que possibilitam a projeção de alguns nomes; nas escalas gradualmente superiores, aumenta a negociação na mesma proporção do custo dessas manobras, até se chegar ao fato notório de que o custo de uma campanha eleitoral, por candidato, excede, em muito, o que legalmente lhe será pago para o exercício do mandato.
E temos, no Brasil, os mais caros parlamentares do mundo! Há municípios de tão insignificante arrecadação que a gente fica por entender a equação que “explica” o custo de prefeito, vice-prefeitos e vereadores. E há a cara-de-pau de se mascarar com filó práticas como o desvio de verbas de saúde e educação, além dos balancetes de obras que não aparecem.
Isto aqui, leitores queridos, é o preâmbulo para uma conversa mais esticada. Nós, que votamos e pagamos impostos, que cuidamos da saúde e da educação dos nossos próximos, que nos preocupamos com a segurança e a qualidade de vida, incluindo nessas preocupações uma dedicação saudável para com os bens de cultura (patrimônios artístico e histórico, além de eventos), podemos e devemos dar a nossa contribuição para a melhoria da qualidade desta belíssima Nação. E o primeiro passo é a discussão, a explanação de nossas idéias e nossas propostas.
Aos mandatários de cargos, especialmente os bem-intencionados (e sabemos que os há, sim), cabe ouvir-nos e dar ressonância aos nossos pitacos.
Enfim, nós somos esta Nação.