Páginas

quinta-feira, setembro 13, 2007

Quanto valemos mesmo?

Quanto valemos mesmo?


Será que, aos olhos dos políticos e tecnocratas nacionais, nós, eleitores e pagadores de impostos valemos alguma coisa?

Vejamos: em meados de agosto, fiz consulta com uma médica, usando o plano de saúde do Ipasgo. Ela própria determinou que eu retornasse daí a 45 dias, e já deixei marcada a nova consulta para o primeiro dia de outubro. Dias atrás, a secretária da médica ligou: eu tinha de optar entre adiar a consulta para janeiro ou pagar algo em torno de 80 ou 100 reais, não me recordo. Dispensei as duas opções. E continuo pagando um pouco mais de 350 reais ao Ipasgo para ter uma assistência limitada, já que os médicos conveniados atendem apenas quando e como querem.

Os jornais impressos e televisivos, bem como os noticiários de rádio, dão conta de que o Procon decidiu suspender as vendas de telefones celulares pela Brasil Telecom no território goiano; à noitinha, vejo na tevê que, ao meio-dia do dia em que a notícia saiu na mídia, o Procon e empresa telefônica assinaram um “termo de ajuste de conduta”. Que bom, gente! Se o consumidor vai lá reclamar, tem de esperar o tempo que a burocracia do Procon exige e ainda, a partir de agora, com esse termo, mais o tempo que a empresa quer.

Das companhias de aviação que operam no país, apenas a Varig, vítima do desinteresse do governo federal, numa reedição quatro décadas depois do que fez Castelo Branco com a Panair, é a única empresa que se dá ao capricho de prestar informações aos seus clientes (ou passageiros; cada uma usa uma palavra para designar seus usuários). As demais nos tratam como se fôssemos suspeitos de terrorismo no tempo da ditadura militar.

Também esta semana, vejo que um cidadão brasileiro de classe média, a que mais paga impostos no país, tem de trabalhar nada menos que 152 dias para alimentar os dragões coletores de impostos. Em troca, temos estradas esburacadas, um sistema de saúde cheio de furos, uma educação em que alunos chegam à oitava série sem saber escrever (e, assim, concluem universidades; vejo profissionais ostentando a palavra doutor antes do nome que sequer conseguem flexionar os verbos mais costumeiros) e um sistema policial que, quando tem equipamento e técnica para agir, é tolhido pela turma do “você-sabe-com-quem-está-falando?”, ou seja, fica capenga... E a gente tem de pagar, por fora dos impostos, escolas particulares, planos de saúde, pedágio (onde as estradas são privatizadas, mas não somos isentos do IPVA nem da Cide, que equivale a 25% sobre o preço bruto dos combustíveis, além do ICMS sobre o mesmo produto). Ah, temos ainda de pagar garagens particulares e “flanelinhas”, além do seguro do carro.

No Nordeste, médicos param de atender e as pessoas morrem à míngua; no Nordeste, por conta de corrupção, o presidente FHC fechou a Sudene; no país, ele transformou o DNER em Dnit por causa de corrupção. Pergunto: porque ele não fechou o Congresso, então? Renan foi absolvido... E a gente fica aí, pagando todas as contas.

Ano que vem, temos eleições municipais. Vamos eleger mais de cinco mil prefeitos, mais de cem mil vereadores. Essa conta, a dos subsídios dos mandatários de cargos públicos, os governos a têm. O que os governos não contam é que eles nos custam por fora. Tanto quanto por fora é o que temos de pagar para sobreviver.

E fica a pergunta: para eles, quanto valemos nós, hem?

7 comentários:

Unknown disse...

Realmente, a sua materia esta recheada da verdadeira situacao na
qual Brail se encontra.Mas a pergunta que nao quer calar. Onde esta o povo, para lutar pelos direitos?? Nos, a sociedade que pagamos todos os impostos, e que temos que estudar muito, para tal,
nao lutamos, so reclamamos. Hering,
dizia:"Quem luta pelos direitos, nao merece ter direitos". Esse, foi
o primeiro aprendizado, no meu primeiro dia de aula no curso de direito.
Felicidades.
Fatima

Mara Narciso disse...

Embora a classe médica esteja tão sucateada quanto as nossas estradas recebendo tem torno de R$ 30,00 por consulta nos vários Planos de Saúde, acredito que se ambas as partes sabem da verdade, precisam agir de acordo com o preço. O cliente deve entender que não há muito tempo disponível, pois médico precisa correr atrás da sobrevivência e também não deve jamais cobrar por fora. É uma imoralidade essa "ajeito" no sistema. Como o profissional aceitou trabalhar pelo convênio, que aceite o que ele paga, mesmo quando não paga, já que não é incomum certos convênios ficarem até seis meses sem pagar um único tostão. De toda maneira a história é triste porque muitas vezes não há outra alternativa de trabalho ao médico.

E ainda há que se considerar que também os médicos são classe média e pagam todos esses impostos e até mais.
Mara Narciso

Deolinda disse...

Poeta, ontem foi seu dia especial, mais um aninho no curriculo e você quer saber quanto vale para os políticos?
Pergunte-se quanto você vale para você mesmo e vai perceber que políticos só são o que são por que nós, os eleitores, atribuimos a eles um valor que não possuem.
A bandalha corre solta e lá vamos nós, no dever cívico, votar. Perfeito, mas será que nessa altura do campeonato não seria melhor, pegar em armas e tocar esses malandros disfarçados de gente do bem no paredão? No bom sentido é claro, por que armas nos temos, a língua ferina, a critica, a consciência, e ainda a internet e todo o espaço do mundo para "falar, falar"!
Parabéns, pelo aniversário e pela língua afiada, que continue assim por muitos anos.
beijos

Madalena Barranco disse...

Ih, Luiz, seu texto me fez ferver ainda mais de raiva, pela impunidade dessas criaturas abjetas que dirigem nosso país. Enquanto o povo não tiver cultura suficiente (quero dizer: escolas para todos) a consciência continuará dormindo em berço plácido... Enquanto isso, os outros pagam a conta. Seu texto é uma fotografia concisa da situação do país - pena que todos não tenham óculos para enxergar a coisa como é... Beijos da amiga - pelo post e pelo aniversário!!!

Sueli Catão disse...

Pare o mundo que eu quero descer...

Anônimo disse...

Olá poeta... Tempo que não passo por aqui!Você é adorável!Beijos, te adoro!

Lapa disse...

LINDO.
SAUDAÇÕES LITERÁRIAS.