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domingo, setembro 09, 2007

Semana com Veiga e Olinto

Semana com Veiga e Olinto

Estes dias, os últimos, foram de muita ação, trabalho, alegria... Tudo por conta de uma ansiedade capaz de causar insônia: o SESC de Goiás inaugurou, na Biblioteca Central (Rua 19, em Goiânia), o Espaço Literário José J. Veiga, acolhendo os livros, móveis, medalhas e troféus, obras de arte e objetos pessoais do escritor goiano que estendeu por lugares mais longínquos nossas letras.

Era vontade do próprio José que aquelas coisas, que constituíam o seu espaço de literatura, fossem encaminhadas a Goiás após sua morte. Essa notícia me foi passada pela viúva, Dona Clérida. Entendi que me cabia cuidar de providenciar esse condicionamento. E já contei, algumas vezes, em prosa falada e escrita, dos muitos passos em busca de um lugar adequado, da busca de meios para viabilizar aquele objetivo. Muitas vezes, lembrei-me do que contam de Thomas Alva Edson, que colecionava as experiências frustradas e, certa vez, um jovem cientista tentou ironizá-lo, dizendo que não via justificativa em se colecionar fracassos. Com sapiência, o inventor esclareceu que não existe fracasso, e colecionava aquelas experiências porque todos deviam saber que aqueles passos não surtiriam efeito positivo.

Vivi o mesmo: sei agora que passos não devo dar e a quem não mais procurar. A maioria dessa lista de “a quem não procurar” sequer compareceu à inauguração, no dia 5 de setembro deste ano 2007. Assim, tivemos uma belíssima festa, com presença de alta qualidade e sensibilidade.

De longe, vieram pessoas indispensáveis: Antônio Olinto, mineiro de Ubá, que tem na alma e em seu passado de 88 anos todas as cores das ações culturais, membro da Academia Brasileira de Letras, escudado pela inseparável Beth Almeida; e Dênia Diniz de Freitas, bibliotecária mineira também, mas de Itabira (sim, aquela que é “apenas um retrato na parede. Mas como dói”, como definiu Drummond). Antônio Olinto foi o crítico que primeiro escreveu sobre a obra de José J. Veiga, tão-logo veio a lume “Os Cavalinhos de Platiplanto”; e Dênia, que não conheceu Veiga pessoalmente, foi a bibliotecária que se mobilizou para possibilitar a transferência do acervo de José Veiga para Goiás: secundada pela filha Marina, então com 12 anos, ela separou, relacionou e catalogou tudo o que está exposto lá na Biblioteca do SESC.

Bem, não posso esticar demais nesta emoção. Sei que fui destacado pela direção regional da instituição, que me pôs para falar na inauguração (preciso ir a um otorrino; às vezes, ao falar em solenidades assim, minha voz fica embargada); depois, convidou-me para participar do descerramento da placa comemorativa. Se já era sensível meu estado de sentimentos, imaginem o que senti quando vi meu nome na placa! Ainda bem que as efemérides também têm sua microdinâmica, ou seja, um fato desencadeia outro e... Antes que alguma lágrima traiçoeira me embaçasse a vista, descemos as escadas; no salão térreo, exibição do coral da Casa e a noite de autógrafos de Antônio Olinto (três livros na coleção “Alma da África”).

A presença de Antônio Olinto em Goiânia, nos últimos quatro dias, foi algo para nunca mais se esquecer. Ele concedeu entrevistas a veículos da mídia (excelente sua participação no Roda de Entrevistas, de Reinaldo Rocha, na TV Brasil Central e, na segunda-feira, estará no programa de Sílvio José na RBC FM, às 20 horas). Em cada ocasião, ele nos ensina coisas da história e da cultura brasileira. Emociona-se ao falar do Brasil e de sua preocupação com a Educação. Alegra-se quando lhe perguntamos sobre a África...

Alguém precisa, com muita urgência, editar (sem economia de discos) tudo o que se tem gravado de Antônio Olinto. Ele é um papo que a gente nunca quer que termine.

Olinto e Veiga... Ah, aquela lágrima, agora, perdeu o freio.

3 comentários:

Madalena Barranco disse...

Querido Luiz, "não existe fracasso" - e sim experiências, foi a melhor coisa que eu ouvi neste domingo. Bela crônica! Beijos.

Saramar disse...

Luiz, parabéns a você, ao Sesc e aos amigos que possibilitaram mais que a realização da vontade de José J. Veiga. Trata-se, na verdade,
do enriquecimento dos espaços culturais goianos e da homenagem a este grande escritor.
Minhas reverências por sua luta.

beijos

Anônimo disse...

Não estava lá, mas estava perto. Minha semana também foi maravilhosa se tivesse um blog poderia escrever Semana com Aquino e Olinto. Valeu amigo! Obrigada pelo carinho e tudo mais. D.Celima voltou cheia de asunto e boas lembranças.